| Ruhollah Abdolmaleki |
A
governança tem sido, há muito tempo, uma das ideias mais contestadas da
humanidade. Ao longo da história, vários modelos de autoridade política, muitas
vezes opostos, têm surgido e desaparecido. A vida social, à medida que passa de
uma era para outra, geralmente conclui sob um sistema de governança, apenas
para dar lugar a outro. Ainda, não importa o modelo que prevaleça, a humanidade
tem sofrido consistentemente com a falta de um governo nobre e justo: a
história está repleta de engano, desonestidade e do contraste gritante entre as
palavras dos líderes e seus feitos.
Desde os sofistas da Grécia antiga
até a política pragmática de Maquiavel no século XVI, e mesmo pensadores como
Leo Strauss no século XX, que defendiam a necessidade do engano político, a
conduta hipócrita tem sido uma constante da realpolitik.[1]
Maquiavel, em O Príncipe, observou
que, embora a honestidade e a transparência sejam elogiadas, os governantes que
alcançaram a grandeza muitas vezes não hesitaram em enganar; na verdade,
estadistas astutos frequentemente alcançaram mais do que aqueles que se comportaram
com sinceridade.[2]
Uma olhada de relance na política
moderna, especialmente nos séculos XX e XXI, revela abundantes exemplos de
engano político por parte dos líderes ocidentais: os Documentos do Pentágono
expondo guerras secretas dos EUA no Camboja e no Laos; as mentiras dos
presidentes dos EUA durante o escândalo Watergate na década de 1970 e o caso
Monica Lewinsky no final da década de 1990; e a manipulação intencional de
informações de inteligência sobre as supostas armas de destruição em massa do
Iraque, validando cumulativamente que o engano e a desonestidade são muito comuns
na governança ocidental.[3]
Portanto, não é surpresa que uma profunda desconfiança pública em relação aos
políticos permeie grande parte do mundo ocidental, um sentimento confirmado por
pesquisas realizadas desde o final do século XX até hoje nos Estados Unidos,
Austrália e Europa.
Nos recentes anos, nos Estados
Unidos, a insatisfação pública com o sistema político disparou.*1 A confiança em instituições
liberal-democráticas como o Congresso e a presidência tem declinado
marcadamente.
Então, por que a governança
ocidental, em vez de defender a transparência, a honestidade e o bem-estar
público, tem tendido a explorar nações, confiscar recursos e operar sob várias
formas de colonialismo moderno? A resposta está na evolução do pensamento
político ocidental e nas ações de seus líderes. Um exemplo recente flagrante: o
apoio político ocidental a Israel em meio à tragédia que se desenrola em Gaza, “quando
milhares de crianças foram martirizadas em Gaza*2
em um curto período, talvez mais de 20.000 delas, aqueles que defendem os
direitos humanos não apenas não impediram isso, como também ajudaram os opressores!”
Em contraste, os ensinamentos
islâmicos enfatizam fortemente a sinceridade e a honestidade em todos os
aspectos da vida — pessoal, social e político. O Islã proclama que a verdade
purifica a corrupção, enquanto as mentiras e os enganos a alimentam.[4]
No pensamento político islâmico, a honestidade é um princípio fundamental: os
líderes devem falar com sinceridade ao seu povo — um tema ecoado em Nahj
al-Balāghah (Sermão 108) e ainda mais incorporado na Carta 53 do Imã Ali ao seu
governador Malik al-Ashtar. Essa carta afirma que os indivíduos mais dignos na
governança são aqueles que apresentam os fatos verdadeiramente e agem com sinceridade.
Ao contrário das tradições políticas
ocidentais, a doutrina política islâmica considera a honestidade e a ausência
de engano como componentes imutáveis da ordem social. Os líderes da Revolução
Islâmica afirmam isso, considerando a Revolução Islâmica um ponto de inflexão
que trouxe sinceridade à política global. O imã Khamenei tem criticado a
ausência de honestidade nas relações políticas globais, afirmando que o povo
iraniano introduziu “religião, fé, justiça e verdade”*3
nos assuntos mundiais, um cenário há muito desprovido de integridade genuína.
Ao contrário da norma entre os
líderes globais, especialmente no Ocidente, cujas ações muitas vezes
contradizem sua retórica de defesa dos direitos humanos, a República Islâmica
se esforça para alinhar discurso e ação e melhorar esse alinhamento ao longo do
tempo.
