quinta-feira, 27 de junho de 2024

{Retrospectiva Revisionismo em ação na História} – Sobre Ciência e Liberdade - por Germar Rudolf

 

 Germar Rudolf 


O texto a seguir é baseado principalmente em apresentações reais que fiz na Alemanha e em outros lugares. A maioria deles foi estruturada como diálogos com membros da audiência, que foram continuamente encorajados a fazer perguntas, fazer objeções e oferecer contra-argumentos. Este estilo de diálogo é mantido neste livro. Minhas próprias contribuições são marcadas com “Germar Rudolf” e as dos ouvintes com “Ouvinte” (ou Ouvinte'/Ouvinte"/ Ouvinte'" no caso de comentários consecutivos de vários ouvintes distintos).

* * *

Germar Rudolf: Eu gostaria de arredondar esta consideração dos argumentos revisionistas voltando à questão de saber se o revisionismo do Holocausto é pseudocientífico ou não.

Ouvinte: O que você quer dizer por “pseudocientífico”?

Germar Rudolf: “Pseudo” é grego e significa não-autêntico, falso, uma farsa, portanto, ciência falsa.

Ouvinte: Então pseudocientífico é outra palavra para não científico.

Germar Rudolf: Não, pseudociência são descobertas não científicas que reivindicam ser científicas.

Ouvinte: Esse é o porquê os escritos revisionistas são geralmente considerados pseudocientíficos, e não realmente científicos.

Germar Rudolf: Essa é a visão defendida pela maioria dos governos e pela maioria dos meios de comunicação social, embora os revisionistas asseverem o oposto.

Ouvinte: E como você distingue o trabalho científico do trabalho não científico?

Germar Rudolf: Bem, recentemente eu tive abundante tempo e uma boa razão para pensar bem sobre isso, porque em 2006 fui mantido sob custódia na Alemanha aguardando julgamento pelo mesmo livro que você está lendo aqui. Então eu consegui uma boa literatura sobre a natureza da ciência e eu compilei uma lista dela. A obra mais útil que eu li foi a de Karl Popper, que eu tenho citado antes, portanto a lista a seguir é baseada principalmente em seu trabalho (Popper 1968)*1. A lista que você lerá aqui foi uma moção que eu apresentei durante o julgamento no início de 2007, daí a introdução. Minha equipe de defesa já havia localizado um professor da área que estava preparado para testemunhar que esta lista é de fato uma diretriz muito boa para avaliar se um trabalho é de natureza científica. Mas, infelizmente, o tribunal rejeitou a nossa moção, pois rejeitou todas as nossas moções (exceto uma: ler o livro antes de eles decidirem queimá-lo). A razão para essa rejeição foi que os juízes supostamente possuem experiência suficiente para decidir por si próprios se ou não meu livro é de natureza científica (conferir Rudolf 2016f, página 237).*2

Esta moção também cobre uma questão que é muitas vezes falsamente alegada, nomeadamente que os resultados da investigação científica podem violar potencialmente a dignidade humana das pessoas de alguma forma afetadas pelos resultados da pesquisa. Ou, em linguagem de simplicidade e lisura: as asserções revisionistas alegadamente insultam os judeus e difamam a comemoração das vítimas do Holocausto. Eu retornarei a esse assunto mais tarde, mas agora primeiro à minha moção:

Em matéria de Germar Rudolf eu solicito que o Tribunal ouça o perito […nome omitido], Professor Emérito de Filosofia com conhecimentos especiais no campo de teoria da ciência, para provar a seguinte alegação:

A. Dignidade Humana

I. Duas das razões mais importantes pelas quais a dignidade dos seres humanos é, na maioria dos casos, classificada como qualitativamente superior à de outros seres, são as seguintes duas conquistas, exclusivamente humanas:

1. A capacidade de não ter que considerar acriticamente as impressões sensoriais como verdadeiras pelo seu valor de face, mas de ser capaz de duvidar delas e escrutinizá-las criticamente. A dúvida e a curiosa busca pela verdade por trás da aparência elevam os humanos acima dos animais.#1

2. A capacidade de objetivar os resultados da busca procedente da dúvida, isto é, torná-los independentes do respectivo indivíduo pela palavra falada ou escrita, por imagens ou por outros tipos de dados, em ordem que outros possam estudá-los independentemente da presença biológica deste indivíduo.

II. É, portanto, um grave atentado à dignidade do ser humano proibi-lo de duvidar, de procurar a verdade e de anunciar o que considera ser verdadeiro. Tal proibição de usar a própria inteligência sem a orientação de outros equivale a uma privação {disenfranchisement} de direitos que é diametralmente oposta ao espírito de iluminação. Por meio de tal privação de direitos, os humanos são forçados a descer ao nível intelectual e moral das formas de vida inferiores.

 

B. Ciência

I. A essência mais importante da ciência consiste em dois pilares:

1. Livre escolha da hipótese inicial: No início de qualquer atividade de criação de conhecimento, qualquer suposição pode ser feita, qualquer questão pode ser feita.

2. Resultado extraído indeterminado: As respostas às questões pesquisadas podem ser determinadas exclusivamente por evidências verificáveis, mas não por padrões estabelecidos por autoridades científicas, sociais, religiosas, políticas, judiciais ou outras.

Se as respostas, e, portanto, os resultados da investigação, são prescritas, então as perguntas degradam-se a meras perguntas retóricas e o processo de raciocínio transforma-se numa farsa. Isto não é, portanto, apenas um enfraquecimento da essência da ciência, mas na verdade a abolição completa da ciência.

II. Quatro princípios são indispensáveis ao processo de aquisição de conhecimento científico:

1. Não há julgamentos (finais), mas sempre apenas pré-julgamentos mais ou menos bem testados, isto é, julgamentos preliminares.

2. As razões (evidências) para os nossos pré-julgamentos devem ser tão bem testáveis quanto possível (empiricamente falsificáveis). Tem que ser possível submetê-las à testes.

3. Tem de se testar e criticar tanto ativa quanto passivamente:

a) testando e criticando os pré-julgamentos e razões (evidências) de outros;

b) convidar outros a testar e criticar os próprios pré-julgamentos e acolher esse teste e crítica, o que inclui o dever de publicar;

c) mencionar os testes e críticas de outros e testá-los e criticá-los da mesma forma, ou seja, sem recuo negligente e superficial.

As tentativas mais rigorosas de refutação não são somente admissíveis, mas mesmo necessárias, desde que elas constituem a única possibilidade de determinar a fiabilidade ou o grau de fidedignidade de uma tese. Se alguém for forçado a partir de pressupostos predeterminados que, além disso, são retirados de qualquer tentativa de refutação, seja por meio de tabus, proibições ou moratórias de investigação, então o processo de descoberta científica será severamente impedido.

4. Tem de se evitar imunizar os próprios pré-julgamentos contra tentativas de refutação:

a) evitar teorias auxiliares para sustentar teses principais dúbias;

b) selecionar os dados apenas segundo critérios objetivos (crítica da fonte);

c) usar definições de termos exatas, consistentes e constantes;

d) não atacar pessoas em substituição a argumentos fatuais.

Qualquer tentativa de imunização contra tentativas de refutação é ilegítima.

III. A natureza científica de um trabalho pode ser percebida pelas maneiras do trabalho devido a critérios formais. A natureza científica de um trabalho não pode ser percebida por

1. o pressuposto inicial escolhido (hipótese inicial);

2. os resultados da investigação, tanto quanto eles tenham sido obtidos por meios científicos;

3. a orientação religiosa, sexual, política ou ideológica do autor;

4. origem nacional ou étnica do autor;

5. as motivações ou intenções do autor.

IV. É direito e dever do cientista fazer os resultados de sua pesquisa acessíveis ao público para

1. a comunidade científica;

2. a sociedade em geral.

Este dever resulta da necessidade

a) expor a obra à crítica;

b) prestar contas das próprias atividades;

c) informar a sociedade em geral sobre novas percepções obtidas.

O direito inclui a publicação

a) do próprio trabalho científico;

b) de versões pouco polêmicas e popularizadas do mesmo, a fim de informar pessoas leigas e pupilos/estudantes;

c) promoção objetiva para a) e b) para publicação e disseminação.

As publicações sob b) e c) são formalmente vistas como não necessariamente de natureza científica, mas são, no entanto, essenciais para a ciência. Se o direito de publicar for restringido, não só a comunicação indispensável entre o cientista e a sociedade entrará em colapso, mas também a própria ciência vem para a condição de paralisia. Isto tem ainda por cima repercussões drásticas em detrimento da sociedade moderna baseada na divisão do labor, o qual depende da ciência e da comunicação com ela.

Ouvinte: Bem, de acordo com isto, todos os governos que colocam fora da lei o revisionismo usam o método mais violento possível para imunizar a sua teoria favorita de ser revista criticamente. Então, isso significa que esses governos são inimigos da ciência como tal e, pela sua definição de nós, humanos, como criaturas curiosas, também inimigos da dignidade humana#2.

Germar Rudolf: Certo. Deixe-me citar minha citação favorita de Popper para enfatizar isso (Popper 1968, página 280)*3:

Aqueles entre nós que não estão dispostos a expor as suas ideias ao risco de refutação não participam no jogo científico.”

Ouvinte: Mas isso torna toda a literatura dominante que ignora o revisionismo não-científica!

Germar Rudolf: Correto e assim justificável. Você pode revisar essa lista mais uma vez e julgar por si mesmo qual lado neste debate cumpre ou não cumpre cada um desses critérios. Decida quem é científico aqui e quem não é!

Ouvinte: Isso não parece bom.

Germar Rudolf: Bom para quem?

Ouvinte: Bem, é óbvio que a investigação do Holocausto oficialmente protegida preenche os critérios para ser meramente pseudocientífica, muito mais do que o revisionismo.

Germar Rudolf: Exatamente. Eu posso citar comentários de apoio a isto feitos pelo historiador alemão Prof. Ernst Nolte, que não só pensa que a qualidade dos trabalhos revisionistas “ultrapassa a dos historiadores assim estabelecidos” (Nolte 1993, página 304)*4, mas que também acusa o Holocausto conforme estabelecido de não ser nada além de pseudocientífico (ibid., página 9)*5:

Eu logo eu formei a opinião de que esta escola de pensamento [revisionista] está sendo combatida na literatura então estabelecida de forma bastante não científica, nomeadamente através da mera rejeição de argumentos, lançando suspeitas sobre as intenções do autor, e em maior parte através da censura.”

Germar Rudolf: Lembre-se que o Prof. Nolte escreveu estas palavras em 1993. Entretanto, o revisionismo tem feito progressos extraordinários, enquanto os oponentes não têm nada equivalente a oferecer, mas em vez disso aumentaram a sua perseguição aos revisionistas.

Ouvinte: Isso significa que nós podemos ignorar esses trabalhos não científicos?

