segunda-feira, 30 de julho de 2018

O mundo dos indo-europeus - Por Alain de Benoist


Com uma tradução para o inglês (feita por Robert Lindgren) em 2017 publicada pela editora Arktos, a obra de Alain de Benoist, Vu de Droite: Anthologie critique des idées contemporaines, de 1977 ainda é atual, e em boa hora é saudada para revigorar os estudos mais profundos que são tão necessários para combater a desinformação procedente dos eufemismos, distorções e falácias da globalização. Abaixo segue o artigo “O mundo dos indo-europeus” procedente da tradução vertida ao português em 1981.

Alain de Benoist
O mundo dos indo-europeus


Perto de 450 milhões de representantes da espécie Homo sapiens vivem atualmente na Europa. Herdeiros da mesma cultura, eles têm uma origem comum. Os seus ancestrais chamam-se indo-europeus.

            O termo “indo-europeu” é um termo linguístico. Emprega-se desde o sec. XIX, época em que foram publicados os trabalhos de Frans Bopp, de Alexander Von Hunboldt e de Jakob Grimm, sobre o estudo comparado dos sistemas de linguagem das principais falas europeias (com exceção do húngaro, do finlandês, do basco e do lapão). A partir de uma correlação de forma, este método comparativo deduz (por meio de uma operação de equivalência análoga de cálculos de proporção aritmética) um parentesco demonstrando a necessidade lógica de uma origem comum. Por outras palavras, este método permite encontrar a “incógnita” que constitui, em relação as “línguas-filhas” europeias atuais, uma “língua-mãe” desaparecida: o indo-europeu comum. Descoberta capital, que restituiu o mais longínquo passado ao coração do presente imediato.

            Graças ao esforço dos filólogos, foi possível estabelecer, sucessivamente, a gramática, a sintaxe e o léxico do indo-europeu comum. Por convenção, distinguem-se três estágios sucessivos nesta língua: o proto-indo-europeu, o indo-europeu médio (fase que precede as primeiras dispersões) e o europeu antigo ou indo-europeu tardio, falado, provavelmente, na parte setentrional da Europa central no terceiro milênio a. C.

            Para além de certas falas hoje desaparecidas (ilírio, macedônio, hitita, lowita, tokhariano, trácio-frigiano, etc), a família das línguas derivadas do indo-europeu comum compreende as formas ancestrais das falas indo-arianas (sânscrito, hindu, o antigo persa), assim como o grego, o albanês e a totalidade das línguas eslavas, bálticas, célticas, germânicas e românicas. 

            Os investigadores preocupam-se, desde logo, em saber qual a origem dos povos que utilizaram estas linguagens nos finais da pré-história.

            “Aventou-se então a hipótese”, escreve P. Bosch-Gimpera, “da existência de um povo primitivo (o Urvolk da escola alemã), cuja pátria (Urheimt) se situaria provavelmente na Ásia, falando uma língua originaria (Ursprache), fonte dos dialetos de que derivaram as línguas indo-europeias históricas (Les Indo-Europeens, Payot, 1971).


Duas teses sobre o local de origem

            Inúmeras polêmicas, de onde os pre-juízos políticos nem sempre estiveram ausentes, se levantaram quanto ao local desta terra de origem.

            A linguística, felizmente, dá-nos indicações precisas. “O indo-europeu comum”, observa Nicolas Lahovary, “compreende termos designados a fauna, a flora e o clima das regiões temperadas, mais úmidas do que secas, e mais frias do que quentes (Les Peuples Europeens, La Baconniere, Nauchatel, 1946). No livro que consagrou a antropologia da Europa, Jonh Geibel acrescenta: “Numerosas línguas indo-europeias utilizam palavras visinhas para designar animais: urso, lobo, castor, esquilo; para árvores: bétula, faia, salgueiro; ou ainda para mel, abelha, neve, inverno, vidro, frio. Isto sugere-nos fortemente que os dialetos indo-europeus foram, antes da sua dispersão, falados por indivíduos que habitavam uma região temperada, arborizada e continental”

            A ideia de uma origem “asiática” dos indo-europeus, avançada em 1888 por Max Müller, depois por H. d’Arbois de Jubainville, C. F. Keary e William Ripley, não sendo já defendida por ninguém, deixa lugar a duas teses apenas.

