quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A fábrica de cadáveres - Uma infame fábula de propaganda da Primeira Guerra Mundial - Por Arthur Ponsonby

 

Arthur Ponsonby


Uma série de excertos dará o registro de uma das mentiras mais revoltantes inventadas durante a Primeira Guerra Mundial, cuja disseminação não só na Grã-Bretanha, mas no mundo foi encorajada e conivente tanto pelo governo quanto pela imprensa. Ela começou em 1917, e não foi finalmente descartada até 1925.

(A maioria das citações dadas são do The Times. As referências nas camadas mais baixas da imprensa, como deve ser lembrado, eram muito mais lúgubres.)

Um dos cônsules dos Estados Unidos, ao deixar a Alemanha em fevereiro de 1917, declarou na Suíça que os alemães estavam destilando glicerina dos corpos de seus mortos.

The Times, 16 de abril de 1917

Herr Karl Rosner, o correspondente do Lokalanzeiger de Berlim, na frente ocidental ... publicou na terça-feira passada a primeira admissão alemã definitiva sobre a maneira como os alemães usam cadáveres.

Passamos por Everingcourt. Há um cheiro maçante no ar, como se cal estivesse sendo queimado. Estamos passando pelo grande Estabelecimento de Exploração de Cadáveres (Kadaververwertungsanstalt) deste Grupo de Exércitos. A gordura que se ganha aqui é transformada em óleos lubrificantes, e todo o resto é moído no moinho de ossos em um pó o qual é usado para misturar com comida de porco e como esterco – nada pode ser permitido ir para o desperdício.

The Times, 16 de abril de 1917

Havia uma reportagem no The Times de 17 de abril de 1917 de La Belgique (Leyden), via l'Indépendance Belge, 10 de abril, dando um relato muito longo e detalhado de uma fábrica da Deutsche Abfallverwertungsgesellschaft [Empresa Alemã de Processamento de Rejeitos] perto de Coblenz, onde trens carregados de corpos despojados de soldados alemães, amarrados em fardos, chegam e são fervilhados em caldeirões, sendo os produtos estearina e óleo refinado.

No The Times de 18 de abril de 1917, havia uma carta de C. E. Bunbury comentando e sugerindo o uso da história para propósitos de propaganda, em países neutros e no Oriente, onde seria especialmente calculada para horrorizar budistas, hindus e maometanos. Ele sugeriu a transmissão pelo Foreign Office, India Office e Colonial Office; houve outras cartas para o mesmo efeito em 19 de abril.

No The Times de 20 de abril de 1917, havia uma história contada pelo sargento B_____, dos Kents, de que um prisioneiro lhe dissera que os alemães ferviam seus mortos para munições e comida de porco e aves. “Esse sujeito me disse que Fritz chama sua margarina de ‘gordura de cadáver’ porque eles suspeitam que é disso que vem.”

O The Times afirmou que ele tinha recebido várias cartas “questionando a tradução da palavra alemã Kadaver e sugerindo que não é usada para corpos humanos. Quanto a isso, as melhores autoridades concordam que também é usada para corpos de animais.” Outras cartas foram recebidas confirmando a história de fontes belgas e holandesas (mais tarde da Romênia).

Havia um artigo no Lancet discutindo o “aspecto comercial” (ou melhor, o aspecto técnico) da indústria. Uma expressão de horror apareceu do ministro chinês em Londres, e também do marajá de Bikanir, no The Times de 21 de abril de 1917.

O The Times de 23 de abril de 1917 cita uma declaração alemã de que o relatório é “desgostosamente odioso e ridículo”, e que [o termo] Kadaver nunca é usado para um corpo humano. O The Times produz citações de dicionário para mostrar que é. Também que tanto Tierkörpermehl quanto Kadavermehl aparecem nos catálogos oficiais alemães, a implicação é que eles devem ser algo diferente.

No The Times de 24 de abril de 1917, havia uma carta, assinada por E. H. Parker, anexando cópia do North China Herald, 3 de março de 1917, relatando uma entrevista entre o ministro alemão e o primeiro-ministro chinês em Pequim: 

Mas o assunto foi encerrado no corpo a corpo quando o almirante von Hinke estava se alongando sobre os métodos engenhosos pelos quais os cientistas alemães obtinham os produtos químicos necessários para a fabricação de munições. O almirante declarou triunfante que eles estavam extraindo glicerina de seus soldados mortos! Daquele momento em diante, o horrorizado primeiro-ministro não teve mais uso para a Alemanha, e o negócio de persuadi-lo a se voltar contra ela tornou-se comparativamente fácil.

