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| Israel Shamir |
Muitos
elementos da guerra ucraniana não fazem sentido. Por que a Rússia avança para o
oeste tão lentamente? Por que não há ataques rápidos e decisivos, a favor ou
contra eles? Quais são os verdadeiros planos dos EUA e do Reino Unido? Os EUA
querem minar a Rússia? Encontrei-me com o Professor Z [RZ], residente na
Suécia, um homem de vasto aprendizado e profundo entendimento, para lhe fazer
estas perguntas. O Professor Z acredita que a guerra ucraniana só faz sentido
se presumirmos que se trata de uma guerra dos EUA contra a Europa pelo dólar
americano. Os EUA derrotam a Rússia com a Ucrânia e sangram a U.E. O Reino
Unido tenta sangrar tanto os EUA quanto a U.E. Por que fazem isso? Qual é o seu
propósito?
Prof.
RZ:
A questão mais importante é o destino do dólar americano. Especificamente,
trata-se de sua supremacia no cenário econômico mundial.
Essa supremacia, por si
só, gera uma receita de até um trilhão de dólares por ano para os EUA. E não se
trata apenas de dinheiro. O poderio militar dos EUA está intimamente ligado à
supremacia do dólar. O trilhão de dólares em senhoriagem que os EUA extraem do
mundo é gasto em grande parte na manutenção do complexo militar americano.
Não há como os EUA
deixarem o dólar cair para a segunda ou terceira posição entre as moedas
mundiais. Se isso acontecer, a maior parte dos dólares armazenados no exterior
(e são mais de 7 trilhões) retornará aos EUA como um tsunami. A inflação
dispararia e o padrão de vida cairia vertiginosamente. A tempestade política
resultante poderia facilmente destruir o país. Portanto, os EUA preferem ver o
mundo afundar a tolerar a decadência do dólar. Isso é especialmente verdade sob
o governo Trump.
Agora a questão é: quem
ameaça o dólar? A resposta usual é a China, pois é o único país com uma
economia grande o suficiente para superar a americana. Isso é verdade, mas no
comércio internacional, o yuan chinês ocupa apenas a quarta posição, com menos
de 5% de todos os pagamentos. Como parcela das reservas cambiais globais, o
yuan representa apenas 2%, enquanto o dólar americano representa 58%, quase 30
vezes mais! Isso torna o yuan uma ameaça potencial, mas não imediata, ao dólar.
No entanto, no comércio transfronteiriço chinês, o yuan ultrapassou recentemente
o dólar em termos de volume de comércio. Portanto, a ameaça chinesa ao dólar
está de fato crescendo.
Mas o euro representa
20% das reservas mundiais em moeda estrangeira. Esse quinto de todas as
reservas poderia ser estipulados em dólares. Assim, o euro “roubou” um quarto
da posição do dólar, dez vezes mais que o yuan. Isso é importante porque as
reservas mundiais em moeda estrangeira crescem tão ou mais rápido que a
economia mundial, exigindo mais moeda de reserva a cada ano. Emitir essa moeda
e enviá-la ao exterior para armazenamento como investimento ou em troca de
commodities produzidas no exterior é essencialmente... bem, uma operação de
impressão de dinheiro. Nada pode ser tão lucrativo quanto isso. Portanto, o
euro é atualmente a maior ameaça ao dólar. E, portanto, objetivamente, a U.E. é
o principal inimigo dos EUA.
Israel
Shamir: Mas antes do surgimento do euro, outras moedas
europeias desempenharam seu papel, como o marco alemão, o franco francês e
outras. Elas também serviram como reservas mundiais.
RZ:
Isso é verdade, mas a consolidação dessas moedas (e hoje, 20 países
substituíram suas moedas pelo euro, e espera-se que pelo menos mais 6 o façam
eventualmente) tornou o euro muito mais forte e mais desejável para
armazenamento de valor do que qualquer uma dessas moedas anteriores. Uma
possível exceção foi o marco alemão, mas a economia alemã era pequena demais
para competir seriamente com a dos EUA.
Israel
Shamir: Isso necessariamente torna a U.E. inimiga dos EUA?
Poderiam ser apenas concorrentes amigáveis, unidos por objetivos políticos e
militares comuns?
RZ:
Eles poderiam, e de fato eles têm sido. No passado, a U.E. e os EUA desfrutaram
de uma relação de cooperação. Em dezembro de 1999, quando o euro foi lançado, a
U.E. contava com forte apoio dos EUA. Bill Clinton era presidente e os EUA
registravam um superávit orçamentário, beneficiando-se do crescimento da U.E. A
Nova Agenda Transatlântica, prometendo uma cooperação mais estreita, foi
assinada em Madri em 1995. A OTAN estava se expandindo e, para isso, os EUA
precisavam do apoio da U.E.
Inicialmente, o euro
não parecia um concorrente sério para o dólar. Foi lançado a US$ 1,17, mas logo
caiu abaixo da paridade, subindo lentamente ao longo de vários anos. No
entanto, as coisas mudaram à medida que a U.E. crescia mais rápido que os EUA
e, em 2007, a economia da U.E. ultrapassou a dos EUA em termos nominais pela
primeira vez. Naquela época, a população da U.E. era de quase 500 milhões, em
comparação com cerca de 300 milhões nos EUA. A crise das hipotecas subprime
atingiu a economia dos EUA, reforçando a preeminência econômica da U.E. Em 18
de julho de 2008, o euro atingiu US$ 1,60.
Os banqueiros
americanos jamais esquecerão ou perdoarão aquele dia. O sentimento de superioridade
levou os líderes europeus a discutir a substituição do dólar por Direitos
Especiais de Saque (DES), compostos por 44% do dólar, 34% do euro e outras
moedas. Dominique Strauss-Kahn, diretor do FMI e potencial candidato à
presidência francesa, foi um dos principais proponentes.
Israel
Shamir: O infame DSK {Dominique Strauss-Kahn}!
RZ:
Sim, o mesmo. Em maio de 2011, ele foi preso em Nova York por acusações de
agressão sexual. Ele renunciou ao cargo no FMI e as acusações criminais foram
retiradas. Tenho certeza, sem conexão. Mas a ideia de substituir o dólar por
DES morreu, junto com as aspirações presidenciais de Strauss-Kahn.
