Ron Keeva Unz |
Israel Shahak e o Oriente
Médio
Há
cerca de uma década, aconteceu de eu estar conversando um eminente acadêmico
que se tornou conhecido pelas suas críticas contundentes às políticas israelenses
no Oriente Médio e pelo forte apoio que a América lhes dá. Eu mencionei que eu
mesmo havia chegado a conclusões muito semelhantes algum tempo antes, e ele
perguntou quando isso aconteceu. Eu disse a ele que isso tinha acontecido em
1982, e acho que ele achou minha resposta bastante surpreendente. Eu tive a
sensação de que a data era décadas anterior à que teria sido dada por quase
qualquer pessoa que ele conhecesse.
Algumas
vezes é bastante difícil identificar quando a visão do mundo sobre um tema
controverso sofre uma transformação acentuada, mas outras vezes é bastante
fácil. As minhas próprias percepções do conflito no Oriente Médio mudaram
drasticamente durante o outono de 1982 e, posteriormente, mudaram apenas numa
extensão muito menor. Como alguns poderão lembrar-se, esse período marcou a
primeira invasão israelense do Líbano e culminou no notório Massacre de
Sabra-Shatila, durante o qual centenas ou mesmo milhares de palestinos foram
massacrados nos seus campos de refugiados. Mas embora esses acontecimentos
tenham sido certamente fatores importantes no meu realinhamento ideológico, o
gatilho crucial foi, na verdade, uma certa carta ao editor publicada na mesma época.
Alguns
anos antes, eu tinha descoberto The London Economist, como era então
chamado, e rapidamente se tornou minha publicação favorita*1,
que eu devorava religiosamente de capa a capa todas as semanas. E enquanto eu
lia os vários artigos sobre o conflito no Oriente Médio naquela publicação, ou
em outras como o New York Times, os jornalistas ocasionalmente incluíam
citações de algum comunista israelense particularmente fanático e irracional
chamado Israel Shahak, cujas opiniões pareciam totalmente em desacordo com
aquelas de todos os outros e que, consequentemente, foi tratado como uma figura
marginal. Opiniões que parecem totalmente divorciadas da realidade tendem a
ficar na mente, e bastou apenas uma ou duas aparições daquele stalinista
aparentemente obstinado e delirante para eu adivinhar que ele sempre assumiria
uma posição totalmente contrária em cada questão dada.
Em
1982, o Ministro da Defesa de Israel, Ariel Sharon, lançou a sua invasão
massiva do Líbano usando o pretexto do ferimento dum diplomata israelense na
Europa às mãos de um agressor palestino, e a natureza extrema da sua ação foi
amplamente condenada nos meios de comunicação que eu li na hora. O seu motivo
era obviamente erradicar a infraestrutura política e militar da OLP
{Organização para a Libertação da Palestina#1},
que se tinha instalado em muitos dos grandes campos de refugiados palestinos do
Líbano. Mas naquela época, as invasões de países do Oriente Médio com prospectos
duvidosos eram muito menos comuns do que se tornaram posteriormente, depois das
nossas recentes guerras americanas terem matado ou deslocado tantos milhões, e
a maioria dos observadores ficou horrorizada com a natureza totalmente
desproporcional do seu ataque e com a severa destruição que ele estava
infligindo ao vizinho de Israel, que ele parecia ansioso por reduzir ao status
de fantoche. Pelo que me lembro, ele fez várias garantias totalmente falsas aos
altos funcionários de Reagan sobre seus planos de invasão, de tal forma que
depois o chamaram de o pior tipo de mentiroso, e ele acabou sitiando a capital
libanesa, Beirute, apesar de ter originalmente prometido limitar seu ataque a
uma mera incursão na fronteira.
O cerco israelense às áreas de Beirute controladas pela OLP {Organização para a Libertação da Palestina} durou algum tempo e as negociações eventualmente resultaram na partida dos combatentes palestinos para outro país árabe. Pouco depois, os israelenses declararam que se deslocavam para Beirute Ocidental, a fim de melhor garantir a segurança das mulheres e crianças palestinas deixadas para trás e protegê-las de qualquer retaliação por parte dos seus inimigos falangistas cristãos. E mais ou menos nessa mesma época, notei uma longa carta de Shahak no The Economist que me pareceu a prova final de sua insanidade. Ele afirmou que era óbvio que Sharon tinha marchado para Beirute com a intenção de organizar um massacre dos palestinos, e que isto aconteceria em breve. Quando a matança de fato ocorreu não muito tempo depois, aparentemente com forte envolvimento e cumplicidade israelense, eu concluí que se um fanático comunista maluco como Shahak estivesse certo, enquanto aparentemente todos os jornalistas tradicionais estavam tão completamente errados, a minha compreensão do mundo e do Oriente Médio requiria recalibração total. Ou pelo menos foi assim que eu sempre me lembrei desses acontecimentos, à distância de mais de trinta e cinco anos.
