Murray N. Rothbard |
O revisionismo conforme
aplicado à Segunda Guerra Mundial e suas origens (como também para as guerras
anteriores) tem a função geral de trazer a verdade histórica para um público
americano e mundial que tinha sido drogado pelas mentiras e propaganda do tempo
de guerra. Isto, por si próprio, é uma virtude. Mas algumas verdades da
história, naturalmente, podem ser grandemente de interesse antiquário, com
pouca relevância para as preocupações do presente dia. Isto não é verdade sobre
o revisionismo da Segunda Guerra Mundial, o qual tem uma significância muito
crítica para o mundo de hoje.
A menor das lições que o revisionismo pode ensinar tem já
sido completamente aprendida: que a Alemanha e o Japão não são unicamente
“nações agressores,” sentenciados desde o nascimento para ameaçar a paz do
mundo. As lições maiores têm, infelizmente, ainda de ser aprendidas. Os Estados
Unidos estão novamente sendo sujeitos àquele “complexo de medo e gabação” (numa
brilhante frase de Garet Garretts {jornalista americano e contra a entrada dos
EUA na Segunda Guerra Mundial}) o qual nos dirigiu, e ao mundo ocidental, para
duas outras guerras desastrosas em nosso século. Uma vez mais, o público
americano está sendo sujeitado a uma barragem de propaganda de guerra e
histeria de guerra quase unânime, de modo que somente os mais racionais e
pesquisadores podem manter suas cabeças. Uma vez mais, nós descobrimos que tem
emergido em cena um Inimigo, um Cara Mau, com as mesmas velhas características
de Cara Mau que nós temos ouvido antes; um diabólico e monolítico inimigo, o
qual, gerações atrás em alguns “textos sagrados,” decidiu (por razões que
permanecem obscuras) que estava “saindo para conquistar o mundo.”
Desde então, o Inimigo, na escuridão, secretamente,
diabolicamente, tem “ocultamente planejado,” conspiratoriamente, conquistar o
mundo, construindo uma vasta, poderosa e esmagadora máquina militar, e também
construindo uma poderosa internacional e “subversiva” “quinta coluna”, a qual
funciona como um exército de meras marionetes, agentes do quartel general
central do Inimigo, pronto para cometer espionagem, sabotagem, ou qualquer
outro ato de “minar” outros estados. O Inimigo, então, é “monolítico,”
governando somente e estritamente do topo, por uns poucos mestres governantes,
e é dominado sempre pelo único propósito de conquista do mundo. O modelo a ter
em mente é o Dr. Fu Manchu {personagem chinês de ficção que liderava uma
organização criminosa internacional}, aqui trotado a frente como um bicho-papão
internacional.
O Inimigo, então, diz a propaganda de guerra, é guiado
por senão um único propósito: a conquista do mundo. Ele nunca sofre de tais
emoções humanas como medo – medo que nós
possamos atacá-lo – ou crença que ele
está atuando em defesa, ou por respeito próprio e o desejo de salvar a face
diante de si próprio bem como perante outros. Nem possui ele tais qualidades
humanas como a razão.
Não, há somente um outra emoção que pode balançá-lo: uma
força superior irá compeli-lo a “recuar.” Isso é porque, mesmo embora um Fu
Manchu, ele é também como o Cara Mau no filme de faroeste: Ele irá encolher
perante o Bom Moço se o Bom Moço é forte, armado até os dentes, resoluto em
propósito, etc. Por isso, o complexo de medo e gabação: medo do supostamente
implacável e permanente plano oculto do Inimigo; gabando-se de enorme poder
militar da América e intrusiva através do mundo, para “conter,” “reverter,”
etc., o Inimigo, ou para “libertar” as “nações oprimidas.”
Agora o revisionismo nos ensina que este mito inteiro,
tão prevalente então e mesmo agora sobre Hitler, e sobre os japoneses, é um
tecido de falácias do começo ao fim. Cada tábua grossa nesta evidência de
pesadelo é ou completamente não verdadeira ou não inteiramente a verdade. Se as
pessoas aprenderem esta fraude intelectual sobre a Alemanha de Hitler, então
irão começar a perguntar questões, buscar questões, sobre a atual versão da
Terceira Guerra Mundial do mesmo mito. Nada pararia a atual fuga que se atira
de cabeça para a guerra o mais rapidamente, ou mais certamente causaria as
pessoas a começar a raciocinar sobre as questões estrangeiras uma vez mais, depois
de uma longa orgia de emoção e clichê.
Pois o mesmo mito é agora baseado nas mesmas velhas
falácias. E isto é visto pelo crescente uso que os executores da Guerra Fria
têm estão fazendo do “Mito de Munique”: a continuamente repetida acusação que foi
o “apaziguamento” do “agressor” em Munique que “alimentou” sua “agressão”
(novamente a comparação, do Fu Manchu, ou da Besta Selvagem), e que causou com
que o “agressor,” bêbado com suas conquistas, lançasse a Segunda Guerra
Mundial. Este mito de Munique tem sido usado como um dos principais argumentos
contra qualquer tipo de negociações racionais com as nações comunistas, e
estigmatizado mesmo as mais inofensivas buscas de acordo como “apaziguamento.”