O dólar sobreviveu, mas
os americanos perceberam: a U.E. não era uma amiga. As elites europeias
pareciam estar esperando que os EUA tropeçassem, ansiando pelo controle das
finanças internacionais. Desde então, a política dos EUA parece ter como
objetivo conter ou mesmo destruir a U.E. para impedi-la de alcançar a
supremacia.
Essa mudança de
política levou tempo. Inicialmente, quando as economias dos EUA e da U.E. eram
semelhantes em tamanho, falava-se em uma zona de livre comércio. As discussões
sobre a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) começaram em
2013, com o primeiro rascunho vazando em 2014. Enquanto isso, a economia dos
EUA se recuperou e cresceu mais rápido do que a da U.E.
Depois veio o Brexit.
Curiosamente, foi iniciado pelo Partido Conservador, no poder, cuja posição
oficial era a Permanência. O referendo foi consultivo, sem obrigação formal de
implementar seu resultado. Em junho de 2016, 52% votaram pela saída da U.E.,
dividindo o país. Inglaterra e País de Gales, com exceção de Londres, foram em
grande parte a favor do Brexit, enquanto Escócia e Irlanda do Norte votaram
pela Permanência. Em tal situação, se a elite britânica levasse a sério o
desejo de permanecer na U.E., teria muitas oportunidades para fazê-lo.
Lembra quando o governo
do Reino Unido não quis entregar Augusto Pinochet à ansiosa justiça espanhola?
Este último tinha todos os motivos legais para esperar sua rápida extradição,
mas isso nunca aconteceu. No entanto, com o Brexit foi diferente.
Apesar das
oportunidades de permanecer na U.E. e da mudança da opinião pública para a
permanência, o Brexit foi perseguido com teimosia. O Reino Unido deixou a U.E.
após 47 anos de adesão, encerrando duas gerações de identidade europeia
britânica.
Israel
Shamir: Isso necessariamente torna a U.E. inimiga dos EUA?
Poderiam ser apenas competidores amigáveis, unidos por objetivos políticos e
militares comuns?
RZ: Eles poderiam, e
eles têm sido. Quando o Brexit aconteceu, a U.E. ficou significativamente mais
fraca. A U.E. perdeu 80 milhões de pessoas. Mais importante ainda, sua economia
encolheu 17%, tornando-se novamente significativamente menor que a dos EUA. O
euro caiu para níveis anteriores em relação ao dólar. As negociações do TTIP
estagnaram e, quando Trump assumiu o poder em 2016, elas efetivamente
fracassaram. O TTIP foi concebido como um casamento entre iguais, mas os EUA foram
maiores uma vez mais.
Israel
Shamir: Desde então, rombo entre as economias da U.E. e
dos EUA só aumentou. Isso significa que os EUA finalmente venceram e que a U.E.
não é mais inimiga?
RZ:
Não é tão fácil assim. À primeira vista, o PIB nominal dos EUA dobrou desde
2008, enquanto o da U.E. aumentou apenas 30%. No entanto, de acordo com a
paridade do poder de compra (PPC), as duas economias ainda são praticamente
iguais em tamanho. Portanto, a ameaça da U.E. aos EUA ainda existe.
E há mais uma coisa que
me incomoda seriamente.
Israel
Shamir: O que seria isso?
RZ:
Eletricidade. Em geral, o consumo de eletricidade é considerado um bom
indicador do PIB produtivo de um país. Nos EUA, esses dois parâmetros se
acompanhavam de perto antes de 2008. Mas, desde então, a produção de eletricidade
per capita nos EUA tem declinado 8%. Como isso se encaixa com a duplicação
declarada do PIB no mesmo período? Ou com o fato de que hoje existem muitas
áreas consumidoras de eletricidade que não existiam (ou estavam em fase
inicial) naquela época? Isso inclui veículos elétricos, bombas de calor,
mineração de criptomoedas e IA devoradora de energia, para citar apenas
algumas.
Além disso, as
instalações de produção em 2008 não incluíam milhões de painéis solares
instalados em casas e fazendas solares, e os enormes moinhos de vento offshore
ainda não foram construídos. Então, como a produção total de eletricidade
poderia estagnar e a produção per capita diminuir se o PIB realmente dobrasse?
Esses cálculos nem sequer incluem os cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais
nos EUA, que também precisam consumir eletricidade.
Vamos ver mais de perto
o crescimento econômico dos EUA. Hoje, nós somos informados de que metade de
todo o investimento empresarial nos últimos 15 anos foi destinado a ferramentas
de aumento de produtividade, como software e equipamentos de processamento de
informações. Outras áreas importantes de crescimento incluíram a construção de
data centers e instalações de produção de baterias para veículos elétricos e
microchips de silício. E nenhuma delas consumiu eletricidade adicional? Isso é
inacreditável. A única explicação plausível parece ser que a
desindustrialização americana, que começou por volta de 2008, continua até
hoje. Aliás, a primeira presidência de Trump não alterou a tendência de queda.
Vejamos como as coisas
estão indo na Europa. Houve também um declínio na produção de eletricidade per capita, embora mais modesto – cerca
de 3%. Uma análise mais atenta, no entanto, oferece um panorama mais detalhado.
Na Alemanha, a força motriz da economia europeia, a produção de eletricidade
per capita caiu impressionantes 34% desde 2008. Portanto, o modesto declínio se
deve ao crescimento nos países menos desenvolvidos da U.E.
Talvez o declínio
alemão se deva ao fato de o país ter desativado suas usinas nucleares e agora
importa eletricidade do exterior? Mas o consumo de eletricidade per capita também caiu drasticamente –
em 19%.
Na vizinha França, a
segunda maior economia da U.E., o consumo per
capita caiu mais de 20%, enquanto a produção permaneceu estável. Até mesmo
na Polônia, a produção de eletricidade per
capita caiu 3% desde 2008. Um verdadeiro tigre econômico da Europa Central!
Ao mesmo tempo, na
Rússia, a produção de eletricidade per
capita aumentou de 35% a 40%, enquanto na China – 135%, sem sinais de
saturação em sua curva de crescimento.
