quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Petróleo ou 'o Lobby' {judaico-sionista} um debate sobre a Guerra do Iraque


Mark Weber



Um debate-entrevista, organizado pelo irmão Nathanael Kapner em abril de 2008, sobre os motivos e forças por trás da guerra liderada pelos EUA em 2003 contra o Iraque.

            Stephen Zunes[1], professor de Política e Estudos Internacionais na Universidade de São Francisco, e Mark Weber[2], diretor do Institute for Historical Review, apresentam visões diferentes sobre os motivos por trás da fatídica decisão de bombardear, invadir e ocupar o Iraque.

Irmão Nathanael (IN): Quem é primariamente para se culpar pela guerra do Iraque?

Weber: Quaisquer que sejam as razões secundárias para a guerra, o fator crucial na decisão para atacar o Iraque foi ajudar Israel. Com apoio de Israel e do lobby judaico-sionista da América, e aguilhoados por judeus neoconservadores de alto nível na administração Bush, o presidente Bush e o vice-presidente Chebey, que eram há fervorosamente comprometidos com Israel, resolveram invadir e subjugar um dos principais chefes regionais inimigos de Israel.

            Conforme o senador dos EUA Ernst Hollings disse em maio de 2004, os EUA invadiram o Iraque “para proteger Israel” e “todos” em Washington sabem disso. No mínimo em duas ocasiões, o próprio presidente Bush reconheceu a importância de derrubar o regime de Saddam Hussein no Iraque porque ele era uma ameaça para Israel. Eu tenho exposto isto e muito mais evidências em numerosos ensaios e palestras. Veja, por exemplo, “Iraque: Uma guerra para Israel.”

IN: Por que, Dr. Zunes, você diz que o lobby judaico não é diretamente responsável pela invasão dos EUA no Iraque?

Zunes: Enquanto o então chamado “lobby judaico,” o American Israel Public Affairs Committee (AIPAC) inegavelmente tem influenciado votos congressistas em relação as preocupações palestino-israelenses e outras questões, ele não tem desempenhado um papel importante no lobby para apoio da Invasão dos EUA no Iraque. Alguns dos mais fortes apoiadores de Israel no Congresso estavam entre os mais ásperos críticos da invasão. Existe de longe mais poderosos interesses com uma estaca no que acontece na região do Golfo Pérsico do que o AIPAC. Estes incluem as companhias de petróleo, a indústria de armas, e outros grupos de interesses especiais. De fato, os interesses nos estados ricos em petróleo do Golfo Pérsico têm existido[3] por muitas décadas e mesmo pré-datam o estabelecimento do Israel moderno.

IN: Qual é sua resposta a isto, Sr. Weber?

Weber: Os planos judaico-sionistas para a guerra contra o Iraque tinham estado em vigor por anos, mesmo antes de George W. Bush se tornar presidente. O ataque de 11 de setembro de 2001 serviu como útil pretexto para colocar aqueles planos em operação. Existe abundante evidência para mostrar que durante os meses anteriores à invasão de março de 2003, Israel e seus apoiadores nos EUA incitaram e encorajaram a administração Bush para ir à guerra.

Certamente, os conglomerados consolidados político-empresariais dos EUA procuram assegurar e promover seus interesses ao tentar impor uma pax americana global, conforme o Dr. Zunes tem apontado. Mas não existe evidência direta que as companhias de petróleo dos EUA forçaram a guerra com o Iraque. De fato, os conglomerados consolidados político-empresariais dos EUA se opuseram a invasão do Iraque. Nos meses anteriores ao ataque, aposentadas figuras militares de alta patente dos EUA, e proeminentes ex-oficiais de Washington tais como Brent Scowcroft e Zbigniew Brzezinki, se manifestaram contra o ataque ao Iraque.

            Dois proeminentes estudiosos dos assuntos internacionais, John Mearsheimer e Stephen Walt, têm escrito:
“A pressão de Israel e o lobby [pró-Israel] foi não o único fator por trás da decisão de atacar o Iraque em março de 2003, mas foi crítico. Alguns americanos acreditam que essa foi uma ‘guerra por petróleo’, mas existe dificilmente quaisquer evidências diretas para apoiar essa alegação. Ao invés, a guerra foi motivada em boa parte por um desejo de fazer Israel mais segura... Dentro dos Estados Unidos, a principal força motriz por trás da guerra foi um pequeno bando de neoconservadores, muitos com íntimas ligações ao Partido Likud de Israel. Em adição, líderes chave das principais organizações do Lobby deram voz a campanha pela guerra.”
IN: Por que, Dr. Zunes, você mantém que o lobby judaico e os neocons desempenharam somente um papel secundário na política dos EUA no Oriente Médio?

Zunes: Existem documentos e relatórios de planejamento estratégico de think tanks de direita com laços estreitos com a Casa Branca, que provam que a invasão e ocupação dos EUA no Iraque foi parte de um esforço para criar uma Pax Americana no Oriente Médio.
Dr. Stephen Zunes

O Iraque é o único país árabe que combina reservas significativas de petróleo, uma população considerável e um suprimento de água adequado para manter uma política externa e doméstica independente. Isto, em efeito, é o que faz do Iraque uma ameaça percebida aos interesses americanos porque o desejo de Saddam Hussein de criar uma capacidade de dissuasão por meio do desenvolvimento de armas de destruição em massa foi visto como intolerável.

