Guillaume Durocher {academic auctor pseudonym} |
A seguir está um breve resumo da antiga teoria e prática grega de biopolítica, racialismo e nacionalismo. Estes temas, os quais são tabus no Ocidente hoje, foram essenciais para o modo helênico de vida na fundação de nossa civilização ocidental e de nossa única tradição de autogoverno cívico. Eu irei também me referir à algumas das copiosas correntes da literatura acadêmica que documentam isso.
Os gregos acreditavam que, apesar de suas divisões políticas, eles pertenciam a uma nação comum, definida pelo sangue, linguagem, religião e cultura compartilhada. De acordo com Heródoto, os gregos eram “a unidade de todos os helenos pelo sangue e pela língua, e os templos dos deuses e sacrifícios oferecidos em comum, e a semelhança de nossa maneira de viver[1]” (História, 8.144). A retórica patriota pan-helênica – sobre o supremo valor da Grécia e a glória de sacrificar-se a si mesmo para salvar a Grécia – é difundida através de séculos de literatura e discurso político grego[2].
Réplica do Discóbolo do escultor grego Míron (século V a.C.)
Museu Nacional de Roma em Palazzo Massimo alle Terme.
Os europeus do norte da Grécia eram geralmente
considerados bárbaros e espirituosos, enquanto os asiáticos habitando a Pérsia
eram considerados afeminados e submissos. Bárbaros eram frequentemente pensados
como incapazes de autogoverno cívico. Os fenícios eram algumas vezes percebidos
como tendo certos estereótipos semíticos (mercantil, desonesto, gananciosos,
mercenário), mas eram também algumas vezes percebidos como um companheiro povo
avançado, comparativamente organizado e capaz em termos de comércio, guerra, e
autogoverno cívico.
Os gregos tinham uma primitiva teoria e prática da
eugenia. Seguindo a prática de criação animal e simples observação, os gregos
compreendiam que as características humanas físicas e psicológicas eram ao
menos parcialmente hereditárias. Era frequentemente dito que o homem deve
escolher as melhores mulheres como esposas de modo a ter as melhores crianças
possíveis. Devido a dificuldades econômicas, infanticídio através da exposição
era uma cruel prática aceita, a critério dos pais. Em Esparta e Roma, o
assassinato de crianças deformadas era mandatório, um exercício de eugenia negativa.
Os pressupostos sociais e políticos gregos e romanos eram
baseados na ancestral religião indo-europeia. Esta foi um ancestral excludente
culto patriarcal, a qual fez um dever religioso de ter filhos afim de perpetuar
a religião familiar. No clássico trabalho A
Cidade Antiga – Estudos sobre o Culto, o Direito e as Instituições da Grécia
Antiga e de Roma, de Fustel de Coulanges, disse sobre a religião:
Embora a religião ignore em absoluto os deveres da caridade, ao menos traça ao homem, com admirável nitidez, os seus deveres de família. Tona o casamento obrigatório; o celibato é um crime aos olhos da religião que faz da continuidade da família o primeiro e o mais sagrado dos deveres[4].
A religião transformou o lar da família num santuário
sagrado e inviolável, sob a autoridade do pai, obedecido pela esposa, filhos e
retentores, para o bem da família tomada como um todo, incluindo as gerações
passada e futura. Em suma, reprodução e a própria família eram vistas como
sagradas e, portanto, de grande significância religiosa.
Os pressupostos da religião ancestral também se tornaram
lugar comum em contextos não religiosos. A felicidade do homem era equiparada
com a de seus descendentes. Aristóteles disse: “Pensar que a felicidade de
alguém não é influenciada de modo algum pela sorte de seus descendentes e de
todos seus amigos parece ser um pensamento demasiado cruel e que se opõe às opiniões [geralmente] aceitas.”[5] (Ética à Nicômaco, 1.11).