Portanto, embora a
política dos EUA tenha conseguido estagnar e até mesmo contrair a economia real
da U.E., a contração nos EUA é ainda maior. Ao mesmo tempo, o segundo maior
concorrente dos EUA, a China, avança a todo vapor. Embora a China declare não
ter intenção de desafiar o dólar, em geopolítica, não é a intenção, mas a
capacidade que importa. Se a China estivesse em posição de derrubar o dólar
americano e, consequentemente, a economia americana, não precisaria fazê-lo
para obter superioridade global. Uma simples ameaça de tal ação tornaria os EUA
dóceis.
Essa situação deve ter
levado a uma séria reflexão entre a elite americana, em busca de uma solução
para esta crise. Caso contrário, os EUA se encontrarão em uma espiral econômica
mortal, tendo que incorrer em cada vez mais dívidas (quase três trilhões de
dólares para 2024) apenas para manter a economia à tona, enquanto projetam um
falso otimismo para o mundo exterior.
Israel
Shamir: Você acha que eles encontraram essa solução?
Aliás, por que você não nomeou a Rússia entre os maiores inimigos dos Estados
Unidos? O público americano costuma chamá-la de inimiga número 1.
RZ:
Eu acho isso enganoso. A animosidade entre os EUA e a Rússia parece exagerada.
As duas superpotências têm um longo histórico de unir forças contra um inimigo
comum. Fizeram isso tanto formalmente durante a Segunda Guerra Mundial quanto
informalmente durante a Crise de Suez, em 1956. Essa ação conjunta quebrou a
espinha dorsal dos impérios francês e britânico. Os EUA e a Rússia ainda agem
juntos, mesmo que isso não seja tão visível.
Israel
Shamir: Quem é o inimigo comum deles agora?
RZ:
A U.E., o Reino Unido e a China.
Israel
Shamir: Eu entendo por que a U.E., mas por que o Reino
Unido é um inimigo americano?
RZ:
Porque nunca deixou de sê-lo verdadeiramente desde a Revolução Americana. O
domínio britânico sobre a política americana ainda é muito forte. Ao longo dos
anos, os americanos reagiram desmantelando, junto com os russos, o Império
Britânico e se libertando gradualmente daquela sufocante “amizade” britânica.
Eles sabem muito bem que, enquanto a monarquia britânica estiver viva e bem, a
ameaça aos EUA sempre existirá. Então, eles tacitamente fazem tudo o que podem
para enfraquecer a monarquia britânica.
A propósito, como uma
monarquia pode ser uma democracia ao mesmo tempo? Isso só faz sentido em filmes
de Star Wars...
De qualquer forma,
antes do Brexit, os americanos pareciam ter prometido aos britânicos um acordo
muito lucrativo: eles deveriam sair da U.E. e, em troca, os EUA assinariam um
acordo de livre comércio com eles. O Reino Unido imaginou como desempenharia um
papel semelhante ao de Hong Kong em relação à União Europeia, colhendo
benefícios de ambos os lados do Atlântico. No entanto, quando se tratou de
negociações concretas após o Brexit, os americanos apresentaram exigências que
os britânicos simplesmente não puderam aceitar.
Israel
Shamir: Que tipo de exigências?
RZ:
Por exemplo, todo o setor agrícola, que é a principal fonte de receita de
exportação do Reino Unido, estaria sujeito à lei americana que permite OGM. Na
prática, isso impediria sua exportação para a U.E. e, essencialmente,
eliminaria a agricultura como uma importante indústria britânica. Sem um acordo
assinado com os EUA, e com os laços com a U.E. se enfraquecendo a cada dia, o
Reino Unido agora se mantém em um desespero silencioso. Graças ao Pink Floyd,
sabemos que esse é o jeito inglês. Que triste... Poderia ser um ótimo país.
Sem um acordo com um
grande parceiro — seja a U.E., os EUA, a Rússia ou a China — o Reino Unido está
condenado. É por isso que eles fazem de tudo para dificultar a vida dos EUA no
cenário internacional. O objetivo britânico é induzir os EUA a voltarem à mesa
de negociações.
Israel
Shamir: Quais são as suas moedas de troca?
RZ:
Há muitas. Uma delas é a guerra na Ucrânia. O Reino Unido pôs em risco todas as
tentativas de acordo. Outra moeda de troca é o controle britânico sobre os
Estados Bálticos, informalmente conhecidos como Tribálticos, bem como sobre as
monarquias regionais da Suécia e da Dinamarca. Inclua a Holanda, se quiser. O
Reino Unido os pressiona a iniciar uma guerra com a Rússia, sabendo muito bem
que isso não é do interesse americano.
Eles também tentam
desempenhar um papel na política interna. Lembram-se do dossiê russo sobre
Trump? Foi compilado por Christopher Steele, um ex-oficial (se é que tal coisa
existe) do MI6. Imaginem se Steele tivesse sido um ex-agente da KGB. A Rússia
teria sido culpada e sancionada como se não houvesse amanhã. Mas os britânicos
escaparam impunes. Ou será que escaparam? Uma guerra entre a antiga metrópole e
a colônia costuma ser invisível.
Ah, não, deixem-me
corrigir. Os britânicos têm sido bastante expressivos sobre seus planos de
mudança de regime nos EUA. O diretor inglês Alex Garland criou um filme de 2024
chamado Guerra Civil que deixou
muitos críticos americanos perplexos. É impressionante. Lembram-se de que
Bones, o ex-pirata em Treasure Island,
de Stevenson, recebeu uma “mancha negra”, que era um veredicto pirata de
julgamento? Parece que Guerra Civil é
uma mancha negra entregue por piratas ingleses da City de Londres ao que eles
podem considerar gangsters irlandeses da Casa Branca, em Washington, D.C.
Os protagonistas do
filme são jornalistas britânicos. Tecnicamente, são cidadãos americanos, mas
trabalham para a agência de notícias Reuters,
sediada em Londres. A ligação entre jornalistas britânicos e serviços secretos
é bem documentada. Esses agentes, presumivelmente britânicos, atravessam os EUA
para “entrevistar” o controverso presidente entrincheirado na Casa Branca. Em
determinado momento, o grupo para em um posto de gasolina e pede a caipiras
armados que ocupam o posto que encham metade do tanque de seu veículo,
oferecendo US$ 300. Por esse valor, diz um caipira com desdém, você pode
escolher: queijo ou presunto. Isso é mais do que uma dica sutil de que US$ 300
não compram nada além de um sanduíche.
