terça-feira, 28 de agosto de 2018

Esquecendo: Shulamith Firestone (07/01/1945 – 28/08/2012) – Por Alex Kurtagić

28/08/2014
Alex Kurtagić

Há dois anos atrás, Shulamith Firestone foi encontrada morta. Uma figura chave na ruptura da radical Segunda Onda Feminista que ocorreu nos anos 60 e 70, ela foi membro fundadora do New York Radical Women, Redstockings, e do New York Radical Feminists. Apesar de transparecer depois que ela sofria de uma doença mental grave, o seu trabalho maldoso, A Dialética do Sexo: O caso da Revolução Feminista (1970), ainda é levado a sério nos dias de hoje.

        Shulamith Firestone, nascida Shulamith Bath Shmuel Bem Ari Feuerstein, filha de judeus ortodoxos residentes em Ottawa, Canadá. Depois de se mudarem para os Estados Unidos, seus pais “americanizaram” seu sobrenome quando ela ainda era uma criança. Cresceu no Kansas e St. Louis, ela estudou no Yavneh Rabbinical College of Telshe, em Wicklife, Ohio, uma das principais instituições no estudo da Torá. Em seguida, ela frequentou a Universidade de Washington em St. Louis, de onde se transferiu para a Escola do Instituto de Artes de Chicago. Lá, após os “ovesters[1]” necessários (semestre é patriarcal), obteve um BFA (Bacharel em Belas Artes) em Pintura. Ainda que Firestone tenha entrado para a “herstory {a história escrita de uma perspectiva feminina}” (História também é patriarcal) como uma feminista radical, ela se via principalmente como uma artista.


Shulamith Bath Shmuel Bem Ari Feuerstein, ou simplesmente Shulamith Firestone
Durante seu último ano como estudante de Artes, um documentário “cinéma vérité” (também conhecido como cine realidade) foi feito sobre ela. Feito em 1967, o documentário foi esquecido em um cofre sem ser visto, porém foi descoberto anos mais tarde por uma pós-moderna cineasta feminista chamada Elisabeth Subrin, que em 1997 fez uma edição revisionista quadro a quadro do original, eliminando a narração masculina deste último (patriarcal, novamente), substituindo por sua própria voz. O filme ganhou diversos prêmios, mas ninguém parece tê-lo assistido, exceto os juízes nos festivais de cinema onde foi exibido, e ninguém na IMDB se preocupou em dar-lhe uma nota diferente de 10. No Chicago Reader, um semanário alternativo em declínio para solteiros “hip” com 20 e poucos anos, Jonathan Rosenbaum decepcionado deu-lhe uma avaliação mediana. Firestone opôs-se à película e em 2012 Subrin retirou-a de circulação.

Chude Pamela Allen, judia
também, militante com Firestone
           Após se formar na Escola de Artes, Firestone se mudou para Nova Iorque, com a intenção de se tonar uma artista e escritora. Infelizmente, somos levados a entender que ela descobriu o mundo da arte alternativo e cuidado por pervertidos – o que nós podemos imaginar é um submundo politicamente esquerdista (não ao contrário de Hollywood) no qual as mulheres avançaram em troca de favores “especiais”. Em resposta, e em conjunto com outras feministas radicais – Robin Morgan, Carol Hanisch e Chude Pamela Allen, todas co-étnicas, ela co-fundou em outubro de 1967 o New York Radical Women. Por sua munição intelectual, extraídas das ideais da Nova Esquerda, sobre cujo titular fundador nós abordamos há pouco tempo. Aparentemente, como suas associadas, ruidosas e teimosas intratáveis, ela estava aborrecida com as ideias de feminilidade tradicional e ao fato de que os Direitos Civis e os movimentos contrários à Guerra do Vietnã serem dominados por homens.
Carol Hanisch, também judia, militante com
Shulamith Firestone.