É por esta razão que o magnífico Origins
of Second World War de A. J. P. Taylor recebeu provavelmente sua mais
distorcida e frenética resenha nas páginas da National Review.
Já é aproximadamente a hora que os americanos aprendam:
que os Caras Maus (nazistas ou comunistas) podem não necessariamente querer ou desejar
a guerra, ou saindo para “conquistar” o mundo (a esperança deles para
“conquista” pode ser estritamente ideológica e não militar, em suma); que os
Caras Maus podem também temer a possibilidade do uso de nosso enorme poder
militar e postura agressiva para ataca-los; que ambos os Caras Maus e Bons
Moços podem ter interesses comuns os quais fazem a negociação possível (por
exemplo, que nenhum deles querem ser aniquilados por armas nucleares); que
nenhuma organização é um “monólito,” e que os “agentes” são frequentemente
simplesmente aliados ideológicos que podem e se separam de seus supostos
“mestres”; e que, finalmente, nós podemos aprender a mais profunda lição de
todas: que a política doméstica de um governo frequentemente não é um índice
qualquer que seja de suas políticas externas.
Nós
estamos ainda, em última análise, sofrendo da ilusão de Woodrow Wilson: que as
“democracias” ipso facto nunca
embarcarão em guerra, e que “ditaduras” são sempre inclinadas para se engajar
em guerra. Tanto como nós podemos e abominamos os programas domésticos da
maioria dos ditadores (e certamente dos nazistas e comunistas), isto não tem
necessária relação com suas políticas externas: na verdade, muitas ditaduras
têm sido passivas e estáticas na história, e, ao contrário, muitas democracias
têm liderado a promoção e empreendendo a realização da guerra. O revisionismo
pode, de uma vez por todas, ser capaz de destruir este mito wilsoniano.
Há somente uma real diferença entre a capacidade de uma
democracia e uma ditadura para o empreendimento e realização da guerra:
democracias invariavelmente engajam uma propaganda de guerra enganosa muito
mais amplamente, para chicotear e persuadir o público. Democracias que
empreendem e realizam guerra necessitam produzir muito mais propaganda para
chicotear seus cidadãos, e ao mesmo tempo camuflar suas políticas muito mais
intensamente numa santimonial moral hipócrita para enganar com truques os
eleitores. A carência de necessidade para isto em parte das ditaduras
frequentemente faz com que suas políticas pareçam superficialmente serem mais
inclinadas para a guerra, e esta é uma das razões porque eles têm tido uma
“imprensa ruim” neste século.
A tarefa do revisionismo tem sido penetrar abaixo dessas
superficialidades e aparências para as cruas e severas realidades logo abaixo –
realidades as quais mostram, certamente neste século, os EUA, Grã-Bretanha, e
França – as três grandes “democracias” – serem piores que quaisquer outros três
países em fomentar e em empreender e realizar guerra agressiva. A compreensão
desta verdade seria de incalculável importância no cenário atual.
Conservadores não necessitam ser lembrados da fragilidade
do mito “democrático”; nós somos familiares agora com o conceito de “democracia
totalitária,” da frequente propensão das massas para tiranizarem as minorias.
Se conservadores não podem ver esta verdade nas questões domésticas, por que
não nas do exterior?
Há muitas outras, mais específicas, mas também
importantes, lições que o revisionismo pode ensinar-nos. A Guerra Fria, bem
como as Primeira e Segunda Guerras Mundiais, tinha sido lançada pelas
democracias ocidentais para interferirem indevidamente nas questões da Europa
Oriental. O grande fato do poder da Europa Oriental é que as nações menores
estão fadadas a estarem sob o domínio, amigável ou não, da Alemanha e/ou da
Rússia.
Na Primeira Guerra Mundial, os EUA e Grã-Bretanha foram
para a guerra parcialmente para ajudar a Rússia se expandir em parte da Europa
Oriental então dominada pela Áustria-Hungria e Alemanha. Este ato de
intromissão indevida de nossa parte, ao custo de vidas indizíveis, tanto no
Ocidente quanto no Oriente, e de um enorme crescimento em militarismo, estatismo,
e socialismo em casa, levou a uma situação na Europa Oriental a qual trouxe os
EUA e a Grã-Bretanha para a Segunda Guerra Mundial, para manter fora a Alemanha de dominar a Europa Oriental.
Tão logo quanto a Segunda Guerra Mundial estava terminada
(com seu consequente enorme aumento em estatismo, militarismo, e socialismo nos
EUA), os EUA e Grã-Bretanha sentiram que eles tinham que lançar uma Guerra-Fria
para desapossar a Rússia de seu domínio sobre a Europa Oriental a qual ela
tinha obtido como uma consequência natural da derrota conjunta da Alemanha. Por
quanto tempo mais os EUA estarão a jogar com o destino do povo americano, ou
mesmo da própria raça humana, para a causa no interesse de impor uma solução de
nosso próprio gosto sobre a Europa Oriental? E se nós devemos empreender e
realizar um holocausto para “destruir o comunismo,” e se (duvidosamente)
houvesse qualquer americano restando, quão distinguível do comunismo irá o
sistema americano, na realidade, ser?