Durante
os anos que se seguiram, eu ainda vi periodicamente as declarações de Shahak
citadas nas minhas principais publicações, que por vezes sugeriam que ele era
comunista e outras vezes não. Naturalmente, o seu extremismo ideológico fez
dele um oponente proeminente do Acordo de Paz de Oslo, de 1991, entre Israel e
os palestinos ocupados, que de outra forma era apoiado por todas as pessoas
sensatas, embora, como Oslo acabou sendo um fracasso total, eu não consegui manter
isso também fortemente contra ele. Eu parei de prestar muita atenção às
questões de política externa durante a década de 1990, mas eu ainda lia o meu New
York Times todas as manhãs e ocasionalmente via as suas citações,
inevitavelmente contrárias e irredentistas.
Então,
os ataques de 11 de setembro devolveram a política externa e ao Oriente Médio o
centro absoluto da nossa agenda nacional, e eu acabei por ler algures que
Shahak tinha morrido aos 68 anos apenas alguns meses antes, embora eu não
tivesse notado nenhum obituário. Ao longo dos anos, eu vi uma vaga menção de
que durante a década anterior ele publicou alguns livros estridentemente
antijudaicos e antissionistas, tal como seria de esperar de um fanático
comunista de linha dura, e durante o início da década de 2000, eu comecei a ver
cada vez mais referências a estas obras, ironicamente provenientes de fontes
marginais da extrema-direita antissemita, provando assim mais uma vez que os
extremistas se reúnem. Finalmente, há cerca de uma década, minha curiosidade
tomou conta de mim e, clicando em uns poucos botões na Amazon.com, eu
encomendei exemplares de seus livros, todos os quais eram bem curtos.
As doutrinas incomuns do
judaísmo tradicional
A
minha primeira surpresa foi que os escritos de Shahak incluíam introduções ou
sinopses brilhantes de alguns dos intelectuais públicos mais proeminentes da
América, incluindo Christopher Hitchens, Gore Vidal, Noam Chomsky e Edward
Said. Os elogios também vieram de publicações bastante respeitáveis, como The
London Review of Books, Middle East International e Catholic New
Times, enquanto Allan Brownfeld do Conselho Americano para o Judaísmo
publicou um obituário muito longo e elogioso.*2
E eu descobri que a formação de Shahak era muito diferente do que sempre
imaginei. Ele passou muitos anos como professor premiado de Química na
Universidade Hebraica e, na verdade, era tudo menos comunista. Embora durante
décadas os partidos políticos governantes de Israel tenham sido socialistas ou
marxistas, as suas dúvidas pessoais sobre o socialismo deixaram-no
politicamente no deserto, enquanto a sua relação com o minúsculo Partido
Comunista de Israel se devia apenas ao fato de serem o único grupo disposto a
defender os princípios básicos questões de direitos humanos que eram o seu foco
central. Minhas suposições casuais sobre suas opiniões e antecedentes tinham
estado inteiramente em erro.
{O acadêmico químico judeu Dr. Israel Shahak (1933-2001) atuou por anos na Universidade Hebraica de Jerusalém } |
Uma
vez que eu comecei a ler seus livros e considerando suas afirmações, meu choque
aumentou cinquenta vezes. Ao longo de toda a minha vida, houve muito, muito
poucas vezes em que fiquei tão surpreso como fiquei depois de digerir História
Judaica, Religião Judaica: O Peso de Três Mil Anos, cujo texto mal chega a
cem páginas. Na verdade, apesar da sua sólida formação nas ciências acadêmicas
e dos elogios entusiásticos fornecidos por figuras proeminentes, eu achei
bastante difícil aceitar a realidade do que eu estava lendo.#2 Como uma consequência, eu paguei uma
quantia considerável a um jovem estudante de pós-graduação que eu conhecia,
incumbindo-o de verificar as afirmações contidas nos livros de Shahak e, pelo
que ele sabia, todas as centenas de referências que ele verificou pareciam ser
precisas ou, pelo menos, encontrado em outras fontes.
