quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Mudança de Regime na Síria: mais um passo em direção ao “Grande Israel” - por Alan Ned Sabrosky

 

Alan Sabrosky


“Porque semearam vento, colherão tempestade” – Oséias 8:7

O colapso do Governo de Assad na Síria certamente será recebido com considerável satisfação em Jerusalém e Washington. Ambas as capitais do co-domínio sionista há muito tempo veem os Assads, assim como viram Saddam Hussein do Iraque e Muammar Gaddafi da Líbia. Todos eram obstáculos aos desígnios de Israel na região.

Todos os três também foram alvos daquela política nefasta de “mudança de regime” destacada nos EUA após o 11 de setembro, assim como quatro outros países da região. Agora, os últimos três caiu, embora muito mais tarde do que os neoconservadores judeus “gaviões-frangos” (chamados assim porque todos defendiam a guerra, mas muito poucos serviram uniformizados) haviam previsto em 2001.

 

Então o que causou o Colapso?

Dinâmicas internas na Síria que desempenharam sua parte, com certeza, mas eu vou me concentrar aqui nos fatores externos. Uma das principais razões foi a pressão implacável e os recursos consideráveis despejados nas diversas milícias e jihadistas que tentaram derrubar o regime da Síria. O dinheiro fala, e falou muito alto aqui. Assim como os frequentes ataques aéreos e de artilharia na Síria. Protegidos pelos EUA, as forças russa na Síria pouco puderam fazer por seu aliado.

Então, também, numericamente pequena e politicamente significativa, a ilimitada presença militar norte americana no terreno sírio teve seu próprio impacto. Assim como os ataques militares diretos e limitados, mas estrategicamente significativos, dos EUA e outros países da OTAN contra as forças e instalações do governo sírio. A imagem importa, e aqui ela importou demais.

A Síria de Assad nunca poderia se equiparar a isso. Apenas a Rússia (em uma extensão limitada) e o Irã (em uma extensão menor ainda) realmente fizeram alguma coisa. Mas a Rússia está presa ao “bebê de alcatrão” ucraniano e o Irã está tentando safar suas apostas antecipadamente à própria “mudança de regime” dos Estados Unidos. Uma escassez de aliados fortes e razoavelmente confiáveis também conta, e contou aqui, mas não de uma boa maneira.

Segundo, a Síria perdeu a guerra de informação e propaganda, de uma forma muito grande e decisiva. As mídias dominadas pelos judeus nos EUA e na maior parte da Europa garantiram que praticamente todas as alegações, não importando quão ridículas, dos jihadistas e outros elementos antigovernamentais fossem tratados como uma verdade do Evangelho, na Síria. Poucos na mídia tradicional contestaram suas afirmações, embora muitos o tenham feito nas mídias alternativas e nas plataformas das redes sociais.

Não foi o suficiente. Israel pode destruir Gaza e matar dezenas de milhares de civis, mas qualquer crítica aos seus crimes de guerra muito reais é quase universalmente denunciada na mídia e nas capitais ocidentais como “antissemitismo cruel” que precisa ser suprimido e punido. Essa crítica não foi nada disso, mas demonstra o grau excepcional da influência judaica em todo o Ocidente. Também ressalta a precisão do axioma de que “a verdade é a primeira vítima de guerra”, pelo menos sempre que Israel ou seus interesses estão envolvidos.

Terceiro, vale a pena notar que neste evento vimos milícias insurgentes e jihadistas locais fazerem às forças do governo sírio o que os mujaheddin apoiados pelos EUA fizeram ao governo afegão e seus aliados soviéticos, e mais tarde ao Talibã (os descendentes operacionais diretos dos mujaheddin originais) fizeram a outro governo afegão e seu patrão americano. Parece que os governos locais têm muita dificuldade em resistir aos insurgentes que tem um santuário externo, assistência externa ou ambos.

Em todos os casos citados acima, os insurgentes tiveram ambos. Na Síria, as forças governamentais também tiveram que lidar com ataques militares diretos de Israel, dos EUA e de outros países da OTAN. O que tornou mais difícil para eles foi que eles essencialmente lutaram contra essas forças externas com uma mão firmemente amarrada nas costas.

Além da defesa, as forças do governo sírio só podiam se engajar ocasionalmente em duelos de artilharia com os israelenses, mas não responder ataques aéreos na mesma estatura. Nem os russos podiam ajudá-los, a não ser defensivamente. Qualquer tentativa de responder diretamente aos ataques dos EUA, de Israel ou de outros países significava um confronto direto com os EUA, Israel protegido por seu fantoche norte americano ou a OTAN. Os sírios não poderiam fazer isso sozinhos, e a Síria simplesmente não valia o suficiente para a Rússia arriscar esse tipo de engajamento.