Nessa época, Firestone participou da Conferência Nacional de Novas Políticas, a qual foi, felizmente, realizada somente uma vez. Juntamente com a ativista de Direitos Humanos Jo Freeman, ela liderou a bancada feminina, apenas para ser completamente apadrinhada pelo diretor do evento, William F. Pepper[2], que a tinha rejeitado como histérica e irrelevante. Isso só serviu para reanimar Firestone.

      O New York Radical Women protestou contra a edição de 1968 do Miss América (reconhecidamente, um concurso idiota, tendo hoje em dia mulheres magras com abdômen definido), no que foi a primeira grande manifestação do chamado “Movimento de Libertação das Mulheres”. Elas vieram com esfregões, potes e panelas, revistas Playboy, cílios postiços, sapatos de salto alto, rolos, spray de cabelo, maquiagem, cintas, espartilhos e sutiãs, pretendendo uma conflagração, mas tiveram que se contentar com apenas jogá-los no lixo, após preocupações de saúde e segurança serem expressas para elas. Elas argumentaram que esses itens eram “instrumentos de tortura feminina”. Não importa que o sapato de salto alto, por exemplo, foi inventado por Catarina de Médici[3], a mulher mais poderosa na França por 30 anos até sua morte em 1589, e uma patrona entusiasta das artes. Muito tempo lendo Marx e Freud, e muito pouco tempo educando-se em história, obviamente.

Robin Morgan, também judia,
militando com Firestone.
O NYRW durou 16 meses antes de se desintegrar em acrimônia. Feministas políticas como Robin Morgan, membro do Movimento Internacional Juvenil anarco-comunista, juntamente com o sociopata maníaco-depressivo e criminoso Abbie Hoffman[4], saíram para fundar o Women’s International Conspiracy fom Hell (W.I.T.C.H.) – um nome muito apropriado, de fato. Suas companheiras de queima de sutiãs incluindo Naomi Jaffe, que passou a fazer parte da organização terrorista Weather Underground. Por sua vez, as feministas radicais como Firestone, fundaram a Redstockings. Elas tomaram o nome de “bluestockings” (sabichonas), um termo pejorativo para as mulheres intelectuais, derivado do grupo literário de Elizabeth Montagu no século 18, o Blue Stockings Society. Red substituiu o Azul em deferência a associação do grupo com a esquerda revolucionária. Co-fundadora e camarada de Firestone era Ellen Willis, cujas críticas de autoritarismo se baseavam nas teorias de Wilhelm Reich, um charlatão condenado e ufólogo, e na psicanálise freudiana, uma pseudo-ciência[5]. Tal era a seriedade deste grupo, que Firestone viu um “boicote ao sorriso” como o protesto ideal.

Firestone deixou o Redstockings dentro de alguns meses, e juntamente com Anne Koedt, autora de The Myth of the Vaginal Orgasm {O Mito do Orgasmo Vaginal} (1970), fundou o New York Radical Feminists. O NYRF foi impulsionado por uma teoria da conspiração, segundo a qual os homens conscientemente subordinavam as mulheres para impulsionar seus egos. O grupo era um centro de propaganda enganosa.

Durante esse período e após dele, Firestone editou Notes from the First Year  {Notas do Primeiro Ano} (1968), Notes from the Second Year {Notas do Segundo Ano} (1970) e, com Koedt, Notes from the Third Year  {Notas do Terceiro Ano} (1971). Ela também viu a publicação de seu primeiro e único livro de teoria feminista, The Dialectic of Sex {A Dialética do Sexo}.

Agora, o feminismo radical deu à luz a uma ninhada de textos venenosos, neste momento, e este é um deles. Firmemente enraizada na tradição escolástica freudo-marxista, Firestone argumentou que a opressão das mulheres teve suas origens na biologia, que em seguida forneceu um modelo de dominação racial e socioeconômico. Ela via a gravidez e o parto como “bárbaros”, e advogou a destruição do núcleo familiar e a utilização da tecnologia para separá-las do sexo e da criação dos filhos. Sua visão utópica eram crianças ciberneticamente incubadas que não conheceriam os seus pais e seriam criadas por comunidades de voluntários aleatórios. Este texto define o tom para futuros esforços de feministas radicais para “libertar” as mulheres da feminilidade.