            A tese nórdica ou germânica baseou-se, em primeiro lugar, nos caracteres físicos atribuídos às populações indo-europeias pelos textos antigos. Estes caracteres (cabelos loiros, olhos azuis ou claros, estatura elevada, estreiteza das ancas, lábios finos, proeminência do queixo, dolicocefalia) são específicas das sub-raças nórdicas e fálica, formadas a partir de um substrato do Homem de Cro-Magnon no território compreendendo as margens do mar do Norte e do Báltico, assim como a sua hinterland[1]. Em 1878 Theodor Poesche situa a Urheimat na atual Lituânia. Acrescentando aos argumentos antropológicos os argumentos linguísticos e arquitetônicos, Karl Penka (Die Herkunft der Arier, 1886) alarga esta localização até a Alemanha do norte e à Escandinávia meridional. É seguido por Isaac Taylor (1888) e Herman Hirt (Die Urheimat des Indogermanen, 1892). Em 1902, Gustaf Kossinna, fundador da revista Mennus propõe um local primitivo situado na Germânia central. A mesma tese nórdico-germânica será retomada, em seguida, por Harold Bender, Hans Seger, Schachermeyer, Gustav Neckel, Ernst Meyer, Julius Pokorny, Stuart Mann, etc. Ela foi renovada recentemente por Nicolas Lahovary (1946), Paul Thieme (Die Heimat der Indogermanischen Gemeinsprache, 1953) e Ram Chandra Jain (The Most Ancient Arya Society, 1964).

            A segunda tese é a de uma Unheimat situada na Europa central ou na Rússia meridional. Otto Schrader sustentou-a pela primeira vez em 1890, seguido por V. Gordon Childe (The Aryans, 1926), Georges Poisson (Les Aryens, 1934) Walter Schulz (1935), R. A. Crossland (1957), etc. Em 1961, P. Bosch-Gimpera escreve: “A agregação que provocará a formação dos povos indo-europeus manifesta-se em meados do neolítico[2], provavelmente no quinto milênio. Este papel poderá vir a ser desempenhado pelos grupos étnicos do centro da Europa”. Em 1962, Giacomo Devoto (Origini Indeuropee) chega as mesmas conclusões.

            A ideia de um local primitivo na Rússia meridional, foi particularmente defendida pela arqueóloga Marija Gimbutas, cujos principais trabalhos apareceram a partir de 1956. Segundo ela, a cultura dos Kurgos, cujos portadores, vindos pelo vale do Danúbio, puseram fim cerca de - 4000 à civilização balcânica da velha Europa (que se tinha desenvolvido a partir de -7000, independentemente das culturas do nordeste europeu como das da Arábia e da Mesopotâmia, desde a Sicília às costas do Adriático, as bacias do Don, do Dniest e do Niepr ate as ilhas do mar Egeu), era de natureza indo-europeia e os seus representantes devem ser considerados como os primeiros indo-europeus.

            As duas teses não são, aliás, inconciliáveis. Um autor como Ward Goodenough (Evolution of Pastoralism and Indo-European Origins, in G. Cardona, H. M. Hoenigswald e A. Seen, ed. Indo-European and Indo-Europeans, University of Pensylvania Press, Filadélfia, 1970) propôs que se visse, nos povos kurgos, uma simples extensão pastoral de uma cultura indo-europeia que se teria desenvolvido primeiro na Europa do norte. É uma parte destes povos que, após ter destruído a velha civilização europeia, teria descido para o sul difundindo, na sua passagem as técnicas da metalurgia do bronze, tendo dado origem aos Louvitas, aos Hititas históricos e aos gregos micênicos. A outra parte, misturando-se aos elementos desta cultura que restaram na Europa central, teria fornecido os contingentes de uma diáspora posterior. Esta teoria, aparentemente muito convincente, e conciliável com a de Hans Krahe, que distingue, no plano linguístico, o velho europeu (alteuropasch – não confundir com os Antigos Europeus de que fala Marija Gimbutas) e o indo-europeu (indogermanisch) propriamente dito. Ela é citada favoravelmente por James P. Mallory, autor de um dos estudos mais recentes sobre a questão (A Short History of the Indo-European Problem, in Journal of Indo-European Studies, vol. I, 1973, n. 1, Hattiesburg, Miss). O local primitivo poderia, então, estar situado em uma zona circunscrita entre o Elba e o Vístula, estendendo-se a norte até à Jutlandia e a sul ate à região montanhosa que termina com os Cárpatos.