Germar Rudolf: Não, porque os contra-argumentos têm de ser abordados mesmo se apresentados num arcabouço não científico.

Ouvinte: Se o relatório de Leuchter for, no entanto, chamado de não científico pelos principais meios de comunicação e cientistas, isso significa que Leuchter ignorou sistematicamente fatos, fontes, pontos de vista e resultados que minariam os seus pontos de vista?

Germar Rudolf: O relatório pericial de Leuchter foi um trabalho pioneiro e foi o primeiro tipo no mundo em que a questão das câmaras de gás de Auschwitz e Majdanek foi tratada do ponto de vista forense. Dificilmente se pode acusá-lo de ter ignorado sistematicamente pontos de vista e resultados opostos porque tais pontos de vista basicamente não existiam. Mas Leuchter nunca foi acusado disso. Ele tem sido acusado de ter chegado a conclusões falsas baseadas em premissas falsas.

Ouvinte: Essa crítica é justificada?

Germar Rudolf: Em minha opinião, parcialmente sim. Mas isso não é importante para mim aqui. O Supremo Tribunal Constitucional Alemão declarou que mesmo trabalhos errôneos ou deficientes não são necessariamente não científicos e são, portanto, protegidos pela lei. Se ter feito erros fosse um critério para negar o caráter científico de um trabalho, então a maioria dos cientistas estaria produzindo trabalhos pseudocientíficos, porque todo mundo faz erros de vez em quando. Portanto, não é possível argumentar seriamente de modo similar a isso.

A mentalidade que suprime a investigação científica impopular parece diferente e introduz o conceito de dignidade humana, como sugerido anteriormente, mas não a dignidade do pesquisador – não, a dignidade daqueles que podem sentir-se ofendidos pelos resultados do investigador. Como um exemplo, deixe-me citar o jornal diário mais respeitado da Alemanha, Frankfurter Allgemeine Zeitung, onde um certo Patrick Bahners, que eu tenho citado já anteriormente, relatou sobre um discurso proferido por Fred Leuchter na Alemanha (Bahners 1994)*6:

“O estado protege a liberdade da ciência. Ele reconhece um cientista não pelos seus resultados corretos, mas pela sua forma correta. […] Mas esquece-se que a intenção de incitar [ao ódio] não pode ser reconhecida apenas por erros de forma, o que distingue uma conversa à mesa de cerveja de uma palestra científica. Muito pelo contrário, o incitamento aperfeiçoado na forma é particularmente pérfido. […] Mas para o sobrevivente de Auschwitz não pode haver insulto mais perverso do que quando um especialista com raciocínio lógico espúrio afirma que o sobrevivente nunca esteve em perigo de vida.

Mas o estado também é ridicularizado aqui. Se a “Percepção do Holocausto” de Deckert [=Günter Deckert traduziu o discurso de Leuchter] estiver correta, então a República Federal [da Alemanha] seria fundada numa mentira. Cada discurso presidencial, cada minuto de silêncio, cada livro de história seria uma mentira. Ao negar o assassinato dos judeus, ele contesta a legitimidade da República Federal.”

Germar Rudolf: Por favor, leia essas sentenças novamente e então procure por falhas argumentativas.

Ouvinte: Os revisionistas não afirmam que os prisioneiros de Auschwitz nunca correram perigo de suas vidas.

Germar Rudolf: Exatamente, esse é o primeiro erro. A violenta epidemia de tifo matou dezenas de milhares de prisioneiros. O principal especialista revisionista em Auschwitz, Carlo Mattogno, assume um número máximo de vítimas de Auschwitz de cerca de 136.000 (Mattogno 2003e)*7. Algo mais?

Ouvinte: No seu artigo Bahners nega a liberdade da ciência e transforma-a no seu oposto: quanto mais científico algo é, mais questionável e mais proibido.

Germar Rudolf: Certo, e é claro que pessoas como Patrick Bahners não estão argumentando de acordo com a constituição da Alemanha. Ele começa a partir de premissas falsas: Em primeiro lugar, não está claro como uma intenção de incitar ao ódio pode ser reconhecida senão por uma forma não científica e inflamatória. Tal argumentação vira toda a lógica de cabeça para baixo. Em segundo lugar, não existe nenhum especialista que afirme que os prisioneiros de Auschwitz nunca correram perigo de vida e, em terceiro lugar, é absurda e profundamente errada a opinião de que a legitimidade da existência da República Federal da Alemanha, ou de qualquer outro país, reside na aceitação da visão prevalente sobre a perseguição e extermínio nacional-socialista dos judeus. Se a República Federal da Alemanha foi realmente fundada neste detalhe histórico, então não é um bom presságio para este Estado, porque cada Estado tem de colapsar, mais cedo ou mais tarde, se a sua existência é baseada somente numa certa visão da história imposta aos seus cidadãos por lei criminal.

Ouvinte: Na sua opinião, em que é fundamentado o Estado alemão moderno?

Germar Rudolf: Como todo estado constitucional de tipo ocidental: sobre direitos civis, na aceitação deste estado pelo povo alemão, no seu reconhecimento internacional, na sua identidade política, histórica e cultural e na continuidade com os estados predecessores.

Infelizmente, mesmo o Supremo Tribunal Constitucional alemão tem adotado a estranha lógica de Bahners quando concluiu que mesmo um livro científico pode ser sujeito à queima de livros, especialmente quando ele alegadamente subverte a dignidade humana de um judeu ao contradizer o seu testemunho.

Deixe-me fazer dois pontos essenciais claros:

1. Ninguém tem um direito a quaisquer resultados particulares de investigação. Isso nem sequer muda se a esmagadora maioria de uma sociedade ou de todos os acadêmicos preferir determinados resultados a outros. A ciência não é um processo democrático. É uma ditadura total de evidências verificáveis, gostemos ou não.

2. A dignidade de ninguém ou qualquer outro direito civil pode ser subvertido pelos resultados da investigação científica. Apenas imaginem o que seria da ciência se os criacionistas tivessem uma palavra a dizer, que se sentem ofendidos pelos cientistas que refutam as afirmações do seu “livro sagrado” (que muda dependendo da religião a que aderem). Um conflito entre a liberdade da ciência e outros direitos civis somente é possível devido aos meios e métodos utilizados para recolher evidências. Daí, somente no caminho da questão (hipótese) para a resposta (tese) tal conflito é possível, mas nem as perguntas nem as respostas em si podem violar qualquer coisa. Para dar um exemplo historicamente relevante: a questão “Quanto tempo podem os humanos sobreviver em água muito fria?” não é crime, nem a resposta é “5 minutos”. Mas se você realizar experimentos com humanos para encontrar a resposta, especialmente se forçar esses humanos a se submeterem a esses experimentos, como alguns médicos alemães fizeram durante a Segunda Guerra Mundial (Trials of War… 1949, vol. 1)*8, então você está violando os direitos civis de alguém, isto é: com seus métodos de coleta de evidências. Daí, os resultados da investigação como tal nunca entram em conflito com outros direitos civis!

Portanto, qualquer tribunal do mundo decidindo o contrário estará violando os direitos civis dos seus cidadãos.

Ouvinte: Que tipo de prova é oferecida quando um trabalho revisionista é difamado como pseudocientífico?

Germar Rudolf: Usualmente nada. A asserção muitas vezes é feita sem qualquer razão e sem oferecer qualquer tipo de evidência. Na maioria dos casos eu mesmo tenho a nítida impressão de que quem usa o termo “pseudocientífico” nem sequer sabe como defini-lo, conforme eles não tem nenhum indício de qual seja a natureza da ciência. Algumas vezes afirma-se simplesmente – em flagrante contraste com a verdade – que os revisionistas apenas citam uns aos outros. Eles chamam isso de “cartel de citações dos negadores” ou algo assim.

Ouvinte: Isso me lembra muitos artigos de trabalhos científicos “normais” onde os autores referem principalmente aos seus próprios trabalhos, bem como aos trabalhos de cientistas cuja mentalidade é semelhante, da sua escola de pensamento, por assim dizer. No entanto, isto é algo bastante normal na ciência, por causa de que os cientistas que trabalham num campo similar em projetos similares e que utilizam métodos similares tendem simplesmente a referir-se aos trabalhos uns dos outros.

Germar Rudolf: Sim, mas nesta instância é afirmado que os contra-argumentos são ignorados. Mas o tiro sai pela culatra, porque, objetivamente, os revisionistas fazem exatamente o oposto: desmontam as asserções feitas pelos crentes do Holocausto – tanto testemunhas bem como historiadores – enquanto os principais historiadores, energicamente apoiados pelos políticos, pelos meios de comunicação e pelo poder judicial, resistem veementemente a tomar conhecimento de quaisquer argumentos revisionistas, muito menos levar estes argumentos a sério e discuti-los.

Em adição, os revisionistas são sempre acusados ​​de manter opiniões políticas repreensíveis – geralmente de direita – que se afirma serem avançadas através de argumentos revisionistas.

Ouvinte: Para vindicar Hitler.

Germar Rudolf: Essa é a repreensão usual.

Ouvinte: Vindicar Stalin e os seus cúmplices nunca é considerado pseudocientífico e certamente não levaria à queima de livros.

Germar Rudolf: Vamos formular desta forma: enquanto Hitler for pisoteado, você pode fazer quase qualquer coisa.

Ouvinte: Mas este tipo de argumentação baseia-se num raciocínio circular, que é cientificamente inadmissível e é, em efeito, um raciocínio pseudocientífico. Um trabalho é não científico se e quando resultados errados e proibidos são obtidos, nomeadamente a “vindicação de Hitler”. O autor de tal obra alcança resultados falsos por causa de suas visões objetáveis. E as suas visões são questionáveis ​​porque os seus resultados são falsos, isto é: porque Hitler foi, é e deve permanecer um diabo. Em suma: os resultados do autor são falsos porque os seus resultados são falsos. A verdade é concretizada através de dogmas e tabus, que são impostos pela polícia do pensamento. A falsidade das obras revisionistas é, portanto, automática. Você pode ficar de cabeça para baixo e não mudar nada porque

§1: A parte tem sempre razão; e

§2: Se a parte estiver errada, então automaticamente §1 é ativado.

Germar Rudolf: Eu vejo. Eu não tinha pensado nisso. Permitam-me alargar a nossa perspectiva, afastando-nos dos revisionistas. O problema de ser acusado de fazer pseudociência é de natureza geral e desempenha um papel importante nas ciências, especialmente quando consideramos disciplinas científicas onde pessoas de fora exploram novas fontes exóticas de energia ou trabalham em leis alternativas da natureza. As ciências estabelecidas – física, química, astronomia – veem os seus paradigmas desafiados por esta investigação e, por vezes, reagem de forma bastante alergicamente.

Ouvinte: Mas eles não chamam o promotor, não é?

