sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Uma análise das diferenças fundamentais na prática política entre o Irã islâmico e o Ocidente através do exemplo do mártir {Ebrahim} Raisi - por Ruhollah Abdolmaleki

 

 Ruhollah Abdolmaleki

A governança tem sido, há muito tempo, uma das ideias mais contestadas da humanidade. Ao longo da história, vários modelos de autoridade política, muitas vezes opostos, têm surgido e desaparecido. A vida social, à medida que passa de uma era para outra, geralmente conclui sob um sistema de governança, apenas para dar lugar a outro. Ainda, não importa o modelo que prevaleça, a humanidade tem sofrido consistentemente com a falta de um governo nobre e justo: a história está repleta de engano, desonestidade e do contraste gritante entre as palavras dos líderes e seus feitos.

            Desde os sofistas da Grécia antiga até a política pragmática de Maquiavel no século XVI, e mesmo pensadores como Leo Strauss no século XX, que defendiam a necessidade do engano político, a conduta hipócrita tem sido uma constante da realpolitik.[1] Maquiavel, em O Príncipe, observou que, embora a honestidade e a transparência sejam elogiadas, os governantes que alcançaram a grandeza muitas vezes não hesitaram em enganar; na verdade, estadistas astutos frequentemente alcançaram mais do que aqueles que se comportaram com sinceridade.[2]

            Uma olhada de relance na política moderna, especialmente nos séculos XX e XXI, revela abundantes exemplos de engano político por parte dos líderes ocidentais: os Documentos do Pentágono expondo guerras secretas dos EUA no Camboja e no Laos; as mentiras dos presidentes dos EUA durante o escândalo Watergate na década de 1970 e o caso Monica Lewinsky no final da década de 1990; e a manipulação intencional de informações de inteligência sobre as supostas armas de destruição em massa do Iraque, validando cumulativamente que o engano e a desonestidade são muito comuns na governança ocidental.[3] Portanto, não é surpresa que uma profunda desconfiança pública em relação aos políticos permeie grande parte do mundo ocidental, um sentimento confirmado por pesquisas realizadas desde o final do século XX até hoje nos Estados Unidos, Austrália e Europa.

            Nos recentes anos, nos Estados Unidos, a insatisfação pública com o sistema político disparou.*1 A confiança em instituições liberal-democráticas como o Congresso e a presidência tem declinado marcadamente.

            Então, por que a governança ocidental, em vez de defender a transparência, a honestidade e o bem-estar público, tem tendido a explorar nações, confiscar recursos e operar sob várias formas de colonialismo moderno? A resposta está na evolução do pensamento político ocidental e nas ações de seus líderes. Um exemplo recente flagrante: o apoio político ocidental a Israel em meio à tragédia que se desenrola em Gaza, “quando milhares de crianças foram martirizadas em Gaza*2 em um curto período, talvez mais de 20.000 delas, aqueles que defendem os direitos humanos não apenas não impediram isso, como também ajudaram os opressores!”

            Em contraste, os ensinamentos islâmicos enfatizam fortemente a sinceridade e a honestidade em todos os aspectos da vida — pessoal, social e político. O Islã proclama que a verdade purifica a corrupção, enquanto as mentiras e os enganos a alimentam.[4] No pensamento político islâmico, a honestidade é um princípio fundamental: os líderes devem falar com sinceridade ao seu povo — um tema ecoado em Nahj al-Balāghah (Sermão 108) e ainda mais incorporado na Carta 53 do Imã Ali ao seu governador Malik al-Ashtar. Essa carta afirma que os indivíduos mais dignos na governança são aqueles que apresentam os fatos verdadeiramente e agem com sinceridade.

            Ao contrário das tradições políticas ocidentais, a doutrina política islâmica considera a honestidade e a ausência de engano como componentes imutáveis da ordem social. Os líderes da Revolução Islâmica afirmam isso, considerando a Revolução Islâmica um ponto de inflexão que trouxe sinceridade à política global. O imã Khamenei tem criticado a ausência de honestidade nas relações políticas globais, afirmando que o povo iraniano introduziu “religião, fé, justiça e verdade”*3 nos assuntos mundiais, um cenário há muito desprovido de integridade genuína.

            Ao contrário da norma entre os líderes globais, especialmente no Ocidente, cujas ações muitas vezes contradizem sua retórica de defesa dos direitos humanos, a República Islâmica se esforça para alinhar discurso e ação e melhorar esse alinhamento ao longo do tempo.

            O imã Khamenei tem enfatizado*4 a importância da honestidade e da clareza quando se dirigindo aos mais altos cargos políticos do país, listando-as entre as qualidades essenciais que os altos funcionários devem possuir. Ele pediu prestação de contas*5 e a explicação das responsabilidades presidenciais de maneira verdadeira, baseada no realismo e livre de exageros, declarando que tal abordagem é eficaz.