Estruturas sociais

            “Historicamente comprovados” aí pelo segundo milênio a. C., os indo-europeus tinham já uma longa historia atrás de si. “ A arqueologia fá-los remontar até ao princípio do neolítico”, precisa P. Bosch-Gimpera, “situando-se as raízes de tais formações étnicas no mesolítico[3]”. Um autor como o búlgaro Georgiev fala mesmo do fim do paleolítico[4].

            “Por alturas do oitavo milênio antes de Cristo”, lembra M. Geipel, “os glaciares escandinavos retiraram-se definitivamente para norte. As ilhas britânicas separam-se do continente. O Báltico junta-se ao mar do Norte. A tundra cobre-se de florestas espessas. A Europa goza, então, de um clima temperado”

            A partir do segundo neolítico[5], os grupos indo-europeus tornaram-se semi-sedentários. Os homens consagram-se à criação de animais, as mulheres e os mais jovens praticam uma agricultura rudimentar. Este novo tipo de economia sucede a um outro modo de vida, a dos grandes caçadores, que se nomadizavam sobre um território bastante extenso, e em que os seus membros estavam reagrupados segundo os períodos de idade a que pertenciam. Do fato citado resulta uma explosão demográfica, que acompanha uma transformação completa da vida social

            É efetivamente nesse momento que os genos, ou grandes famílias de caráter exogâmico – o seu nome vem de eg-, termo indo-europeu “reconstruído”; designando a ideia de “si mesmo”; conferir latim ego –, se começam a ligar entre eles, a fim de preservar as propriedades hereditárias em comum e de impedir a dispersão de homens jovens e válidos. Cada genos estabelece, ou reforça ainda, o costume exogâmico e a organização patriarcal que o caracterizam no quadro de uma associação tribal com outros genos, no seio da qual as alianças se concluem com casamentos segundo uma estrutura relativamente rígida, à base de obrigações e de prestações recíprocas. Não abrangendo senão homens livres, “bem-nascidos” (“ingênuo”= ingenos), os genos tornam-se  assim uma “comunidade de sangue”. Como tal, distingue-se da comunidade econômica, o domus que é o conjunto formado pelo genos e pela nova classe dos não-proprietários, escravos ou servos livres. A um nível superior, estabelece-se uma distinção semelhante entre wenos (termo derivado de we -, “nós”; ef. inglês we, alemão wir) ou comunidade por aliança, resultado da associação de três genos, e a comunidade econômica correspondente, o weikos (conferir latim vicus, francês village).

            Posteriormente, estruturas sociais mais complexas (cidades independentes, reinos, etc.) estabelecer-se-ão na mesma base, definindo-se o povo simplesmente por um “nós” mais vasto – como um conjunto de homens e de mulheres ligados uns aos outros por aliança. Do mesmo modo, a noção de ethnos (sw-edh-nos) deriva diretamente da swe, quer dizer, da comunidade de sangue, em que a troca de mulheres no interior do wenos assegura e garante a manutenção.

            Na base, o sistema é fundamentalmente patriarcal. O genos definem-se por uma identificação com o ego paternal, representante de uma linhagem que ascende ao deiwos-pèter, ao “deus-pai”. Enquanto que, em certas sociedades primitivas de tipo agrícola, um assassínio ritual, o “assassínio sagrado do rei” (conferir o assassínio do pai na doutrina de Freud), simboliza a destruição da filiação paternal, e assegura, somente, a validade da descendência matrilinear, nos indo-europeus a “parte do pai” é assegurada por um rito derivado da “incubação”.  O pai “engendra” simbolicamente, tomando-o entre os seus joelhos: simulacro do ato de dar à luz. No vocabulário do indo-europeu comum, diz-se da mãe que ela “põe no mundo”. O que explica que palavras tão diferentes como genos, genou (joelho), engendrar, etc., sejam todas derivadas da mesma raiz gen-.