“300 dólares canadenses”,
diz uma jornalista afirmativamente, e os caipiras se curvam em respeito.
Para piorar a situação,
quando os “jornalistas” chegam a Washington, DC, juntam-se aos rebeldes que os
protegem com seus corpos de balas voadoras. Isso deixa claro, até para os
espectadores mais obtusos, que os “jornalistas” estão do lado dos rebeldes.
Então, os “jornalistas” entram primeiro na Casa Branca. A gangue de rebeldes
que os segue (!) executa o presidente dos EUA, que se parece bastante com
Donald Trump.
Com filmes como esse,
não é necessária uma declaração formal de guerra — contra o dólar americano, a
presidência dos EUA e os EUA como país.
Israel
Shamir: Você mencionou a Rússia como um potencial grande
parceiro do Reino Unido. Mas os britânicos não odeiam os russos?
RZ:
Eu li sua coluna sobre esse assunto. Ela é bem elaborada e bem argumentada, mas
eu daria uma folga aos britânicos nesse assunto. A nação é egocêntrica e duvido
que eles sejam capazes de realmente odiar — ou amar — qualquer outra nação pelo
que ela é. Eles gostam de alemães? Franceses? Irlandeses, pelo amor de Deus? A
atitude deles é determinada pela situação política atual e pelos interesses
britânicos, que, como disse Lord Palmerston, são eternos e perpétuos.
Lembre-se do século XX.
No início, os impérios russo e britânico estavam em um impasse em um Grande
Jogo. Assim, os russos foram vendidos ao público britânico como inimigos
perpétuos. Mas em 1914, os dois países se tornaram aliados na Primeira Guerra
Mundial. Isso transformou os russos em amigos perpétuos dos britânicos. A
Revolução Russa de 1917 tornou os russos inimigos perpétuos novamente. No
entanto, em 1941, eles se tornaram amigos perpétuos novamente. Mas não por
muito tempo — a Guerra Fria os devolveu ao status de inimigos perpétuos. Essa
frequente mudança de opinião inspirou George Orwell a escrever o livro 1984. Seu slogan “Guerra é Paz” previu a
declaração de “bombardeio humanitário” pelo chefe de imprensa da OTAN, Jamie
Shea, em 2002, durante a guerra do Kosovo. Verdadeiramente, se Deus Todo-Poderoso
decidir nos punir, não será tanto por nossos pecados, mas por nossa hipocrisia.
A guerra do Kosovo não
acabou de fato, e alguns dizem que qualquer paz duradoura na Europa incluirá a
devolução do Kosovo à Sérvia.
Israel
Shamir: Mas agora a guerra na Ucrânia tornou o
relacionamento entre o Reino Unido e a Rússia o pior de todos os tempos, não é?
RZ:
Bem, sim, mas menos por causa do que a Rússia fez à Ucrânia do que pelo que os
EUA fizeram ao Reino Unido. No início da guerra, os EUA concordaram relutantemente
que a Rússia pudesse assumir o controle da Ucrânia. Eles transferiram sua
embaixada de Kiev para Lvov e depois para o lado polonês da fronteira,
incentivando todas as embaixadas ocidentais a fazerem o mesmo.
Surpreendentemente, quando os russos tomaram (sem sucesso) o aeroporto Antonov
em Hostomel, perto de Kiev, na manhã da invasão, a equipe da CNN estava praticamente integrada às
suas forças especiais. Matthew Chance entrevistou o comandante russo e filmou o
tiroteio com os ucranianos sem interferência. De que lado você acha que os EUA
estavam naquele dia?
Mas então o Reino Unido
decidiu interferir e interromper o plano americano para uma rápida vitória
russa. Rapidamente tomou a iniciativa e forneceu aos ucranianos dois bilhões de
dólares em equipamento militar, enquanto os “aconselhava fortemente” a não
assinarem nenhum tratado de paz com Putin. A guerra se arrastou.
Relutantemente, os americanos tiveram que fingir que fornecer equipamento
militar à Ucrânia também era seu objetivo. Para liderar o processo e evitar que
ele saísse do controle, eles criaram as reuniões de Ramstein. Retórica à parte,
o apoio americano à Ucrânia sempre foi escasso e muito abaixo das necessidades
reais. Agora, como todos sabem, os americanos abandonaram até mesmo o objetivo retórico
da vitória ucraniana. Eles estão tentando convencer os ucranianos a aceitar
perdas territoriais, o que sempre disseram que seria uma vitória russa.
Israel
Shamir: Por que os EUA estão fazendo isso?
RZ:
Definitivamente não por amor à Rússia! Mas porque tal linha de ação atende aos
seus objetivos. Prejudica e enfraquece a U.E., especialmente a Alemanha, cuja
prosperidade do pós-guerra foi construída com recursos russos baratos. Além
disso, os EUA temem uma derrota russa, pois isso certamente levaria a uma
turbulência interna significativa e até mesmo à desintegração do país.
Além do risco de armas
nucleares caírem em mãos erradas, se isso acontecer, a U.E. não terá mais um
forte contrapeso no continente eurasiano. Com exceção da China, é claro, mas ela
está muito distante da Europa. Assim, os europeus não precisarão mais dos
americanos para protegê-los. Ou pagar por essa proteção. A U.E. se expandirá
enormemente, absorvendo Ucrânia, Bielorrússia, Moldávia, Geórgia e Armênia.
Curiosamente, estes dois últimos países foram transferidos desde 1990 por
geógrafos políticos da Ásia — onde pertenceram por quase três séculos — para a
Europa. Essa mudança permite que a U.E. os reivindique como parte da Europa.
A parte ocidental da
Rússia também pode aderir à U.E. Pensando bem, isso é improvável, pois o russo
se tornaria uma das línguas oficiais da U.E. A elite dominante em alguns países
do Leste Europeu, que tenta (em grande parte sem sucesso) assimilar sua minoria
de língua russa, não aceitaria isso.
Mas, no geral, a União
Europeia poderia ganhar até 100 milhões de pessoas e 2 a 3 trilhões em PIB
anual, o que tornaria sua economia novamente maior que a dos EUA.