Germar Rudolf: Não, isso está limitado aos revisionistas do Holocausto. Mas em outras áreas existe censura por parte de “autoridades” científicas. Em tais casos, escolas individuais ou inteiras de cientistas, mesmo instituições científicas, cujos paradigmas gozam de tão alta estima dentro da comunidade científica que desafios críticos dos seus paradigmas ativam uma reação defensiva contra o dissidente, semelhante à que ocorre numa sociedade em larga medida quando os tabus sociais são quebrados: recusa em publicar artigos, ataques pessoais, intrigas e tentativas abertas de remover dissidentes de cargos docentes e honras, etc. Isto aplica-se especialmente a investigadores que questionam ou contradizem o dogma da igualdade humana (conferir Whitney 2002, Grubach 2003b)*9. Mas mesmo em disciplinas onde não se esperaria quaisquer influências políticas, como na física, tais medidas de censura ocorrem.

Halton Arp, do Instituto Max Planck de Astrofísica de Munique, chega ao ponto de comparar o atual comportamento dogmático obsessivo dos cientistas de todos os lugares com as religiões da Idade Média. (Arp 2000)*10:

A ciência tem se tornado religião! […] a ciência, mais importante ainda, tem adotado os métodos da religião. […] O aspecto mais prejudicial da ciência hoje são as teorias amplamente promulgadas que são contraditas pela observação e experimento.  Em ambos os casos, uma estória é ordenada pela autoridade e depois defendida por agências educacionais, econômicas e sociopolíticas. […] O aspecto mais prejudicial daquilo que a ciência se tornou é a tentativa deliberada de esconder evidências que contradizem o paradigma atual. […] Em uma moda bastante humana, contudo, eles agem de maneira exatamente oposta – julgando que ‘se uma observação discorda do que sabemos ser correto, então ela deve estar errada’. A tradição de ‘revisão por pares’ de artigos publicados em revistas profissionais degenerou numa censura quase total. […] os cientistas, no seu fervoroso apego às suas próprias teorias, têm agora usado principalmente a sua seleção como árbitro para rejeitar a publicação de qualquer resultado que seria desfavorável ao seu próprio compromisso pessoal. […]  A única interação comparável de que ouvi falar são as guerras apaixonadas entre diferentes doutrinas religiosas dos séculos passados. […] O resultado é que a verdadeira ciência investigativa é agora, em grande parte, uma atividade clandestina. Investigadores independentes, muitas vezes autossustentados, publicam em revistas privadas e de pequena circulação. […]

Novamente, conforme se organizou a ciência, as figuras de autoridade tornaram-se associadas às ‘leis’ que eles foram creditados por terem descoberto. A religião organizada conseguiu matar um grande número de pessoas ao longo dos tempos por questões que foram rotuladas de ‘crença e heresia’, mas que provavelmente estavam mais fundamentalmente preocupadas com o lucro pessoal e o poder. A ciência tinha surgido alguns séculos mais tarde, em sociedades menos sangrentas, mas matou e atrasou muitas novas ideias e descobertas e cometeu muitos erros, talvez basicamente pelas mesmas razões.”

Germar Rudolf: Se tal comportamento dogmático for encontrado em disciplinas científicas onde não existe pressão política e legal aberta, então o que você espera que ocorra entre os historiadores do Holocausto?

Seja como for, o fato é que aqueles que têm o poder político, jurídico e midiático rejeitam a natureza científica dos trabalhos revisionistas, de modo que não gozam de proteção constitucional em muitas nações ocidentais, embora as constituições de todas estas nações formalmente garantam a liberdade da investigação científica.

Ouvinte: E então nada se posiciona de pé no caminho da queima de um livro…

Germar Rudolf: Certo. A edição alemã do Relatório Leuchter foi banida a pedido do Tribunal Distrital de Bielefeld e sujeita à queima de livros, e o mesmo destino se abateu sobre o meu Relatório Rudolf.

Ouvinte: Por que não há protesto contra tais medidas autoritárias?

Germar Rudolf: Você somente pode protestar contra alguma coisa que você tem conhecimento. Não é possível trazer este tema a público porque todos os meios de comunicação dão-lhe o tratamento silencioso, ou seja, gritam “peguem os nazis”, e quem não se conforma é silenciado de uma maneira ou de outra. Os meios mais eficazes para suprimir pensamentos sobre este tema são as palavras mágicas “nazista” e “neonazista”, porque em todos os países ocidentais, e em particular na Alemanha, isto irá condenar socialmente qualquer pessoa ao ostracismo. Quem está preparado para ouvir e talvez até ajudar um nazista? Veja meu exemplo. Embora a maioria das pessoas que me conhecem saibam que definitivamente não sou nacional-socialista, antissemita ou racista, isso não me ajuda. Os meios de comunicação de massas e as autoridades ainda me difamam como tal de qualquer maneira. E isso vale para a maioria dos revisionistas. É baseado em mais uma mentira. Qualquer protesto eficaz contra tal difamação que gera perseguição e queima de livros requer publicidade. Esta é a única proteção contra o abuso arbitrário de poder por parte das autoridades. Mas isto é exatamente o que não está disponível para aqueles que foram “com sucesso” difamados como Nacional-Socialistas.

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander

Notas

*1 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Karl R. Popper, The Logic of Scientific Discovery, Hutchinson & Co., London, 1968. 

*2 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Germar Rudolf, Resistance Is Obligatory, 2ª ed., Castle Hill Publishers, Uckfield, 2016. 

#1 Nota de Mykel Alexander: A premissa do discernimento é inclusive o fundamento da palavra humano conforme sua origem grega e suas apurações nos dois maiores nomes da tradição filosófica grega, a saber, Platão e Aristóteles. Na tradição platônica o termo “ser humano”, ανθρωπος/anthropos, afirma que é o “único ser capaz de receber conhecimento de base racional” (Platão, Diálogos, vol. 7/7, Suspeitos e Apócrifos, Definições, vocábulo ser humano). 

#2 Nota de Mykel Alexander: Se são inimigos da dignidade humana, em rigor são inimigos da capacidade racional humana. A premissa do discernimento é inclusive o fundamento da palavra humano conforme sua origem grega e suas apurações nos dois maiores nomes da tradição filosófica grega, a saber, Platão e Aristóteles. Na tradição platônica o termo “ser humano”, ανθρωπος/anthropos, afirma que é o “único ser capaz de receber conhecimento de base racional” (Platão, Diálogos, vol. 7/7, Suspeitos e Apócrifos, Definições, vocábulo ser humano). 

*3 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Karl R. Popper, The Logic of Scientific Discovery, Hutchinson & Co., London, 1968. 

*4 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Ernst Nolte, Streitpunkte, Ullstein, Frankfurt am Main/Berlin, 1993. 

*5 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Ernst Nolte, Streitpunkte, Ullstein, Frankfurt am Main/Berlin, 1993. 

*6 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Patrick Bahners, “Objektive Selbstzerstörung,” Frankfurter Allgemeine Zeitung, 15 de Agosto de 1994, página 21. 

*7 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Carlo Mattogno, “The Four Million Figure of Auschwitz: Origin, Revisions and Consequences,” The Revisionist, 1(4) (2003), páginas 387-392, 393-399. 

*8 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Trials of War Criminals before the Nuremberg Military Tribunals under Control Council Law. Nº 10, 15 vols., U.S. Government Printing Office, Washington, D.C., 1949-1953;

www.loc.gov/rr/frd/Military_Law/NTs_war-criminals.html  

*9 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Glade Whitney, “Subversion of Science: How Psychology lost Darwin,” Journal of Historical Review, 21(2) (2002) páginas 20-30; Paul Grubach, “All Men Are Equal – But Are They Really?,” The Revisionist, 1(2) (2003b), páginas 139-150. 

*10 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Halton Arp, “What has science come to?,” Journal of Scientific Exploration, 14(3) (2000), páginas 447-454.

 

Fonte: Germar Rudolf, Lectures on the Holocaust - Controversial Issues Cross-Examined, 4th, revised edition, January 2023, Castle Hill Publishers, PO Box 141, Bargoed CF82 9DE, UK, 4th edition. Castle Hill Publishers. Capitulo 5.1. Pseudo-Science. PDF gratuito disponível no link abaixo.

https://holocausthandbooks.com/index.php?page_id=15


Sobre o autor: Germar Rudolf nasceu em 1964 em Limburg, Alemanha. Ele estudou química na Universidade de Bonn, onde ele graduou-se em 1989 com um diploma comparável ao grau de PhD no EUA. De 1990 – 1993 ele preparou uma tese de PhD (na graduação alemã) no Instituto Max Planck, paralelo a isso Rudolf preparou um relatório especial sobre as questões químicas e técnicas das alegadas câmaras de gás de Auschwitz, The Rudolf Report. Como a conclusão era de que as instalações de Auschwitz e Birkenau não eram para propósitos de extermínio em massa ele teve que enfrentar perseguições e encontrou exílio na Inglaterra onde fundou a editora Castle Hill. Por pressão do desgoverno alemão por extradição ele teve que fugir em 1999 para o EUA em busca de asilo político. No EUA casou e tornou-se cidadão americano em 2005, mas imediatamente a isso foi preso e subsequentemente deportado para Alemanha onde cumpriu 44 meses de prisão por seus escritos acadêmicos, muitos deles feitos no EUA onde não são ilegais. Desde 2011 vive com sua família, esposa e três crianças, na Pennsylvânia. Entre suas principais obras estão:

Dissecting the Holocaust, 1ª edição 2003 pela Theses & Dissertations Press, EUA. 3ª edição revisada, Castle Hill, Uckfield (East Sussex), 2019.

The Chemistry of Auschwitz: The Technology and Toxicology of Zyklon B and the Gas Chambers – A Crime-Scene Investigation, Castle Hill, Uckfield (East Sussex), 3ª edição revisada e expandida (março de 2017).

Lectures on Holocaust (1ª ed. 2005) 3ª edição revisada e expandida, Castle Hill, Bargoed, 2023.

