Alex Kurtagić |
Pode
parecer irônico para aqueles que são ditos ter “visões de extrema direita,” mas
talvez um dos maiores obstáculos na luta pelo Ocidente seja a obsessão da
extrema direita com a compreensão científica das raças humanas. Não é tanto que
o conhecimento científico sobre raça seja irrelevante para nosso propósito
político (o qual é a luta pelo Ocidente), mas, ao contrário, que essa ciência é
pensada possuir uma utilidade política que não possui e nunca terá.
Conforme
eu tenho afirmado antes, a menos que ele já esteja temperamentalmente
predisposto ao elitismo, o homem da rua no século 21 nunca será induzido a
alterar suas visões sobre raça apenas à força de dados científicos, porque
esses dados serão interpretados sempre em relação às considerações sociais
extrafatuais que, no Ocidente, dependem do domínio da moralidade liberal
igualitária.
Isso
não quer dizer, entretanto, que a ciência da raça não tenha lugar na luta pelo
Ocidente, porque tem. Isso quer dizer que os conceitos científicos daqueles que
estão envolvidos nessa luta precisam de uma reavaliação ou reposicionamento.
Neste ensaio, examinarei a relação da extrema direita com a ciência racial e
seu uso como uma ferramenta de campanha.
A
Penumbra Liberal
O
liberalismo foi a primeira das ideologias igualitárias da modernidade. Ganhou
ascendência política no século 18, de forma mais memorável na França, mas,
antes disso, nos Estados Unidos, que se tornou o principal expoente global do
liberalismo político. (A França, no entanto, definiu a terminologia política
moderna, com base nos arranjos dos assentos da Assembleia Nacional, onde os que
se sentavam à direita representavam o ancien
régime, e os da esquerda, os partidários da Revolução.) Marxismo, a segunda
ideologia igualitária, que surgiu durante a revolução industrial, criticou o
liberalismo por não cumprir sua promessa de igualdade.
Em
termos políticos, essas duas ideologias foram criticadas durante o século 20
pelo fascismo (com um “f” não capitalizado), o qual encontrou suas expressões
mais conhecidas na Itália de Mussolini e no nacional-socialismo alemão.
Metapoliticamente, no entanto, o liberalismo e, em seguida, o marxismo, estavam
sob ataque da direita desde o século 19, o qual viu a cristalização de uma
tradição intelectual anti-igualitária moderna.
A
extrema direita de hoje é a herdeira política dessa tradição – embora, é
preciso dizer, com todas as suas pretensões elitistas, sua abordagem tenha sido
amplamente populista. Apesar de uma visão de mundo hierárquica unificadora (que
essencialmente valoriza a qualidade em vez da igualdade), as concepções de raça
da extrema direita estão divididas, notadamente ao longo das linhas anglófonas
e do Atlântico Norte. Na Europa, principalmente no continente, a raça está
envolvida com a cultura e às vezes com um certo misticismo. Na América, a raça
é concebida de forma muito mais concreta, em termos quase puramente biológicos.
De
fato, há uma tendência ao reducionismo biológico dentro da extrema direita
americana que é incomum na Europa, embora a ciência da raça também seja
estudada lá. Para o dissidente americano da extrema direita, raça é um problema
empírico: trata-se de fatos e evidências, é um problema que deve ser
compreendido numericamente e que requer uma solução quantitativa. Reflete uma
perspectiva extrema e pragmática, cujas origens podem estar geralmente no
temperamento inglês e, intelectualmente, nos empiristas britânicos, que se
desenvolveram a partir da revolução científica que começou durante o
Renascimento. Há exceções, é claro, e uma é Francis Parker Yockey, cujas
opiniões sobre raça foram influenciadas pela filosofia da Europa continental.
Existem
razões históricas para a divisão do Atlântico Norte. As mais óbvias têm a ver
com como a América do Norte foi colonizada e por quem. O que mais tarde se
tornou os Estados Unidos foi inicialmente uma série de colônias britânicas
povoadas por ingleses, alguns dos quais decidiram importar para os novos
territórios escravos da África Ocidental não destinados à cidadania ou
assimilação. Ondas subsequentes de imigrantes da Europa diluíram então
progressivamente a identidade especificamente inglesa em favor de uma branquitude
genérica, que, uma vez que era determinada pela ancestralidade, era
necessariamente biológica.