É um cenário de
pesadelo para os americanos, e eles jamais permitirão que isso se concretize.
Israel
Shamir: Você acredita seriamente que os EUA querem uma
vitória russa?
RZ:
Bem, sim, em algum sentido significativo. Veja bem, o acordo fundamental entre
os dois países parece ser que os EUA abandonarão a Europa e a deixarão para a
Rússia explorar e proteger. Em troca, a Rússia não formará uma aliança militar
com a China. Mas simplesmente entregar a Europa à Rússia não é viável. Putin
precisa conquistar esse privilégio em uma guerra, e a vitória deve parecer real
vista de fora. É uma luta armada onde o campeão é predeterminado; no entanto,
ele ainda precisa mostrar força e coragem para convencer o público de que o
título foi conquistado em uma batalha justa. Seu nariz precisa ser sangrado —
talvez mais de uma vez — mas, no final, ele deve prevalecer. Assim, os EUA
fingem ajudar a Ucrânia o máximo que podem, enquanto, na verdade, sua
assistência fragmentada serve apenas para atrasar a vitória russa e torná-la
mais palatável para os europeus.
A opinião pública na
Europa Ocidental é monitorada de perto pelos EUA e, inicialmente, era
fortemente pró-Ucrânia. Isso tornou uma vitória russa rápida inviável e até
mesmo indesejável. Se isso acontecesse, muitos países da U.E. exigiriam a
interferência direta da OTAN ao lado da Ucrânia. Agora, a maioria da população
desses países está cansada da guerra e quer negociações de paz, o que
significa, em termos concretos, a derrota da Ucrânia.
Israel
Shamir: Mas os americanos forneceram aos ucranianos
sistemas de armas avançados, como HIMARS, ATACMS, tanques M1 Abrams e aviões
F-16 — sistemas que a Rússia temia e dizia que cruzavam seus limites.
RZ:
Claro que sim, não é? E isso parecia real, certo? Mas o fato é que esses novos
sistemas de armas americanos foram entregues à Ucrânia somente quando os russos
estavam mais ou menos prontos para isso. Esses sistemas não mudaram nada no
campo de batalha e não representam desafios sérios ao governo de Putin ou às
forças armadas russas.
Ainda não está
convencido? Então, lembre-se dos dias do golpe de Prigozhin no verão de 2023.
Naquela época, os EUA tiveram que mostrar sua verdadeira face, expressando
relutantemente, mas publicamente, apoio ao governo de Putin. Isso consternou e
espantou figuras da oposição russa como Khodorkovsky, que parece inteligente,
mas aparentemente não consegue enxergar o óbvio.
Israel
Shamir: O que, na sua opinião, acontecerá com a OTAN?
RZ:
Eventualmente, a OTAN será descartada e jogada fora pelos EUA como uma garrafa
de refrigerante vazia. Sejamos realistas: a única missão da OTAN é, e sempre
foi, conter a Rússia, com guerra contra ela, se necessário. No entanto, o Carta
da OTAN limita sua atividade ao Atlântico Norte. Mesmo a parte sul do oceano,
como as Maldivas, está fora do escopo da OTAN. Portanto, a OTAN é inútil para
operações no Oceano Pacífico, que são de suma importância para os EUA. Quando
os EUA deixarem a OTAN, o que restar entrará em colapso sob seu próprio peso,
como aconteceu no Afeganistão, quando as tropas americanas de Biden se
retiraram. As tropas restantes da OTAN não tinham vontade nem coragem de
permanecer e lutar.
Israel
Shamir: Mas a OTAN expandiu-se recentemente, incluindo a
Finlândia e a Suécia. É evidente que os EUA estavam por trás dessa expansão.
Qual era o seu propósito se, como você diz, os EUA estão prestes a deixar a
OTAN?
RZ:
O objetivo era criar uma aliança puramente europeia que resistisse ao domínio
russo pelo maior tempo possível após a saída dos EUA da Europa. Isso é
semelhante ao que os americanos tentaram negociar com o governo afegão antes de
se retirarem. A esperança era que ela se mantivesse estável, o que acabou se
revelando uma ilusão. O mesmo se aplica à Europa. A ausência americana da
Europa está prevista para ser temporária, e os EUA querem retornar assim que tiverem
lidado com a China.
Enquanto isso,
acredita-se que a expansão russa na Europa esteja sendo contida pela OTAN,
sediada na U.E. É por isso que Trump quer que os governos da U.E. aumentem seus
gastos militares para 5% do PIB. Mas, para a Alemanha, por exemplo, isso
significaria que quase metade do orçamento público seria destinado à
Bundeswehr. É altamente improvável que qualquer partido político ou coalizão
sobreviva após propor tal orçamento no Bundestag.
Israel
Shamir: Você ficou surpreso com a adesão da Suécia e da
Finlândia à OTAN?
RZ:
Na verdade, fiquei, mas mais pela rapidez do que pelo fato em si. Antes de
1995, a Suécia tinha uma constituição que, em uma única frase, proibia alianças
militares em caso de guerra. Isso se deveu à amarga experiência da Suécia ao
assinar um tratado de defesa mútua com o Reino Unido em 1805, como parte da
coalizão antinapoleônica. Mas quando a Rússia — então aliada da França —
invadiu a Finlândia em 1808, o Reino Unido não cumpriu o tratado. Como
resultado, a Suécia teve que ceder toda a parte oriental de seu território à Rússia.
Isso levou a uma significativa turbulência política e a um profundo
questionamento. Os suecos não confiavam mais em outros países para sua própria
defesa.
Mas isso mudou quando a
Suécia aderiu à U.E. A cláusula de uma frase na constituição foi substituída
por um jargão jurídico de 15 linhas que não proibia nada. Portanto, a decisão
de aderir à OTAN deve ter sido tomada por volta dessa época ou antes. No
entanto, acredito que deve haver argumentos muito fortes para explicar por que
a Suécia e a Finlândia, comprovadamente em conjunto, embarcaram no navio da
OTAN no meio de uma guerra violenta, colocando claramente em risco sua própria
segurança.
Israel
Shamir: Quais argumentos?