Esta religião familiar indo-europeia e seus pressupostos
foram projetados para a cidade-Estado como um todo, a qual sempre foi uma
entidade religiosa, cada ato público sendo acompanhado por rituais. Coulanges
diz:
O confronto entre crenças e leis {indo-europeias} mostra-nos como esta religião primitiva constituiu as famílias grega e romana, estabeleceu o casamento e a autoridade paterna, fixou os seus graus de parentesco, consagrou o direito de propriedade e o direito sucessório. Esta mesma religião, depois de haver espalhado e aumentado a família, estabeleceu uma associação maior, a cidade, e governou-a na mesma disciplina que a da família[6].
Assim, como a religião ancestral, o ideal de cidadania da
polis foi excludente (servindo somente a cidadãos, tipicamente definidos pelo
sangue), comunitário (tudo poderia ser regulado/esperado para sacrificar-se
pelo todo, com um ideal cidadão-soldado), e reprodutivo (casamento não era para
prazer, mas para filhos de modo a perpetuar a família e comunidade; celibato
era frequentemente punido). Platão, provavelmente expressando a visão política
e religiosa tradicional, escreveu: “Assim a humanidade tem uma afinidade natural
com o conjunto do tempo, acompanhando-o continuamente no presente e no futuro,
sendo o meio pelo qual se imortaliza este: deixando atrás de si os filhos dos
filhos e prosseguindo sempre uma e idêntica, ela assim pela reprodução
participa da imortalidade. Jamais será um ato piedoso privar-se disso
voluntariamente e aquele que negar a si mesmo esposa e filhos é culpado de tal
privação intencional.”[7] (Leis, 721 b-d). Ao procurar regular e melhorar a reprodução da
cidadania em serviço da coletividade e objetivos eugênicos, os gregos foram
eminentemente biopolíticos[8].
A cidade-estado significava para os gregos o povo real
(eles sempre chamavam-se eles próprios “os atenienses,” “os espartanos,” etc.),
seus ancestrais, e seus deuses: “Assim explica o
patriotismo dos antigos, sentimento enérgico entre eles, virtude suprema e a
suster todas as demais virtudes... O amor à pátria, este é a piedade dos
antigos.[9]” Contudo, este patriotismo era uma prática
política muito focada na cidade individual, fazendo seus interesses
absolutamente supremos, com pouca consideração para eventuais assuntos
imperiais, aliados ou companheiros gregos em geral.
Estas observações gerais são evidentes nos exemplos
particulares de Atenas e Esparta. A Atenas de Péricles limitou a cidadania
àqueles com dois pais de pleno sangue ateniense e adotou noção racial de
cidadania, os atenienses sendo supostamente racialmente puros e “surgidos da
Terra” (autóctones)[10]. Sob a lei de Licurgo,
Esparta famosamente fez o treinamento militar, casamento, a criação de filhos,
e luta pela pátria um caminho de vida sistematicamente organizado – um claro
exemplo de uma estratégia evolucionária. Esparta era um etnoestado composto de
dois povos separados não intercruzados: espartanos e escravos hilotas, com
fortes atitudes xenofóbicas sobre outros gregos os quais funcionavam para
prevenir influências no seu modo de vida. Ambos atenienses e espartanos
alegavam estar defendendo a liberdade grega (seja contra o domínio persa ou
contra o imperialismo dos companheiros gregos).
O modo de vida helênico combinou um alto grau de
civilização com o ethos {síntese de costumes de um povo} aristocrata, competitivo e guerreiro indo-europeu,
desenvolvido sobre o curso de incessante batalha e expansão ao longo de
milênios. Este ethos ‘ariano’ é o que tanto atraiu Nietzsche: um povo não
animado pela piedade ou culpa, não tentando alcançar a igualdade impossível ou
fictícia em uma interminável vã tentativa da amenizar esses sentimentos, nem um
povo tentando fazer cada pessoa individualmente feliz. Pelo contrário, a
cultura helênica, impulsionada por esse espírito aristocrático e competitivo,
sustentava o ideal de ser o melhor: o melhor atleta, o guerreiro, o melhor
filósofo, ou o mais bonito. Esta cultura também sustentava o ideal coletivo de
ser o melhor como uma sociedade inteira, porque eles compreendiam que o homem
como espécie somente floresce como uma comunidade.