Mesmo
com toda essa diligência, eu devo enfatizar que eu não posso garantir
diretamente as afirmações de Shahak sobre o Judaísmo. Meu próprio conhecimento
dessa religião é absolutamente insignificante, limitando-se principalmente à
minha infância, quando minha avó ocasionalmente conseguia me arrastar para os cultos
na sinagoga local, onde eu estava sentado entre uma massa de homens idosos
rezando e cantando em alguma língua estranha enquanto usavam vários trajes
ritualísticos e talismãs religiosos, uma experiência que eu sempre achei muito
menos agradável do que meus habituais desenhos animados de sábado de manhã.
Embora
os livros de Shahak sejam bastante curtos, eles contêm uma tal densidade de
material surpreendente que seriam necessários muitas, muitas milhares de
palavras para começar a resumi-los. Quase tudo o que eu sabia — ou pensava
saber — sobre a religião do judaísmo, pelo menos na sua forma tradicional
zelosamente ortodoxa#3, estava
derradeira e totalmente errado.
Por
exemplo, os judeus tradicionalmente religiosos prestam pouca atenção à maior
parte do Antigo Testamento, e mesmo rabinos ou estudantes muito instruídos que
dedicaram muitos anos ao estudo intensivo podem permanecer em grande parte
ignorantes do seu conteúdo. Em vez disso, o centro da sua visão religiosa do
mundo é o Talmud#4, uma massa enormemente
grande, complexa e um tanto contraditória de escritos secundários e comentários
construídos ao longo de muitos séculos, razão pela qual a sua doutrina
religiosa é por vezes chamada de “judaísmo talmúdico”. Entre grande parte dos
fiéis, o Talmud é complementado pela Cabala, outra grande coleção de escritos
acumulados, principalmente focados no misticismo e em todos os tipos de magia.
Visto que estes comentários e interpretações representam o cerne da religião,
muito do que todos consideram como admitido na Bíblia é considerado de uma
maneira muito diferente.
Dada
a natureza da base talmúdica do Judaísmo tradicional e minha total ignorância
anterior sobre o assunto, qualquer tentativa de minha parte de resumir alguns
dos aspectos mais surpreendentes da descrição de Shahak pode ser parcialmente
distorcida e certamente merece correção por alguém mais versado nesse dogma. E
uma vez que tantas partes do Talmud são altamente contraditórias e impregnadas
de um misticismo complexo, seria impossível para alguém como eu tentar
desembaraçar as aparentes inconsistências que estou apenas repetindo. Devo
observar que, embora a descrição de Shahak das crenças e práticas do judaísmo talmúdico
tenha provocado uma tempestade de denúncias, poucos desses duros críticos
parecem ter negado as suas afirmações muito específicas, incluindo as mais impactantes
e surpreendentes, o que pareceria fortalecer a sua credibilidade.
{Tomos do Talmud babilônico} |
No
nível mais básico, a religião da maioria dos judeus tradicionais não é de todo
monoteísta, mas contém uma grande variedade de diferentes deuses masculinos e
femininos, tendo relações bastante complexas entre si, com estas entidades e as
suas propriedades variando enormemente entre as numerosas subseitas judaicas
diferentes, dependendo de quais partes do Talmud e da Cabala elas colocam acima
das demais. Por exemplo, o tradicional grito religioso judaico “O Senhor é Um”
sempre foi interpretado pela maioria das pessoas como uma afirmação monoteísta
e, de fato, muitos judeus têm exatamente esta mesma opinião. Mas um grande
número de outros judeus acredita que esta declaração se refere, em vez disso, à
realização da união sexual entre as entidades divinas masculinas e femininas
primárias. E o mais bizarro é que os judeus que têm pontos de vista tão
radicalmente diferentes não veem absolutamente nenhuma dificuldade em rezar
lado a lado e apenas em interpretar os seus cânticos idênticos de uma maneira
muito diferente.