RZ:
Por exemplo, Petsamo, que é Pechenga em russo. É uma área no norte da península
escandinava que, entre 1920 e 1944, pertenceu à Finlândia. Uma faixa de terra
de talvez 50 por 150 km, com uma mina de níquel e um porto no ártico. A mina de
níquel é bastante importante; durante a Segunda Guerra Mundial, foi a única
fonte desse metal estratégico para todo o Reich nazista. O minério era extraído
lá e transportado por terra para os portos suecos e finlandeses do Báltico, bem
como por navio pela Noruega. A mina ainda é de grande interesse, mas não tanto
quanto o pedaço da costa ártica, que concede direitos sobre milhares de
quilômetros quadrados de plataforma ártica rica em gás e petróleo.
Como nem a Finlândia
nem a Suécia possuem depósitos de combustíveis fósseis atualmente, elas estão
olhando para essas riquezas potenciais com inveja (invejando, é claro, seus
vizinhos noruegueses). No entanto, a aquisição de Petsamo só é possível se a
Rússia for derrotada em uma guerra e tiver que ceder terras aos vencedores.
Isso é o que provavelmente foi prometido à Finlândia e à Suécia em 2022, quando
tal resultado parecia plausível para muitos observadores.
Essa hipótese — eu a
chamo de teoria de Petsamo — era um palpite maluco em que ninguém acreditaria.
Até recentemente, quando Trump exigiu a Groenlândia e o Canadá para os EUA.
Agora, essa hipótese é muito mais provável.
Embora aderir a um
pacto militar claramente direcionado contra um país definido (como a OTAN
contra a Rússia) não seja considerado um ato de agressão direta pelo direito
internacional, uma visão mais sutil é que isso ainda mina a ordem internacional
e aumenta a probabilidade de guerra. Portanto, a Suécia e a Finlândia agiram de
forma imprudente.
Israel
Shamir: O que Petsamo tem a ver com a Groenlândia?
RZ:
Ambas fornecem acesso à plataforma ártica, mas é claro que a Groenlândia
oferece muito mais. O Ártico possui os únicos depósitos inexplorados de
petróleo e gás, que ainda são insubstituíveis como fontes de energia. Apesar de
todas as negociações sobre energia verde e dos incontáveis bilhões investidos
na construção de energia solar e eólica, a produção e o consumo globais de
combustíveis fósseis continuam a crescer. Com a chegada de Trump ao poder, esse
consumo só tende a acelerar. Partidos de direita na Europa também estão céticos
em relação ao Acordo Verde. A AfD na Alemanha promete derrubar todos os moinhos
de vento feios — e todos são feios. Mas o pico do petróleo é real; os campos de
petróleo mais produtivos estão próximos da exaustão. O maior campo de petróleo
convencional do mundo, Ghawar, na Arábia Saudita, está em declínio. Isso
significa que — se você quer mais energia, perfure, querida, perfure. Mas onde
perfurar? O Ártico é a única esperança restante para encontrar depósitos em
grande escala.
Israel
Shamir: Então você acha que Trump está falando sério sobre
a anexação da Groenlândia?
RZ:
E do Canadá também. Muito sério. Quando isso for feito, os EUA terão mais da
metade da plataforma ártica, seguidos de perto pela Rússia. Esses dois países
terão mais de 90% do total, com a parte restante, muito menor, sendo em grande
parte norueguesa. No entanto, a ressalva é que, sem a aprovação explícita ou
implícita da Rússia, os EUA não poderiam pensar em anexar nenhum desses dois
países. Isso porque tal movimento claramente não é do interesse da China. A
China é muito poderosa militarmente, mas está muito longe da região e, sem a
Rússia, não poderá interferir.
Portanto, o acordo é,
até onde podemos ver hoje, que a Rússia toma a Ucrânia e projete sua sombra
sobre toda a Europa, especialmente suas partes oriental e central, enquanto os
EUA tomam o Canadá e a Groenlândia e, mais uma vez, governam ambos os
continentes americanos. As doutrinas Monroe e Brezhnev estão renascendo — com
força total.
Israel
Shamir: Por que isso está acontecendo agora? É apenas uma
escassez de energia?
RZ:
Não só. O problema geral da economia mundial é a superprodução de capital.
Simplesmente não existem grandes áreas econômicas onde se possa investir
lucrativamente, deduzindo despesas, riscos e inflação. Muitas nações se
tornaram capitalistas, com suas populações ganhando mais do que consomem. A
diferença — capital ávido por ser investido — cresce a cada dia. O planeta já
está quase totalmente globalizado, e nenhum lucro significativo pode ser
esperado de uma globalização ainda maior.
Esta não é a primeira
vez que tal situação surge, e a história oferece várias saídas para uma
economia dominante: uma guerra global, hiperinflação e expansão territorial.
Para ser uma solução eficaz, uma guerra global como a Segunda Guerra Mundial
precisaria destruir uma fração significativa do capital global — digamos, 20% a
30%. Conflitos regionais, como o entre a Ucrânia e a Rússia, são pequenos
demais para tal propósito. Apenas queimar metade da Europa — digamos, de Moscou
a Berlim ou Paris — seria suficiente. Mas uma guerra como essa hoje se tornaria
nuclear muito rapidamente e sairia do controle.
O mesmo se aplica à
hiperinflação; embora destrua efetivamente o capital, também prejudica a classe
dominante, abrindo caminho para revoluções com consequências pouco claras —
como na Alemanha dos anos 1930. Também vemos como a pandemia de COVID, seja
natural ou artificial, levou a um pico de inflação que, em última análise,
resultou em mudanças na elite — principalmente nos EUA.
Israel
Shamir: Então, o que resta é a expansão territorial?
RZ:
Exatamente. O único problema é que anexar o Canadá e a Groenlândia pode não ser
suficiente para os EUA saírem da espiral econômica da morte. Em termos
populacionais, o Canadá é pequeno (menos de 40 milhões), enquanto a Groenlândia
é minúscula (cerca de 50.000). Igualmente importante, o Canadá já é muito bem
desenvolvido, o que significa que não há oportunidade para investimentos
massivos de empresas americanas fora dos campos de gás e petróleo. Embora a
anexação impulsione o dólar e a economia americana, ela não resolverá o
problema.
Israel
Shamir: O que pode ajudar?
