terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Esquecendo Rosa Luxemburgo (05/03/1871 – 15/01/1919) – por Alex Kurtagić

Publicado originalmente em 2015
Alex Kurtagić

             Nós celebramos hoje a morte de Rosa Luxemburgo, que morreu hoje há 96 anos. Ela foi uma teórica marxista, ideóloga, agitadora, e traidora condenada, que estava envolvida com vários grupos terroristas de extrema esquerda. Ela co-fundou a Liga Espartaquista e mais tarde o Partido Comunista da Alemanha.

           Rosa Vermelha, como é conhecida, nasceu em uma família judia próspera em Zamość, no Reino da Polônia, que na época era controlada pela Rússia. A caçula de cinco filhos, seu pai era Eliasz Luxemburgo, foi um comerciante de madeira; sua mãe era Line Löwenstein.

            Sua infância foi sem intercorrências, exceto por uma doença no quadril aos 5 anos que a confinou em sua cama por um ano, e deixou-a com as pernas de comprimentos diferentes, e, portanto, manca. Com 9 anos, ela estava matriculada em Gymnasium, uma escola para meninas em Varsóvia. E nos próximos anos, tudo correu bem.

No entanto, não demorou muito para que Rosa caísse em más companhias. Em 1886, com a tenra idade de 15 anos, Rosa juntou-se ao Primeiro Proletariado, um grupo fundado por Ludwik Warynski, que já tinha ficha criminal e, mais tarde, iria morrer na prisão. Este grupo era aliado da Narodnaya Volya, uma organização terrorista de extrema-esquerda russa, que já contava com o assassinato do czar Alexandre II a seu crédito. O primeiro ato político de Rosa foi organizar uma greve geral. Felizmente, foi um desastre: o partido foi destruído e quatro de seus membros condenados à morte. No entanto, Rosa, impenitente e, aparentemente, com a consciência limpa, continuou a reunir-se em segredo com outros criminosos.

Ela continuou sua educação, que, infelizmente, ela iria depois dar uso maligno. Em 1887 obteve seu Matura, equivalente a um diploma do ensino médio, mas por volta de 1889 ela percebeu a proximidade da polícia, então ela enganou um padre bem-intencionado para contrabandeá-la para fora da Polônia. Esta delinquente juvenil, para dizer o mínimo, foi para a Suíça, onde ela se matriculou na Universidade de Zurique e estudou Staatswissenschaft {Ciência Política}. As memórias inéditas de Julian Marchlewski, um colega, mostram que Rosa pensava que era melhor do que alguns dos seus professores.

Era pedir muito que ela retornasse ao caminho certo dela, pois enquanto era uma estudante universitária que ela conheceu outro mau elemento: Anatoly Lunacharsky, que se tornou marxista aos quinze anos e não falhou em obter um diploma, e Leo Jogiches, um jovem e amargurado homem que já tinha se envolvido em todos os tipos de atividades conspiratórias e obscuras e, não menos importante, com um histórico de prisões. O vadio Jogiches se tornaria amante de Rosa e colaborador de longa data, apesar do relacionamento tempestuoso deles.

Em 1893, a dupla dinâmica, juntamente com o comunista polonês Julian Marchlewski, que mais tarde iria se juntar aos bolcheviques, formaram um partido político, chamado de Social Democracia do Reino da Polônia (SDKP), apoiado em uma plataforma marxista internacional. O trio também fundou um folheto político antinacionalista, Sprawa Robotnicza.

Em 1897, Rosa Vermelha defendeu sua tese de doutorado, e a Universidade de Zurique concedeu-lhe um grau de Doutora em Direito – profundamente irônico, dado que ela passou toda a sua carreira engajada em atividades ilegais.

Em 1898, Rosa decidiu transferir suas operações para a Alemanha, onde ela iria trabalhar com o Partido Social Democrata Alemão (não é irônico como essas organizações sequestraram a palavra "democracia" para tornarem-se aparentemente aceitáveis?). Nessa época, ela sabia que suas violações persistentes iriam ganhar o interesse das autoridades alemãs, e que, como uma estrangeira, ela provavelmente seria deportada. Sua solução foi entrar em um falso casamento com o filho de um amigo, um Gustav Lubeck, exclusivamente com o fim de obter a cidadania alemã. O esquema funcionou, apesar de os dois conspiradores nunca viverem juntos, permitindo a Rosa tornar-se uma maldição em seu novo país.

Não muito tempo depois, seu discurso, Reforma ou Revolução, foi publicado. Ele serviu a um propósito útil, no entanto, ele manteve socialistas divididos sobre a doutrina.

A partir de 1900, Rosa usou sua caneta para atacar não somente seus companheiros socialistas, mas também o seu país de adoção. Claro, ela foi presa não menos que três vezes em três anos (1904-6), mas a megera foi além do que se esperava, e em 1907 ela até mesmo viajou para Londres para assistir o 5° Congresso do Partido do Partido Democrata da Rússia, onde conheceu Lenin. Nesse mesmo ano, no 2° Congresso Internacional realizado em Stuttgart, ela convenceu todos os partidos europeus de extrema-esquerda para parar a próxima guerra mundial. O objetivo era bom, apesar das motivações nefastas, pois ninguém realmente precisava de uma guerra civil europeia, mas, no final, este sucesso momentâneo entre seus colegas de diálogos revelou-se mais um fracasso, como veremos daqui a pouco.