Além
disso, os judeus religiosos aparentemente oram a Satanás quase tão prontamente
como oram a Deus e, dependendo das várias escolas rabínicas, os rituais e
sacrifícios específicos que praticam podem ter como objetivo angariar o apoio
de um ou de outro. Mais uma vez, desde que os rituais sejam devidamente
seguidos, os adoradores de Satanás e os adoradores de Deus dão-se perfeitamente
bem e consideram-se uns aos outros judeus igualmente piedosos, apenas de uma
tradição ligeiramente diferente. Um ponto que Shahak enfatiza repetidamente é
que no judaísmo tradicional a natureza do ritual em si é absolutamente acima de
tudo o mais, enquanto a interpretação do ritual é bastante secundária. Assim,
talvez um judeu que lava as mãos três vezes no sentido horário possa ficar horrorizado
com outro que segue no sentido anti-horário, mas se a lavagem das mãos foi
feita para honrar a Deus ou para honrar Satanás dificilmente seria uma questão
de muita consequência.
Estranhamente,
muitos dos rituais tradicionais são explicitamente pretendidos para enganar ou aplicar
um truque em Deus ou Seus anjos ou, às vezes, Satanás, da mesma forma que os
heróis mortais de alguma lenda grega podem tentar enganar Zeus ou Afrodite. Por
exemplo, certas orações devem ser proferidas em aramaico e não em hebraico,
alegando que os santos anjos aparentemente não entendem a língua anterior, e a
sua confusão permite que esses versículos passem desimpedidos e tenham efeito
sem interferência divina.
Além
do mais, uma vez que o Talmud representa um enorme acréscimo de comentários
publicados construídos ao longo de mais de um milénio, mesmo os mandatos mais
explícitos têm algumas vezes sido transformados nos seus opostos. Como exemplo,
Maimônides, uma das mais altas autoridades rabínicas, proibiu terminantemente
os rabinos de serem pagos pelos seus ensinamentos religiosos, declarando que
qualquer rabino que recebesse um salário era um ladrão malvado condenado ao
tormento eterno; contudo, mais tarde, os rabinos eventualmente
“reinterpretaram” esta afirmação para significar algo totalmente diferente, e
hoje quase todos os rabinos coletam salários.
Outro
aspecto fascinante é que, até tempos muito recentes, as vidas dos judeus
religiosos eram frequentemente dominadas por todos os tipos de práticas
altamente supersticiosas, incluindo encantos mágicos, poções, feitiços
proferidos, encantamentos, feitiços trabalhados, maldições e talismãs sagrados,
com os rabinos muitas vezes tendo um importante papel secundário como
feiticeiros, e isto permanece inteiramente verdadeiro hoje entre os rabinos
enormemente influentes de Israel e da área da cidade de Nova York. Os escritos
de Shahak não o tornaram querido por muitos desses indivíduos, e durante anos
eles constantemente o atacaram com todos os tipos de feitiços e terríveis
maldições destinadas a alcançar sua morte ou doença. Muitas dessas práticas
tradicionais judaicas não parecem totalmente diferentes daquelas que
normalmente associamos aos feiticeiros africanos ou aos sacerdotes vodu e, de
fato, a famosa lenda do Golem de Praga descreveu o uso bem-sucedido da magia
rabínica para animar uma criatura gigante construída em barro.
A atitude do judaísmo em
relação aos não-judeus
Se
estas questões ritualísticas constituíssem as características centrais do
Judaísmo religioso tradicional, poderíamos considerá-lo como uma sobrevivência
bastante colorida e excêntrica dos tempos antigos. Mas, infelizmente, há também
um lado muito mais sombrio, que envolve principalmente a relação entre judeus e
não-judeus, sendo o termo altamente depreciativo goyim frequentemente
utilizado para descrever estes últimos. Para ser franco, os judeus têm almas
divinas e os goyim não, sendo apenas bestas na forma de homens. Na
verdade, a principal razão para a existência de não-judeus é servirem como
escravos dos judeus, com alguns rabinos de alto escalão afirmando
ocasionalmente este fato bem conhecido. Em 2010*3,
o principal rabino sefardita de Israel usou o seu sermão semanal para declarar
que a única razão para a existência de não-judeus é servir os judeus e
trabalhar para eles.#5 A
escravização ou extermínio de todos os não-judeus parece ser um objetivo final
implícito da religião.#6
As
vidas dos judeus têm valor infinito, e as dos não-judeus, nenhum, o que tem
implicações políticas óbvias. Por exemplo, num artigo publicado, um proeminente
rabino israelense explicou que, se um judeu precisasse de um fígado, seria
perfeitamente aceitável e até mesmo obrigatório matar um gentio inocente e
tomar o seu. Talvez não devêssemos ficar demasiado surpreendidos pelo fato de
hoje Israel ser amplamente considerado como um dos centros mundiais de tráfico
de órgãos.*4
Como
mais uma ilustração do ódio fervilhante que o judaísmo tradicional irradia
contra todos aqueles de origens diferentes, salvar a vida de um não-judeu é
geralmente considerado impróprio ou mesmo proibido, e tomar qualquer ação desse
tipo no sábado seria uma violação absoluta dos editos religiosos. Tais dogmas
são certamente irônicos, dada a presença amplamente difundida de judeus na
profissão médica durante os últimos séculos, mas vieram à tona em Israel quando
um médico militar de mentalidade religiosa os levou a sério e a sua posição foi
apoiada pelas mais altas autoridades religiosas do país.