___________________________________________________________________________________

Recomendado, leia também:

O que é o Holocausto? - lições sobre holocausto - por Germar Rudolf

O que é ‘Negação do Holocausto’? - Por Barbara Kulaszka

O Primeiro Holocausto - por Germar Rudolf

O Primeiro Holocausto – e a Crucificação dos judeus deve parar - parte 1 - Por Olaf Rose (Parte 2 na sequência do próprio artigo)

O Holocausto de Seis Milhões de Judeus — na Primeira Guerra Mundial - por Thomas Dalton, Ph.D. {academic auctor pseudonym}

O Mito do extermínio dos judeus – Parte 1.1 {nenhum documento sequer visando o alegado extermínio dos judeus foi jamais encontrado} - por Carlo Mattogno (demais partes na sequência do próprio artigo)


Sobre o revisionismo em geral e o revisionismo do alegado Holocausto ver:

Uma breve introdução ao revisionismo do Holocausto - por Arthur R. Butz

{Retrospectiva Revisionismo em ação na História} – Definindo evidência - por Germar Rudolf

{Retrospectiva Revisionismo em ação na História} – Tipos e hierarquia de evidências - por Germar Rudolf

Por que o revisionismo do Holocausto? - por Theodore J. O'Keefe

Revisionismo e Promoção da Paz - parte 1 - por Harry Elmer Barnes

Revisionismo e Promoção da Paz - parte 2 - por Harry Elmer Barnes

O “Holocausto” colocado em perspectiva - por Austin Joseph App

A controvérsia internacional do “holocausto” - Arthur Robert Butz

Contexto e perspectiva na controvérsia do ‘Holocausto’ - parte 1 - por Arthur R. Butz

Contexto e perspectiva na controvérsia do ‘Holocausto’ - parte 2 - por Arthur R. Butz

O Relatório Leuchter: O Como e o Porquê - por Fred A. Leuchter

Sobre a importância do revisionismo para nosso tempo - por Murray N. Rothbard


Sobre as alegadas câmaras de gás nazistas homicidas ver:

As câmaras de gás: verdade ou mentira? - parte 1 - por Robert Faurisson (primeira de seis partes, as quais são dispostas na sequência).

A Mecânica do gaseamento - Por Robert Faurisson

O “problema das câmaras de gás” - Por Robert Faurisson

As câmaras de gás de Auschwitz parecem ser fisicamente inconcebíveis - Por Robert Faurisson

O Relatório Leuchter: O Como e o Porquê - por Fred A. Leuchter

A técnica e a química das ‘câmaras de gás’ de Auschwitz - por Germar Rudolf - Parte 1 - Introdução (demais partes na sequência do próprio artigo)




domingo, 23 de junho de 2024

A Revolução Bolchevique e seu rescaldo - por Ron Keeva Unz

 

Ron Keeva Unz


Embora eu sempre tenha tido um grande interesse por história, eu acreditei ingenuamente no que eu lia em meus livros[1] e, portanto, eu considerava a história americana muito insípida e enfadonha para estudar.

Por contraste, um país que eu achei especialmente fascinante foi a China, o país mais populoso do mundo e a sua mais antiga civilização contínua, com uma história moderna complicada de levante revolucionário, depois reaberta subitamente ao Ocidente durante a administração Nixon e sob as reformas económicas de Deng que começaram a reverter décadas de fracasso econômico maoísta.

Em 1978, eu participei num seminário de pós-graduação da UCLA sobre a economia política rural chinesa e provavelmente li trinta ou quarenta livros durante esse semestre. O seminal livro de E. O. Wilson, Sociobiology: The New Synthesis, acabara de ser publicado alguns anos antes, revivendo esse campo depois de décadas de dura supressão ideológica, e com suas ideias no fundo da mente, eu não pude deixar de notar as implicações óbvias do material. Eu estava lendo. Os chineses sempre pareceram um povo muito inteligente, e a estrutura da economia camponesa rural tradicional da China produziu uma pressão seletiva do darwinismo social tão espessa que era possível cortá-la com uma faca, fornecendo assim uma explicação muito elegante de como os chineses chegaram a esse ponto. Alguns anos mais tarde, na faculdade, eu escrevi a minha teoria enquanto estudava sob Wilson e, décadas depois, eu desenterrei-a novamente, publicando finalmente a minha análise como How Social Darwinism Made Modern China[2] {Como o Darwinismo Social fez a China Moderna}.

Com o povo chinês claramente tendo um talento inerente tão tremendo e o seu potencial já demonstrado numa escala muito menor em Hong Kong, Taiwan e Singapura, eu acreditei que havia uma excelente oportunidade de que as reformas de Deng desencadeassem um enorme crescimento económico, e com certeza, que foi exatamente o que aconteceu.[3] No final da década de 1970, a China era mais pobre do que o Haiti, mas sempre eu disse aos meus amigos que o país poderia vir a dominar o mundo economicamente dentro de algumas gerações e, embora a maioria deles estivesse inicialmente bastante cética em relação a uma afirmação tão escandalosa, de poucos em poucos anos eles se tornaram um pouco menos. Por anos, The Economist foi a minha revista favorita[4] e, em 1986, publicaram uma carta minha especialmente longa[5], enfatizando o tremendo potencial crescente da China e instando-os a expandir a sua cobertura com uma nova Seção da Ásia; no ano seguinte, eles fizeram exatamente isso.

Estes dias eu sinto uma tremenda humilhação por ter passado a maior parte da minha vida estando totalmente errado sobre tantas coisas durante tanto tempo, e apego-me à China como uma exceção muito bem-vinda. Eu não consigo pensar num único desenvolvimento durante os últimos quarenta anos que eu não teria esperado no final da década de 1970, sendo que a única surpresa foi a total falta de surpresas. Praticamente a única “revisão” que tive de fazer no meu enquadramento histórico foi que eu sempre aceitei casualmente a afirmação omnipresente de que o desastroso Grande Salto em Frente de Mao, de 1959-61, tinha causado 35 milhões ou mais de mortes, mas recentemente eu encontrei algumas dúvidas sérias[6], sugerindo que tal total poderia ser consideravelmente exagerado, e hoje posso admitir a possibilidade de que apenas 15 milhões ou menos tenham morrido.

Mas embora eu sempre tenha tido um grande interesse pela China, a história europeia foi ainda mais fascinante para mim, com a interação política de tantos Estados em conflito e as enormes sublevações ideológicas e militares do século XX.

Na minha arrogância injustificada, por vezes eu também saboreei a sensação de ver coisas óbvias que os jornalistas de revistas ou jornais erraram completamente, erros que muitas vezes também se infiltraram nas narrativas históricas. Por exemplo, as discussões sobre as titânicas lutas militares do século XX entre a Alemanha e a Rússia muitas vezes faziam referências casuais à hostilidade tradicional entre esses dois grandes povos, que durante séculos permaneceram como rivais ferozes, representando a eterna luta dos eslavos contra os teutões pelo domínio sobre Europa Oriental.

Embora a história manchada de sangue das duas guerras mundiais tenha feito essa noção parecer óbvia, ela estava de fato errada. Antes de 1914, essas duas nacionalidades não lutaram entre si durante os 150 anos anteriores, e mesmo a Guerra dos Sete Anos de meados do século XVIII tinha envolvido uma aliança russa com a Áustria germânica contra a Prússia germânica, dificilmente constituindo um conflito ao longo de linhas civilizacionais. Russos e alemães tinham sido aliados firmes durante as intermináveis ​​guerras napoleónicas e cooperaram estreitamente durante as eras Metternich e Bismarck que se seguiram, enquanto, mesmo em 1904, a Alemanha apoiava a Rússia na sua guerra mal sucedida contra o Japão. Durante a década de 1920, a Alemanha de Weimar e a Rússia Soviética tiveram um período de estreita cooperação militar, o Pacto Hitler-Stalin de 1939 marcou o início da Segunda Guerra Mundial e, durante a longa Guerra Fria, a URSS não teve um satélite mais leal do que a Alemanha Oriental. Talvez duas dezenas de anos de hostilidade ao longo dos últimos três séculos, com boas relações ou mesmo uma aliança total durante a maior parte do resto, dificilmente sugerissem que os russos e os alemães fossem inimigos hereditários.

Além disso, durante grande parte desse período, a elite dominante da Rússia tinha tido um considerável tom germânico. A lendária Catarina, a Grande, da Rússia, era uma princesa alemã de nascimento e, ao longo dos séculos, tantos governantes russos tomaram esposas alemãs que os últimos czares da dinastia Romanov eram geralmente mais alemães do que russos. A própria Rússia tinha uma população alemã substancial, mas fortemente assimilada, que estava muito bem representada nos círculos políticos de elite, sendo os nomes alemães bastante comuns entre os ministros do governo e por vezes encontrados entre importantes comandantes militares. Mesmo um dos principais líderes da revolta dezembrista do início do século XIX tinha ascendência alemã, mas era um zeloso nacionalista russo na sua ideologia.

Sob a governança desta classe dominante mista russa e alemã, o Império Russo cresceu continuamente para se tornar uma das principais potências do mundo. Na verdade, dada a sua vasta dimensão, mão-de-obra e recursos, combinados com uma das taxas de crescimento econômico mais rápidas e um aumento natural da população total que não ficou muito atrás, um observador de 1914 poderia facilmente ter considerado que em breve dominaria o continente europeu e talvez mesmo em grande parte do mundo, tal como Tocqueville profetizou notoriamente nas primeiras décadas do século XIX. Uma causa subjacente crucial da Primeira Guerra Mundial foi a crença da Grã-Bretanha de que apenas uma guerra preventiva poderia prevenir uma Alemanha em ascensão, mas eu suspeito que uma causa secundária importante foi a noção alemã paralela de que eram necessárias medidas semelhantes contra uma Rússia em ascensão.

Obviamente, este cenário inteiro foi totalmente transformado pela Revolução Bolchevique de 1917, a qual varreu a velha ordem do poder, massacrando grande parte da sua liderança e forçando o restante a fugir, inaugurando assim a era mundial moderna de regimes ideológicos e revolucionários. Eu cresci durante as últimas décadas da longa Guerra Fria, quando a União Soviética era o grande adversário internacional da América, por isso a história dessa revolução e as suas consequências sempre me fascinaram. Durante a faculdade e a pós-graduação, provavelmente eu li pelo menos cem livros sobre esse tema geral, devorando as brilhantes obras de Solzhenistyn e Sholokhov, os grossos volumes históricos dos principais estudiosos acadêmicos, como Adam Ulam e Richard Pipes, bem como os escritos dos principais dissidentes soviéticos como Roy Medvedev, Andrei Sakharov e Andrei Amalrik. Eu fiquei fascinado pela trágica história de como Stalin superou Trotsky e seus outros rivais, levando aos expurgos massivos da década de 1930, enquanto a crescente paranoia de Stalin produzia perdas gigantescas de vidas.

Eu não fui tão ingênuo que não reconhecesse alguns dos poderosos tabus que rodeavam a discussão sobre os bolcheviques, particularmente no que diz respeito à sua composição étnica. Embora a maioria dos livros dificilmente enfatizasse esse ponto, qualquer pessoa com um olhar atento para frases ou parágrafos ocasionais certamente saberia que os judeus estavam enormemente sobrerepresentados entre os principais revolucionários, com três dos cinco sucessores potenciais de Lênin – Trotsky, Zinoviev e Kamenev – todos provenientes desse contexto, juntamente com muitos, muitos outros dentro da liderança comunista de topo. Obviamente, isto era extremamente desproporcional num país com uma população judaica de talvez 4%, e certamente ajudou a explicar o grande aumento da hostilidade mundial contra os judeus logo depois, que por vezes assumiu as formas mais perturbadas e irracionais, como a popularidade dos Protocolos dos Sábios de Sião e a notória publicação de O Judeu Internacional de Henry Ford. Mas com os judeus russos muito mais propensos a serem educados e urbanizados, e a sofrerem de feroz opressão antissemita sob os czares, tudo parecia fazer sentido razoável.