Inspirados pela experiência helênica, nós podemos
imaginar uma renovação arqueofuturista dos povos ocidentais, quando a moderna
tecnologia e ciência irão ser combinadas com este espírito vital, este ethos
comunitário honrando a excelência, que nossa raça e civilização possam para
sempre florescer. Os gregos, aderindo a uma visão cíclica da história, eram
obcecados em como luxúria, efeminação, e decadência, a perda das tradições
ancestrais e virtudes masculinas, condenaram as sociedades. A renovação não
pode ser decretada, mas pode inesperadamente ocorrer a partir de algum tipo de
colapso, tal como a Segunda Guerra Civil nos Estados Unidos. Como sempre, o
tempo irá dizer.
Tradução
e palavras entre chaves por Mykel Alexander
Notas
[1] Nota do tradutor: A citação foi
feita a partir da tradução do grego ao português por Mário da Gama Kury, em
Herôdotos, História, Editora UnB,
Brasília, 1985.
[2] Nota do autor: Ver Lynette Mitchell, Panhellenism and the Barbarian in Archaic and Classical Greece
(Swansea, Wales: Classical Press of Wales, 2007).
[3] Nota do autor: Benjamin Isaac, The
Invention of Racism in Classical Antiquity (Princeton, New Jersey:
Princeton University Press, 2004). O trabalho de Isaac é típico dos
movimentos documentados por Kevin MacDonald em The Culture of Critique, na medida em que ele procura fazer
patológicas as antigas teorias e observações hereditárias gregas.
[4] Nota do autor: Fustel de
Coulanges, La Cité antique (Paris:
Flammarion, 1984 [1864]), página 143. {Extração aqui usada a partir da edição
em português, A Cidade Antiga,
Editora Martins fontes, São Paulo, 1998, 4ª edição, Livro segundo, IX, páginas
97-98. Tradução do francês ao português de Fernando de Aguiar.}
[5] Nota do tradutor: Extração aqui
utilizada da tradução de Edson Bini, em Aristóteles, Ética a Nicômaco, Editora Edipro, São Paulo, 2014, 4ª edição. Livro
1.11, 1101
a1.
[6] Nota do autor: Fustel de
Coulanges, La Cité antique (Paris:
Flammarion, 1984 [1864]), página 36. {Extração aqui usada a partir da edição em
português, A Cidade Antiga, Editora
Martins fontes, São Paulo, 1998, 4ª edição, introdução, página 4. Tradução do francês
ao português de Fernando de Aguiar.}
[7] Nota do tradutor: Extração
utilizada aqui a partir da tradução de Edson Bini em Platão, As Leis, Editora Edipro, São Paulo,
1999, 1ª edição, Livro IV, página 196.
[8] Nota do autor: ver Mika Ojakangas, On the Origins of Greek Biopolitics: A Reinterpretation of the History
of Biopower (London/New York: Routledge, 2016).
[9] Nota do autor: Fustel de Coulanges, La Cité antique (Paris: Flammarion, 1984
[1864]), páginas 278-279. {Extração aqui usada a partir da edição em português,
A Cidade Antiga, Editora Martins
fontes, São Paulo, 1998, 4ª edição, capítulo VIII O patriotismo. O exílio,
páginas 216-217. Tradução do francês ao português de Fernando de Aguiar.}
[10] Nota do autor: ver Susan Lape, Race
and Citizen Identity in Classical Athenian Democracy (Cambridge: Cambridge
University Press, 2010).
Fonte: The Occidental Observer, 11/08/2018.
Sobre o autor: Guillaume Durocher
é um historiador que escreve sob pseudônimo para o The Occidental Observer.
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