Uma
razão menos óbvia, mas não menos importante, tem a ver com o período da
história intelectual europeia quando os Estados Unidos vieram à existência. Os Pais
Fundadores foram liberais clássicos. Thomas Jefferson foi influenciado por John
Locke, Isaac Newton e Francis Bacon, as duas últimas figuras-chave na revolução
científica; Benjamin Franklin, cujo trabalho no então incipiente campo dos
estudos populacionais influenciou posteriormente Adam Smith e o utilitarista
Thomas Malthus, que por sua vez influenciou Charles Darwin e Alfred Wallace;
George Washington e Samuel Adams estavam entusiasmados com Thomas Paine, que
viveu na França durante a década de 1790, esteve ativamente envolvido na
Revolução Francesa, e escreveu uma a apologia a ela – os Direitos do Homem. Junto com James Madison e Alexander Hamilton,
esses homens eram todos crentes firmes no republicanismo.
Em
acordo, os documentos fundadores carregam a influência de John Locke,
estendendo a teoria do contrato de Thomas Hobbes – na verdade, a Declaração de
Independência dos Estados Unidos segue intimamente a fraseologia de John Locke;
Montesquieu, outra figura iluminista, que defendeu a separação de poderes,
embora ele seja controverso; Sir William Blackstone, jurista do Iluminismo
britânico, autor dos Commentaries of the
Laws of England; e Edward Coke, outro jurista, que estendeu as proteções da
Magna Carta a todos os súditos, e não
apenas à aristocracia.
Em
suma, enquanto nós podemos argumentar que há na cultura americana uma vertente
alternativa profundamente enterrada, que é arcaica, profundamente religiosa e
quase bárbara; que remonta ao período colonial e foi estendida pelos pioneiros,
aventureiros e fronteiriços do Velho Oeste; que existiam antes ou além do
alcance da filosofia liberal estabelecida; e que foi posteriormente recuperado
para acabar na ficção de Robert E. Howard e H.P. Lovecraft, entre outros –
enquanto nós podemos dizer tudo o que foi dito acima, também podemos dizer sem
dúvida que os Estados Unidos são um projeto liberal ou iluminista, e a
interação da moralidade liberal igualitária com a branquitude multiétnica e uma
sociedade multirracial muito desigual criou uma profunda preocupação com a
raça.
Em
adição, parte do projeto norte-americano envolvia a recriação de uma sociedade
inglesa, e mais tarde norte-europeia, sem os fardos da história europeia. O
continente norte-americano foi, como é frequentemente o caso do colonialismo de
colonos, visto como uma paisagem vazia (as várias nações indígenas que nele
residiam mentalmente e depois fisicamente “desapareceram”), a ser inscrita
pelos colonos de acordo com as suas visões e / ou ambições. A América do Norte
era, em essência, um canteiro de obras, física e metafisicamente, e isso atraiu
um tipo particular de imigrante – um homem de ação, com devaneios de caráter
muito material – que, por sua vez, enfrentou problemas práticos imediatos. O
temperamento pragmático e avesso à teoria dos britânicos foi destilado, desta
maneira, em um concentrado purificado, que definiu um tipo de extremismo no
caráter americano.
É interessante notar que muitos dos nomes proeminentes
associados ao estudo científico da raça e seu aprimoramento têm sido ingleses,
começando com Charles Darwin e seu primo Sir Francis Galton, passando por Mary
Scharlieb, Elizabeth Sloan Chesser, Stella Brown e Alice Ravenhill, até os
proponentes atuais Richard Lynn e o falecido J. Philippe Rushton. Também é
interessante notar que este campo encontrou seu solo mais fértil nos Estados
Unidos: Charles Davenport, Henry H. Goddard, Madison Grant, David Starr Jordan,
Harry H. Laughlin, Henry Fairfield Osborn, Seth Humphrey, Paul Popenoe, Samuel
George Morton, William Z. Ripley, Margaret Sanger e Lothrop Stoddard vêm à
mente – uma tradição que atingiu os dois extremos do espectro político e que
continuou até nossos dias em uma forma atenuada com E.O. Wilson e o falecido
Arthur Jensen.
De fato, o movimento eugênico americano recebeu apoio
institucional e financiamento (a Instituição Carnegie e a Fundação Rockefeller,
que mais tarde financiou Theodor Adorno), influenciou a política governamental
(por exemplo, a Lei de Imigração de 1924, assinada pelo então presidente dos
Estados Unidos Calvin Coolidge), e desfrutou apoio de nomes conhecidos como
John Harvey Kellogg, inventor do Corn Flakes. Ainda mais, os principais dissiminadores
desse corpo de trabalho nos últimos tempos têm sido quase todos americanos.
Este tipo de material é, entretanto, profundamente do subterrâneo na
Grã-Bretanha, onde goza de um nível de receptividade muito menor. É claro que
as garantias legais de liberdade de expressão são maiores na América do que na
Grã-Bretanha, e maiores na Grã-Bretanha do que na Europa continental,
refletindo como as tendências pré-existentes têm sido exacerbadas pela
legislação.