O imã Khamenei tem enfatizado*4 a importância da honestidade e da clareza
quando se dirigindo aos mais altos cargos políticos do país, listando-as entre
as qualidades essenciais que os altos funcionários devem possuir. Ele pediu prestação
de contas*5 e a explicação das responsabilidades
presidenciais de maneira verdadeira, baseada no realismo e livre de exageros,
declarando que tal abordagem é eficaz.
De acordo com tudo isso, uma das
figuras mais proeminentes do sistema político da República Islâmica, que ocupou
cargos governamentais importantes e foi elogiado pelo Imã Khamenei por sua
conduta honesta e abordagem direta e sem enganos, foi o falecido presidente
aiatolá Ebrahim Raisi. Sua clareza e honestidade tanto nos assuntos internos
quanto externos estavam entre suas características marcantes. O Imã Khamenei
também elogiou seu estilo de governar, marcado por uma comunicação verdadeira,
clara e sem ambiguidades com o povo, bem como pela franqueza e sinceridade nas
negociações diplomáticas. Sobre esse assunto, o líder afirmou:*6 “Quanto ao seu discurso, ele falava ao
povo de maneira direta e honesta. Ele não falava de forma ambígua nem usava
sinais enganosos... Essa franqueza e honestidade eram evidentes até mesmo nas
negociações diplomáticas, e isso influenciava as outras partes. Nas negociações
diplomáticas, que muitas vezes são um lugar para linguagem complicada e
intenções ocultas, ele falou com abertura e sinceridade, o que deixou uma forte
impressão no outro lado. Eles confiaram nele e sabiam que o que ele dizia era a
verdade.”
Isso mostra quão grande é a
diferença entre a retórica política e a ação política na cultura política
ocidental e na cultura política islâmica.
(As opiniões expressas neste artigo são do autor e não refletem necessariamente as do Khamenei.ir.)
Tradução por Davi Ciampa Heras
Revisão e palavra entre chaves por Mykel Alexander
Notas:
[1] Nota de Ruhollah Abdolmaleki: Bakir,
V., Herring, E., Miller, D., & Robinson, P. (2018). Lying and deception in
politics. EmJ. Meibauer (Ed.), The Oxford
Handbook of Lying (pp. 529-540).
[2] Nota de Ruhollah Abdolmaleki:
Machiavelli, Nicolo,
(2009). The Prince. Edited by Tim
Parks, Penguin Classics, p 69
[3] Nota de Ruhollah Abdolmaleki:
Bakir, V., Herring, E.,
Miller, D., & Robinson, P. (2018). Lying and deception in politics. Em J.
Meibauer (Ed.), The Oxford Handbook of
Lying (pp. 529-540).
*1 Fonte utilizada por Ruhollah
Abdolmaleki:
https://cedar.wwu.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1000&context=politicalscience_stuschol
*2
Fonte utilizada por Ruhollah Abdolmaleki: For
the Americans to say, “We
won’t
allow Iran to enrich uranium,”
is utter nonsense, 20 de maio de 2025, Khamenei.
[4] Nota de Ruhollah Abdolmaleki: Tamīmī Āmadī, ʿA. b. M. (1994). Ghorar al-ḥekam wa dorar al‑kalam (M. J.
Ḥoseynī
Armavī,
Ed.; 5th ed., Vol. 1, p. 281). Tehran: University of Tehran Press.
*3
Fonte utilizada por Ruhollah Abdolmaleki: Leader
Addresses Large Gathering at Takhti Stadium in Semnan, 08 de novembro de 2006, Khamenei.
https://english.khamenei.ir/news/393/Leader-Addresses-Large-Gathering-at-Takhti-Stadium-in-Semnan
*4
Fonte utilizada por Ruhollah Abdolmaleki: Leader's Statements in a Meeting with
Cabinet Members, 26 de agosto de 2002, Khamenei.
https://english.khamenei.ir/news/157/Leader-s-Statements-in-a-Meeting-with-Cabinet-Members
*5
Fonte utilizada por Ruhollah Abdolmaleki: Thankfully Today the Country Benefits
from a Solid Security Shield: Imam Khamenei, 24 de agosto de 2016, Khamenei.
*6
Fonte utilizada por Ruhollah Abdolmaleki: For
the Americans to say, “We
won’t
allow Iran to enrich uranium,”
is utter nonsense, 20 de maio de 2025, Khamenei.
Fonte:
A look at the fundamental differences in political practice between Islamic
Iran and the West through the example of Martyr Raisi, por Ruhollah
Abdolmaleki, 10 de junho de 2025, Khamenei.
https://english.khamenei.ir/news/11724/On-politics-Truth-and-integrity-versus-lies-and-deceit
Sobre
o autor: Ruhollah Abdolmaleki é pesquisador em estudos regionais.
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