            De acordo com tudo isso, uma das figuras mais proeminentes do sistema político da República Islâmica, que ocupou cargos governamentais importantes e foi elogiado pelo Imã Khamenei por sua conduta honesta e abordagem direta e sem enganos, foi o falecido presidente aiatolá Ebrahim Raisi. Sua clareza e honestidade tanto nos assuntos internos quanto externos estavam entre suas características marcantes. O Imã Khamenei também elogiou seu estilo de governar, marcado por uma comunicação verdadeira, clara e sem ambiguidades com o povo, bem como pela franqueza e sinceridade nas negociações diplomáticas. Sobre esse assunto, o líder afirmou:*6 “Quanto ao seu discurso, ele falava ao povo de maneira direta e honesta. Ele não falava de forma ambígua nem usava sinais enganosos... Essa franqueza e honestidade eram evidentes até mesmo nas negociações diplomáticas, e isso influenciava as outras partes. Nas negociações diplomáticas, que muitas vezes são um lugar para linguagem complicada e intenções ocultas, ele falou com abertura e sinceridade, o que deixou uma forte impressão no outro lado. Eles confiaram nele e sabiam que o que ele dizia era a verdade.”

            Isso mostra quão grande é a diferença entre a retórica política e a ação política na cultura política ocidental e na cultura política islâmica.

 (As opiniões expressas neste artigo são do autor e não refletem necessariamente as do Khamenei.ir.)

Tradução por Davi Ciampa Heras

Revisão e palavra entre chaves por Mykel Alexander

Notas:


[1] Nota de Ruhollah Abdolmaleki: Bakir, V., Herring, E., Miller, D., & Robinson, P. (2018). Lying and deception in politics. EmJ. Meibauer (Ed.), The Oxford Handbook of Lying (pp. 529-540).

[2] Nota de Ruhollah Abdolmaleki: Machiavelli, Nicolo, (2009). The Prince. Edited by Tim Parks, Penguin Classics, p 69

[3] Nota de Ruhollah Abdolmaleki: Bakir, V., Herring, E., Miller, D., & Robinson, P. (2018). Lying and deception in politics. Em J. Meibauer (Ed.), The Oxford Handbook of Lying (pp. 529-540).

*2 Fonte utilizada por Ruhollah Abdolmaleki: For the Americans to say, We wont allow Iran to enrich uranium, is utter nonsense, 20 de maio de 2025, Khamenei.

https://english.khamenei.ir/news/11694/For-the-Americans-to-say-We-won-t-allow-Iran-to-enrich-uranium

[4] Nota de Ruhollah Abdolmaleki: Tamīmī Āmadī, ʿA. b. M. (1994). Ghorar al-ḥekam wa dorar al‑kalam (M. J. Ḥoseynī Armavī, Ed.; 5th ed., Vol. 1, p. 281). Tehran: University of Tehran Press.

*3 Fonte utilizada por Ruhollah Abdolmaleki: Leader Addresses Large Gathering at Takhti Stadium in Semnan, 08 de novembro de 2006, Khamenei.

https://english.khamenei.ir/news/393/Leader-Addresses-Large-Gathering-at-Takhti-Stadium-in-Semnan

*4 Fonte utilizada por Ruhollah Abdolmaleki: Leader's Statements in a Meeting with Cabinet Members, 26 de agosto de 2002, Khamenei.

https://english.khamenei.ir/news/157/Leader-s-Statements-in-a-Meeting-with-Cabinet-Members

*5 Fonte utilizada por Ruhollah Abdolmaleki: Thankfully Today the Country Benefits from a Solid Security Shield: Imam Khamenei, 24 de agosto de 2016, Khamenei.

https://english.khamenei.ir/news/4115/Thankfully-Today-the-Country-Benefits-from-a-Solid-Security-Shield

*6 Fonte utilizada por Ruhollah Abdolmaleki: For the Americans to say, We wont allow Iran to enrich uranium, is utter nonsense, 20 de maio de 2025, Khamenei.

https://english.khamenei.ir/news/11694/For-the-Americans-to-say-We-won-t-allow-Iran-to-enrich-uranium

Fonte: A look at the fundamental differences in political practice between Islamic Iran and the West through the example of Martyr Raisi, por Ruhollah Abdolmaleki, 10 de junho de 2025, Khamenei.

https://english.khamenei.ir/news/11724/On-politics-Truth-and-integrity-versus-lies-and-deceit

Sobre o autor: Ruhollah Abdolmaleki é pesquisador em estudos regionais.

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