Durante este período, Rosa ensinou marxismo e economia em um centro de doutrinação do SPD. Dele veio Friedrich Ebert, o primeiro presidente da República de Weimar. Ela encontrou tempo para escrever um livro, chamado A Acumulação de Capital, publicado em 1913, uma densa, difícil, e ingrata dissertação crítica ao capitalismo, malvista no futuro. E ela também foi enviada como representante do SPD de vários congressos socialistas europeus. Apesar de sua agitação para greves contra a guerra, quando esta eclodiu o SPD apoiou-a ao máximo, juntamente com os traidores socialistas franceses, que tinham até então apoiado sua linha. Depois de contemplar brevemente suicídio, ela decidiu ficar por aqui e seguir em frente, tornando-se ainda mais um incômodo.

Rosa começou a organizar manifestações contra a guerra, incitando os jovens a tornar-se objetores de consciência e desobedecer a ordens. Sem surpresa, ela foi presa novamente, mas não por tempo suficiente (apenas um ano). Seu advogado de defesa, Paul Levi, também era seu amante, e se tornaria líder do Partido Comunista da Alemanha depois de sua morte, alguns anos mais tarde. Enquanto preso, ela escreveu outro livro, A Acumulação de Capital: Anti Crítica, que foi publicado em 1915 e desde então foi esquecido. A última impressão aconteceu há mais de 40 anos. (Aliás, os leitores raramente veem seus livros na Amazon - a vida é muito curta, ao que parece.)

Juntamente com Karl Liebknecht, Clara Zetkin e Franz Mehring, ela fundou o Die Internationale, o grupo que viria a ser a Liga Espartaquista dois anos depois. Liebknecht era um advogado, que jogou fora sua carreira defendendo criminosos de esquerda até que ele mesmo se tornou um criminoso, e acabou sendo julgado por alta traição e condenado a quatro anos de prisão. Clara Zetkin foi uma das primeiras feministas do estoque rústico, que tiveram filhos fora do casamento antes de se casar um gigolô – o pintor sem inspiração George Friedrich-Zundel que tinha quase a metade de sua idade. Franz Mehring, embora mais velho, não era de forma alguma mais sábio: ele simpatizava com os bolcheviques e foi um prazer ver a Rússia sob sua mão de ferro. Esta gangue desagradável publicou o ​​folhetim agitador pretensiosamente chamado "Spartacus". Ironicamente, seus esforços contribuíram para a criação de Adolf Hitler. Será que ele não reclamaria sobre as greves contra a guerra, particularmente das greves nas fábricas de munições, organizado pela vontade de Luxemburgo e cia. enquanto jovens alemães morriam nas trincheiras e estavam sob fogo inimigo? Escusado será dizer que as autoridades alemãs fizeram a única coisa a se fazer neste caso, e prenderam Rosa e Liebknecht por dois anos e meio. Era o esperado.


A judia Rosa Luxemburgo (05/03/1871-15/01/1919)
Agitadora, acadêmica, política, marxista, terrorista e comunista.

Enquanto estava na prisão, ela continuou escrevendo artigos tediosos, que eram então contrabandeados para fora por seus cúmplices e publicados ilegalmente. Ela criticou as políticas dos bolcheviques após a Revolução de Outubro (de outra maneira muito bem-vindos, em sua opinião), a que Lênin e Trotsky responderam, em essência, que suas ideias do marxismo estavam ultrapassadas e ela não sabia o que estava falando: as circunstâncias nessa época tinham forçado táticas mais vigorosas.

Em sequência a uma dissidência com o SPD, membros contrários à guerra descontentes criaram uma nova organização, em 1915, o Partido Social Democrata Independente, ou USPD. Foi fundada por Hugo Haase, um advogado e ideólogo de esquerda que mais tarde (sem sucesso) iria defender Liebknecht. A Liga Espartaquista era afiliada a este grupo desde 1917. A associação cresceu e, no final, eles se reconciliaram com o SPD em tempo de se tornar parte do governo temporário – O Conselho de Deputados do Povo – que se seguiu à revolução de novembro de 1918. Esta entidade temporária, liderada por Ebert e Haase, substituiu o governo imperial da Alemanha, com o que mais tarde ficou conhecido como a República de Weimar.

Com o governo revolucionário agora no poder, Rosa foi solta em novembro de 1918. No dia seguinte, Liebknecht, que também havia sido solto, arrogantemente proclamou a Freie Republik Socialistische em Berlim. Os dois reorganizaram a Liga Espartaquista e lançaram um outro folhetim ideológico, o Red Flag. Sua principal preocupação era fazer com que os seus companheiros políticos escapassem de serem desertores: eles exigiram anistias e a abolição da pena capital. Em meados de dezembro, eles foram capazes de anunciar um novo programa político. E pouco mais de duas semanas depois, eles participaram de um congresso compreendendo eles próprios, os socialistas independentes, e os comunistas internacionais da Alemanha (IKD). Essa quadrilha podre formou o Partido Comunista da Alemanha (KPD), que nomeou o traidor Liebknecht como seu líder.