Soberano eleito

            Logo que as circunstancias levem os genos a dotarem-se de uma autoridade geral, é necessariamente sobre um dos pèteres, um dos chefes de genos, que a escolha recai. “O rei tem com os seus súbditos a mesma ligação que um chefe de família com seus filhos” (Aristóteles). O chefe é eleito pelos seus pares nomeadamente quando se trata de designar um reg-s, quer dizer, um rei (latim rex, gaulês rix, sânscrito rajá). É apenas na época histórica que esta delegação do poder de provisória se tornará permanente, realizando, assim, a monarquia hereditária. Na origem, o rei é submetido ao controlo dos pèteres, no seio de uma assembleia análoga à sabha dos indos-arianos, a gerousia grega, ao senatus romano, ao thing germânico, ao althing islandês, etc. Assim, a forma elementar de soberania, entre os indo-europeus, defines-se a si mesma como uma espécie de aristo-democracia, em que o monarca exerce uma função que é, simultaneamente, religiosa e política. Toda a sociedade indo-européia é, portanto, uma sublimação do genos, em que a coesão social se realiza pela projeção desta estrutura original numa super-estrutura religiosa e política – sendo estes dois termos indissociáveis, uma vez que, entre os indo-europeus, a sociedade dos deuses é uma projeção da dos homens, resultando o próprio culto cívico de uma projeção do culto doméstico, colocado sob a responsabilidade do pai.

            Pastores, agricultores e guerreiros, os indo-europeus trabalham na cerâmica e dedicam-se è metalurgia. “Os homens montavam cavalos e selvagens utilizavam os bois como animais de tração”, escreve Geipel. Os rebanhos são símbolos de prosperidade. O termo indo-europeu peku, que se encontra nas falas itálicas, germânicas e indo-iranianas, com o significado primitivo de riqueza pessoal (conferir latim pecúnia, Frances pécule, acabou mesmo por designar o gado: latim pecus, sânscrito pàsu, Frances pécure. Conferir o gótico fahiu, “fortuna”, e o velho-alto-alemão fihu, “gado”.)


A visão do mundo

            Os trabalhos dos indo-europeístas, e particularmente os de George Dumézil, demonstraram a existência – antes mesmo das primeiras dispersões – de uma “ideologia” indo-européia comum, isto é, uma estrutura mental especifica, conformada por uma mesma visão de mundo, manifestando-se por uma mesma visão de  mundo, manifestando-se por uma concepção particular do fato religioso, da sociedade, da soberania, das relações entre homens e os deuses, e por uma teologia, uma liturgia, uma poesia e uma literatura ética comuns. Esta “ideologia”, escreve Dumézil, é “a obra dos pensadores de que são, herdeiros os brâmanes, os druidas e os colégios sacerdotais romanos” (L’Idéologic Tripartie des Indo-Européens, Latomus, Bruxelas, 1958) No campo da poesia, os trabalhos de Antoine Meillet e de Roman Jakobson, depois de Calvert Watkins e de Donald Ward, fizeram aparecer nos domínios grego, védico, eslavo e irlandês analogias estruturais que só se podem explicar por uma herança comum e que deixam presumir a existência, entre as primeiras comunidades indo-européias, de uma corporação de “cantores-poetas” muito semelhantes aos file irlandeses e aos menestréis da velha Escandinávia.

            A propósito de sociedade indo-europeia, Donald Ward (On the Poets and Poetry of the Indo-European, in Journal of Indo-European Stadies, Vol. I, 1973, N.º 2, Hattiesburg, Miss) retomou a frutuosa distinção, introduzida por Magaret Mead (Cooperation and Competition Among Primitive Peoples, New York, 1937) entre as shame cultures ou “culturas da vergonha” e as guilt cultures ou “ culturas da culpa”. Nas shame cultures, a noção fundamental é a da honra; poder encarar-se a si próprio. Esta ética da honra implica uma ligação direta com o meio sócio-cultural; por um ato desprezível, pode-se desonrar o próprio nome e, para além de outras conseqüências, o dos ancestrais e o dos descendentes de sua linhagem. Nas guilt cultures, a falta é objectivada pelo recurso a uma instância superior, que interioriza e individualiza a sanção; dogmas revelados definem uma moral do pecado. Segundo M. Ward, a noção de “desonra”, comum aos gregos, aos latinos, aos irlandeses e aos escandinavos, é tipicamente indo-européia, em oposição a noção de “falta”, característica dos grandes sistemas metafísicos universalistas.        


