domingo, 16 de dezembro de 2018

Ocidente em risco de vida. Mas qual Ocidente? – parte 1 Por Mykel Alexander


Mykel Alexander

           Volta a ser corrente entre parte das massas, e não apenas entre indivíduos que sempre se interessaram pela história e tradição, o tema do Ocidente e os riscos que este enfrenta pela sua sobrevivência. A difusão de um tema entre as massas é em regra, na Idade Contemporânea, um trabalho decorrente dos grandes meios de comunicação, com relevância especial na atualidade para o papel das redes sociais.

            Para a geração atual de pessoas, desta segunda década dos anos 2000, que ouve dizer sobre o Ocidente em perigo, possivelmente passe despercebido que este tema sempre foi corrente, desde as origens históricas do Ocidente, isto é, históricas no sentido rigoroso de ter registro escrito, e isto pode ser remontado com farto registro até o século V a.C. especialmente em Heródoto e Tucídides na antiga Grécia, quando esta representava o Ocidente e a Pérsia o Oriente, duas culturas e duas civilizações frente a frente em luta. O historiador inglês Andrew Robert Burn (1902-1991) ao escrever sobre tal período intitulou seu livro, publicado em 1962, de modo emblemático: Persia and the Greeks – the Defense of the West, c. 546-478 b.C. (Pérsia e os gregos – a defesa do Ocidente – 546-478 a.C.).

            Na atualidade os cristãos católicos alegam que a Europa é a Igreja Católica e a Igreja Católica é a Europa, e que os cristãos sob o poder central da Igreja enfrentaram o Oriente, ou melhor, o mundo islâmico. Por outro lado, os cristãos evangélicos, os que possuem mínimo interesse em história, hoje, associando-se aos cristãos declaradamente sionistas, isto é, cristãos pró-judaísmo, afirmam que Israel é a barreira contra o Oriente, isto é, contra o islamismo ou o terrorismo do islamismo.

            A verdade deve ser apreciada somando vários fatores e considerando-os como convergindo para formar um quadro geral, com cada fator tendo sua importância e relevância.

            Em primeiro lugar a região da Anatólia, onde hoje compreende a parte da Turquia, Síria, Palestina, Israel e a orla banhada pelo Mar Mediterrâneo, foi colônia grega já no século VII a.C., depois estes, os gregos, foram rechaçados pelos persas os quais chegaram até à Grécia continental na Europa, porém, os gregos, por sua vez, repeliram os persas. Não havia nem cristãos nem muçulmanos então, mas era o Ocidente em sua mais profunda natureza, a cultura grega, que estava no centro do combate, contra a tradição persa, esta não sem misturas culturais que talvez tenham alterado a sua ancestral essência original, mas aí iríamos ter que voltar muito no tempo para determinar o que seria a cultura persa original, em sua essência indo-europeia, isto é, ariana. O fato é que quando se dá o choque entre gregos e persas nos séculos VI e V a.C., os persas não são mais apenas indo-europeus, e têm em sua civilização mistura semita. Então, este período de choque entre gregos, predominantemente arianos (em especial da família ariana dórica) e persas não mais predominantemente arianos, pode ser representado como Ocidente sendo ariano ou indo-europeu, e oriente sendo não predominantemente ariano ou não indo-europeu, pois já com mistura semita em sua composição.