Caso os Estados Unidos (como ainda é esperado pelo governo Bush, mas agora pareça altamente improvável) acabem controlando o Iraque, bases militares permanentes irão então ser estabelecidas.

O Iraque, como um estado vassalo americano, controlaria a segunda maior reserva de petróleo do mundo, e os EUA teriam uma enorme influência sobre os vizinhos imediatos do Iraque - Irã, Arábia Saudita, Síria e Turquia, entre outros. Israel seria um parceiro júnior nesse esforço.

Em relação aos neoconservadores, o notório artigo “Clean Break” de Feith / Wurmser foi um apelo a Israel para romper com o processo de paz liderado pelos EUA e as restrições percebidas às ações israelenses pelo governo dos EUA, sob a liderança dos mais moderados da administração Clinton, não um apelo aos Estados Unidos para tomarem iniciativas arriscadas a mando de Israel.

Similarmente, o artigo demonstra como, mais que ser um caso dos israelenses levarem os neoconservadores a pressionar os Estados Unidos para mudarem suas políticas para uma posição mais rígida, foram os neoconservadores americanos pressionando Israel a mudar suas políticas para uma posição mais rígida. Veja meu artigo: “A invasão do Iraque nos EUA: não a culpa de Israel e seus apoiadores”[4].

IN: Vamos mudar para outro tópico: vocês dois prevêem uma possível reação antijudaica elevando-se de um decorrente e cada vez mais caro papel dos EUA no Iraque?

Weber: Os americanos têm já pago um preço alto pela aliança dos EUA com Israel. Mas nos próximos anos nós iremos sem dúvida pagar um preço cada vez mais alto em dólares desperdiçados, prestígio internacional perdido e vidas americanas desperdiçadas.

No curto prazo, não prevejo nenhum aumento significativo no sentimento antijudaico, mesmo que a situação no Iraque piore. Mas isso poderia mudar rapidamente se, por exemplo, os EUA se envolverem em uma guerra regional contra o Irã em nome de Israel. Essa guerra teria consequências terríveis e provavelmente geraria uma fúria antijudaica generalizada, especialmente se a economia dos EUA vacilar.

Zunes: Como eu tenho apontado muitas vezes, a política externa dos EUA deseja estabelecer uma Pax Americana, isto é, hegemonia em todo o Oriente Médio, usando o Iraque como um estado vassalo. Mas, como outras potências que têm tentado controlar o Oriente Médio, tais esforços de hegemonia inevitavelmente irão gerar sua própria resistência. Com os próprios Estados Unidos do outro lado do globo, Israel pode se tornar um alvo mais fácil para aqueles que resistem a esse esforço americano hegemônico no coração do Oriente Médio.

Em outras palavras, como um outro lado da situação atual, onde o apoio dos EUA a Israel tem levado a um aumentado antiamericanismo no mundo árabe-islâmico, o apoio de Israel à invasão e ocupação americana do Iraque exacerbará inevitavelmente os sentimentos anti-israelenses e antijudaicos.

As consequências desastrosas da invasão seriam uma grande oportunidade para os americanos preocupados demonstrarem que essa tragédia foi resultado da influência indevida de empresas de petróleo, contratantes militares, ideólogos de direita e influência corporativa excessiva nas iniciativas políticas de nosso governo.

Isso poderia urgir demandas por reformas radicais muito necessárias no sistema político e econômico. Aqueles que confiariam na tática consagrada pelo tempo de “culpar os judeus” desviariam a atenção dos problemas reais e iriam, de fato, ser uma distração perigosa.

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander


Notas


[1] Fonte usada pela edição do IHR: http://stephenzunes.org/

[2] Fonte usada pela edição do IHR: http://www.ihr.org/other/weber_bio.html

[3] Nota do tradutor: ver especialmente: “O ódio ao Irã inventado pelo Ocidente serve ao sonho sionista de uma Grande Israel dominando o Oriente Médio”, por Stuart Littlewood, 14 de julho de 2019 em World Traditional Front.
Publicado originalmente em inglês em American Herald Tribune, 25 de junho de 2019.

[4] Fonte usada pela edição do IHR: “The U.S. Invasion of Iraq: Not the Fault of Israel and Its Supporters”, por Stephen Zunes, 3 de janeiro de 2006, editado por John Gershman, Foreing Policy in Focus.







Sobre o autor: Mark weber é um historiador americano, escritor, palestrante e analista de questões atuais. Ele estudou história na Universidade de Illinois (Chicago), na Universidade de Munique (Alemanha), e na Portland State University. Ele possui um mestrado em História Europeia da Universidade de Indiana. Desde 1995 ele tem sido diretor do Institute for Historical Review, um centro independente de publicações, educação e pesquisas de interesse público, no sul da Califórnia, que trabalha para promover a paz, compreensão e justiça através de uma maior consciência pública para com o passado.

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