Tem havido duas maiores facetas na Guerra-Fria: tentar
estabelecer a hegemonia dos EUA e Grã-Bretanha sobre a Europa Oriental, e
tentar suprimir as revoluções nacionalistas que levariam os países
subdesenvolvidos fora da órbita do imperialismo ocidental. Aqui novamente, o
revisionismo da Segunda Guerra Mundial tem importante lições para nos ensinar
hoje. Pois na Primeira Guerra Mundial, a Inglaterra, com os EUA na retaguarda,
foi para a guerra contra a Alemanha para tentar manquejar um importante
competidor comercial o qual tinha começado tarde no jogo imperialista. Antes
das Primeira e Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha e França tentaram
preservar sua dominação imperialista contra as nações que “não tinham”, Alemanha
e Japão que vieram mais tarde na corrida imperialista.
E agora, depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados
Unidos têm assumido o cetro imperialista das enfraquecidas mãos da
Grã-Bretanha e França. O revisionismo assim nos fornece com a própria percepção
que a América tem agora se tornado o colosso do mundo do imperialismo, servindo
de suporte para estados fantoches e clientes ao redor de todas áreas
subdesenvolvidas do mundo, e de maneira agressiva e violenta tentando suprimir
as revoluções nacionalistas que tirariam esses países da órbita do imperialismo
americano.
Conforme Garet Garrett também disse: “Nós temos cruzado a
fronteira que reside entre a república e o império.” O Comunismo tendo se
aliado ele próprio com os movimentos imensamente populares de liberação
nacional contra o imperialismo, os Estados Unidos, em nome hipócrita nome da “liberdade,”
está agora [1966] engajado na conclusão lógica de sua política de Guerra-Fria: tentando
exterminar uma nação inteira no Vietnã para fazer garantidíssimo que eles estão mais mortos do que Vermelhos – e para
preservar o domínio imperial americano.
Todas essas lições o revisionismo tem a nos ensinar. Pois
o revisionismo, em análise final, está baseado sobre a verdade e racionalidade.
A verdade e a racionalidade são sempre as primeiras vítimas em qualquer frenesi
de guerra; e eles são, portanto, uma vez mais uma mercadoria extremamente rara
no “mercado” de hoje. O revisionismo traz ao frenesi artificial dos eventos
diários e à propaganda do dia-a-dia, a brandamente fria, mas, em última
análise, gloriosa luz da verdade histórica. Tal verdade é quase
desesperadamente necessária no mundo de hoje.
Tradução
e palavras entre chaves por Mykel Alexander
Fonte: The Journal of Historical Review, maio-junho
de 1995 (volume 15, nº 3), páginas 35-37. Este artigo apareceu primeiro no Rampart Journal of Individualist Thought,
primavera de 1966 (volume 2, nº 1).
http://www.ihr.org/jhr/v15/v15n3p35_Rothbard.html
Sobre o autor: Murray Newton
Rothbard (1926-1995), foi um acadêmico judeu, com bacharel em matemática
(Columbia University), Ph.D em Economia. Suas tendências transitavam pela direita
liberal e libertária, bem como na Escola Austríaca de Economia, obtendo
importante reputação no século XX ao questionar dogmas econômicos e acadêmicos,
bem como sociais e geopolíticos.
Entre
suas obras estão: Man, Economy, and State
(1962); America's Great Depression
(1973); The Ethics of Liberty (1982).
__________________________________________________________________________________
Relacionado, leia também:
O Primeiro Holocausto - por Germar Rudolf
Revisionismo e Promoção da Paz - parte 1 - por Harry Elmer Barnes
Revisionismo e Promoção da Paz - parte 2 - por Harry Elmer Barnes
A vigilante marcação pública no revisionismo - parte 1 - por Harry Elmer Barnes
A vigilante marcação pública no revisionismo - parte 2 - por Harry Elmer Barnes
O Relatório Leuchter: O Como e o Porquê - por Fred A. Leuchter
O que é ‘Negação do Holocausto’? - Por Barbara Kulaszka
As câmaras de gás: verdade ou mentira? - parte 1 - por Robert Faurisson (primeira de seis partes, as quais são dispostas na sequência).
A Mecânica do gaseamento - Por Robert Faurisson
O “problema das câmaras de gás” - Por Robert Faurisson
As câmaras de gás de Auschwitz parecem ser fisicamente inconcebíveis - Por Robert Faurisson
A mentira a serviço de “um bem maior” - Por Antônio Caleari
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários serão publicados apenas quando se referirem ESPECIFICAMENTE AO CONTEÚDO do artigo.
Comentários anônimos podem não ser publicados ou não serem respondidos.