E
enquanto o judaísmo religioso tenha uma visão decididamente negativa em relação
a todos os não-judeus, o cristianismo em particular é considerado como uma
abominação total, que deve ser varrida da face da terra.
Enquanto
os muçulmanos piedosos consideram Jesus como o santo profeta de Deus e o
antecessor imediato de Maomé, de acordo com o Talmud judaico, Jesus é talvez o
ser mais vil que já existiu, condenado a passar a eternidade no abismo do inferno,
imerso num tanque fervente de excrementos. Os judeus religiosos consideram o
Alcorão muçulmano apenas como mais um livro, embora totalmente equivocado, mas
a Bíblia cristã representa o mal mais puro e, se as circunstâncias permitirem,
queimar Bíblias é um ato muito louvável. Os judeus piedosos também são
obrigados a sempre cuspir três vezes em qualquer cruz ou igreja que
encontrarem, e a lançar uma maldição em todos os cemitérios cristãos. Na
verdade, muitos judeus profundamente religiosos fazem uma oração todos os dias
pelo extermínio imediato de todos os cristãos.
Ao
longo dos anos, rabinos israelenses proeminentes têm por vezes debatido
publicamente se o poder judaico se tornou agora suficientemente grande para que
todas as igrejas cristãs de Jerusalém, Belém e outras áreas próximas possam
finalmente ser destruídas, e toda a Terra Santa completamente limpa de todos os
vestígios da contaminação cristã. Alguns têm assumido esta posição, mas a
maioria tem instado à prudência, argumentando que os judeus precisavam ganhar
alguma força adicional antes de darem um passo tão arriscado. Hoje em dia,
muitas dezenas de milhões de cristãos zelosos e especialmente sionistas
cristãos são defensores entusiásticos dos judeus, do judaísmo e de Israel, e eu
suspeito fortemente que pelo menos parte desse entusiasmo se baseia na
ignorância.
Durante
os últimos dois mil anos, os judeus existiram quase invariavelmente como
minorias pequenas e relativamente fracas que viviam em terras alheias, sejam
elas cristãs ou muçulmanas, pelo que uma doutrina religiosa tão inabalavelmente
hostil aos estrangeiros apresentou naturalmente obstáculos consideráveis à
coexistência pacífica. A solução para este dilema baseou-se no mandato divino
de preservar a vida e o bem-estar judaico acima de tudo, substituindo quase
todas as outras considerações religiosas. Assim, se algum dos comportamentos
discutidos acima for considerado suscetível de suscitar ressentimento por parte
de grupos gentios poderosos e colocar os judeus em risco, ele deve ser evitado.
Por
exemplo, a proibição de médicos judeus tratarem doenças de não-judeus é
dispensada no caso de não-judeus poderosos, especialmente líderes nacionais,
cujo favor poderia trazer benefícios à comunidade judaica. E mesmo os
não-judeus comuns podem ser ajudados, a menos que seja encontrada alguma
desculpa persuasiva para explicar tal falta de assistência, uma vez que, caso
contrário, a hostilidade vingativa dos seus amigos e parentes poderia causar
dificuldades a outros judeus. Da mesma forma, é permitido trocar presentes com
não-judeus, mas apenas se tal comportamento puder ser justificado em termos
estritamente utilitários, sendo qualquer simples expressão de amizade para com
um não-judeu uma violação de princípios sagrados.