A
morte do liberalismo clássico
Em
ensaios anteriores eu discuti a natureza do liberalismo moderno, então eu não o
examinarei novamente aqui. É suficiente dizer que, enquanto o liberalismo eventualmente
derrotou seus críticos marxistas, ele também os absorveu. É por isso que, de
certa forma, a derrota do marxismo não importou no final, porque em 1989 o
processo de absorção já havia sido amplamente realizado, e o liberalismo
ocidental havia então divergido significativamente de sua formulação clássica.
A
politização da ciência
Os
críticos marxistas do liberalismo clássico têm por décadas tentando demonstrar
as várias maneiras nas quais, em sua opinião, a ciência ocidental é
ideologicamente tendenciosa. Todos os cientistas mencionados acima abrangem o
que os marxistas chamam de “racismo científico”, termo que tem sido adotado
pelos liberais modernos. Ao fazer isso, eles têm politizado a ciência que
reclamaram de ter sido politizada pela “supremacia branca”. Para ser justo, sua
reclamação não era sem fundamento, porque o estudo científico das raças do
homem pretendia não apenas satisfazer a curiosidade intelectual, mas também era
usado para manter relações de poder interraciais e influenciar a política
governamental. Jordan armou-se de argumentos eugênicos para fazer campanha
contra a guerra; Grant e Stoddard para campanha contra a imigração; Sanger para
a campanha pelo controle da natalidade.
Desde
a década de 1930 uma politização reversa tem tomado lugar: a ciência permanece
politizada, mas agora é a visão da crítica marxista que domina. A visão da
“supremacia branca” não foi embora, entretanto. Ele sobrevive nas franjas
externas da oposição, tão longe do mainstream é quase impossível vê-la a menos
que seja arrastado para os holofotes para fins de demonização (a qual é uma
forma de autoconfirmação esquerdista).
Por
razões delineadas nas seções anteriores, a extrema direita nos Estados Unidos
tem tendido a confundir ciência politizada com política científica. Em outras
palavras, eles acreditam que derrotar a visão marxista é uma questão de
refutá-la cientificamente. Consequentemente, nós vemos um arroio interminável
de estatísticas relacionadas à raça e estudos de QI entrelaçando ataques ao
liberalismo moderno e ao marxismo, suas interpretações tendenciosas da
evidência científica e sua pseudociência igualitária.
A
causa do problema é a adoção de uma mentalidade liberal moderna pela direita,
onde essa mentalidade tem criado raízes via interseção com o libertarianismo.
Tendo “libertado” o homem da religião e do misticismo, o mundo é para o
liberalismo inteiramente material. Por sua vez, o marxismo, que radicalizou
essa visão e compartilha as raízes do liberalismo na revolução científica, no
racionalismo continental e no empirismo britânico, lançou ele próprio desde o
início como “científico”. (O Capital
é escrito em uma prosa que tem óbvias afetações científicas, um estilo que na
época tinha o benefício adicional de contar com a ajuda dos censores.)
O
esforço para refutar a má ciência dos igualitários com a boa ciência assume uma
concepção de homem como um ator racional, capaz de chegar a conclusões corretas
a partir de dados empíricos por meios racionais. Ele também assume que a
vitória política é uma questão de competir efetivamente no mercado de ideias e
persuadir pessoas suficientes – com “fatos concretos” – de que a ciência da
raça está correta, pois então os liberais igualitários seriam desacreditados,
dando lugar a seus oponentes. A moralidade liberal igualitária é descartada
como meramente “ideologia”, a qual, é assumido, pode ser refutada com fatos,
quando a verdade é que uma moralidade nunca
pode ser refutada, somente desacreditada. Em suma, esses ativistas de extrema
direita adotam uma metodologia liberal e uma concepção liberal do homem e do
mundo, operando assim em território inimigo, onde jogam um jogo inventado pelo
inimigo. Não se pasma que eles não são mais bem-sucedidos!
Política
Científica
Nenhuma
das opções acima significa que a ciência da raça é irrelevante, ou que não há
lugar para a ciência na política. Pelo contrário, ambos são importantes. Seu
lugar e aplicação, contudo, são diferentes daqueles assinalados a eles por
muitos apoiadores e ativistas da extrema direita. Uma confusão fundamental
entre muitos deles é a entre política e campanha: acreditando que uma política
eficaz é feita de conhecimento objetivo, eles também acreditam que o
conhecimento objetivo constitui uma campanha eficaz. Nisso eles estão errados.
O
conhecimento é sempre aferido contra a moralidade prevalecente e, portanto,
aceito ou rejeitado sobre a base das conclusões que derivam desse conhecimento
se são “certas” ou “erradas” moralmente.
Isso é visto claramente nas atitudes em relação à eugenia. A eugenia pressupõe
que os humanos têm valores desiguais, então a moralidade liberal / de esquerda
a classifica como “errada”, o que alimenta os esforços para negar seu status
científico; na verdade, a eugenia é frequentemente referida pelos liberais e
marxistas como uma “pseudociência”. Se a ciência alguma vez for olhada
seriamente, é apenas com o propósito de desmascará-la. Na verdade,
desmascará-la é de tal importância moral, que a verdade dos fatos não importa
em absoluto.
