Mark Weber |
Um debate-entrevista,
organizado pelo irmão Nathanael Kapner em abril de 2008, sobre os motivos e
forças por trás da guerra liderada pelos EUA em 2003 contra o Iraque.
Stephen Zunes[1], professor de Política e
Estudos Internacionais na Universidade de São Francisco, e Mark Weber[2], diretor do Institute for
Historical Review, apresentam visões diferentes sobre os motivos por trás da
fatídica decisão de bombardear, invadir e ocupar o Iraque.
Irmão Nathanael (IN):
Quem é primariamente para se culpar pela guerra do Iraque?
Weber: Quaisquer que sejam
as razões secundárias para a guerra, o fator crucial na decisão para atacar o
Iraque foi ajudar Israel. Com apoio de Israel e do lobby judaico-sionista da
América, e aguilhoados por judeus neoconservadores de alto nível na
administração Bush, o presidente Bush e o vice-presidente Chebey, que eram há fervorosamente
comprometidos com Israel, resolveram invadir e subjugar um dos principais
chefes regionais inimigos de Israel.
Conforme o senador dos EUA Ernst Hollings disse em maio
de 2004, os EUA invadiram o Iraque “para proteger Israel” e “todos” em
Washington sabem disso. No mínimo em duas ocasiões, o próprio presidente Bush
reconheceu a importância de derrubar o regime de Saddam Hussein no Iraque
porque ele era uma ameaça para Israel. Eu tenho exposto isto e muito mais
evidências em numerosos ensaios e palestras. Veja, por exemplo, “Iraque: Uma
guerra para Israel.”
IN: Por que, Dr. Zunes,
você diz que o lobby judaico não é diretamente responsável pela invasão dos EUA
no Iraque?
Zunes: Enquanto o então
chamado “lobby judaico,” o American Israel Public Affairs Committee (AIPAC)
inegavelmente tem influenciado votos congressistas em relação as preocupações
palestino-israelenses e outras questões, ele não tem desempenhado um papel
importante no lobby para apoio da Invasão dos EUA no Iraque. Alguns dos mais
fortes apoiadores de Israel no Congresso estavam entre os mais ásperos críticos
da invasão. Existe de longe mais poderosos interesses com uma estaca no que
acontece na região do Golfo Pérsico do que o AIPAC. Estes incluem as companhias
de petróleo, a indústria de armas, e outros grupos de interesses especiais. De
fato, os interesses nos estados ricos em petróleo do Golfo Pérsico têm existido[3] por muitas décadas e mesmo
pré-datam o estabelecimento do Israel moderno.
IN: Qual é sua resposta a
isto, Sr. Weber?
Weber: Os planos
judaico-sionistas para a guerra contra o Iraque tinham estado em vigor por
anos, mesmo antes de George W. Bush se tornar presidente. O ataque de 11 de
setembro de 2001 serviu como útil pretexto para colocar aqueles planos em
operação. Existe abundante evidência para mostrar que durante os meses
anteriores à invasão de março de 2003, Israel e seus apoiadores nos EUA
incitaram e encorajaram a administração Bush para ir à guerra.
Certamente, os
conglomerados consolidados político-empresariais dos EUA procuram assegurar e
promover seus interesses ao tentar impor uma pax americana global, conforme o Dr. Zunes tem apontado. Mas não
existe evidência direta que as companhias de petróleo dos EUA forçaram a guerra
com o Iraque. De fato, os conglomerados consolidados político-empresariais dos
EUA se opuseram a invasão do Iraque. Nos meses anteriores ao ataque, aposentadas
figuras militares de alta patente dos EUA, e proeminentes ex-oficiais de
Washington tais como Brent Scowcroft e Zbigniew Brzezinki, se manifestaram
contra o ataque ao Iraque.
Dois proeminentes estudiosos dos assuntos internacionais,
John Mearsheimer e Stephen Walt, têm escrito:
“A pressão de Israel e o lobby [pró-Israel] foi não o único fator por trás da decisão de atacar o Iraque em março de 2003, mas foi crítico. Alguns americanos acreditam que essa foi uma ‘guerra por petróleo’, mas existe dificilmente quaisquer evidências diretas para apoiar essa alegação. Ao invés, a guerra foi motivada em boa parte por um desejo de fazer Israel mais segura... Dentro dos Estados Unidos, a principal força motriz por trás da guerra foi um pequeno bando de neoconservadores, muitos com íntimas ligações ao Partido Likud de Israel. Em adição, líderes chave das principais organizações do Lobby deram voz a campanha pela guerra.”
IN: Por que, Dr. Zunes,
você mantém que o lobby judaico e os neocons desempenharam somente um papel
secundário na política dos EUA no Oriente Médio?
Zunes: Existem documentos
e relatórios de planejamento estratégico de think tanks de direita com laços
estreitos com a Casa Branca, que provam que a invasão e ocupação dos EUA no
Iraque foi parte de um esforço para criar uma Pax Americana no Oriente Médio.
Dr. Stephen Zunes |
O
Iraque é o único país árabe que combina reservas significativas de petróleo,
uma população considerável e um suprimento de água adequado para manter uma
política externa e doméstica independente. Isto, em efeito, é o que faz do
Iraque uma ameaça percebida aos interesses americanos porque o desejo de Saddam
Hussein de criar uma capacidade de dissuasão por meio do desenvolvimento de
armas de destruição em massa foi visto como intolerável.
