domingo, 2 de junho de 2019

Judeus: Uma comunidade religiosa, um povo ou uma raça? por Mark Weber


Mark Weber

            A definir “judeu” nunca tem sido simples. É ele alguém que pratica o judaísmo, a religião judaica, ou é ele identificado por sua ascendência? Enquanto muitos americanos assumem que os judeus são essencialmente um grupo religioso, os próprios judeus tomam por admitido que a comunidade deles é muito mais étnica-nacional do que é religiosa.

            Benjamin Netanyahu, que tem servido como Primeiro Ministro de Israel, francamente vê os judeus como membros de um grupo racial. Falando para uma reunião de quase mil judeus no Sul da Califórnia, ele disse: “Se Israel não tivesse vindo à existência após a Segunda Guerra Mundial [sic] eu estou certo que a raça judaica não teria sobrevivido.” (Daily Pilot, Newport Beach / Costa Mesa, 8 de fevereiro, 2000, primeira página).

            O líder israelense passou a exortar sua audiência: “Eu me posto diante de vocês e digo que vocês que devem fortalecer seu compromisso para com Israel. Vocês devem tornarem-se líderes e levantarem-se como judeus. Nós devemos estar orgulhosos de nosso passado, sermos confiantes de nosso futuro.” (Similares apelos diretos por não-judeus para orgulho racial étnico são, naturalmente, rotineiramente condenados como “racistas” ou “neonazistas.”).

            Ecoando Netanyahu, um jornal influente da comunidade judaica com um público de alcance nacional referiu-se aos judeus como um grupo racial. Um editorial intitulado “Alguma outra raça” em 17 de março de 2000, edição do semanário de Nova Iorque Foward instigou os leitores a preencherem um formulário do censo do governo federal. Prosseguindo ele sugere: “... na questão oito [do formulário, a qual pergunta sobre raça], você deve considerar fazer mais que um membro de nosso redaktzia [redação editorial] tem feito: verificando o formulário: 'alguma outra raça' e escrevendo a palavra 'Judeu'.”

            Charles Bronfman, um proeminente patrocinador dos $210 milhões do projeto “Birthright Israel” para “auto consciência” dos judeus americanos, expressou um sentimento similar. Ele é co-presidente da poderosa companhia Seagram, e irmão de Edgar Bronfman, presidente do Congresso Mundial Judaico. “Você pode viver uma vida perfeitamente decente não sendo judeu,” disse Charles Bronfman, “mas eu acho que você está perdendo muito – perdendo o tipo de sentimento que você tem quando você sabe [que] através do mundo existem pessoas que de algum modo ou outro tem o mesmo tipo de DNA que você tem.” (“Project Reminds Young Jews of Heritage,” The Washington Post, 17 de janeiro de 2000, página A 19).

            Theodor Herzl, o fundador do movimento sionista moderno, enfatizou em seu livro seminal Der Judenstaat (“O Estado Judeu”), publicado em 1896, que os judeus envolta do mundo constituem um Volk, isto é, um povo ou nacionalidade, com interesses diferentes daqueles dos não-judeus entre os quais eles vivem. Em acordo a isso figuras políticas israelenses e os líderes da comunidade judaica nos Estados Unidos rotineiramente falam do “povo judeu”.

            Consistente com isso, os líderes judeus expressam alarme que muitos judeus estão se casando com não judeus (uma atitude que é denunciada como “racista” se expressada por não-judeus). Charles S. Liebman, um professor na Universidade Bar-llan em Israel, direta e francamente declara que o casamento interracial “viola as mais básicas normas de judaísmo [e] ameaça a sobrevivência judaica.” (Los Angeles Times, 17 de abril, 2000).