Além de que estavam a criar este estranho ódio a si mesmo, deve-se perguntar a si mesmo como alguém poderia pensar que uma mulher solteira de 25 anos, que vive em Nova Iorque, firmemente dentro de um ambiente étnico fortemente unido de solteironas feministas furiosas, que sabia absolutamente nada sobre maternidade e educação dos filhos. Em que base se pensava que a dela era uma ‘solução’ com autoridade para esses ‘problemas’?

Felizmente, quando apareceu o tedioso discurso, Firestone tinha-se tornado menos politicamente ativa. Por meados de 1970, ela havia sumido de vista. E posteriormente quase ninguém ouviu nada mais até o final dos anos 90, quando ela reapareceu com um novo livro, Airless Spaces {Espaços sem Ar}.

Acontece que Firestone sofria de esquizofrenia paranoide. Reclusa por causa de sua doença, ela viveu na pobreza em um quarto com uma cama de solteiro forrada de livros[6], entrando e saindo de instituições de saúde mental. Espaços sem Ar é um relato ficcional da sua vida como um doente mental regular. O livro é curto, mas triste e angustiante de ler. E embora obscuro, é de mérito muito maior do que o alegado “magnus opus” da teoria feminista, por revelar a triste realidade de indivíduos cujas lutas são conhecidas a muito poucos.

Pouco depois, Firestone retirava-se de volta para a reclusão. Ela não mantinha contato com ninguém, e apenas uma pessoa – descrita como “abertamente lésbica” – era confiável de visita-la de vez em quando[7]. Parece que por um tempo, ela trabalhou em um romance de ficção cientifica, mas decidiu jogar fora o manuscrito, alegando que tinha mostrado a um leitor e disseram que ela tinha plagiado a ideia do leitor[8]. Ela sobreviveu com benefícios do Estado e, possivelmente, com apoio financeiro de sua família.

Em 28 de agosto de 2012, sua vizinha encontrou seu corpo sem vida no chão do de seu apartamento, tendo morrido mais de uma semana antes[9].

Nessa perspectiva, parece-me evidente que The Dialectic of Sex {A Dialética do Sexo}, ao invés de um sério trabalho teórico, como muitas feministas insistem em tratá-lo, precisa ser reclassificado como uma obra de literatura, talvez uma obra de ficção científica sob o disfarce de um trato, mais dentro da disciplina de Hans Prinzhorn {médico psiquiatra e historiador da arte, alemão, (1886 – 1933)} do que no âmbito de departamento de estudos femininos de uma universidade. Fazer o contrário é pura maldade. Não que a doença mental seja motivo suficiente para descartar o trabalho intelectual de uma pessoa: Cesare Lombroso {médico, criminologista, pesquisador judeu italiano (1835 – 1909)} mostrou em 1891 que vários homens de gênio foram afligidos por uma ou mais condições psicopatológicas e nem por isso eles possuem menos méritos. Temos de fazer nossa avaliação caso a caso. E, quando se trata de feminismo radical, muito disto é dirigido por puro e simples ódio aos homens. Isto se torna evidente quando examinamos as vidas de algumas das principais feministas radicais. Valerie Solanas veio de um lar profundamente disfuncional; ela também sofria de esquizofrenia paranoide e acabou dando tiros em Andy Warhol, pelo qual ela foi condenada e sentenciada a três anos de prisão. No seu The S.C.U.M. Manifesto. que ela escreveu: “Chamar um homem de um animal é agradar-lhe; Ele é uma máquina, um vibrador ambulante”. (A proposito, ela aparece em Airless Spaces, sem teto e implorando por um prato de comida). Andrea Dworkin tornou-se uma feminista radical depois de ter sido gravemente abusada pelo seu primeiro marido, Cornelius Dirk de Bruin, um colega ativista radical envolvido no movimento de protesto da Guerra do Vietnã. Mary Daly não tinha experiências reais com homens, sendo lésbica (Eu não penso sobre os homens. Eu realmente não me importo com eles). E Phyllis Chesler cita suas experiências no início dos anos 1960 com seu marido afegão em Kabul como inspiradora a tornar-se uma feminista ardente. Como era costume para mulheres estrangeiras no Afeganistão, ela foi obrigada a entregar seu passaporte americano para as autoridades e viveu como uma prisioneira virtual na casa polígama dos sogros.