            Territorialmente a disputa ficou, pode-se dizer, empatada, uma vez que os persas retiraram os gregos da Anatólia, continente asiático, e os gregos repeliram os persas do continente europeu. Outros “rounds” dessa luta foram travados, com vantagens para a Europa através da expansão de Alexandre o Grande até parte da Índia, conquistando a Anatólia, Egito, Pérsia, Assíria e Babilônia no trajeto durante o século IV a.C. O reino liderando a Europa era obviamente a pátria de Alexandre, a Macedônia. É fundamental considerar que a expansão macedônica permitiu alguns avanços de intercâmbio cultural ao mesmo tempo que abriu as portas para a miscigenação, esta sendo algo sempre evitado pela cultura original ariana ou indo-europeia. Então em termos de conquistas territoriais a luta entre Ocidente, representado não mais pelos gregos, mas sim pelos macedônios, deu vitória aos ocidentais sobre os derrotados povos do Oriente, emblematicamente os persas e, por outro lado, permitiu o influxo para o Ocidente tanto de cultura ariana, isto é, indo-europeia, procedente de certos grupos indo-europeus da Pérsia e Índia, como permitiu ao mesmo tempo a entrada de cultura semita, incluindo a judaica, portanto, se considerarmos o Ocidente como ariano, ou indo-europeu, em essência, culturalmente, através das expansões macedônicas de Alexandre o Grande, houve intrusão na Europa de cultura não-ariana, isto é, houve entrada de cultura semita, entre outras.

            Consequentemente, o Ocidente sendo em essência ariano, ou indo-europeu, e tendo em vista a intrusão tanto cultural quanto racial de componente não ariano, através das expansões de Alexandre o Grande, já podia vislumbrar nessa conjuntura uma ameaça a sua essência original ariana, isto é, indo-europeia.

            O principal gênio do Ocidente, Platão, através de toda sua obra, advertiu a importância fundamental para um povo da preservação de sua raça, cultura e de seus modelos de excelência, tentando não só esclarecer tais conceitos, como resgatar as ancestrais tradições dos gregos diante do esquecimento e enfraquecimento destas pelo desgaste do tempo e pela intrusão de outras culturas e raças na Grécia.

            Com o estabelecimento do império macedônico de Alexandre, que foi de curtíssima duração, seguido da sua rápida fragmentação até assumir uma relativa estabilidade na formação dos impérios dos ptolomaicos no Egito, dos selêucidas na Mesopotâmia e Ásia Central, dos atálidas na Anatólia e dos antígonos na Macedônia, todos os quais não possuíam as barreiras culturais e raciais presentes, de modo geral, nos povos indo-europeus, restavam na Europa mediterrânea tais barreiras apenas em redutos gregos que após a morte de Alexandre o Grande restituíram sua autonomia, e na crescente potência de Roma, que também tendo suas origens arianas, indo-europeias, nas ramificações do grupo itálico (latinos, faliscos, eugâneos e vénetos) que vinham do centro da Europa para o Mediterrâneo empurradas pelos germânicos, conservava os costumes tradicionais indo-europeus, isto é, arianos, de preservação da raça e da cultura.

            Houve um encontro destas duas culturas de origens indo-europeias, isto é, arianas, grega e romana, cuja combinação deu forma ao domínio Romano que iria além de se impor sobre os povos da própria Itália, retomar a unidade quebrada no mundo de então, centrado no Mediterrâneo, circundado por Europa, norte da África e parte da Ásia menor entre os séculos III e II a.C.

            Como dito antes, as consequências das expansões de Alexandre o Grande resultaram na intrusão racial e cultural exótica nos domínios de seu Império, inclusive na Grécia, que apesar de ainda ser uma reserva cultural ariana, isto é, indo-europeia, todavia tinha sofrido grande esgotamento, sendo então nesse período dos séculos III e II a.C. os depositários da maior reserva cultural e racial ariana do mundo mediterrâneo não mais os gregos, mas sim os romanos. Eis que eram estes, os romanos, os conservadores de então, pois conservavam os valores indo-europeus e eram bem críticos de culturas exóticas. A força moral romana, através de coesão política e cultural, deu à República romana o poder sobre parte do Mediterrâneo durante os séculos III e II a.C. mesmo antes da filosofia chegar aos romanos com os estóicos Panécio de Rodes e Possidônio de Apamea, ambos gregos, o que evidencia que mais valia ter um povo moralmente saudável, mesmo sem as maiores alturas do saber que o povo grego tinha atingido, do que ser como os gregos de então, que padeciam de esgotamento de força moral, apesar de terem patrimônio cultural e civilizatório do mais alto nível. A combinação de gregos e romanos foi, respectivamente, a combinação da filosofia, arte e ciência gregas com os costumes, isto é, moral, e política romanas. A maior pureza ariana nesse período dos romanos foi sendo gradualmente complementada com o profundo saber grego.