            Por décadas um pequeno número de judeus americanos – notavelmente Alfred Lilienthal, autor de Zionist Connection, e o Rabino Elmer Berger, líder do Conselho Americano para o Judaísmo – trabalharam duro para convencer companheiros judeus a rejeitar o nacionalismo judaico (Sionismo), e ao invés, ver a eles mesmos como um grupo religioso. Surpreendentemente, porém, os judeus têm rejeitado tais apelos. De fato, algumas das mais proeminentes personalidades judaicas do século passado – incluindo Albert Einstein, Ilya Ehrenburg, e o Primeiro Ministro de Israel, David Ben-Gurion – têm sido não-religiosas[1].

            Como uma questão de básica política estatal, a atividade de Israel encoraja a imigração de judeus – definidos por ascendência – de todo o mundo, enquanto ao mesmo tempo desencorajam fortemente o assentamento por não-judeus, mesmo proibindo imigração de não-judeus que nasceram no que é agora Israel.

Tradução por Mykel Alexander



Nota


[1]    Nota do tradutor: A relação de Albert Eistein com a religião sempre foi motivo de polêmica dada a popularidade e uso da imagem deste cientista, contudo, o parecer religioso dele não se encontra nem no extremo materialista ou no ateísmo e nem no extremo do fanatismo religioso, na verdade se encontrando mais próximo das correntes tradicionais não abraâmicas, tais como as que combinam religião, ciência e filosofia presentes entre hindus, chineses e greco-romanos por exemplo, se termos em conta as afirmações abaixo emitidas por Einstein:

“Não posso imaginar um Deus pessoal que influencia diretamente a ação das pessoas... Minha religiosidade consiste em uma humilde admiração do espírito infinitamente superior que se revela no pouco que compreendemos de nosso próprio mundo. A profunda convicção na presença de um poder superior, que aparece no universo incompreensível, forma minha ideia de Deus”, disse Einstein em carta de 1927, publicada em seu obituário no Times, em 1955.

Fonte: “Ateu, agnóstico, religioso? Entenda relação de Einstein com Deus - Carta em que cientista escreveu sobre assunto no fim da vida foi leiloada por R$ 11 milhões”, O Globo, 05/12/2018 - 15:57 / Atualizado em 05/12/2018 - 16:06.



Fonte: Este item levemente editado pelo próprio autor, foi primeiro publicado no Jornal do Institute of Historical Review, Março-Abril 2000 (Vol. 19, nº 2), página 63.



Sobre o autor: Mark weber é um historiador americano, escritor, palestrante e analista de questões atuais. Ele estudou história na Universidade de Illinois (Chicago), na Universidade de Munique (Alemanha), e na Portland State University. Ele possui um mestrado em História Europeia da Universidade de Indiana. Desde 1995 ele tem sido diretor do Institute for Historical Review, um centro independente de publicações, educação e pesquisas de interesse público, no sul da Califórnia, que trabalha para promover a paz, compreensão e justiça através de uma maior consciência pública para com o passado. 

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Relacionado, leia também:

Conversa direta sobre o sionismo - o que o nacionalismo judaico significa - Por Mark Weber

Controvérsia de Sião - por Knud Bjeld Eriksen

Raízes do Conflito Mundial Atual – Estratégias sionistas e a duplicidade Ocidental durante a Primeira Guerra Mundial – por Kerry Bolton

2 comentários:

  1. American Jewry Raised $1 Billion for Israel in First Month of War, Scholars Say

    The Times of Israel

    https://www.timesofisrael.com/american-jewry-raised-1-billion-for-israel-in-first-month-of-war-scholars-say/



    North American Jewry raised about $1 billion for Israel in the first month of its war with Hamas, the authors of a new report estimated. The Jewish Federations of North America raised more than $600 million for Israel within a month of the outbreak of war, according to the report by scholars at Haifa University’s Ruderman Program for American Jewish Studies published Wednesday. The remaining $400 million figure is an estimation of donations raised in multiple campaigns by other communal and private organizations with a Jewish affiliation, including friendship associations supporting Israeli hospitals, universities and emergency services …

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    1. Eis a questão: as lideranças judaicas promovem atritos e conseguem arregimentar poder e recursos do próprio segmento judaico.

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