Uma
campanha eficaz – essencialmente mercadologia {em inglês marketing} – fia-se principalmente sobre considerações e processos
extrafatuais envolvidos na motivação humana. Qualquer informação factual usada
em campanhas tende a ser simples, curta e frequentemente trivial.
Isso
não quer dizer que a fazer campanha é não-científico. Em áreas onde o sucesso
ou o fracasso dependem da campanha, tais como o comércio e a política
democrática, uma compreensão científica completa da psicologia humana, da
motivação e das normas sociais é essencial. Talvez porque eles vejam o homem em
termos puramente materiais, ou seja, em termos puramente biológicos, as vantagens
de estudar o animal humano como animal foram bem compreendidas pelos liberais e
seus críticos de esquerda. Mesmo os freudianos-marxistas no negócio de produzir
pseudociências fraudulentas, tais como The
Authoritarian Personality, focaram não em convencer as pessoas de que seus
fatos estavam certos (para eles isso era um dado), mas na psicologia humana.
No
caso da Escola de Frankfurt, foi para causar um curto-circuito no que eles viam
como os instintos “fascistas” da mente ocidental. Formas posteriores de
esquerdismo, crescendo do (e rejeitando parcialmente) o marxismo, como o
primeiro Jean Baudrillard em The System
of Objects, The Consumer Culture, and
The Political Economy of the Sign, onde a psicologia social interage com a
cultura e ideologia, a fim de compreender a base psicológica do capitalismo e
encontrar uma maneira de curto-circuitar o sistema capitalista (e, um tanto
implicitamente, as desigualdades que surgem nele). Se eles politizaram a
ciência, isso foi um subproduto – embora intencional – de seu envolvimento em
uma forma de política científica, pela qual quero dizer abordando o jogo de
poder e autoridade nas relações sociais com uma metodologia científica.
O
papel político da ciência da raça não é, portanto, a persuasão do neófito, mas
a confirmação do inveterado e a reafirmação do simpatizante. Além disso,
oferece a base para um futuro desenvolvimento na ciência do homem, sua futura
interpretação e sua futura tradução em política, todas as quais são
contingentes a uma mudança de paradigma na filosofia moral e, portanto, são os
elementos de somente um cenário possível na luta pelo Ocidente. Se esse cenário
se tornará realidade, dependerá do período de tempo e da direção da mudança, a
qual está apoiada inteiramente no que os movimentos desestabilizadores são
capazes de realizar dentro de sua janela de oportunidade.
Conclusão
A
luta pelo Ocidente compreende múltiplos teatros de guerra, que alcançam desde a
demografia crua até a teoria abstrata. A ciência é um deles. Que a estratégia
da extrema direita neste teatro se fie em assunções liberais sobre o homem é
irônico, mas talvez compreensível, dado que a concepção biológica e o estudo da
raça surgiram em um contexto totalmente liberal. O resultado foi uma confusão
entre ciência politizada e política científica.
A
extrema direita na parte mais ocidental de nosso hemisfério tem focado em
atacar os vícios científicos do liberalismo igualitário moderno (ou seja, a
politização da ciência), enquanto falha em emular práticas bem-sucedidas (ou
seja, política científica). Como usual, o foco tem sido atacar os efeitos, ao
invés das causas. Qualquer movimento procurando derrotar o liberalismo no
Ocidente precisaria desfazer o pensamento de todas as assunções liberais
primeiro, entendendo completamente como e por que isto deve ser feito, e ser
capaz de articular por que fazendo isso é então moralmente correto de uma
maneira que faça aqueles que ouvem se sentirem bem e justo em prestar atenção.
Tradução
e palavras entre chaves por Mykel Alexander
Fonte: Politicized
Science vs. Scientific Politics, por Alex Kurtagić, 17 de dezembro de 2012, Counter Currents.
https://www.counter-currents.com/2012/12/politicized-science-vs-scientific-politics/
Sobre o autor: Alex
Kurtagić (1970 – ) nasceu na Croácia filho de pais eslovenos. Devido a
profissão do pai, viajou e viveu em vários países. Tem fluência em inglês e
espanhol, e pratica o francês e alemão. Após completar os estudos nos EUA
graduou-se na Universidade de Londres (M.A. entre 2004 – 2005) em Estudos
Culturais. Também é músico, desenhista, pintor, escritor e editor (Wermod and
Wermod Publishing Group). Seus artigos são publicados nas revistas virtuais The Occidental Quarterly, Vdare, Counter Currents, Taki Mag,
e American Renaissance.
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