Então, talvez há catorze ou quinze anos, eu encontrei uma ruptura no meu continuum espaço-tempo pessoal, uma das primeiras de muitas para vir.

Nesta instância particular, um amigo especialmente direitista do teórico evolucionista Gregory Cochran passou longos dias navegando nas páginas do Stormfront, um importante fórum da Internet para a extrema direita, e tendo-se deparado com uma afirmação fatual notável, pediu-me a minha opinião. Alegadamente, Jacob Schiff, o principal banqueiro judeu da América, tinha sido o principal apoiante financeiro da Revolução Bolchevique, fornecendo aos revolucionários comunistas 20 milhões de dólares em financiamento.

A minha primeira reação foi que tal noção era totalmente ridícula, uma vez que um fato tão enormemente explosivo não poderia ter sido ignorado pelas muitas dezenas de livros que eu tinha lido sobre as origens daquela revolução. Mas a fonte parecia extremamente precisa. O colunista de Knickerbocker na edição de 3 de fevereiro de 1949 do The New York Journal-American, então um dos principais jornais locais, escreveu que “Hoje é estimado pelo neto de Jacob, John Schiff, que o velho afundou cerca de 20 milhões de dólares pelo triunfo final do bolchevismo na Rússia.”

{O judeu capitalista Jacob Schiff (1847-1920) foi um grande financiador do marxismo e da esquerda para implementar o regime comunista na Rússia. É um predecessor do também judeu George Soros (1930-) em reunir a ação da direita liberal capitalista com a luta de classes da esquerda e fomento ao comunismo. Direita e esquerda juntas contra o nacionalismo!}


Uma vez checando um pouco mais sobre isso, eu descobri que vários relatos importantes descreviam a enorme hostilidade de Schiff para com o regime czarista por seus maus-tratos aos judeus, e hoje em dia até mesmo uma fonte tão estabelecida como a entrada da Wikipedia sobre Jacob Schiff observa que ele desempenhou um papel maior no financiamento da Revolução Russa de 1905, como foi revelado nas memórias posteriores de um dos seus principais agentes. E se fizermos uma pesquisa sobre “revolução bolchevique de Jacob Schiff”, surgem inúmeras outras referências, representando uma grande variedade de diferentes posições e graus de credibilidade. Uma declaração muito interessante aparece nas memórias de Henry Wickham Steed, editor do The Times de Londres e um dos mais importantes jornalistas internacionais da sua época. Ele mencionou com muita naturalidade que Schiff, Warburg e outros importantes banqueiros judeus internacionais estavam entre os principais apoiadores dos bolcheviques judeus, através dos quais esperavam obter uma oportunidade para a exploração judaica da Rússia, e descreveu seus esforços de lobby em nome dos seus aliados bolcheviques na Conferência de Paz de Paris de 1919, após o fim da Primeira Guerra Mundial.

Mesmo a análise muito recente e altamente cética do livro de Kenneth D. Ackerman de 2016, Trotsky in New York, 1917, observa que os relatórios da Inteligência Militar dos EUA do período fizeram diretamente essa afirmação surpreendente, apontando para Trotsky como o canal para o pesado apoio financeiro de Schiff e numerosos outros financiadores judeus. Em 1925, esta informação foi publicada no Guardian britânico e foi amplamente discutida e aceita ao longo das décadas de 1920 e 1930 por numerosas publicações importantes da mídia, muito antes de o próprio neto de Schiff fornecer uma confirmação direta desses fatos em 1949. Ackerman arrogantemente descarta todas essas consideráveis evidências contemporâneas como “antissemitas” e uma “história de conspiração”, argumentando que, uma vez que Schiff era um conservador notório que nunca demonstrou qualquer simpatia pelo socialismo no seu próprio meio americano, ele certamente não teria financiado os bolcheviques.

Agora, admitidamente, alguns detalhes podem facilmente ter ficado um tanto distorcidos com o tempo. Por exemplo, embora Trotsky tenha rapidamente ficado atrás apenas de Lenin na hierarquia bolchevique, no início de 1917 os dois homens ainda eram amargamente hostis devido a várias disputas ideológicas, pelo que ele certamente não era então considerado membro desse partido. E como hoje todos reconhecem que Schiff financiou fortemente a fracassada Revolução de 1905 na Rússia, parece perfeitamente possível que o valor de 20 milhões de dólares mencionado pelo seu neto se refira ao total investido ao longo dos anos no apoio a todos os diferentes movimentos e líderes revolucionários russos, que juntos finalmente culminaram com o estabelecimento da Rússia Bolchevique. Mas com tantas fontes aparentemente credíveis e independentes a fazerem afirmações semelhantes, os fatos básicos parecem quase indiscutíveis.

Considere as implicações desta conclusão notável. Eu assumiria que a maior parte do financiamento de atividades revolucionárias de Schiff foi gasto em itens como estipêndios para ativistas e subornos, e ajustado aos rendimentos familiares médios daquela época, 20 milhões de dólares equivaleriam a 2 bilhões de dólares em dinheiro atual. Certamente sem um apoio financeiro tão enorme, a probabilidade de qualquer vitória bolchevique teria sido muito menor, talvez quase impossível.

Quando as pessoas costumavam brincar casualmente sobre a total insanidade das “teorias da conspiração antissemitas”, nenhum exemplo melhor foi apresentado do que a noção evidentemente absurda de que os banqueiros judeus internacionais tinham criado o movimento comunista mundial. E, no entanto, por qualquer padrão razoável, esta afirmação parece ser mais ou menos verdadeira e, aparentemente, foi amplamente conhecida, pelo menos de forma aproximada, durante décadas após a Revolução Russa, mas nunca foi mencionada em nenhuma das numerosas histórias mais recentes que moldaram meu próprio conhecimento desses eventos. Na verdade, nenhuma destas fontes muito abrangentes sequer mencionou o nome de Schiff, embora fosse universalmente reconhecido que ele tinha financiado a Revolução de 1905, que foi muitas vezes discutida com enorme detalhe em muitos desses livros de grande peso. Que outros fatos muito surpreendentes eles poderiam similarmente estar escondendo?

Quando alguém encontra novas revelações notáveis numa área da história em que o seu conhecimento era rudimentar, sendo pouco mais do que livros introdutórios ou cursos de História 101{nome comum para um curso introdutório de história}, o resultado é um choque e um constrangimento. Mas quando a mesma situação ocorre numa área em que ele leu dezenas de milhares de páginas nos principais textos autorizados, que aparentemente exploraram cada pequeno detalhe, certamente o seu sentido de realidade começa a desmoronar.

Em 1999, a Universidade de Harvard publicou a edição inglesa do Livro Negro do Comunismo, cujos seis co-autores devotaram 850 páginas documentando os horrores infligidos ao mundo por esse sistema extinto, que produziu um número total de mortes estimado em 100 milhões. Eu nunca li esse livro e ouvi muitas vezes que a alegada contagem de corpos tem sido amplamente contestada. Mas para mim o detalhe mais notável é que quando eu examino o índice de 35 páginas, vejo uma vasta profusão de verbetes de indivíduos totalmente obscuros, cujos nomes são certamente desconhecidos de todos, exceto do especialista mais erudito. Mas não há entrada para Jacob Schiff, o banqueiro judeu mundialmente famoso que aparentemente financiou a criação de todo o sistema. Nem para Olaf Aschberg, o poderoso banqueiro judeu na Suécia, que desempenhou um papel tão importante[7] no fornecimento aos bolcheviques de uma tábua de salvação financeira durante os primeiros anos do seu regime ameaçado, e mesmo fundou o primeiro banco internacional soviético.

Quando alguém descobre uma ruptura na estrutura da realidade, há uma tendência natural de olhar nervosamente para dentro, imaginando que objetos misteriosos poderiam habitar dentro dela. O livro de Ackerman denunciou a noção de Schiff ter financiado os bolcheviques como “um tropo favorito da propaganda antijudaica nazista” e pouco antes dessas palavras ele emitiu uma denúncia semelhante ao Dearborn Independent de Henry Ford, uma publicação que antes não teria significado quase nada para mim. Embora o livro específico de Ackerman ainda não tivesse sido publicado quando eu comecei a considerar a história de Schiff, há doze anos, muitos outros escritores tinham similarmente unido esses dois tópicos, por isso eu decidi explorar o assunto.

O próprio Ford era um indivíduo muito interessante, e seu papel histórico mundial certamente recebeu escassa cobertura em meus livros básicos de história. Embora as razões exatas para a sua decisão de aumentar o seu salário mínimo para 5 dólares por dia em 1914[8] – o dobro do salário médio existente para os trabalhadores industriais na América – possam ser contestadas, parece certamente ter desempenhado um papel desproporcionalmente grande na criação da nossa classe média.  Ele também adotou uma política altamente paternalista de fornecer boas moradias empresariais e outras comodidades aos seus trabalhadores, um afastamento total do capitalismo do “Barão Ladrão” tão amplamente praticado naquela época, estabelecendo-se assim como um herói mundial para os trabalhadores industriais e seus defensores. Na verdade, o próprio Lênin considerava Ford uma figura imponente no firmamento revolucionário mundial, encobrindo as suas opiniões conservadoras e o seu compromisso com o capitalismo e concentrando-se, em vez disso, nas suas realizações notáveis na produtividade dos trabalhadores e no bem-estar econômico. É um detalhe esquecido da história que, mesmo depois de a considerável hostilidade de Ford à Revolução Russa se ter tornado amplamente conhecida, os bolcheviques ainda descreveram a sua própria política de desenvolvimento industrial como “Fordismo”. De fato, não era incomum ver retratos de Lenin e Ford pendurados lado a lado nas fábricas soviéticas, representando os dois maiores santos seculares do panteão bolchevique.

Quanto ao The Dearborn Independent, Ford aparentemente tinha lançado seu jornal em âmbito nacional não muito depois do fim da guerra, com a intenção de se concentrar em tópicos controversos, especialmente aqueles relacionados ao mau comportamento dos judeus, cuja discussão ele acreditava estar sendo ignorada ou suprimida por quase todos os principais meios de comunicação. Eu sabia que ele era há muito tempo um dos indivíduos mais ricos e respeitados da América, mas ainda eu fiquei surpreso ao descobrir que seu jornal semanal, até então quase desconhecido para mim, tinha alcançado uma circulação nacional total de 900.000 exemplares em 1925, classificando-o como o segundo maior do país e de longe o maior com distribuição nacional. Não encontrei nenhum meio fácil de examinar o conteúdo de uma edição típica, mas aparentemente os artigos antijudaicos dos primeiros anos foram coletados e publicados como livros curtos, constituindo juntos os quatro volumes de The International Jew: The World’s Foremost Problem {publicano no Brasil como O Judeu Internacional}, uma obra notoriamente antissemita mencionada ocasionalmente em meus livros de história. Por fim, minha curiosidade tomou conta de mim, então cliquei em alguns botões na Amazon.com, comprei o conjunto e me perguntei maravilhado o que eu iria descobrir.

