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Tomislav Sunić |
Podemos nós ainda conceber o renascimento da
sensibilidade pagã em uma época tão profundamente saturada pelo monoteísmo
judaico-cristão e tão ardentemente aderida aos princípios da democracia
liberal? Na linguagem popular, a própria palavra “paganismo” pode incitar
alguém para o escárnio e o riso. Quem, depois de tudo, quer ser associado com
bruxas e bruxarias, com feitiçaria e magia negra? Adorar animais ou plantas, ou
cantar hinos para Wotan ou Zeus, em uma época de televisão a cabo e
“equipamentos inteligentes”, não traz bons augúrios para o sério questionamento
acadêmico e intelectual.
Ainda, antes de nós começarmos amontoar o desprezo pelo
paganismo, nós iremos fazer uma pausa por um momento. Paganismo não é apenas
bruxas e bebidas fermentadas por bruxas, paganismo também significa uma mistura
de teorias altamente especulativas e filosóficas. Paganismo é Sêneca e Tácito,
é um movimento artístico e cultural que varreu a Itália sobre a bandeira da
Renascença. Paganismo também significa Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger,
Charles Darwin, e uma série de outros pensadores associados com a herança
cultural ocidental. Dois mil anos de judaico-cristianismo não têm obscurecido o
fato que o pensamento pagão não tem ainda desaparecido, embora ele tenha sido
frequentemente turvado, sufocado, ou perseguido por religiões monoteístas e
suas ramificações seculares.
Indubitavelmente, muitos iriam admitir que no reino da
ética todos homens e mulheres do mundo são os filhos de Abraão. De fato, mesmo
os mais ousados que de certa forma alegam por si mesmos ter rejeitado a
teologia judaica ou cristã, e que alegam ter substituído elas com “humanismo
secular,” frequentemente ignoram que suas crenças alto intitulada seculares são
firmemente baseadas na ética judaico-cristã. Abraão e Moisés podem ser
destronados hoje, mas seus editos morais e ordenanças espirituais estão vivos. O
mundo global e desencantado, acompanhado pela litania dos direitos humanos, da
sociedade ecumênica, e o Estado de Direito – Não são estes princípios que podem ser traçados diretamente
do messianismo judaico cristão que ressurge nesta secular versão sob a roupagem
elegante das modernas ideologias “progressivas”?
E ainda, nós devemos não esquecer que o mundo ocidental
não começou com o nascimento de Cristo. Nem as religiões dos antigos europeus
veem a primeira luz do dia com Moisés – no deserto. Nem a nossa tão apregoada
democracia começou com o período do Iluminismo ou com a proclamação da
independência americana. Democracia e independência – tudo isto existiu na
antiga Grécia, embora em seu único contexto social e religioso. Nossos
ancestrais greco-romanos, nossos predecessores que percorriam as florestas da
Europa central e do norte, também acreditavam em honra, justiça, e virtude,
embora eles vinculassem à estas noções um significado radicalmente diferente.
Tentar julgar, portanto, as manifestações políticas religiosas da antiga Europa
através das lentes de nossos óculos etnocêntricos e reducionista pode
significar perder de vista o quanto nós rompemos de nossa herança antiga, bem
como esquecer que a moderna epistemologia e metodologia têm sido grandemente
influenciadas pela Bíblia.
Apenas porque nós professamos otimismo histórico – ou
acreditamos no progresso do moderno “Estado terapêutico” – não necessariamente
significa que nossa sociedade é de fato o “melhor dos mundos”. Nós sabemos, com
a morte do comunismo, com a exaustão do liberalismo, com a visível depleção das
congregações nas igrejas e sinagogas, nós temos testemunhados a aurora do
neopaganismo, um novo florescimento das velhas culturas, um retorno para as
raízes que são diretamente ligadas aos nossos antigos precursores europeus.
Quem pode contestar o fato que Atenas foi o lar dos europeus antes de Jerusalém
tornar o frequentemente doloroso edifício deles?
Grande lamentar é ouvido hoje de todos os cantos de nosso
desencantado e estéril mundo. Deuses parecem ter partido, conforme Nietzsche
previu um século atrás, ideologias estão mortas, e o liberalismo dificilmente
parece capaz de fornecer o homem com suporte espiritual duradouro. Talvez o
tempo tenha chegado para procurar por outros paradigmas? Talvez o momento é maduro, como Alain de Benoist iria argumentar, para vislumbrar outra
revolução cultural e espiritual – uma revolução que pode bem encarnar nossa
herança pagã europeia pré-cristã?
Tradução
por Mykel Alexander
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Partenon em Atenas na Grécia, construído em 432. a.C. |
Este artigo foi publicado originalmente em Chronicles (A Magazine of American Culture), abril de 1996.
Sobre o autor: Tomislav Sunić
(1953 – ), nascido na Croácia, é um autor, diplomata, tradutor, professor de
Ciência Política, historiador. Estudou francês, inglês e literatura na
Universidade de Zagreb. Tem mestrado na Califórnia State University e recebeu
seu doutorado em Ciência Política na Universidade da Califórnia, Santa Bárbara.
De 1993 até 2001 ele trabalhou como funcionário do governo croata em diversas
posições diplomáticas em Zagreb, Londres, Compenhagen e Bruxelas. Entre seus livros estão:
Against Democracy and Equality: The European
New Right – 1ª edição (New York: P. Lang, 1990), 2ª edição (Newport Beach,
CA: Noontide Press, 2004), e 3ª edição (London: Arktos Media, 2011). Em
espanhol foi publicado como Contra la
Democracia y la Igualdad: La Nueva Derecha Europea (Tarragona: Ediciones
Fides, 2014)
Homo
americanus: Child of the Postmodern Age (USA: Book Surge
Publishing, 2007).Tradução espanhola: Homo
Americanus: Hijo de la Era Postmoderna (Barcelona: Ediciones Nueva
República, 2008).Tradução francesa: Homo Americanus: Rejeton de l’ère
postmoderne (Saint-Genis-Laval: Akribeia, 2010).