As seguintes perguntas no Parlamento mostram o governo evadindo a questão, embora eles soubessem que não havia uma partícula de evidência autêntica para o relatório – um bom exemplo do método oficial de espalhar falsidade.

O Sr. Ronald McNeill perguntou ao primeiro-ministro se ele tomará medidas para tornar o mais conhecido possível no Egito, na Índia e no Oriente em geral, que os alemães usam os cadáveres de seus próprios soldados e de seus inimigos quando obtêm a posse deles, como alimento para suínos.

O Sr. Dillon perguntou ao Chanceler do Tesouro {Chancellor of the Excheque} se sua atenção tinha sido chamada para os relatórios amplamente circulados neste país de que o governo alemão montou fábricas para extrair gordura dos corpos de soldados mortos em batalha; se esses relatórios tinham sido endossados por muitos homens proeminentes neste país, incluindo Lord Curzon de Kedleston; se o Governo tem quaisquer fundamentos sólidos para acreditar que estas declarações são bem fundamentadas; e, se assim então, se comunicará à Câmara as informações de que dispõe o Governo.

Lord R. Cecil: Com respeito a esta questão e aquela que está em nome do Exmo. Membro de East Mayo, o governo não tem informações no momento além daquelas contidas em extratos da imprensa alemã que foram publicados na imprensa aqui. Em vista de outras ações das autoridades militares alemãs, não há nada de incrível na presente acusação contra eles. O Governo de Sua Majestade permitiu a circulação dos factos tal como eles têm aparecido pelos canais usuais.

Sr, McNeill: Pode o Exmo. Senhor, responder se o governo vai tomar qualquer passo para dar ampla publicidade no Oriente a esta história emanando de fontes alemãs?

Lord R. Cecil: Acho que no momento não é desejável dar outros passos além dos que têm sido dados.

Sr. Dillon: Posso eu perguntar se nós estamos para concluir a partir dessa resposta que o governo tem provas consistentes para provar a veracidade, e eles não tem tomados os passos para investiga-la; E tem sua atenção sido virada para o fato de que não é apenas um escândalo grosseiro, mas um grande mal para este país permitir a circulação de tais declarações, autorizadas pelos Ministros da Coroa, se elas foram, como eu acredito ser absolutamente falsas?

Lord R. Cecil: O Exmo. O deputado tem, talvez, informações que nós não temos. Só posso falar a partir de declarações que foram publicadas na imprensa. Eu tenho já dito à Assembleia que não dispomos de qualquer outra informação. A informação é a declaração que tem sido publicada e que eu tenho diante de mim (citando a citação do Times de Lokalanzeiger). Esta declaração tem sido publicada na imprensa, e essa é a inteira a informação que possuo.

Sr. Dillon: Tem a atenção do Nobre Senhor sido dirigida para o fato de que foram publicadas no Frankfurter Zeitung e em outros importantes jornais alemães descrições de todo este processo, em que a palavra Kadaver é usada, e da qual é perfeitamente manifesto que essas fábricas têm o propósito de ferver os cadáveres de cavalos e outros animais que estão deitados no campo de batalha – (um Membro Hon.: “Animais humanos!”) – e eu peço ao Exmo. Senhor se o Governo se propõe a tomar quaisquer medidas para obter informações autênticas se esta história que circulou é verdadeira ou absolutamente falsa. Para crédito da natureza humana, ele deveria.

Lord R. Cecil: Não é qualquer parte dos deveres do Governo, nem é possível ao Governo, instaurar inquéritos sobre o que se passa na Alemanha. O Exmo. deputado é certamente muito desarrazoado ao fazer a sugestão, e quanto às suas citações do Frankfurter Zeitung, não as vi, mas vi declarações feitas pelo Governo alemão após a publicação desta, e confesso que não sou capaz dar grande importância a quaisquer declarações do Governo alemão.

Sr. Dillon: Eu peço humildemente para perguntar ao Exmo. Senhor, se um Ministro da Coroa, membro do Gabinete de Guerra, antes de dar autorização para esses rumores, não deveria ter obtido informações acuradas sobre se eles são verdadeiros ou não.