Se
a população gentia tomasse consciência destas crenças religiosas judaicas e dos
comportamentos que elas promovem, poderiam surgir grandes problemas para os
judeus, pelo que uma metodologia elaborada de subterfúgio, ocultação e
dissimulação surgiu ao longo de muitos séculos para minimizar esta
possibilidade, incluindo especialmente a tradução incorreta de textos sagrados
ou a exclusão completa de seções cruciais. Entretanto, a pena tradicional para
qualquer judeu que “informe” às autoridades sobre qualquer assunto relativo à
comunidade judaica sempre foi a morte, muitas vezes precedida de tortura
hedionda.
Grande
parte desta desonestidade continua obviamente até tempos recentes, uma vez que
parece muito improvável que os rabinos judeus, exceto talvez aqueles de
disposição mais avant garde {vanguardista}, permanecer-se-iam totalmente
inconscientes dos princípios fundamentais da religião que eles afirmam liderar,
e Shahak é contundente em relação à sua aparente hipocrisia egoísta,
especialmente aqueles que expressam publicamente opiniões fortemente liberais.
Por exemplo, de acordo com a doutrina talmúdica dominante, os negros africanos
são tradicionalmente colocados algures entre as pessoas e os macacos na sua
natureza intrínseca, e certamente todos os rabinos, mesmo os liberais, estariam
conscientes deste dogma religioso. Mas Shahak observa que os numerosos rabinos
americanos que trabalharam tão avidamente com Martin Luther King Jr. e outros
líderes negros dos direitos civis durante as décadas de 1950 e 1960 ocultaram
estritamente as suas crenças religiosas enquanto denunciavam a sociedade
americana pelo seu racismo cruel, presumivelmente procurando alcançar uma
posição política quid pro quo benéfico para os interesses judaicos com a
substancial população negra da América.
Shahak
também enfatiza a natureza totalmente totalitária da sociedade judaica
tradicional, na qual os rabinos detinham o poder de vida ou de morte sobre os
seus fiéis, e muitas vezes procuravam punir o desvio ideológico ou a heresia
usando esses meios. Eles ficaram ultrajados com o fato de isto se ter tornado
difícil à medida que os Estados se fortaleciam e proibiam cada vez mais tais
execuções privadas. Os rabinos liberalistas foram por vezes assassinados e
Baruch Spinoza, o famoso filósofo judeu da Idade da Razão, só sobreviveu porque
as autoridades holandesas se recusaram a permitir que os seus colegas judeus o
matassem.
Dada
a complexidade e a natureza excepcionalmente controversa deste assunto, eu
recomendaria aos leitores que considerem este tópico de interesse que passassem
três ou quatro horas lendo o livro muito curto de Shahak, e então decidissem
por si mesmos se suas afirmações parecem plausíveis e se eu poderia ter
inadvertidamente as entendido mal. Além das cópias na Amazon, a obra também
pode ser encontrada em Archive.org*5
e uma cópia HTML muito conveniente também está disponível gratuitamente na
Internet*6.
Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander
*1
Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: The Long Decline of the London Economist, por
Ron Keeva Unz 27 de abril de 2012, The Unz Review – An Alternative Media
Selection.
https://www.unz.com/runz/the-long-decline-of-the-london-economist/
#1 Nota de Mykel Alexander: Referente
aos palestinos ver:
- Quem são os palestinos, por Sami Hadawi, World
Traditional Front (programado para publicar).
Referente
à relação dos palestinos e os sionistas ver:
- Memorando para o presidente {Ronald Reagan, tratando
da questão Palestina-Israel} - parte 1 - quem são os palestinos?, por Issah
Nakheleh, 28 de abril de 2024, World Traditional Front. (Demais partes
na sequência do próprio artigo).
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2024/04/memorando-para-o-presidente-ronald.html
- Historiadores israelenses expõem o mito do
nascimento de Israel, por Rachelle Marshall, 26 de fevereiro de 2024, World
Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2024/02/historiadores-israelenses-expoem-o-mito.html
- O que os cristãos não sabem sobre Israel, por Grace
Halsell, 29 de outubro de 2023, World Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2023/10/o-que-os-cristaos-nao-sabem-sobre.html
Sobre o percurso sionismo até o
início do século XX e a questão judaica apresentada pelo
próprio alto colegiado judaico, inclusive suas pretensões na Palestina ver:
- Sionismo - por Richard James Horatio Gottheil
(Jewish Encyclopedia) - parte 1 (primeira de 12 partes), 04 de agosto de
2021, World Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2021/08/sionismo-por-richard-james-horatio.html
Para
a perspectiva crítica:
- Por trás da Declaração de Balfour A penhora
britânica da Grande Guerra ao Lord Rothschild - parte 1, por Robert John, 11 de
julho de 2020, World Traditional Front. (Demais partes na sequência
do próprio artigo).