Caso
os Estados Unidos (como ainda é esperado pelo governo Bush, mas agora pareça
altamente improvável) acabem controlando o Iraque, bases militares permanentes irão
então ser estabelecidas.
O
Iraque, como um estado vassalo americano, controlaria a segunda maior reserva
de petróleo do mundo, e os EUA teriam uma enorme influência sobre os vizinhos
imediatos do Iraque - Irã, Arábia Saudita, Síria e Turquia, entre outros.
Israel seria um parceiro júnior nesse esforço.
Em
relação aos neoconservadores, o notório artigo “Clean Break” de Feith / Wurmser
foi um apelo a Israel para romper com o processo de paz liderado pelos EUA e as
restrições percebidas às ações israelenses pelo governo dos EUA, sob a
liderança dos mais moderados da administração Clinton, não um apelo aos Estados
Unidos para tomarem iniciativas arriscadas a mando de Israel.
Similarmente,
o artigo demonstra como, mais que ser um caso dos israelenses levarem os
neoconservadores a pressionar os Estados Unidos para mudarem suas políticas
para uma posição mais rígida, foram os neoconservadores americanos pressionando
Israel a mudar suas políticas para uma posição mais rígida. Veja meu artigo: “A
invasão do Iraque nos EUA: não a culpa de Israel e seus apoiadores”[4].
IN: Vamos mudar para
outro tópico: vocês dois prevêem uma possível reação antijudaica elevando-se de
um decorrente e cada vez mais caro papel dos EUA no Iraque?
Weber: Os americanos têm
já pago um preço alto pela aliança dos EUA com Israel. Mas nos próximos anos
nós iremos sem dúvida pagar um preço cada vez mais alto em dólares
desperdiçados, prestígio internacional perdido e vidas americanas
desperdiçadas.
No curto prazo, não
prevejo nenhum aumento significativo no sentimento antijudaico, mesmo que a
situação no Iraque piore. Mas isso poderia mudar rapidamente se, por exemplo,
os EUA se envolverem em uma guerra regional contra o Irã em nome de Israel.
Essa guerra teria consequências terríveis e provavelmente geraria uma fúria
antijudaica generalizada, especialmente se a economia dos EUA vacilar.
Zunes: Como eu tenho
apontado muitas vezes, a política externa dos EUA deseja estabelecer uma Pax Americana, isto é, hegemonia em todo
o Oriente Médio, usando o Iraque como um estado vassalo. Mas, como outras
potências que têm tentado controlar o Oriente Médio, tais esforços de hegemonia
inevitavelmente irão gerar sua própria resistência. Com os próprios Estados
Unidos do outro lado do globo, Israel pode se tornar um alvo mais fácil para
aqueles que resistem a esse esforço americano hegemônico no coração do Oriente
Médio.
Em
outras palavras, como um outro lado da situação atual, onde o apoio dos EUA a
Israel tem levado a um aumentado antiamericanismo no mundo árabe-islâmico, o
apoio de Israel à invasão e ocupação americana do Iraque exacerbará
inevitavelmente os sentimentos anti-israelenses e antijudaicos.
As
consequências desastrosas da invasão seriam uma grande oportunidade para os
americanos preocupados demonstrarem que essa tragédia foi resultado da
influência indevida de empresas de petróleo, contratantes militares, ideólogos
de direita e influência corporativa excessiva nas iniciativas políticas de
nosso governo.
Isso
poderia urgir demandas por reformas radicais muito necessárias no sistema
político e econômico. Aqueles que confiariam na tática consagrada pelo tempo de
“culpar os judeus” desviariam a atenção dos problemas reais e iriam, de fato,
ser uma distração perigosa.
Tradução
e palavras entre chaves por Mykel Alexander
Notas
[1] Fonte usada pela edição do IHR: http://stephenzunes.org/
[2] Fonte usada pela edição do IHR: http://www.ihr.org/other/weber_bio.html
[3] Nota do tradutor: ver
especialmente: “O ódio ao Irã inventado pelo Ocidente serve ao sonho sionista
de uma Grande Israel dominando o Oriente Médio”, por Stuart Littlewood, 14 de
julho de 2019 em World Traditional Front.
Publicado originalmente em inglês
em American Herald Tribune, 25 de
junho de 2019.
[4]
Fonte usada pela edição do IHR: “The U.S. Invasion of Iraq: Not the Fault of
Israel and Its Supporters”, por Stephen Zunes, 3 de janeiro de 2006, editado
por John Gershman, Foreing Policy in
Focus.
Sobre o autor: Mark weber
é um historiador americano, escritor, palestrante e analista de questões
atuais. Ele estudou história na Universidade de Illinois (Chicago), na
Universidade de Munique (Alemanha), e na Portland State University. Ele possui
um mestrado em História Europeia da Universidade de Indiana. Desde 1995 ele tem
sido diretor do Institute for Historical Review, um centro independente de
publicações, educação e pesquisas de interesse público, no sul da Califórnia,
que trabalha para promover a paz, compreensão e justiça através de uma maior
consciência pública para com o passado.
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