            Quais seriam essas características da moral romana?
1ª Intensa mentalidade religiosa, entendendo que as atividades do romano são a combinação do esforço deste com a força divina. Nunca estão separados homem e divindade no Universo. A ação na terra reflete nos mundos celestiais e estes refletem na terra. 
2ª Valorização da palavra permeando todas as classes da sociedade romana. Havia um compromisso em manter a palavra, representado no termo ‘fides’. É uma instituição arcaica da mentalidade indo-europeia. 
3ª Harmonia entre a vida privada e a vida coletiva, mas cuja mentalidade é vinculada com o passado e projeta-se para o futuro, mesmo que isso signifique uma vida presente de sacrifícios e renúncias. No final, os romanos portavam-se como “nós romanos” ao invés do individualista “eu fulano, eu ciclano”. O resultado é uma mentalidade de empreendedorismo e iniciativa individual em todos sentidos, do civil ao militar, combinada com fortíssimo espírito de equipe.
4ª Visão do universo penetrante, buscando ao menos compreender as leis básicas deste, SEM FANATISMO. 
5ª Preferência ao ataque frontal e decisivo, combinando contundência, estratégia e tenacidade. Isso resultou em algumas derrotas por não mudarem de estratégia, porém proporcionou conquistas e vitórias de proporções absolutamente superiores aos reveses.
            Novamente, temos os valores indo-europeus, isto é, arianos, como reserva original da Europa, do Ocidente, sendo defendidos contra valores exóticos, principalmente semitas, o que incluía especialmente judeus, já que nem cristãos nem muçulmanos existiam no século II a.C. durante o domínio da República Romana em parte do Mediterrâneo, norte da África e Ásia Menor. Em suma, até aqui, século II a.C., nada mudou, a Europa, isto é, o Ocidente, legitimamente indo-europeu, isto é, ariano, sendo defendido do risco de existência pelas reservas raciais, morais e culturais arianas greco-romanas.

Continua...


* Em 14/01/2019 atendendo dúvidas de foristas, foi aditado no texto deste artigo as cinco enumeradas características romanas, que estavam em nota, porém não tinham sido previamente incluídas.

Sobre o autor: Mykel Alexander é licenciado em História (Unimes), Bacharel em Farmácia (Unisantos) e está no último semestre de licenciatura em Filosofia (Unimes).

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9 comentários:

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    1. Se faz necessário uma básica e crítica leitura histórica uma vez que a contaminação do chamado "politicamente correto" em muitas ciências tem desviado cada ciência de suas próprias atribuições. O que cada ciência evidencia e desagrada o chamado "politicamente correto" sofre ataques em vez de refutações dentro da temática abordada, por isso se faz necessário inicialmente a visão básica e crítica, e depois, tendo cada ponto enumerado, tratá-los um por vez com rigor.

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  2. Os macedônios não eram gregos?

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    1. Em relação às origens macedônicas:

      Geograficamente situavam-se ao norte da Grécia.

      Racialmente tinham predominância indo-europeia.

      Politicamente não faziam parte das ligas das cidades-Estado gregas.

      Mas como colocado no artigo aqui, na transição de Reino da Macedônia para Império, houve fusão de culturas e raças em variadas medidas, dependendo da região.

      Mas, reforçando a diferença entre gregos e macedônicos, é importante destacar que a Macedônia, como reino estrangeiro, conquistou a Grécia inteira no período do Império Macedônico, evidenciando que macedônios eram um povo diferente do grego, apesar da enorme proximidade e muitas origens comuns.

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    1. Olá Sr. Vlasak.

