domingo, 26 de abril de 2020

Grande rabino diz que não-judeus são burros {de carga}, criados para servir judeus - por Khalid Amayreh


Khalid Amayreh

Uma figura religiosa judaica maior em Israel comparou não-judeus a burros e bestas de carga, dizendo que a principal razão de sua própria existência é servir os judeus.

Rabi Ovadia Yosef, mentor espiritual do partido fundamentalista religioso Shas, o qual representa judeus do Oriente Médio, teria dito durante uma homilia do sábado no início desta semana que “o único objetivo dos não-judeus é servir os judeus”.

Yosef é considerado um dos principais líderes religiosos em Israel que desfruta da lealdade de centenas de milhares de seguidores.

Shas é um dos principais parceiros da coalizão no atual governo de Israel,

Yosef, também um ex-rabino-chefe de Israel, foi citado pelo jornal de direita, o Jerusalem Post, dizendo que a função básica de um goy, uma palavra depreciativa para um gentio, era servir judeus.
“Não-judeus nasceram apenas para nos servir. Sem isso, eles não têm lugar no mundo - apenas para servir ao povo de Israel ”.
Yosef disse em seu sermão semanal de sábado à noite, que foi dedicado a leis considerando ações que não-judeus têm permissão para realizar no sábado.

Yosef também disse que as vidas de não-judeus em Israel são preservadas por Deus, a fim de evitar perdas para os judeus.

Yosef, amplamente considerado um sábio da Torá e autoridade proeminente na interpretação do Talmud, uma escritura judaica básica, realizou uma comparação entre animais de carga e não-judeus.
“Em Israel, a morte não tem domínio sobre eles. Com os gentios, será como qualquer pessoa. Eles precisam morrer, mas Deus lhes dará longevidade. Por quê? Imagine que um burro morra, eles perderão seu dinheiro.
“Este é seu servo ... É por isso que ele tem uma vida longa, para trabalhar bem para esse judeu.”
Yosef esclareceu ainda mais suas ideias sobre a servidão dos gentios aos judeus, perguntando:
“Por que os gentios são necessários? Eles trabalharão, eles ararão, eles colherão; e nos sentaremos como um effendi {um título de nobreza no Oriente Médio} e comeremos. ”
“É por isso que os gentios foram criados.”
O conceito de gentios como seres infra-humanos ou quase-animais está bem estabelecido no judaísmo ortodoxo.
{O primeiro ministro de Israel Benjamin Netanyahu e o rabino mor de Israel Rabbi Ovadia Yosef.
Direito de imagem: GPO archive photo. Fonte: Israel Ministry of Foreign Affairs.

Por exemplo, rabinos afiliados ao movimento Chabad, uma seita judaica supremacista, mas influente, ensinam abertamente que, no nível espiritual, os não-judeus têm o status de animais.

Abraham Kook, o mentor religioso do movimento dos colonos, foi citado como dizendo que a diferença entre um judeu e um gentio era maior e mais profunda do que a diferença entre humanos e animais.
“A diferença entre uma alma judia e almas de não-judeus - todas elas em todos os níveis diferentes - é maior e mais profunda do que a diferença entre uma alma humana e as almas do gado”.
Algumas das ideias manifestamente racistas de Kook são ensinadas no colégio talmúdico Merkaz H'arav, em Jerusalém. A faculdade recebeu o nome de Kook.

Em seu livro Jewish History, Jewish Religion: The Weight of Three Thousand Years {História Judaica, Religião Judaica: O Peso de Três Mil Anos}, o falecido escritor e intelectual israelense Israel Shahak argumentou que sempre que rabinos ortodoxos usam a palavra “humano”, normalmente não se referem a todos os humanos, mas apenas a judeus, já que os não-judeus não são considerados humanos, de acordo com a Halacha {conjunto de leis derivadas da tradição escrita e oral da Torá} da lei judaica.

Alguns anos atrás, um membro do Knesset {parlamento} israelense castigou os soldados israelenses por “tratar os seres humanos como se fossem árabes”. O membro do Knesset, Aryeh Eldad, estava comentando a evacuação pelo exército israelense de um posto avançado de colonos na Cisjordânia.

Diante do efeito negativo de certos ensinamentos bíblicos e talmúdicos nas relações inter-religiosas, alguns líderes cristãos na Europa pediram ao establishment religioso judaico que reformasse as percepções tradicionais Halacha sobre os não-judeus.

No entanto, enquanto as seitas reformadoras e conservadoras do judaísmo tenham se relacionado positivamente a esses chamados, a maioria dos judeus ortodoxos os rejeitou totalmente, argumentando que a Bíblia é a palavra de Deus que não pode ser alterada sob nenhuma circunstância.

A Bíblia diz que os não-judeus que vivem sob o domínio judaico devem servir como “carregadores de água e cortadores de madeira” para a raça mestra.

            Em Josué (9:27), lemos “Naquele dia, Josué os colocou como rachadores de lehna e carregadores de água para o serviço da comunidade e do altar de Iahweh, até o dia de hoje, no lugar que ele escolheu.”[1]

Em outros lugares da Bíblia, os israelitas são fortemente encorajados a tratar “estrangeiros que vivem no meio de vocês” humanamente “porque vocês mesmos são estrangeiros no Egito”.

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander


Nota


[1] Nota do tradutor: Passagem citada a partir da tradução de Josué, vertida do hebraico ao português por Samuel Martins Barbosa, presente na edição da Bíblia de Jerusalém (da École Biblique de Jérusalem), edição de 2002, 12ª reimpressão, Editora Paulus, São Paulo.



Fonte: “Major rabbi says non-Jews are donkeys, created to serve Jews”, por Khalid Amayreh, 18 de outubro de 2010, The peoples voice.



Sobre o autor: Khalid Amayreh (1957 - ) é um jornalista palestino baseado em Dura, no distrito de Hebron. Ele obteve seu diploma universitário nos Estados Unidos: bacharelado em Jornalismo na Universidade de Oklahoma, 1982; Mestrado em Jornalismo, Universidade do Sul de Illinois, 1983.

Amayreh tem sido correspondente de inúmeros jornais e meios de comunicação:

Sharja TV, correspondente, 1994-2001; Iranian News Agency (IRNA), 1995-2006; Middle East International (Londres) 1995-2003; Al Ahram Weekly (inglês) 1997- presente; Aljazeera English (aljazeera.net): 2003-2006, Palestine Information Center: 2000-presente; Palestine Times (periódico diário) (tem encerrado as atividades)

            Escreveu os livros:

Journalism and Mass communication, Theory and Practice (árabe, 1996); Refutation of Western Myths and Misconceptions about Islam and the Palestinian question (árabe, 1988); Living Under the Israeli Occupation, (árabe 2007); MY Story with the Shiites: Major Contradictions In The Shiite Imami Religion (árabe 2016, inglês 2017)


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Um comentário:

  1. "Israel como um Estado judeu constitui um perigo não apenas a si mesma e a seus habitantes, mas a todos os judeus, e a todos os povos e Estados do Oriente Médio e além."
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    - Prof. Israel Shahak, judeu e fundador da Liga Israelense de Direitos Humanos

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