Baseado em todas as minhas pressuposições, eu esperava ler alguma frase de espuma pela boca e duvidava que eu conseguiria passar das primeiras doze páginas antes de perder o interesse e deixar os volumes acumulando poeira nas minhas prateleiras. Mas o que eu realmente encontrei foi algo totalmente diferente.

{O empreendedor e engenheiro americano Henry Ford (1863-1947) teve protagonismo na sociedade americano envolvendo crescimento material e consciência política que no decorrer do século XX foi relegado ao esquecimento.}


Sobre o último par de décadas, o enorme crescimento do poder dos grupos judaicos e pró-Israel na América levou ocasionalmente os escritores a levantar cautelosamente certos fatos relativos à influência prejudicial dessas organizações e ativistas, enquanto que enfatizavam sempre cuidadosamente que a grande maioria dos judeus ordinários não se beneficiam destas políticas e podem, na verdade, ser prejudicados por elas,  mesmo deixando de lado o possível risco de eventualmente provocarem uma reação antijudaica. Para minha considerável surpresa, eu descobri que o material da série de 300.000 palavras de Ford parecia seguir exatamente esse mesmo padrão e tom.

As colunas individuais de 80 capítulos dos volumes de Ford geralmente discutem questões e eventos específicos, alguns dos quais eram bem conhecidos para mim, mas a maioria deles totalmente obscurecidos pela passagem de quase cem anos. Contudo, tanto quanto eu pude perceber, quase todas as discussões pareciam bastante plausíveis e orientadas para os fatos, por vezes mesmo excessivamente cautelosas na sua apresentação e, com uma possível exceção, não me lembro de nada que parecesse fantasioso ou irracional. Por exemplo, não houve nenhuma alegação de que Schiff ou os seus colegas banqueiros judeus tivessem financiado a Revolução Bolchevique, uma vez que esses fatos específicos ainda não tinham sido divulgados, apenas que ele parecia apoiar fortemente a derrubada do czarismo e tinha trabalhado para esse fim por muitos anos, motivado pelo que ele considerou ser a hostilidade do Império Russo para com os seus súditos judeus. Este tipo de discussão não é muito diferente do que se poderia encontrar numa biografia moderna de Schiff ou na sua entrada na Wikipédia, embora muitos dos detalhes importantes apresentados nos livros de Ford tenham desaparecido do registo histórico.

Embora eu de alguma maneira, tenha conseguido ler todos os quatro volumes de O Judeu Internacional, a batida implacável da intriga e do mau comportamento judaico tornou-se um tanto soporífica depois de um tempo, especialmente porque muitos dos exemplos fornecidos podem ter se destacado bastante em 1920 ou 1921, mas foram quase totalmente esquecidos hoje. A maior parte do conteúdo era uma coleção de reclamações bastante monótonas sobre a má conduta, os escândalos ou o caráter de clã dos judeus, o tipo de assuntos mundanos que normalmente poderiam ter aparecido nas páginas de um jornal ou revista comum, e muito menos de um tipo de denunciadores moralistas da corrupção de movimentos progressistas.

Contudo, eu não posso culpar a publicação por ter um foco tão restrito. Um tema consistente foi que, devido ao medo intimidante dos ativistas e da influência judaica, praticamente todos os meios de comunicação regulares da América evitaram a discussão de qualquer um desses assuntos importantes, e uma vez que esta nova publicação pretendia preencher esse vazio, ela necessariamente forneceu uma cobertura esmagadoramente fora de esquadro em direção a esse assunto particular. Os artigos também visavam expandir gradualmente a janela do debate público e, eventualmente, envergonhar outros periódicos para que discutissem o mau comportamento judaico. Quando revistas importantes como The Atlantic Monthly e Century Magazine começaram a publicar tais artigos, este resultado foi saudado como um grande sucesso.

Outro objetivo importante era tornar os judeus comuns mais conscientes do comportamento muito problemático de muitos dos seus líderes comunitários. Ocasionalmente, a publicação recebia uma carta de elogios de um autoproclamado “judeu americano orgulhoso” elogiando a série e, por vezes, incluindo um cheque para comprar assinaturas para outros membros da sua comunidade, e esta conquista poderia tornar-se objeto de uma discussão estendida.

E embora os detalhes destas histórias individuais divergissem consideravelmente dos de hoje, o padrão de comportamento criticado parecia notavelmente semelhante. Mude alguns fatos, ajuste a sociedade para um século de progresso, e muitas das histórias poderão ser exatamente as mesmas que pessoas bem-intencionadas e preocupadas com o futuro do nosso país estão hoje discutindo quietamente. O mais notável é que houve até algumas colunas sobre a relação conturbada entre os primeiros colonos sionistas na Palestina e os palestinos nativos vizinhos, e profundas queixas de que, sob pressão judaica, a mídia muitas vezes relatou de forma totalmente errada ou escondeu alguns dos ultrajes sofridos por este último grupo.

Eu não posso garantir a acurácia percorrendo todo o conteúdo destes volumes, mas pelo menos eles constituiriam uma fonte extremamente valiosa de “matéria-prima” para futuras investigações históricas. Muitos dos eventos e incidentes que eles relatam parecem ter sido totalmente omitidos das principais publicações da mídia daquela época, e certamente nunca foram incluídos em narrativas históricas posteriores, dado que mesmo histórias tão conhecidas como o grande apoio financeiro de Schiff aos bolcheviques foram jogados completamente no “buraco da memória” de George Orwell.

Com os volumes há muito tempo sem direitos autorais, eu tenho adicionado o conjunto à minha coleção de livros HTML, e os interessados ​​podem ler o texto e decidir por si próprios.

Como mencionado, a esmagadora maioria do O Judeu Internacional parecia uma recitação bastante branda de reclamações sobre o mau comportamento dos judeus. Mas houve uma exceção importante, a qual tem um impacto muito diferente na nossa mente moderna, nomeadamente que o escritor levou muito a sério Os Protocolos dos Sábios de Sião. Provavelmente nenhuma “teoria da conspiração” nos tempos modernos foi sujeita a tão imensa vilificação e ao ridículo como os Protocolos, mas uma viagem de descoberta muitas vezes adquire um impulso próprio, e fiquei curioso sobre a natureza desse documento infame.

Aparentemente, os Protocolos vieram à luz pela primeira vez durante a última década do século XIX, e o Museu Britânico armazenou uma cópia em 1906, mas atraiu relativamente pouca atenção na época. No entanto, tudo isto mudou depois da Revolução Bolchevique e da derrubada de muitos outros governos de longa data no final da Primeira Guerra Mundial, que levou muitas pessoas a procurar uma causa comum por detrás de tantas enormes sublevações políticas. A partir da minha distância de muitas décadas, o texto dos Protocolos parece-me bastante brando e até monótono, descrevendo de uma forma bastante prolixa um plano de subversão secreta que visa enfraquecer os laços do tecido social, colocar grupos uns contra os outros, ganhar controle sobre os líderes políticos através de suborno e chantagem e, eventualmente, restaurar a sociedade ao longo de linhas rigidamente hierárquicas com um grupo inteiramente novo no controle. Admitidamente que houve muitas percepções astutamente vistas sobre política ou psicologia, nomeadamente sobre o enorme poder dos meios de comunicação social e os benefícios do avanço dos líderes políticos que estavam profundamente comprometidos ou incompetentes e, portanto, facilmente controláveis. Mas nada mais realmente pulou sobre mim.

Talvez uma das razões pelas quais eu achei o texto dos Protocolos tão pouco inspirador é que, ao longo do século desde a sua publicação, estas noções de conspirações diabólicas por grupos ocultos tornaram-se um tema tão comum nos nossos meios de entretenimento, com incontáveis ​​milhares de romances de espionagem e histórias de ficção científica. apresentando algo semelhante, embora usualmente envolvendo técnicas muito mais emocionantes, como uma super arma ou uma droga poderosa. Se algum vilão de Bond proclamasse a sua intenção de conquistar o mundo meramente através da simples subversão política, suspeito que tal filme morreria imediatamente nas bilheteiras.

Mas há cem anos, estas eram noções aparentemente excitantes e novas, e na verdade eu achei a discussão dos Protocolos em muitos dos capítulos de O Judeu Internacional muito mais interessante e informativa do que a leitura do texto em si. O autor dos livros de Ford tratou-o apropriadamente como qualquer outro documento histórico, dissecando o seu conteúdo, especulando sobre a sua proveniência e perguntando-se se era ou não o que pretendia ser, nomeadamente um registo aproximado das declarações de um grupo de conspiradores perseguindo domínio sobre o mundo, com esses conspiradores parecendo ser uma fraternidade de elite de judeus internacionais.

Outros contemporâneos também levaram os Protocolos muito a sério. O augusto Times de Londres o endossou totalmente, antes de mais tarde retratar essa posição sob forte pressão, e eu li que mais exemplares foram publicados e vendidos na Europa daquela época do que qualquer outro livro, salvo a Bíblia. O governo bolchevique da Rússia prestou ao volume o seu próprio tipo de profundo respeito, com a mera posse dos Protocolos garantindo a execução imediata.

Embora O Judeu Internacional conclua que os Protocolos eram provavelmente genuínos, duvido dessa probabilidade com base no estilo e na apresentação. Navegando na Internet há uma dezena de anos, eu descobri uma grande variedade de opiniões diferentes, mesmo dentro do âmbito da extrema direita, onde tais assuntos eram discutidos livremente. Lembro-me de algum redator do fórum em algum lugar caracterizando os Protocolos como “baseados em uma história verdadeira”, sugerindo que alguém que estava geralmente familiarizado com as maquinações secretas da elite judaica internacional contra os governos existentes da Rússia Czarista e de outros países havia redigido o documento para delinear sua visão dos seus planos estratégicos, e tal interpretação parece-me perfeitamente plausível.