RZ:
Indo para o sul. Fundindo os Estados Unidos da América com os Estados Unidos do
México. Isso adicionaria 130 milhões de pessoas, além de oportunidades
ilimitadas de investimento — em infraestrutura, imóveis, turismo e assim por
diante.
Israel
Shamir: Mas Trump é ferozmente contra a imigração
mexicana!
RZ:
E com razão. Absorver a população mexicana sem anexar território mexicano faz
pouco sentido. É quase como, em vez de comprar a casa do seu vizinho e expandir
a sua propriedade, trazer a família do seu vizinho para a sua própria casa.
Israel
Shamir: Mas anexar o México mudaria enormemente a
demografia dos EUA e alteraria para sempre o caráter desta nação. O espanhol
substituirá o inglês?
RZ:
Eu acho que não, embora o espanhol provavelmente se torne tão amplamente usado
nos EUA quanto o inglês. Concordo que essa fusão mudará a demografia e o
caráter nacional dos EUA. No entanto, essas mudanças ocorrem até hoje, mas de
forma mais lenta. A anexação total será uma medida preventiva, permitindo que a
elite americana controle os processos que estão acontecendo espontaneamente.
Israel
Shamir: A China não poderia interferir nesses planos
expansionistas? Eles não podem ser a favor da expansão dos EUA, mesmo que isso
provavelmente signifique que eles poderiam anexar Taiwan com segurança quando
ninguém estivesse olhando.
RZ:
China... sim, eles não ficarão felizes. Mas sem a Rússia, eles não podem fazer
muito a respeito, e a Rússia parece já ter fechado um acordo com os EUA.
Israel
Shamir: Mas a China está ajudando muito a Rússia na guerra
com a Ucrânia, e sem essa ajuda, a situação na Rússia teria sido muito mais
terrível! Como Putin pôde trair um amigo?
RZ:
Bem, sim, os chineses estão ajudando, mas, do ponto de vista russo, o faziam
principalmente por interesse próprio. Além disso, a ajuda é bastante limitada —
certamente muito menos extensa do que a ajuda ocidental à Ucrânia. Veja bem, os
russos não confiam nos chineses. Da perspectiva deles, a China é culpada de
grande traição, uma traição, o que aos olhos russos é o pior pecado.
Israel
Shamir: Você quer dizer, década de 1960?
RZ:
Sim. Após a morte de Stalin e no início da década de 1960, o campo socialista
global liderado pela URSS estava em ascensão e parecia imparável. Mas Mao se
recusou a condenar o culto à personalidade de Stalin e preferiu romper com a
Rússia para manter seu próprio culto.
No início da década de
1970, quando Kissinger e depois Nixon foram para Pequim, os chineses fizeram um
acordo com o diabo. Venderam sua alma comunista pelas riquezas prometidas pelo
acesso ilimitado ao mercado americano. O diabo cumpriu sua parte do acordo por
50 anos, e os chineses levaram mais de 30 anos para realmente começar a tirar
proveito disso. Enquanto isso, o campo socialista liderado pela URSS perdeu uma
parte significativa do Terceiro Mundo, à medida que alguns países populosos se
voltaram para o maoísmo e se recusaram a negociar com a URSS. No final, quando
o Ocidente abandonou o sistema de Bretton Woods e introduziu a moeda fiduciária
com um teto de dívida ilimitado, a URSS perdeu a competição global com o
Ocidente e entrou em colapso.
Da perspectiva do
Kremlin, apesar de todos os erros cometidos, o colapso da União Soviética foi
predeterminado pela China renegada. Agora que o diabo exige dos chineses um
quilo de carne, os russos acham divertido que eles recorram a Moscou em busca
de apoio. Chegar a um acordo com os EUA pelas costas da China seria, da
perspectiva russa, uma resposta adequada à traição chinesa anterior.
Por último, mas não
menos importante (e odeio dizer isso, mas é verdade), a elite russa está muito
mais próxima culturalmente, mentalmente e, lamento mencionar, racialmente, da
elite ocidental do que de quem governa a China hoje.
Israel
Shamir: Então, qual é a sua previsão para 2025?
RZ:
Há muito tempo, eu previ que os ucranianos só aceitariam a derrota quando o
rublo russo se tornasse mais valioso que a hryvnia. Quando a moeda ucraniana
foi introduzida em 1996, era negociada na proporção de 1:6 em relação ao rublo.
Mas cada novo Maidan retirava algum valor da hryvnia. Hoje, ela está em 1:2,4 —
ainda longe da paridade. O menor valor que essa proporção atingiu foi em
setembro de 2022, em 1:1,5. Foi quando quase todos pensavam que a Rússia havia
perdido sua chance de vitória, enquanto eu a via a caminho do sucesso. O oposto
é verdadeiro — a mudança na proporção UHR:RUB desde agosto de 2024 me diz que a
guerra está longe de terminar.
Outra previsão é que
Zelenskiy será tratado não pelos russos, mas pelos próprios ucranianos. Isso
parece ser muito importante para, mais uma vez, enterrar a animosidade e o
ressentimento entre as duas nações irmãs. Lembre-se de que Stepan Bandera — o
mais notório nacionalista ucraniano e criminoso da Segunda Guerra Mundial — foi
morto por Bohdan Stashynsky, um ucraniano de Lvov. Outro personagem semelhante,
Roman-Taras Shukhevych, foi caçado sob a liderança de Pavel Sudoplatov — outro
ucraniano étnico.
A terceira previsão é
que, infelizmente, a conclusão da guerra na Ucrânia não será tranquila.
Provavelmente envolverá ações militares no Báltico. Isso porque a elite dos
países vizinhos sabe muito bem o preço que pagará por alimentar a guerra na
Ucrânia se Putin vencer. Mark Rutte, o atual Secretário-Geral da OTAN, disse
que, se isso acontecer, eles (a elite) terão que aprender a língua russa.
Embora isso possa soar como uma tortura horrível e desumana, eu temo que a
realidade seja ainda mais dramática. Como seus netos tendo que estudar em
Moscou ou São Petersburgo.
Em um tom mais sério,
há um aumento sem precedentes na retórica antirrussa nessa área, e algumas
medidas estão sendo anunciadas claramente com o objetivo de preparar a população
para a guerra com a Rússia. Isso me preocupa muito.