Caracteres específicos

            Toda  a historia antiga da Europa se articula em redor de duas grandes vagas de migrações indo-europeias:  uma por volta de 2200 – 2000, e a outra de 2500 a. C. Daí procedem as sociedades iranianas e védicas, o Império hitita e os reinos dos planaltos da Anatólia, as civilizações  históricas dos gregos e dos latinos, dos celtas e dos germanos. A oeste, os indo-europeus povoam Gália, a Península Ibérica, a Inglaterra e a Escandinávia. A sul, segundo a cronologia tradicional, a cidade de Roma fundou-se em Abril de 753 a. C. A leste, os povos indo-europeus avançarão até à China onde a sua influencia se fará sentir nos “reinos bárbaros” do norte do país. Segundo Hans Jansen, as palavras chinesas mi, “mel”, chyan, “cão” yen, “ganso”, ma, “cavalo”, seriam, entre outras, de origem indo-europeia.

            Graças a domesticação dos cavalos e ao uso dos metais e dos carros de combate, os povos indo-europeus lançaram-se assim, em vagas sucessivas, à conquista do mundo. (Durante muito tempo, um dos traços característicos do homem bem-nascido será a possessão do cavalo, tal como testemunha a consideração de que goza o equus romano ou gaulês; cf. as palavras francesas cavalier e chevalier, as alemãs reiter e ritter, etc.). “Contudo”, escreve Nicolas Lahovary, “seria necessário considerar, antes de mais, estas conquistas como a resultante de uma grande energia e virtudes militares superiores. Mais uma vez, seria não nas condições materiais mas em certas qualidades psicológicas, na força de caráter dos indivíduos e, por conseguinte, no seu grupo étnico que seria necessário, em primeiro lugar, procurar o segredo do êxito prodigioso dos indo-europeus, a sua conquista de povos inteligentes cuja civilização era bem mais desenvolvida do que a deles”

            Após haver traçado a historia destas migrações, de um modo alias bastante sumário e por vezes confuso, John Gaipel examina a distribuição de alguns caracteres físicos próprios aos antigos Europeus: estatura, cor dos olhos e dos cabelos, índices cefálicos e faciais, etc.

            Certas observações suas comportam prolongamentos inesperados. “É talvez significativo, por exemplo, que as únicas partes da Europa em que a sobreposição vertical das maxilas ainda existe e só recentemente foi suplantada pelo avanço da maxila superior, são justamente as regiões em que as sibilantes dentais (o som “th” inglês) são ainda utilizadas na fonética das linguagens locais.

            O parentesco etnológico dos povos europeus é ainda confirmado pela distribuição especifica dos grupos sanguíneos O (45 a75% dos sujeitos), A (5 a 40 %) e B (4 a 18%).

            John Geipel estuda, igualmente, a fisionomia dos europeus atuais antes de se lançar “na pesquisa das raças da Europa”. Tarefa à qual ele se resigna, com reticências muito pouco cientificas.

            “O homem que outrora chegou a Europa era um mestiço,” lembra-o ele a todo o momento, “e nós, seus descendentes, não somos outra coisa”. Mas todo o individuo é um “mestiço” na medida em que resulta de um certo numero de cruzamentos, a começar pelo dos pais. E Geipel sobrestima a ingenuidade do publico se acha que o confunde revelando-lhe o fato de as características raciais serem sempre relativas.

            A raça é uma noção dinâmica, evolutiva, estatística. Define-se pela frequência média de um certo numero de genes que determinam, para uma dada população, caracteres ou predisposições físicas, patológicas e psicológicas. Propor, como o professor Livington, substituir este termo pelo de “linha de frequência”, é jogar com as palavras – pois é precisamente na combinação das “linhas de frequência” que os antropólogos vêem a definição racial dos grandes ramos da humanidade.