 

Reflexões

Levará algum tempo para que as implicações de tudo isso se tornem mais claras (talvez “menos turvo” seja mais acurado). Eu espero que os atuais oficiais do governo sírio e os altos comandantes militares estejam se perguntando se ainda estarão vivos na semana que vem. Eu não sou especialista em assuntos sírios, mas o histórico nessas situações não os tranquilizaria.

Eu espero, contudo, que uma consideração importante por parte dos vencedores seja o papel planejado para eles por seus patrões estrangeiros. Queremos nós que o novo governo sírio seja outro Egito, na medida em que concerne a Israel? Ou é outra coisa?

Seja como for, as forças insurgentes – mesmo aquelas fortemente infiltradas – têm se mostrado excepcionalmente difíceis de prever ou controlar, ou mesmo influenciar, uma vez que elas chegam ao poder.  Lembre-se de as pessoas que os EUA armaram para lutar contra os soviéticos no Afeganistão se transformaram em um Talibã que empregaram algumas dessas armas e técnicas para forçar mais uma humilhante debacle americana.

A experiência israelense com essas coisas é ainda mais problemática. Um alto oficial israelense me disse na década de 80 que eles tinham se infiltrado com sucesso em todos os governos e movimentos árabes, contando principalmente com judeus sefarditas. Então, quando Israel criou o Hamas na década de 80 como um contra peso à OLP {Organização para a Libertação da Palestina}, eu imagino que eles acharam que fizeram um bom negócio. No entanto, isso também mudou com o passar dos anos. Infiltrados ou não, deu a Israel uma época mais “interessante” do que antecipado.

O caso do ISIS e dos jihadistas sírios é ainda mais interessante. Agora, “bandeiras falsas” (atacar alguém, mas fazer as pessoas acreditarem que é outra) é uma especialidade israelense. O Lema do Mossad, a mais conhecida organização de inteligência israelense, é apropriadamente “Pelo engano, você travará guerra”.

Mossad e suas organizações irmãs têm vivido de acordo com esse lema desde a fundação de Israel. Eles têm sido auxiliados ao redor do mundo por cidadãos com dupla cidadania israelense, ou judeus sem cidadania israelense, alguns cristãos sionistas ou mercenários declarados.

Exemplos abundam. Três de relevância particular para os EUA, por exemplo, são o Caso de Lavon no Egito (1954), o ataque ao USS Liberty (1967) e os ataques de 11 de Setembro (2001). Vale a pena procurá-los (NÃO confie nem na Wikipedia nem no mecanismo de busca do Google!), mas aqui vai um começo sobre o último caso citado.[1]

O caso do ISIS é ainda mais intrigante. Supostamente uma organização islâmica militante, que parece ter uma dificuldade excepcionalmente grande em atingir alvos israelenses ou norte americanos em qualquer lugar do mundo. Esse era um problema que a al-Qaeda de Osama Bin Laden, com menos ativos, não compartilhava.

{O grupo extremista e terrorista ISIS que supostamente anseio um imperialismo islâmico, antes ataca outros Estados islâmicos, mas não arranha nem Israel nem EUA, e, em última análise, apenas se resume a atacar os inimigos de Israel!}


A despeito dos recursos para colocar em campo frotas de caminhonetes Toyota brancas com armas pesadas em suas caçambas e outras parafernálias, eles acham um desafio “quase” intransponível atacar os que deveriam ser seus inimigos principais. Curioso, não é? Eu me pergunto quantos líderes do ISIS compartilharam bebidas com seus contatos do Mossad e da CIA.

Por último, estão os jihadistas sírios, facilmente a faceta mais fascinante do quebra cabeças sírio. Nós somos constantemente informados de que essas pessoas são fanáticos islâmicos que passam as noites sonhando em como matar os não crentes, e os dias tentando fazê-lo (ou é o contrário). Mas, aparentemente, existem jihadistas “bons” e jihadistas “maus”. Os primeiros são aqueles que fazem o que os governos ocidentais (incluindo Israel) querem e atacam os países muçulmanos. Os últimos são aqueles que aparentemente não o fazem.

 

Olhando para frente ou Olhando para o futuro

É desastrosamente arriscado, na melhor das hipóteses, antecipar o que surgirá após a derrota do governo sírio. No mínimo, eu esperaria que os novos governantes ordenassem que os russos saíssem. Claro, poderiam não sair, assim como os EUA ignoraram as exigências de muitos governos mais fracos para sair. Poderes imperiais, mesmo enfraquecidos e num mundo caótico, são frequentemente assim.