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2020/07/por-tras-da-declaracao-de-balfour.html
- Raízes do Conflito Mundial Atual – Estratégias
sionistas e a duplicidade Ocidental durante a Primeira Guerra Mundial, por
Kerry Bolton, 02 de dezembro de 2018, World Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2018/12/raizes-do-conflito-mundial-atual.html
*2
Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: Israel Shahak (1933-2001): A Prophetic Voice
Is Stilled, por
Allan C.
Brownfeld, edição do verão de 2001, The American Coucil for Judaism.
#2 Nota de Mykel Alexander: Referente
às pretensões do movimento sionista no Oriente Médio, conforme advertido por Israel
Shahak ver:
- “Grande Israel”: O Plano Sionista para o Oriente
Médio O infame "Plano Oded Yinon". - Por Israel Shahak - parte 1 -
apresentação por Michel Chossudovsky, 11 de maio de 2022, World
Traditional Front. (Demais partes na sequência do próprio artigo).
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2022/05/grande-israel-o-plano-sionista-para-o.html
#3 Nota de Mykel Alexander: Mesmo
restrito ao Antigo Testamento, as premissas de tal escritura já contêm os
fundamentos que resultam na postura de atritos do judaísmo talmúdico. Ver:
- O peso da tradição: por que o judaísmo não é como
outras religiões, por Mark Weber, 05 de novembro de 2023, World
Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2023/11/o-peso-da-tradicao-por-que-o-judaismo.html
Para uma apuração inicial do modo
de ser atribuído a Jeová, o qual as lideranças do judaísmo internacional moldam
a doutrinação tradicional do judaísmo, ver:
- O truque do diabo: desmascarando o Deus de Israel -
parte 1, por Laurent Guyénot, 09 de abril de 2023, World Traditional
Front. (demais partes na continuação do próprio artigo).
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2023/04/o-truque-do-diabo-desmascarando-o-deus.html
- Israel como Um Homem: Uma Teoria do Poder Judaico -
parte 1, por Laurent Guyénot, 28 de dezembro de 2023, World Traditional
Front. (Demais partes na sequência do próprio artigo).
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2023/12/israel-como-um-homem-uma-teoria-do.html
A linha que unifica a tradição do Antigo Testamento junto à tradição talmúdica
se expressa na relação entre os líderes judaicos e sua sociedade, e entre esta
e os não judeus. Ver:
- Controvérsia de Sião, por Knud Bjeld Eriksen, 02 de
novembro de 2018, World Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2018/11/controversia-de-siao-por-knud-bjeld.html
#4 Nota de Mykel Alexander: Em
relação ao Talmud como principal fundamento, direto ou indireto, para a
sociedade judaica, e não a Bíblia, como pensam os cristãos em geral, a Jewish
Encyclopedia afirma:
“Nome de duas obras que foram preservadas para a
posteridade como produto das escolas palestina e babilônica durante o período
amoraico, que se estendeu do terceiro ao quinto século d.C. Uma dessas
compilações é intitulada ‘Talmud Yerushalmi’ (Talmud de Jerusalém) e o outro ‘Talmud
Babli’ (Talmud Babilônico). Usada sozinha, a palavra ‘Talmud’ geralmente denota
‘Talmud Babli’, mas frequentemente ela serve como uma designação genérica para
todo um corpo de literatura, uma vez que o Talmud marca o ápice dos escritos da
tradição judaica, da qual é, desde um do ponto de vista histórico, a produção
mais importante.” (Jewish Enciclopedia, vol. 12/12, KTAV Publishing
House, reedição publicada na década de 1960, New York, página 1).