Os sete principais relatórios foram dados por membros da Liga Espartaquista. A contribuição de Rosa foi o delineamento do programa do partido.

Rosa queria que o KPD fizesse parte da Assembleia Nacional de Weimar, mas ainda havia alguma justiça deixada no mundo, pois ela foi derrotada e o KPD, em um acesso de raiva, boicotou as eleições.

Como era de se esperar, o KPD foi uma organização criminosa, comprometido com uma tomada violenta do poder. Outra onda de violência varreu Berlim. E com o recente precedente da revolução bolchevique, o governo de Weimar ficou preocupado com algo semelhante acontecer na Alemanha. Portanto, o ex-aluno de Rosa, Ebert, ordenou que os Freikorps, o grupo paramilitar anticomunista, destruíssem a revolução. O Freikorps era composto por veteranos de guerra ainda equipados com armas militares, que facilmente esmagaram o levante. Rosa e Liebknecht foram capturados, interrogados sob tortura, e executados com um tiro no cérebro. Seus corpos foram tratados como o que eram, obviamente, e considerando o devido desrespeito: Rosa foi jogada em um canal, com pesos amarrados em seus pulsos e tornozelos, e Liebknecht foi enviado como indigente a um necrotério.

Isso serviu como desculpa para mais violência e ataques pelo KPD. Felizmente, eles finalmente se esgotaram depois de um tempo e foi o fim de tudo. A contagem final era de 100 civis mortos.

Depois o governo de Ebert fingiu indignação com o tratamento dado aos dois criminosos condenados. Um soldado e um tenente envolvidos na morte deles foram presos. No entanto, em suas memórias, o capitão Waldemar Pabst, comandante dos Freikorps Garde-Kavallerie-Schützendivision, que conquistou os comunistas ex-presidiários, afirmou que o chanceler Ebert e o então ministro da Defesa, Gustav Noske, ambos líderes do SPD, aprovaram as ações empreendidas. Vemos então que a política socialista era um negócio tão sujo como o dos comunistas.

Os corpos foram posteriormente recuperados e enterrados no Cemitério Central de Friedrichsfelde, em Berlim. Aparentemente sem vergonha alguma, socialistas e comunistas vão desde então em peregrinação a este local todos os anos.

Por mais que pareça que Rosa Vermelha tenha falhado em todos os seus esforços, ela ainda conseguiu causar danos imensos por ajudar e organizar socialistas e comunistas na Alemanha. O KPD serviu de base para a SED, com o qual os soviéticos governaram na ditadura comunista da Alemanha Oriental após a Segunda Guerra Mundial. Torna-se evidente a partir da biografia de Luxemburgo escrita por Elzbieta Ettinger que, no final, tudo se resumia à sua incapacidade de transcender seu sentimento de não nacionalidade. Por isso, e como vimos repetidamente nesta série, muitos pagaram pelas inadequações sociopatas do uma pessoa.

Ignorados e reprimidos pela maioria dos comunistas por um longo tempo, seus escritos têm recebido atenção atualmente por acadêmicos, alguns dos quais agora a consideram um ícone. No final, parece que Rosa teve grande charme – depois que ela morreu.

Tradução por Daniel Falkenberg




Sobre ou autor: Alex Kurtagić (1970 – ) nasceu na Croácia filho de pais eslovenos. Devido a profissão do pai, viajou e viveu em vários países. Tem fluência em inglês e espanhol, e pratica o francês e alemão. Após completar os estudos nos EUA graduou-se na Universidade de Londres (M.A. entre 2004 – 2005) em Estudos Culturais. Também é músico, desenhista, pintor, escritor e editor (Wermod and Wermod Publishing Group). Seus artigos são publicados nas revistas virtuais The Occidental QuarterlyVdareCounter CurrentsTaki Mag, e American Renaissance.


_________________________________________________________________________________
Relacionado, leia também:

Esquecendo: Shulamith Firestone (07/01/1945 – 28/08/2012) – Por Alex Kurtagić

Esquecendo Trotsky (7 de novembro de 1879 - 21 de agosto de 1940) - Por Alex Kurtagić

Esquecendo Eric Hobsbawm (09/06/1917 – 01/10/2012) – Por Alex Kurtagić

Esquecendo Che Guevara (14/06/1928 – 09/10/1967) – por Alex Kurtagić

Esquecendo Wilhelm Reich (24/03/1897 – 03/11/1957) – Por Alex Kurtagić

Esquecendo Dolores Ibárruri – La Pasionaria (09/12/1895 – 12/11/1989) - Por Alex Kurtagić

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão publicados apenas quando se referirem ESPECIFICAMENTE AO CONTEÚDO do artigo.

Comentários anônimos podem não ser publicados ou não serem respondidos.