            Georges Montandon foi o primeiro, em 1933, a substituir a ideia de “homogeneidade racial” à de “raça pura”, expressão equívoca, sem valor cientifico – e, logo tanto mais fácil de refutar. Caracterizando-se a evolução por uma diferenciação cada vez maior, observava ele aliás (La Race, les Taces, Payot), há toda a probabilidade de supor que “o indiferenciado de origem é um primitivo.”

            Geipel afirma também que a língua e a etnia “não exercem absolutamente nenhuma influencia uma sobre a outra”. É bem certo que os negros da America falam inglês. Mas a reaparição da morfologia própria das línguas africanas (aglutinantes) nas falas das Antilhas ou no Black English (a língua dos ghettos dos Estados Unidos) não é menos reveladora disso.

            Não se pode também esquecer que, de uma época para a outra, o contexto varia. O acontecimento que foi a “revolução neolítica” provocou a junção de grupos humanos que tinham ficados isolados outrora, durante todo o período de formação das raças. “Este isolamento, condicionado a diferenciação racial”, escreve Giorgio Locchi, “agravou-se com um isolamento linguístico ao qual correspondia uma extrema diferenciação da língua. Por este fato, não é arriscado afirmar que no fim desta época da humanidade, a cada grupo racial correspondia uma língua especifica” (“linguistique et Sciences Humaines”, in Nouvelle École, Abril-Maio de 1968).~


Algumas Obras

            Exceto as obras capitais de Georges Dumézil (“Mythe et Epopée”, Gallimard) e de Émile Benveniste (Vocabulaire des Instituitions Indo-Européenes, Minuit), encontram-se, em França, apenas algumas obras de aparição recente, consagradas aos princípios (ignorados) da civilização indo-europeia, tais como as de T. Bosch-Gimpera (Les Indo-Européens, Payot, 1962), Sigfrid de Laet ( La Pre-histoire de Europe, Meddens, 1965), Guido A. Mansuelli ( Les Civilisations de Europe Ancienne, Arthaud, 1967) e Jacques-Pierre Millote (Précis de Protohistoires Européenne, A. Collin, 1970) . Alguns destes títulos revelam-se ainda bastante ilusórios, enquanto que a maior parte dos trabalhos dos grandes indo- europeistas contemporâneos continuam à espera de ser traduzidos. A própria universidade desinteressa-se completamente do assunto: nenhum curso sobre as origens da nossa  civilização figura nos programas dos liceus e das faculdades.

            Apesar dos seus defeitos (alguns) a obra de Gaipel chega, pois, na hora certa. Pois que, contrariamente ao que afirma o seu autor a “caça aos antepassados” não é nem estéril nem irrisória. Muito pelo contrário: o passado mais longínquo inspira o futuro mais poderoso.

L Anthropologie de Europe”, ensaio de Jonh Geipel, Laffont, 356 páginas.

Desde a publicação do livro de John Geipel, os únicos grandes trabalhos publicados em França sobre os indo-europeus foram os de Georges Dumézil, particularmente “Idées Romaines” (Gallimard, 1969), “Fêtes Romaines d’Êté et d Automne” (Gallimard, 1965), assim como os vols. II e III de “ Mythes et Êpopées” (Gallimard), 1971 e 1978). Um numero especial consagrado à obra de Dumézil (com textos de Jean-Claude Rivière, Robert Schilling, Mircea Eliade, Georges Charachidzé, etc.) foi igualmente publicado pela revista “Nouvelle Êcole” (N.º 21-22, inverno de 1972-1973).

Nos países de língua inglesa ou alemã, assim como nos países de leste, os estudos indo-europeus estão nitidamente mais desenvolvidos. Nos Estados Unidos, uma importante revista trimestral, “The  Journal  of Indo-European Studies” (Sala 108, 1785 Massachussets Avenue N.W., Washington, D.C. 20036), aparece a partir de 1973 sob a direção do Dr. Roger Pearson.         



Notas


[1] Nota por Mykel Alexander: Hinterland em inglês ou hinterlândia em português é: 1) o conjunto das terras situadas no interior; 2) região afastada das áreas urbanas, ou, simplesmente dos centros metropolitanos ou culturais mais importantes (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2001, 1ª Edição, vocábulo hinterlândia.)