Lord R. Cecil: Eu acho que qualquer Ministro da Coroa tem o direito de comentar e se referir a algo que tem sido publicado em um dos principais jornais do país. Ele somente propôs fazer isso, e não se fez reponsável pela declaração (um Exmo Deputado: “Ele fez!”). Eu estou informado de que não fez. Ele disse: “Conforme tem sido declarado nos jornais.”

Sr. Outhwaite: Posso perguntar se o Nobre Senhor está ciente de que a circulação desses relatórios (interrupção) tem causado ansiedade e miséria ao povo britânico que tem perdido seus filhos no campo de batalha, e que pensam que seus corpos podem ser colocados para este propósito, e isso não é uma razão para ele tentar descobrir a verdade sobre o que está acontecendo na Alemanha?

Câmara dos Comuns, 30 de abril de 1917

No The Times de 3 de maio de 1917, havia citações do Frankfurter Zeitung afirmando que a imprensa francesa está agora tratando a história de Kadaver como um “mal-entendido.”

O The Times de 17 de maio de 1917 relatou que Herr Zimmermann negou no Reichstag que corpos humanos fossem usados; e afirmou que a estória apareceu primeiro na imprensa francesa.

Em réplica a uma pergunta na Câmara dos Comuns em 23 de maio, o Sr. A. Chamberlain afirmou que o relatório estaria “à disposição do público na Índia pelos canais habituais.”

Um desenho de fábrica de cadáveres apareceu em Punch:

Kaiser (para o recruta de 1917): E não se esqueça de que seu Kaiser encontrará um uso para você vivo ou morto. (No estabelecimento do inimigo para a utilização de cadáveres, os cadáveres de soldados alemães são tratados quimicamente, sendo os principais produtos comerciais óleos lubrificantes e ração de porco.)

Vista da fábrica de cadáveres pela janela.

A estória teve uma circulação mundial e teve um valor de propaganda considerável no Oriente. Não até 1925 a verdade emergiu.

Uma impressão dolorosa foi produzida aqui por um discurso infeliz do brigadeiro-general Charteris no jantar do National Arts Club, no qual ele afirmou contar a verdadeira história do relatório do tempo da guerra de que a Alemanha estava fervendo os corpos de seus soldados mortos para obter gorduras para munições e fertilizantes.

Segundo o general Charteris, a estória começou como propaganda para a China. Ao transpor a legenda de uma das duas fotografias encontradas em prisioneiros alemães para a outra, ele deu a impressão de que os alemães estavam fazendo um uso terrível de seus próprios soldados mortos. Esta fotografia ele enviou para um jornal chinês em Xangai. Ele contou a história familiar de sua posterior republicação na Inglaterra e da discussão que criou lá. Ele contou, também, como, quando lhe foi referida uma questão colocada na Câmara, ele respondeu dizendo que, pelo que conhecia da mentalidade alemã, ele estava preparado para qualquer coisa.

Mais tarde, disse o general Charteris, afim de corroborar a história, o que parecia ser o diário de um soldado alemão foi forjado em seu escritório. Foi planejado que isso fosse descoberto em um alemão morto por um correspondente de guerra apaixonado por diários alemães, mas o plano nunca foi executado. O diário estava agora no museu da guerra em Londres.

The Times, 22 de outubro de 1925. Do New York Correspondent


Algumas opiniões de políticos podem ser dadas.

Lloyd George: A estória chegou ao meu conhecimento de várias maneiras na época. Eu não acreditei então; eu não acredito nisso agora. Nunca foi adotado como parte do arsenal do Departamento de Propaganda Britânico. Isso foi, de fato, “recusado” por esse departamento.

Sr. Masterman: Nós certamente não aceitamos a história como verdadeira, e eu não conheço ninguém em cargos oficiais na época que a tenha creditado. Nada tão suspeito como isso foi usado em nossa propaganda. Apenas as informações que foram devidamente verificadas foram circuladas.

Sr. 1. Macpherson: Eu estava no Ministério da Guerra na época. Não tínhamos motivos para duvidar da autenticidade da história quando ela chegou. Foi apoiado pelas ordens divisionais capturadas do exército alemão na França, e tenho a impressão de que também foi apoiado pelo Ministério das Relações Exteriores com base em extratos da imprensa alemã.