*3 Fonte utilizada por Ron Keeva Unz:
Sephardi leader Yosef: Non-Jews exist to serve Jews, 20 de fevereiro de 2024, Middle
East Monitor.
https://www.middleeastmonitor.com/20140220-sephardi-leader-yosef-non-jews-exist-to-serve-jews/
#5 Nota de Mykel Alexander: Ver:
- Grande rabino diz que não-judeus são burros {de
carga}, criados para servir judeus, por Khalid Amayreh, 26 de abril de 2020, World
Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2020/04/grande-rabino-diz-que-nao-judeus-sao.html
- Ex-rabino-chefe de Israel diz que todos nós, não
judeus, somos burros, criados para servir judeus - como a aprovação dele prova
o supremacismo judaico, por David Duke, 03 de maio de 2020, World
Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2020/05/ex-rabino-chefe-de-israel-diz-que-todos.html
#6 Nota de Mykel Alexander: Ver:
- O peso da tradição: por que o judaísmo não é como
outras religiões, por Mark Weber, 05 de novembro de 2023, World
Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2023/11/o-peso-da-tradicao-por-que-o-judaismo.html
Para uma apuração inicial do modo
de ser atribuído a Jeová, o qual as lideranças do judaísmo internacional moldam
a doutrinação tradicional do judaísmo, ver:
- O truque do diabo: desmascarando o Deus de Israel -
parte 1, por Laurent Guyénot, 09 de abril de 2023, World Traditional
Front. (Demais partes na continuação do próprio artigo).
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2023/04/o-truque-do-diabo-desmascarando-o-deus.html
- Israel como Um Homem: Uma Teoria do Poder Judaico -
parte 1, por Laurent Guyénot, 28 de dezembro de 2023, World Traditional
Front. (Demais partes na sequência do próprio artigo).
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2023/12/israel-como-um-homem-uma-teoria-do.html
*4 Fonte utilizada por Ron Keeva Unz:
Israeli Organ Harvesting, por Alisson Weir, 28 de agosto de 2009, Counter
Punch.
https://www.counterpunch.org/2009/08/28/israeli-organ-harvesting/
*5 Fonte utilizada por Ron Keeva Unz:
Fonte: American Pravda: Oddities of the Jewish
Religion, por Ron Keeva Unz, 16 de julho de 2018, The Unz Review – An
Alternative Media Selection.
https://www.unz.com/runz/american-pravda-oddities-of-the-jewish-religion/
Sobre o autor: Ron Keeva
Unz (1961 -), de nacionalidade americana, oriundo de família judaica da
Ucrânia, é um escritor e ativista político. Possui graduação de Bachelor of
Arts (graduação superior de 4 anos nos EUA) em Física e também em História,
pós-graduação em Física Teórica na Universidade de Cambridge e na Universidade
de Stanford, e já foi o vencedor do primeiro lugar na Intel / Westinghouse
Science Talent Search. Seus escritos sobre questões de imigração, raça, etnia e
política social apareceram no The New York Times, no Wall Street
Journal, no Commentary, no Nation e em várias outras
publicações.
__________________________________________________________________________________
Relacionado ver:
A Psicopatia Bíblica de Israel - por Laurent Guyénot
Controvérsia de Sião - por Knud Bjeld Eriksen
Crimes de Guerra e Atrocidades-embustes no Conflito Israel/Gaza - por Ron Keeva Unz
A cultura do engano de Israel - por Christopher Hedges
Israel como Um Homem: Uma Teoria do Poder Judaico - parte 1 - por Laurent Guyénot (Demais partes na sequência do próprio artigo)
O peso da tradição: por que o judaísmo não é como outras religiões - por Mark Weber
Sionismo, Cripto-Judaísmo e a farsa bíblica - parte 1 - por Laurent Guyénot (as demais partes na sequência do próprio artigo)
O truque do diabo: desmascarando o Deus de Israel - Por Laurent Guyénot - parte 1 (Parte 2 na sequência do próprio artigo)
Conversa direta sobre o sionismo - o que o nacionalismo judaico significa - Por Mark Weber
Judeus: Uma comunidade religiosa, um povo ou uma raça? por Mark Weber
Sionismo e judeus americanos - por Alfred M. Lilienthal
Antissemitismo: Por que ele existe? E por que ele persiste? - Por Mark Weber
Congresso Mundial Judaico: Bilionários, Oligarcas, e influenciadores - Por Alison Weir
Historiadores israelenses expõem o mito do nascimento de Israel - por Rachelle Marshall
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários serão publicados apenas quando se referirem ESPECIFICAMENTE AO CONTEÚDO do artigo.
Comentários anônimos podem não ser publicados ou não serem respondidos.