Na verdade, é dito que Firestone pediu que The Dialecting of Sex {A Dialética do Sexo} fosse retirado de impressão logo após a saída de uma nova edição, mas ficou feliz por Airless Spaces {Espaços Sem Ar} continuar disponível.

O caso de Firestone deve, portanto, ser tratado com compaixão. Na verdade, é uma tragédia que ela tenha tido sua mente envenenada por ideias feministas Freudo-Marxistas e radicais, em primeiro lugar, porque a feminilidade tradicional pode render pelo menos uma existência financeiramente mais confortável com o apoio de um cônjuge amoroso. Ironicamente, tal contexto poderia ter oferecido melhores oportunidades para ela prosseguir com seus esforços artísticos e até, talvez, a retirada de sua medicação durante os períodos em que trabalhava em projetos (Firestone havia relatado que os anti-psicóticos embotavam sua mente). Firestone foi, na realidade, uma vítima, e o feminismo radical a levou ao único fim possível: isolamento. O desprezo deve ser direcionado para os enganadores da politização de gêneros que promovem e transmitem como teorias sérias, ideias praticamente insanas para difundir o ódio na sua falsa guerra dos sexos. Sua militância é chamada de “esquerda lunática” com razão.

Tradução por Daniel Falkenberg
Palavras entre chaves por Mykel Alexander


Notas


[1] Nota do tradutor: “Ovesters” (12ª linha) é uma palavra inventada, para ser utilizada no lugar de "semestre", pois algumas feministas ignorantes pensam "semestre" tem algo a ver com o sêmen. Isso não é correto, “semestre” vem de “cursus semestris” em latim, que significa “um curso de seis meses”. “Sémen" significa “semente” em latim enquanto “óvulo” significa “ovo”.

[2] Nota do autor: William F. Pepper atualmente está associado com teorias da conspiração, incluindo o 9/11 Truth Movement.

[3] Nota do autor: David C. Saidoff, Stuart C. Apfel, The Healthy Body Handbook: A Total Guide to the Prevention and Treatment of Sports Injuries (New York: Demos Medical Publishing, 2004).

[4] Nota do autor: Kerry Bolton, The Psychotic Left (London: Black House Publishing, 2013) 168 - 173.

[5] Nota do autor: Kevin MacDonald, 'Freud's Follies', Skeptic, 4(3), 94–99.

[6] Nota do autor: Kevin MacDonald, 'Freud's Follies', Skeptic, 4(3), 94–99.

[7] Nota do autor: “Shulamith Firestone, escreveu o best-seller, 67”. The Villager. 30 de Agosto de 2012. Web. Recuperado 27 de agosto de 2014.

[8] Nota do autor: “Shulamith Firestone, escreveu o best-seller, 67”. The Villager. 30 de Agosto de 2012. Web. Recuperado 27 de agosto de 2014.

[9] Nota do autor: Jennifer Baumgardner, 'On Firestone, Part 2', n + 1 magazine . 26 de Setembro de 2012. Web. Recuperado 27 de Agosto de 2012.






Sobre ou autor: Alex Kurtagić (1970 – ) nasceu na Croácia filho de pais eslovenos. Devido a profissão do pai, viajou e viveu em vários países. Tem fluência em inglês e espanhol, e pratica o francês e alemão. Após completar os estudos nos EUA graduou-se na Universidade de Londres (M.A. entre 2004 – 2005) em Estudos Culturais. Também é músico, desenhista, pintor, escritor e editor (Wermod and Wermod Publishing Group). Seus artigos são publicados nas revistas virtuais The Occidental Quarterly, Vdare, Counter Currents, Taki Mag, e American Renaissance.

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