Outro leitor em algum lugar afirmou que os Protocolos eram pura ficção, mas mesmo assim bastante significativos. Ele argumentou que as visões percebidas e muito aguçadas sobre os métodos pelos quais um pequeno grupo conspiratório pode corromper silenciosamente e derrubar poderosos regimes existentes sem dúvida classificaram a obra ao lado de A República, de Platão, e O Príncipe, de Maquiavel, como um dos três grandes clássicos da filosofia política ocidental, ganhando-a um lugar na lista de leituras obrigatórias de todos os cursos 101 de Ciência Política. Na verdade, o autor dos livros de Ford enfatiza que há muito poucas menções a judeus em qualquer parte dos Protocolos, e todas as ligações implícitas a conspiradores judeus poderiam ser completamente eliminadas do texto sem afetar de forma alguma o seu conteúdo.

Em qualquer evento, este pequeno trabalho está agora disponível como um dos meus livros HTML, tornando-o bastante conveniente para leitura e pesquisa de texto.

Algumas ideias têm consequências e outras não. Embora os meus livros introdutórios de história mencionassem frequentemente as atividades antissemitas de Henry Ford, a sua publicação de O Judeu Internacional e a popularidade concomitante dos Protocolos, nunca sugeriram qualquer legado político duradouro, ou pelo menos não me lembro de tal afirmação. No entanto, depois de realmente ler o conteúdo e também descobrir a enorme popularidade contemporânea desses escritos e a enorme circulação nacional do The Dearborn Independent, eu rapidamente cheguei a uma conclusão muito diferente.

Por décadas, os liberais pró-imigração, muitos deles judeus, sugeriram que o antissemitismo foi um fator importante por trás da Lei de Imigração de 1924, que reduziu drasticamente a imigração europeia durante os quarenta anos seguintes, enquanto os ativistas anti-imigração sempre negaram veementemente isto. As evidências documentais daquela época certamente favorecem a posição deste último, mas eu realmente me pergunto que discussões privadas importantes podem não ter sido impressas e registradas nos registros do Congresso. O esmagador apoio popular à restrição da imigração tinha sido bloqueado com sucesso durante décadas por poderosos interesses empresariais, que beneficiaram enormemente dos salários reduzidos resultantes da feroz competição laboral, mas agora as coisas mudaram subitamente, e certamente a Revolução Bolchevique na Rússia deve ter sido uma influência poderosa.

A Rússia, esmagadoramente povoada por russos, foi governada durante séculos por uma elite dominante russa. Depois, revolucionários fortemente judeus, oriundos de um grupo que representa apenas 4% da população, aproveitaram-se da derrota militar e das condições políticas instáveis ​​para tomar o controle do país, massacrando as elites anteriores ou forçando-as a fugir desesperadamente para o estrangeiro como refugiados sem um tostão.

Trotsky e uma grande fração dos principais revolucionários judeus viviam como exilados na cidade de Nova York, e agora muitos dos seus primos judeus ainda residentes na América começaram a proclamar em voz alta que uma revolução semelhante em breve se seguiria também aqui. Enormes ondas de imigração recente, principalmente da Rússia, tinham aumentado a fração judaica da população nacional para 3%, não muito abaixo do número da própria Rússia nas vésperas da sua revolução. Se as elites russas que governavam a Rússia tivessem sido subitamente derrubadas por revolucionários judeus, não seria óbvio que as elites anglo-saxónicas que governavam a América anglo-saxónica temiam sofrer o mesmo destino?

O “Red Scare” de 1919 foi uma resposta, com numerosos imigrantes radicais, como Emma Goldman, presos e sumariamente deportados. O julgamento do assassinato de Sacco-Vanzetti em 1921, em Boston, chamou a atenção da nação, sugerindo que outros grupos de imigrantes também eram radicais violentos e poderiam se aliar aos judeus em um movimento revolucionário, assim como os Letts e outras minorias russas descontentes haviam feito durante a Revolução Bolchevique. Mas reduzir drasticamente o afluxo destes estrangeiros perigosos era absolutamente essencial, pois caso contrário o seu número poderia facilmente crescer em centenas de milhares todos os anos, aumentando a sua já enorme presença nas nossas maiores cidades da Costa Leste.

Uma redução acentuada da imigração provocaria certamente um aumento nos salários dos trabalhadores e prejudicaria os lucros das empresas. Mas as considerações sobre os lucros são secundárias se temermos que você e a sua família acabem por enfrentar um pelotão de fuzilamento bolchevique ou por fugir para Buenos Aires apenas com as roupas do corpo e algumas malas feitas às pressas.

Uma prova digna de nota em apoio a esta análise foi o subsequente fracasso do Congresso em promulgar legislação restritiva semelhante que restringisse a imigração do México ou do resto da América Latina. Os interesses comerciais locais do Texas e do Sudoeste argumentaram que a continuação da imigração mexicana irrestrita era importante para o seu sucesso económico, sendo os mexicanos boas pessoas, trabalhadores politicamente dóceis e nenhuma ameaça à estabilidade do país. Este foi um claro contraste com os judeus e alguns outros grupos de imigrantes europeus.

A batalha muito menos familiar do início da década de 1920 sobre a restrição da inscrição de judeus na Ivy League pode ter sido outra consequência. Em seu magistral volume de 2005, The Chosen, Jerome Karabel documenta como o crescimento muito rápido do número de judeus em Harvard, Yale, Princeton e outras faculdades da Ivy League se tornou, no início da década de 1920, uma enorme preocupação para as elites anglo-saxônicas que estabeleceram aquelas instituições e sempre dominaram seus corpos estudantis.

Como um resultado, eclodiu uma guerra silenciosa sobre as admissões, envolvendo influência política e midiática, com os WASPs reinantes tentando reduzir e restringir o número de judeus e os judeus lutando para mantê-los ou expandi-los. Embora não pareça haver nenhum rastro em papel de quaisquer referências diretas ao enormemente popular jornal nacional e aos livros publicados por Henry Ford ou qualquer material semelhante, é difícil acreditar que os combatentes acadêmicos não estivessem pelo menos um pouco conscientes das teorias de um ataque judeu sobre a sociedade gentia então sendo tão amplamente promovida. É fácil imaginar que um respeitável brâmane de Boston, como o presidente de Harvard, A. Lawrence Lowell, considerasse o seu próprio “antissemitismo” moderado como um meio-termo muito razoável entre as reivindicações lúridas promovidas por Ford e outros e as exigências de matrículas judaicas ilimitadas. feitos por seus oponentes. Na verdade, o próprio Karabel aponta o impacto social das publicações de Ford como um fator de fundo significativo para este conflito acadêmico.

Neste momento, as elites anglo-saxónicas ainda detinham a vantagem nos meios de comunicação social. A indústria cinematográfica fortemente judaica estava apenas na sua infância e o mesmo se aplicava à rádio, enquanto a grande maioria dos principais meios de comunicação impressos ainda estava em mãos de gentios, por isso os descendentes dos colonos originais da América venceram esta ronda da guerra de admissões. Mas quando a batalha foi retomada, algumas décadas mais tarde, o cenário estratégico político e mediático tinha mudado completamente, com os judeus tendo alcançado quase a paridade na influência impressa e o domínio esmagador nos formatos de comunicação eletrônica mais poderosos, como o cinema, a rádio e nascente televisão, e desta vez foram vitoriosos, quebrando facilmente o domínio dos seus rivais étnicos de longa data e, eventualmente, alcançando o domínio quase completo sobre essas instituições de elite.[9]

E, ironicamente, o legado cultural mais duradouro da agitação antijudaica generalizada da década de 1920 pode ser o menos reconhecido. Como mencionado acima, os leitores modernos podem achar o texto dos Protocolos um tanto enfadonho e sem graça, quase como se tivessem sido copiados do monólogo extremamente prolixo de um dos vilões diabólicos de uma história de James Bond. Mas não me surpreenderia se houvesse realmente uma flecha de causalidade na direção oposta. Ian Fleming criou este género no início da década de 1950 com a sua série de best-sellers internacionais, e é interessante especular sobre a origem das suas ideias.

Fleming passou a juventude durante as décadas de 1920 e 1930, quando os Protocolos estavam entre os livros mais lidos em grande parte da Europa e os principais jornais britânicos da mais alta credibilidade relatavam as conspirações bem-sucedidas de Schiff e de outros banqueiros judeus internacionais para derrubar o governo da czarista aliada da Grã-Bretanha e substituí-lo pelo domínio bolchevique judeu. Além disso, o seu serviço posterior num braço da Inteligência Britânica certamente o teria tornado a par de detalhes dessa história que iam muito além das manchetes públicas. Acho que é mais do que pura coincidência que dois de seus vilões mais memoráveis ​​de Bond, Goldfinger e Blofeld, tivessem nomes que soavam distintamente judeus, e que muitas das tramas envolvessem esquemas de conquista mundial por Spectre, uma organização internacional secreta e misteriosa hostil a todos os governos existentes. Os próprios Protocolos podem estar hoje meio esquecidos, mas a sua influência cultural provavelmente sobrevive nos filmes de Bond, cujos 7 bilhões de dólares de bilheteria agregada os classificam como a série de filmes de maior sucesso da história quando ajustada à inflação.

Na extensão na qual os fatos históricos estabelecidos podem aparecer ou desaparecer do mundo deveria certamente forçar-nos a todos a sermos muito cautelosos em acreditar em tudo o que lemos nos nossos livros escolares padrão, e muito menos naquilo que absorvemos dos meios de comunicação eletrônicos mais transitórios.

Nos primeiros anos da Revolução Bolchevique, quase ninguém questionou o papel esmagador dos judeus nesse evento, nem a sua preponderância semelhante nas tomadas de poder bolcheviques, em última análise, mal sucedidas na Hungria e em partes da Alemanha. Por exemplo, o antigo ministro britânico Winston Churchill denunciou em 1920[10] os “judeus terroristas” que tinham tomado o controle da Rússia e de outras partes da Europa, observando que “a maioria das figuras principais são judeus” e afirmando que “nas instituições soviéticas a predominância dos judeus é mesmo mais atordoante e surpreendente”#1, lamentando ao mesmo tempo os horrores que estes judeus infligiram aos sofredores alemães e húngaros.

Similarmente, o jornalista Robert Wilton, ex-correspondente russo do Times of London, forneceu um resumo muito detalhado do enorme papel judaico em seu livro de 1918, Russia’s Agony, e no livro de 1920, The Last Days of the Romanovs, embora seja um dos capítulos mais explícitos deste último foi aparentemente excluído da edição em inglês.[11] Não muito tempo depois, os fatos relativos ao enorme apoio financeiro fornecido aos bolcheviques por banqueiros judeus internacionais, como Schiff e Aschberg, foram amplamente divulgados nos principais meios de comunicação social.

Os judeus e o comunismo estavam igualmente fortemente ligados na América, e durante anos o jornal comunista de maior circulação no nosso país foi publicado em iídiche.[12] Quando foram finalmente divulgados, os Venona Decrypts {programa de contrainteligência dos Estados Unidos} demonstraram que, mesmo nas décadas de 1930 e 1940, uma fração notável dos espiões comunistas da América provinham desse antecedente étnico.