      Vamos partir da etimologia da palavra MORAL: ela é desenvolvida por Cícero, como tradução da palavra grega 'eticos', a qual tem conotação de comportamento, conduta. Tal palavra ganha relevância dentro do contexto filosófico, onde o comportamento, conduta, tem como parâmetro de valoração a relação do homem com o justo, belo, e bom, todas estas palavras também tendo desenvolvimento e importância central na filosofia grega, mas também na religião e política grega. Portanto, o homem buscando em sua vida o comportamento ou a conduta justa, bela e boa, teria uma ética (grega) ou moral (latim, Roma) que fala por ele mesmo, mostra o homem que a possui pelo próprio exemplo de vida.

      Vou enumerar as principais características da moral romana ao meu entender.

      1ª Intensa mentalidade religiosa, entendendo que as atividades do romano são a combinação do esforço deste com a força divina. Nunca estão separados homem e divindade no Universo. A ação na terra reflete nos mundos celestiais e estes refletem na terra.

      2ª Valorização da palavra permeando todas as classes da sociedade romana. Havia um compromisso em manter a palavra, representado no termo 'fides'. É uma instituição arcaica da mentalidade indo-europeia.

      3ª Harmonia entre a vida privada e a vida coletiva, mas cuja mentalidade é vinculada com o passado e projeta-se para o futuro, mesmo que isso signifique uma vida presente de sacrifícios e renúncias. No final, os romanos portavam-se como "nós romanos" ao invés do individualista "eu fulano, eu ciclano". O resultado é uma mentalidade de empreendedorismo e iniciativa individual em todos sentidos, do civil ao militar, combinada com fortíssimo espírito de equipe.

      4ª Visão do universo penetrante, buscando ao menos compreender as leis básicas deste, SEM FANATISMO.

      5ª Preferência ao ataque frontal e decisivo, combinando contundência, estratégia e tenacidade. Isso resultou em algumas derrotas por não mudarem de estratégia, porém proporcionou conquistas e vitórias de proporções absolutamente superiores aos reveses.

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  4. Muito bom, agora consegui ter uma visão mais clara. Irei começar agora em fevereiro o curso de história licenciatura, vou lhe pedir licença para lhe pedir uma lista de livros, artigos ou autores para estudo, claro se for possível. Agradeço desde já.

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    1. Olá Sr. Vlasak

      Em português o material disponível é muito escasso, recomendo entrar no site da Estante Virtual e pesquisar os livros de história da editora Verbo que apesar de serem títulos aí de 30, 40 e 50 anos atrás são ainda basilares e em português. É uma coleção farta e abrangente com autores, em regra, de alto nível, e o preço e acessível.


      Para Grécia recomendo as obras gerais de:

      Andrew Robert Burn (ou A. R. Burn). Disponível em inglês. The Penguin History of Greece, edição de 1985 ou posterior (se foi lançada), pois as anteriores estão sem as atualizações.

      Nicholas Geoffrey Lemprière Hammond (ou N. G. L. Hammond). Disponível em inglês. A History of Greece to 322 B.C. 3rd Edition. Pegar edição de 1986 em diante, pois as anteriores estão sem as atualizações.

      Hermann Bengtson. Disponíveis em espanhol e alemão. Historia de Grecia, editora gredos, qualquer edição.


      Para Roma recomendo as obras gerais de:

      André Piganiol. Disponíveis em espanhol e francês. Historia de Roma. Em espanhol editora Eudeba, qualquer edição.

      Theodor Mommsen. Disponíveis em alemão, espanhol e inglês. Em português a edição é um resumo que cobre nem um décimo do conteúdo original.

      Franz Altheim. Disponíveis em alemão e espanhol (em espanhol saiu em três volumes, Historia de Roma, raríssimo, editora Uteha).


      E como obra geral a série Cambridge Ancient History que é espetacular, em 14 volumes, 19 tomos, com preço surreal porém disponível gratuito neste link:

      https://archive.org/details/iB_Ca

      recomendo baixar eles e começar ler o quanto antes, independente da aquisição dos demais livros, se for o caso.

      Cordialmente.

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  5. Muito obrigado Mykel, irá agregar muito.

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