Israel
Shamir: Como você acha que esta guerra do Báltico
terminará?
RZ:
Provavelmente, da mesma forma que a maioria das guerras anteriores na região.
Os EUA não apoiarão esses países da OTAN e, sem isso, eles não conseguirão
lutar por muito tempo. Então, haverá um inferno para esses países pagarem por
sua estupidez. Eu gostaria muito que Gotland permanecesse sueca e Bornholm
dinamarquesa, mas ambos os países devem ser muito cautelosos nesta situação.
Israel
Shamir: Qual é o seu conselho para os leitores?
RZ:
Estejam preparados. As coisas podem correr bem, mas, francamente, isso seria um
milagre. A situação pode se deteriorar rapidamente e então será tarde demais
para reagir. Imagine que estamos em 1938 e faltam apenas alguns meses para que
o caos se instale na Europa.
O que você faria se
soubesse? Meu conselho é: faça agora.
(Escrito com a ajuda e
editado por Paul Bennett)
Tradução por Dignus {academic auctor pseudonym - studeo
liber ad collegium}
Revisão por Mykel Alexander
Fonte: Unravelling
the Mystery of War, por RZ e Israel Shamir, 18 de janeiro de 2025, The Unz Review – Na Alternative Media
Selection.
https://www.unz.com/ishamir/unravelling-the-mystery-of-war/
Sobre os autores:
Sobre o autor: Israel
Shamir (1947-) é um internacionalmente aclamado pensador político e espiritual,
colunista da internet e escritor. Nativo de Novosibirsk, Sibéria, moveu-se para
Israel em 1969, servindo como paraquedista do exército e lutou na guerra de
1973. Após a guerra ele tornou-se jornalista e escritor. Em 1975 Shamir
juntou-se a BBC e se mudou para Londres. Em 1977-1979 ele viveu no Japão. Após
voltar para Israel em 1980 Shamir escreveu para o jornal Haaretz e
foi porta-voz do Partido Socialista Israelense (Mapam). Sua carreira literária
é muito elogiada por suas próprias obras assim como por suas traduções. Vive em
Jaffa (Israel) e passa muito tempo em Moscou (Rússia) e Estocolmo (Suécia); é
pai de três filhos.
RZ: É um professor,
cuja identidade foi preservada em anonimato, então residente na Suécia.
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Relacionado, leia também:
{OTAN x Rússia 2024} - Rússia depois da vitória de Trump - por Israel Shamir
Neoconservadores, Ucrânia, Rússia e a luta ocidental pela hegemonia global - por Kevin MacDonald
Os Neoconservadores versus a Rússia - Por Kevin MacDonald
Sobre a restauração tradicional russa ver:
{Retrospectiva Rússia 2011} – Dissidentes judeus miram Putin - por Daniel W. Michaels
{Retrospectiva 2014} – Ucrânia: o fim da guerra fria que jamais aconteceu - Por Alain de Benoist
Aleksandr Solzhenitsyn, Ucrânia e os Neoconservadores - Por Boyd T. Cathey
Crepúsculo dos Oligarcas {judeus da Rússia}? - Por Andrew Joyce {academic auctor pseudonym}
Sobre a Guerra russo-ucraniana ver:
Quem Causou a Guerra da Ucrânia? - por John J. Mearsheimer
{Retrospectiva Guerra OTAN/Ucrania x Rússia} - Destinada a perder – A contraofensiva da Ucrânia em 2023 - primeira parte - por John J. Mearsheimer (segunda parte na sequência do próprio artigo)
{Retrospectiva 2023 – EUA, OTAN e Rússia no conflito na Ucrânia} – O mundo é seu - por Israel Shamir
{Retrospectiva 2023} - A escuridão à frente: para onde se encaminha a guerra na Ucrânia - primeira parte - resumo até junho de 2023 - por John J. Mearsheimer (segunda parte na sequência do próprio artigo)
{Retrospectiva 2023} - Guerra e Propaganda no Conflito Rússia-Ucrânia - por Ron Keeva Unz
{Retrospectiva 2023 – guerra na Ucrânia} – Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: Na Ucrânia
{Retrospectiva conflito na Ucrânia – 2014-2022} - parte 1 - por Eric Margolis (demais partes na sequência do próprio artigo)
{Retrospectiva 2022 – conflito na Ucrânia} Para entender a guerra - por Israel Shamir
{Retrospectiva 2022 – maio e início da penúria europeia} Guerra da Ucrânia - Por Israel Shamir
{Retrospectiva 2022 – Guerra Ucrânia/OTAN x Rússia} - É possível realmente saber o que aconteceu e está acontecendo na Ucrânia? – parte 1 - por Boyd D. Cathey e demais partes por Jacques Baud (ex-funcionário da ONU e OTAN)
John Mearsheimer, Ucrânia e a política subterrânea global - por Boyd D. Cathey
Retrospectiva 2022 sobre a crise na Ucrania - por John J. Mearsheimer
Como os Estados Unidos Provocaram a Crise na Ucrânia - por Boyd d. Cathey
{Retrospectiva 2014} – Ucrânia: o fim da guerra fria que jamais aconteceu - Por Alain de Benoist
Aleksandr Solzhenitsyn, Ucrânia e os Neoconservadores - Por Boyd T. Cathey
A Guerra de Putin - por Gilad Atzmon
{Retrospectiva 2014} O triunfo de Putin - O Gambito da Crimeia - Por Israel Shamir
{Retrospectiva 2014} A Revolução Marrom na Ucrânia - Por Israel Shamir
Sobre a influência do judaico bolchevismo (comunismo-marxista) na Rússia ver:
Revisitando os Pogroms {alegados massacres de judeus} Russos do Século XIX, Parte 1: A Questão Judaica da Rússia - Por Andrew Joyce {academic auctor pseudonym}. Parte 1 de 3, as demais na sequência do próprio artigo.
Os destruidores - Comunismo {judaico-bolchevismo} e seus frutos - por Winston Churchill
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Wall Street & a Revolução Russa de março de 1917 – por Kerry Bolton
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{Retrospectiva Ucrânia - 2014} Nacionalistas, Judeus e a Crise Ucraniana: Algumas Perspectivas Históricas - Por Andrew Joyce, PhD {academic auctor pseudonym}
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