Não sabíamos que ela tinha sido inventada por alguém, e se nós tínhamos conhecimento que havia a menor dúvida sobre a veracidade da história, ela não teria sido usada de forma alguma por nós.

Um correspondente de Nova Iorque descreve como ele ligou para o general Charteris, perguntou a verdade do relatório e sugeriu que, se não fosse verdade, ele deveria levá-lo ao New York Times.

Sobre isso, ele protestou vigorosamente que ele não podia pensar em contestar o relatório, pois os erros eram apenas de menor importância.

Daily News, 5 de novembro de 1925

Havia um artigo do Times sobre o mesmo assunto citando a asseveração do New York Times sobre a veracidade de sua versão do discurso.

Este artigo faz a observação significativa de que, no curso de sua negação, ele não ofereceu nenhum comentário sobre sua reportada admissão de que evitou dizer a verdade quando questionado sobre o assunto na Câmara dos Comuns, ou em sua própria descrição de um esquema para apoiar a história da Fábrica de Cadáveres “plantando” um diário forjado na roupa de um prisioneiro alemão morto – uma proposta que ele apenas abandonou para que o engano não fosse descoberto.

O Brigadeiro-General Charteris, que voltou da América no fim de semana, visitou ontem o Gabinete de Guerra e teve uma entrevista com o Secretário de Estado da Guerra (Sir Laming Worthington-Evans) sobre os relatos de seu discurso sobre propaganda de guerra em Nova Iorque. Entende-se que o Gabinete de Guerra agora considera o incidente como encerrado e que nenhuma investigação adicional provavelmente será mantida.

O general Charteris partiu para a Escócia no final do dia e, ao chegar a Glasgow, emitiu a seguinte declaração:

“Ao chegar à Escócia, fiquei surpreso ao descobrir que, apesar do repúdio emitido por mim em Nova Iorque através da agência de Reuter, algum interesse público ainda estava excitado no relato totalmente incorreto de minhas observações em um jantar privado em Nova Iorque. Eu sinto necessário, portanto, dar novamente uma negação categórica à afirmação atribuída a mim. Certas sugestões e especulações sobre as origens da história do Kadaver, as quais já foram publicadas em These Eventful Years (British Encyclopedia Press) e em outros lugares, as quais eu repeti, são, sem dúvida não intencionais, mas infelizmente, transformados em declarações definitivas de fato e atribuídas a mim.

“Para que ainda não haja quaisquer dúvidas, deixe-me dizer que não inventei a estória do Kadaver nem alterei as legendas em nenhuma fotografia, nem usei material falsificado para propósitos de propaganda. As alegações de que fiz isso não são apenas incorretas, mas absurdas, pois a propaganda não estava de forma alguma sob a Sede do Quartel-General da França, onde eu era responsável pelos Serviços de Inteligência. Eu deveria estar tão interessado quanto o público em geral em saber qual era a verdadeira origem da estória de Kadaver. A Sede do Quartel-General da França só entrou quando um fictício diário apoiando a estória de Kadaver foi enviado. Quando se descobriu que este diário era fictício, ele foi imediatamente rejeitado.

“Eu tenho visto o secretário de Estado esta manhã e tenho explicado todas as circunstâncias para ele, e tenho sua autoridade para dizer que ele está perfeitamente satisfeito.”

The Times, 4 de novembro de 1925

O tenente-comandante Kenworthy perguntou ao secretário de Estado da Guerra se, em vista do sentimento levantado na Alemanha pelo recrudescimento dos rumores da chamada fábrica de conversão de cadáveres atrás das linhas alemãs no final da guerra, ele pode dar alguma informação quanto à fonte do rumor original e a extensão a qual isso foi aceito pelo Ministério da Guerra na época.

Sir L. Worthington-Evans: A esta distância de tempo, não acho que a fonte do boato possa ser traçada com qualquer certeza. A declaração, de que os alemães tinham montado uma fábrica para a conversão de corpos mortos, primeiro apareceu em 10 de abril de 1917, no Lokalanzeiger, publicado em Berlim, e no l'Independance Belge e La Belgique, dois jornais belgas publicados na França e na Holanda. As declarações foram reproduzidas na imprensa aqui, com o comentário de que foi a primeira admissão alemã sobre a maneira como os alemães usaram seus corpos mortos.