Uma anedota pessoal tende a confirmar esses áridos registros históricos. No início dos anos 2000, certa vez eu almocei com um cientista da computação idoso e muito eminente, de quem eu me tornei um pouco amigo. Ao falar sobre isto e aquilo, ele mencionou que ambos os seus pais tinham sido comunistas zelosos e, dado o seu óbvio nome irlandês, expressei a minha surpresa, dizendo que pensava que quase todos os comunistas daquela época eram judeus. Ele disse que sim, mas embora a sua mãe tivesse essa origem étnica, o seu pai não, o que o tornava uma rara excepção nos seus círculos políticos. Como consequência, o Partido sempre procurou colocá-lo num papel público tão proeminente quanto possível, apenas para provar que nem todos os comunistas eram judeus, e embora ele obedecesse à disciplina do Partido, ele sempre se irritava sendo usado como tal “símbolo”.

Contudo, quando o comunismo caiu drasticamente em desuso na América dos anos 1950, quase todos os principais “pegadores de vermelhos”, como o senador Joseph McCarthy, fizeram de tudo para obscurecer a dimensão étnica do movimento que combatiam. Na verdade, muitos anos mais tarde, Richard Nixon falou casualmente em privado[13] sobre a dificuldade que ele e outros investigadores anticomunistas enfrentaram ao tentarem concentrar-se nos alvos gentios, uma vez que quase todos os suspeitos de espiões soviéticos eram judeus, e quando esta fita se tornou pública, o seu alegado o antissemitismo provocou uma tempestade midiática, embora as suas observações implicassem obviamente o exato oposto.

Este último ponto é importante, uma vez que, uma vez que o registo histórico tenha sido suficientemente depurado de modo conveniente ou reescrito, quaisquer vestígios remanescentes da realidade original que sobrevivem são muitas vezes percebidos como ilusões bizarras ou denunciadas como “teorias da conspiração”. Na verdade, ainda hoje as sempre divertidas páginas da Wikipédia fornecem um artigo inteiro de 3.500 palavras atacando a noção de “bolchevismo judaico” como uma “forte boataria antissemita”.#2

            Eu lembro de que, na década de 1970, as enormes rajadas de elogios americanos aos três volumes do Arquipélago Gulag de Solzhenitysn de repente encontraram um vento contrário temporário quando alguém percebeu que suas 2.000 páginas incluíam uma única fotografia retratando muitos dos principais administradores do Gulag, junto com uma legenda revelando seus inconfundíveis nomes judaícos. Este detalhe foi tratado como uma prova séria do possível antissemitismo do grande autor, uma vez que a realidade real do enorme papel dos judeus no NKVD e no sistema Gulag já havia desaparecido há muito tempo de todos os livros de história padrão.

Como outro exemplo, o reverendo Pat Robertson, um importante televangelista cristão, publicou The New World Order em 1991, o seu ataque feroz aos “globalistas ímpios” que ele considerava o seu maior inimigo, e rapidamente se tornou um enorme best-seller nacional. Aconteceu de ele incluir algumas menções breves e algo distorcidas aos 20 milhões de dólares que o banqueiro de Wall Street, Jacob Schiff, tinha fornecido aos comunistas, evitando cuidadosamente qualquer sugestão de um ângulo judaico e não fornecendo qualquer referência a essa afirmação. O seu livro rapidamente provocou uma vasta onda de denúncias e ridicularização por toda a elite dos meios de comunicação, com a história de Schiff vista como prova conclusiva do antissemitismo delirante de Robertson[14]. Na verdade, não eu posso culpar estes críticos, uma vez que na época pré-Internet eles só podiam consultar os índices de algumas histórias padrão da Revolução Bolchevique e, não encontrando nenhuma menção a Schiff ou ao seu dinheiro, naturalmente presumiram que Robertson ou a sua fonte tinham simplesmente inventado a estória bizarra. Eu mesmo tive exatamente a mesma reação na época.

Somente depois de o comunismo soviético ter morrido em 1991 e já não ser visto como uma força hostil é que os acadêmicos na América voltaram a poder publicar livros convencionais que restauraram gradualmente a verdadeira imagem daquela época passada. Em muitos aspectos, uma obra amplamente elogiada como The Jewish Century, de Yuri Slezkine, publicada em 2004 pela Princeton University Press, fornece uma narrativa bastante consistente com as obras há muito esquecidas de Robert Wilton, mas marca um afastamento muito acentuado das histórias em grande parte ofuscatórias dos oitenta e tantos anos que se passaram.

Até cerca de uma dúzia de anos atrás, eu sempre presumi vagamente que O Judeu Internacional, de Henry Ford, era uma obra de loucura política e que os Protocolos eram um embuste notório. No entanto, hoje, eu provavelmente consideraria o primeiro como uma fonte potencialmente útil de possíveis eventos históricos, de outra forma excluídos da maioria dos relatos padrão, enquanto ao último pelo menos eu reconheceria por que alguns pensariam que o último deveria merecer um lugar ao lado de Platão e Maquiavel como um grande clássico do pensamento político ocidental.

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander

Notas

[1] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: American Pravda: Our Deadly World of Post-War Politics, por Ron Keeva Unz, 02 de julho de 2018, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/runz/american-pravda-our-deadly-world-of-post-war-politics/  

[2] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: Social Darwinism Made Modern China, por Ron Keeva Unz, 11 de março de 2013, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/runz/how-social-darwinism-made-modern-china-248/  

[3] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: China's Rise, America's Fall, por Ron Keeva Unz, 17 de abril de 2012, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/runz/chinas-rise-americas-fall/  

[4] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: The Long Decline of the London Economist, por Ron Keeva Unz, 27 de abril de 2012, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/runz/the-long-decline-of-the-london-economist/  

[5] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: THE ECONOMIST (LETTERS), por Ron Keeva Unz, 03 de maio de 1986, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/runz/far-east-2/  

[6] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: Mao Reconsidered, Part Two: Whose Famine?, por Godfree Roberts, 13 de novembro de 2017, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/article/mao-reconsidered-part-two-whose-famine/

[7] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: Sweden's Volunteer Auxiliary Thought Police, por Steve Sailer, 20 de dezembro de 2014, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/isteve/swedens-volunteer-auxiliary-thought-police/  

[8] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: Why Did Henry Ford Double His Minimum Wage?, por Jeff Nilsson, 03 de janeiro de 2014, The Saturday Evening Post.

http://www.saturdayeveningpost.com/2014/01/03/history/post-perspective/ford-doubles-minimum-wage.html

[9] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: The Myth of American Meritocracy, 28 de novembro de 2012, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/runz/the-myth-of-american-meritocracy/  

[10] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: Zionism versus Bolshevism - A Struggle for the Soul of the Jewish People, por Winston Churchill.

http://www.fpp.co.uk/bookchapters/WSC/WSCwrote1920.html  

#1 Nota de Mykel Alexander: Sionismo versus Bolchevismo {comunismo judaico extremista}. Uma luta pela alma do povo judeu, por Winston Churchill, 25 de outubro de 2021, World Traditional Front.

https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2021/10/sionismo-versus-bolchevismo-comunismo.html  

[11] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz:

http://mailstar.net/wilton.html  

[12] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: Introduction: American Jews, Communism, the ICOR and Birobidzhan. Dreams of Nationhood: American Jewish Communists and the Soviet Birobidzhan Project, 1924-1951, 2010, páginas. 1-28 (28 pages)

https://www.jstor.org/stable/j.ctt1zxsj1m.6?seq=2#page_scan_tab_contents  

[13] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: In 1971 Tapes, Nixon Is Heard Blaming Jews for Communist Plots, Irvin Molotsky, 07 de outubro de 1999, The New York Times.

https://www.nytimes.com/1999/10/07/us/in-1971-tapes-nixon-is-heard-blaming-jews-for-communist-plots.html  

#2 Nota de Mykel Alexander: Mentindo sobre o judaico-bolchevismo {comunismo-marxista}, por Andrew Joyce, Ph.D. {academic auctor pseudonym}, 26 de setembro de 2021, World Traditional Front.

https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2021/09/mentindo-sobre-o-judaico-bolchevismo.html  

[14] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: CALLING ALL CRACKPOTS - A NEW CONSERVATIVE CREDO: NO ENEMIES ON THE RIGHT, por Michael Lind, 16 de outubro de 1994, The Washington Post.

https://www.washingtonpost.com/archive/opinions/1994/10/16/calling-all-crackpots/68f3742a-3b1e-46b5-aedf-b8c0f21a5cf4/ 

Fonte: American Pravda: The Bolshevik Revolution and Its Aftermath, por Ron Keeva Unz, 23 de julho de 2018, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/runz/american-pravda-the-bolshevik-revolution-and-its-aftermath/ 

Sobre o autor: Ron Keeva Unz (1961 -), de nacionalidade americana, oriundo de família judaica da Ucrânia, é um escritor e ativista político. Possui graduação de Bachelor of Arts (graduação superior de 4 anos nos EUA) em Física e também em História, pós-graduação em Física Teórica na Universidade de Cambridge e na Universidade de Stanford, e já foi o vencedor do primeiro lugar na Intel / Westinghouse Science Talent Search. Seus escritos sobre questões de imigração, raça, etnia e política social apareceram no The New York Times, no Wall Street Journal, no Commentary, no Nation e em várias outras publicações.

__________________________________________________________________________________

Relacionado, leia também:

Sobre a influência do judaico bolchevismo (comunismo-marxista) na Rússia ver:

Revisitando os Pogroms {alegados massacres de judeus} Russos do Século XIX, Parte 1: A Questão Judaica da Rússia - Por Andrew Joyce {academic auctor pseudonym}.  Parte 1 de 3, as demais na sequência do próprio artigo.


Mentindo sobre o judaico-bolchevismo {comunismo-marxista} - Por Andrew Joyce, Ph.D. {academic auctor pseudonym}

Os destruidores - Comunismo {judaico-bolchevismo} e seus frutos - por Winston Churchill

A liderança judaica na Revolução Bolchevique e o início do Regime soviético - Avaliando o gravemente lúgubre legado do comunismo soviético - por Mark Weber

Líderes do bolchevismo {comunismo marxista} - Por Rolf Kosiek

Wall Street & a Revolução Russa de março de 1917 – por Kerry Bolton

Wall Street e a Revolução Bolchevique de Novembro de 1917 – por Kerry Bolton

Esquecendo Trotsky (7 de novembro de 1879 - 21 de agosto de 1940) - Por Alex Kurtagić

{Retrospectiva Ucrânia - 2014} Nacionalistas, Judeus e a Crise Ucraniana: Algumas Perspectivas Históricas - Por Andrew Joyce, PhD {academic auctor pseudonym}

Nacionalismo e genocídio – A origem da fome artificial de 1932 – 1933 na Ucrânia - Por Valentyn Moroz