[2] Nota por Mykel Alexander: “Período da Préhistória que segue ao Paleolítico (depois do período de transição chamado Epipaleolítico ou Mesolítico) e que antecede à Idade dos Metais, na que o homem adotou transformações socioeconômicas relacionadas com a produção de alimentos (agricultura, pecuária e pastoreio), com a tecnologia, com o comércio e intercâmbio, com a ideologia, etc. (La Prehistoiria y Su Metodologia Manual, Editorial Centro de Estudios Ramón Areces, S.A. Madrid, 2010, primeira edição, vocábulo Neolítico, página 236).
Situa-se o neolítico na linha do tempo, dependendo da região, entre 12,500 à 5,500 a.C. (The Oxford Handbook of Archaeology, Oxford, New York, 2009).

[3] Nota por Mykel Alexander: “Período cultural e industrial que representa às sociedades que viveram entre o final do Paleolítico superior e o começo do Neolítico, associado a culturas de caçadores complexos, com economias de amplo espectro e com signos sociais e ideológicos muito avançados (por exemplo, primeiras necrópoles). (La Prehistoiria y Su Metodologia Manual, Editorial Centro de Estudios Ramón Areces, S.A. Madrid, 2010, primeira edição, vocábulo Mesolítico, página 234). 

[4] Nota por Mykel Alexander: “Termo criado por J. Lubbock em 1865 para designar o período de tempo mais dilatado do homem na Terra, que etimologicamente significa Pedra antiga e que deriva do termo Idade da Pedra talhada, associada a sociedade de caçadores e coletores e em particular às mais remotas origens da Humanidade. Se divide em três grandes períodos: Paleolítico inferior, Paleolítico médio e Paleolítico inferior (La Prehistoiria y Su Metodologia Manual, Editorial Centro de Estudios Ramón Areces, S.A. Madrid, 2010, primeira edição, vocábulo Paleolítico, página 238).
As origens do paleolítico na linha do tempo nos últimos 100 anos iniciaram com a estimativa de 1 milhão de anos, e nas últimas duas décadas recuaram até aproximadamente 2,6 milhões de anos, estando atualmente em 3,3 milhões de anos (Nature, volume 521, páginas 310–315 - 21 de maio de 2015). Link: https://www.nature.com/articles/nature14464

[5] Nota por Mykel Alexander: O Segundo Neolítico refere-se à chamada Revolução Neolítica quando houve a transição das sociedades de coletores para a sociedade agricultora. Na Europa esta fase ocorreu entre aproximadamente 7000 a.C. e aproximadamente 2000 a.C. de acordo com a região.



Fonte: Nova Direita Nova Cultura – Antologia crítica das ideias contemporâneas; Editora Afrodite, 1981, Lisboa – Portugal.

  
Sobre o autor: Alain de Benoist (1943 – ) é um acadêmico e jornalista francês formado em Direito (Universidade de Paris, especializado em Direito Constitucional) e Filosofia (Universidade de Sorbonne, especializado em Sociologia e História das Religiões). De vasta obra literária, escreveu mais de 60 livros assim como ultrapassou a marca de 4500 artigos escritos, 50 teses universitárias, e 140 reportagens, e na atualidade é uma das mais respeitadas autoridades sobre a cultura ocidental. Por quatro anos foi editor da revista semanal L'Observateur europée, depois foi editor da L'Echo de la presse et de la publicité's, em 1969 assumiu o cargo de editor da Nouvelle Ecole, cargo que ocupa até hoje, e desde 1988 tem sido editor da revista Krisis.

Dentre seus livros foram traduzidos para português:

Nova Direita Nova Cultura – Antologia crítica das ideias contemporâneas; Editora Afrodite, 1981, Lisboa – Portugal.

Comunismo e nazismo – 25 reflexões sobre o totalitarismo no século XX (1917 – 1989), Editora Hugin, 1989, Lisboa – Portugal.

Odinismo e Cristianismo no Terceiro Reich – a Suástica contra a Irminsul – Editora Antagonista, 2009, Portugal; capítulo A fábula de um “paganismo nazi”.

Para Além dos Direitos Humanos – defender as liberdades – Editora Austral, Porto Alegre, 2013.

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