Nós podemos aprender um pouco mais sobre o ISIS e esses “bons” jihadistas na Síria. Precisamente o que eles farão no poder? Eles serão como o Talibã no Afeganistão? Se não, o que isso diria sobre seu caráter e a mente de seus líderes? Tempos instigantes, na melhor das hipóteses.

O que está mais claro é que o que aconteceu na Síria encorajará os israelenses a lidar com os palestinos dentro e com o Líbano e o Hezbollah fora, especialmente quando Trump for presidente e reconhecer a soberania israelense sobre Jerusalém Oriental e a Cisjordânia. Trump é ainda mais devedor de Israel do que a maioria dos presidentes dos EUA, e Israel capitalizará isso.

Além disso, com a Síria de Assad removida do tabuleiro, o Irã passará para o primeiro plano regional. Nenhuma pessoa nos EUA pode agora ser sequer um sério candidato para Presidente sem estar no bolso de Israel, muito menos ser eleito para o cargo, mas as duas facções políticas norte americanas[2] têm prioridades diferentes.

O que isso significa é que os neoconservadores que estão se apinhando na administração Trump têm uma grande probabilidade de ver isso como uma oportunidade de ouro para completar sua agenda de 2001 e neutralizar o Irã. Conhecendo-os, eles e o dinheiro judeu vão pressionar (talvez devesse dizer “acotovelar”) Trump para uma de três coisas: (1) apoiar Israel no ataque ao Irã, (2) juntar-se a Israel para fazer isso ou (3) atacar o Irã sem Israel.

{Anseio dos líderes do judaísmo internacional: um Império Judaico:
A Psicopatia Bíblica de Israel - por Laurent Guyénot
“Grande Israel”: O Plano Sionista para o Oriente Médio O infame "Plano Oded Yinon". - Por Israel Shahak }


O efeito líquido é um 2025 muito mais perigoso do que os últimos anos têm visto, e eles não têm sido exatamente uma alegria. Nós enfrentamos uma revolta civil em casa e mais guerra no exterior, se Trump realmente colocar sua agenda em movimento. Para Israel, a derrota síria e a presidência de Trump são um bom augúrio para a sua marcha em direção a uma “Grande Israel”. Para os palestinos, libaneses e tantos outros na razão das coisas, foram de mal a um quase inimaginavelmente pior. Para os norte-americanos, tempos desafiadores, de fato.

Tradução por Dignus {academic auctor pseudonym - studeo liber ad collegium}

Revisão e palavras entre chaves por Mykel Alexander

Notas

[1] Fonte utilizada por Alan Sabrosky: Demystifying 9/11: Israel and the Tactics of Mistake, por Alan Ned Sabrosky, 27 de junho de 2011, Veterans Today – Alternative Foreign Policy.

https://www.veteranstodayarchives.com/2011/06/27/demystifying-911-israel-tactics-mistake/

[2] Fonte utilizada por Alan Sabrosky: Deadly Delusions: When the Plans Work All Too Well, por Alan Sabrosky, 18 de junho de 2024, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/article/deadly-delusions-when-the-plans-work-all-too-well/

Fonte: Regime Change in Syria: Another Step Towards “Greater Israel”, por Alan Sabrosky, 08 de dezembro de 2024, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/article/regime-change-in-syria-another-step-towards-greater-israel/

Sobre o autor: Alan Ned Sabrosky (1941-), judeu-americano, é um veteranos de dez anos do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA. Ele serviu no Vietnã com a 1° Divisão de Fuzileiros Navais e é graduado na Escola de Guerra do Exército dos EUA. Sabrosky obteve um mestrado em história e um doutorado em ciência política pela Universidade de Michigan. Ele trabalhou no Foreign Policy Research Institute durante a maior parte da década de 1970 e foi nomeado diretor do FPRI em 1981. Ele lecionou na Catholic University e na Georgetown University.  O Dr. Sabrosky pode ser contactado pelo docbrosk@comcast.net . Entre seus livros estão:

Great Power Games: The Sino American Power Transition, Council Social & Economic Studies, 1982;

Polarity And War: The Changing Structure Of International Conflict, Westview Press, 1985;

The Strategic Dimension of Military Manpower, Ballinger Pub Co, 1987;

Prisoners of War?: Nation-States in the Modern Era,  Lexington Books, 1990;

Alliances in U.S. Foreign Policy: Issues in the Quest for Collective Defense, Routledge, 2000;

The War on Terror: The Plot to Rule the Middle East, Christopher Bollyn, 2017.

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Relacionado, leia também sobre a questão judaica, sionismo e seus interesses globais ver:

Guerra de agressão não declarada dos EUA-OTAN-Israel contra a Síria: “Terrorismo da al-Qaeda” para dar um golpe de Estado contra um governo secular eleito - por Michael Chossudovsky

Libertando a América de Israel - por Paul Findley

Deus, os judeus e nós – Um Contrato Civilizacional Enganoso - por Laurent Guyénot

O Evangelho de Gaza - O que devemos aprender com as lições bíblicas de Netanyahu - por Laurent Guyénot

A Psicopatia Bíblica de Israel - por Laurent Guyénot

Israel como Um Homem: Uma Teoria do Poder Judaico - parte 1 - por Laurent Guyénot (Demais partes na sequência do próprio artigo)

 O peso da tradição: por que o judaísmo não é como outras religiões - por Mark Weber

Sionismo, Cripto-Judaísmo e a farsa bíblica - parte 1 - por Laurent Guyénot (as demais partes na sequência do próprio artigo)

O truque do diabo: desmascarando o Deus de Israel - Por Laurent Guyénot - parte 1 (Parte 2 na sequência do próprio artigo)

Historiadores israelenses expõem o mito do nascimento de Israel - por Rachelle Marshall

Resenha de: A Legacy of Hate: Anti-Semitism in America {Um legado de ódio: antissemitismo na América}, de Ernest Volkman - por Louis Andrew Rollins

Resenha de The Fateful Triangle: The United States, Israel & The Palestinians {O Triângulo Fatídico: Os Estados Unidos, Israel e os Palestinos} de Noam Chomsky por Louis Andrew Rollins

Resenha de THE DECADENCE OF JUDAISM IN OUR TIME {A DECADÊNCIA DO JUDAÍSMO EM NOSSO TEMPO}, de Moshe Menuhin, por David McCalden (escrito sob o pseudônimo Lewis Brandon)

Resenha de GENOCIDE IN THE HOLY LAND {GENOCÍDIO NA TERRA SANTA}, Rabbi Moshe Schonfeld, Neturei Karta dos EUA - por Bezalel Chaim

 Genocídio em Gaza - por John J. Mearsheimer

{Retrospectiva 2023 - Genocídio em Gaza} - Morte e destruição em Gaza - por John J. Mearsheimer

O Legado violento do sionismo - por Donald Neff

{Retrospectiva 1946 – terrorismo judaico-sionista} - O Ataque ao Hotel Rei David em Jerusalém - por W. R. Silberstein

Crimes de Guerra e Atrocidades-embustes no Conflito Israel/Gaza - por Ron Keeva Unz

A cultura do engano de Israel - por Christopher Hedges

Será que Israel acabou de experimentar uma “falha de inteligência” ao estilo do 11 de Setembro? Provavelmente não. Aqui está o porquê - por Kevin Barrett

Residentes da faixa de Gaza fogem do maior campo de concentração do mundo - A não-violência não funcionou, então eles tiveram que atirar para escapar - por Kevin Barrett

Por Favor, Alguma Conversa Direta do Movimento pela Paz - Grupos sionistas condenam “extremistas” a menos que sejam judeus - por Philip Giraldi

“Grande Israel”: O Plano Sionista para o Oriente Médio O infame "Plano Oded Yinon". - Por Israel Shahak - parte 1 - apresentação por Michel Chossudovsky (demais partes na sequência do próprio artigo)

Raízes do Conflito Mundial Atual – Estratégias sionistas e a duplicidade Ocidental durante a Primeira Guerra Mundial – por Kerry Bolton

Conversa direta sobre o sionismo - o que o nacionalismo judaico significa - Por Mark Weber

Judeus: Uma comunidade religiosa, um povo ou uma raça? por Mark Weber

Controvérsia de Sião - por Knud Bjeld Eriksen

Sionismo e judeus americanos - por Alfred M. Lilienthal

Por trás da Declaração de Balfour A penhora britânica da Grande Guerra ao Lord Rothschild - parte 1 - Por Robert John {as demais 5 partes seguem na sequência}

Um olhar direto sobre o lobby judaico - por Mark Weber


Ex-rabino-chefe de Israel diz que todos nós, não judeus, somos burros, criados para servir judeus - como a aprovação dele prova o supremacismo judaico - por David Duke

Grande rabino diz que não-judeus são burros {de carga}, criados para servir judeus - por Khalid Amayreh

Sionismo e o Terceiro Reich - por Mark Weber 

O Mito do extermínio dos judeus – Parte 1.1 {nenhum documento sequer visando o alegado extermínio dos judeus foi jamais encontrado} - por Carlo Mattogno

 O que é ‘Negação do Holocausto’? - Por Barbara Kulaszka


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