Questões foram feitas na Câmara dos Comuns em 30 de abril de 1917, e o Subsecretário de Estado das Relações Exteriores replicou em nome do Governo que ele não tinha então nenhuma informação além daquela contida no extrato da imprensa alemã. Mas logo depois uma Ordem do Exército Alemão contendo instruções para a entrega de cadáveres aos estabelecimentos descritos no Lokalanzeiger foi capturada na França e encaminhada ao Ministério da Guerra, que, após cuidadosa consideração, a permitiu ser publicada.

Os termos desta ordem eram tais que, tomados em conjunto com os artigos no Lokalanzeiger e nos dois jornais belgas e os rumores anteriormente existentes, parecia ao Ministério da Guerra fornecer evidências corroborativas da história. A evidência de que a palavra Kadaver foi usada para significar corpos humanos, e não apenas carcaças de animais, foi encontrada em dicionários alemães e trabalhos anatômicos e outros, e a afirmação alemã de que a história foi descartada por referência ao significado da palavra Kadaver foi não aceita. Pelas informações diante deles na época, o Ministério da Guerra parece não ter visto nenhuma razão para não acreditar na veracidade da história.

Tenente - Comandante Kenworthy: Eu estou muito agradecido ao Exmo. Cavalheiro por sua resposta muito plena. Ele não acha desejável agora que o Ministério da Guerra finalmente repudie a história e sua presente crença nela?

Sir L. Worthington-Evans: Eu não posso acreditar que qualquer interesse público seja servido por mais questões sobre esta história. Dei à Câmara as informações mais completas de que disponho na esperança de que os Exmos. deputados ficarão satisfeitos com o que eu tenho dito. (Senhores membros: Ouçam, ouçam.)

Tenente-Comandante Kenworthy: O Exmo. Senhor não acha desejável, mesmo agora, finalmente admitir a imprecisão da história original, tendo em vista Locarno e outras coisas?

Sir L. Worthington-Evans: Não é uma questão de ser acurado ou inacurado. O que eu estava preocupado eram as informações sobre as quais o Ministério da Guerra atuava na época. É claro que o fato de não haver corroboração desde então necessariamente altera a complexidade do caso, mas eu estava lidando com as informações em posse das autoridades na época.

Câmara dos Comuns, 24 de novembro de 1925

Esta foi uma tentativa contínua de evitar uma negação completa, e coube a Sir Austen Chamberlain pregar a mentira finalmente no balcão. Em resposta ao Sr. Arthur Henderson em 2 de dezembro de 1925, perguntando se ele tinha alguma declaração a fazer sobre a história de Kadaver, ele disse:

Sim senhor; meu Exmo. amigo, o Secretário de Estado da Guerra disse à Câmara na semana passada como a história alcançou ao Governo de Sua Majestade em 1917. O Chanceler do Reich Alemão me autorizou a dizer, sob a autoridade do Governo Alemão, que nunca houve qualquer fundamento para isso. Eu escassamente preciso acrescentar que, em nome do Governo de Sua Majestade, aceito esta negação e confio que este falso relatório não será novamente revivido.

A impressão dolorosa feita por este episódio e esforços similares de propaganda nos Estados Unidos é bem ilustrada por um editorial no Times-Dispatch, de Richmond, EUA, em 6 de dezembro de 1925.

Não menos que os horrores da guerra moderna é o escritório de propaganda, o qual é um item importante no estabelecimento militar de todas as nações. Nem é o menor dos muitos sinais encorajadores que a cada ano aumentam a probabilidade de uma eventual paz na terra. A famosa história de Kadaver, que despertou o ódio contra os alemães ao ponto de ebulição nesta e em outras nações aliadas durante a guerra, foi denunciada como mentira na Câmara dos Comuns britânica.

Meses atrás, o mundo ficou sabendo dos detalhes de como essa mentira foi planejada e divulgada pelo eficiente oficial do Serviço de Inteligência Britânico. Agora nos dizem que, imbuído do espírito do pacto de Locarno, Sir Austen Chamberlain se levantou na Câmara, disse que o chanceler alemão havia negado a veracidade da história, e que a negação havia sido aceita pelo governo britânico.

Há alguns anos, a história de como o Kaiser estava reduzindo cadáveres humanos a gordura despertou os cidadãos desta e de outras nações iluminadas para uma fúria de ódio. Normalmente homens sãos dobraram os punhos e correram para o sargento de recrutamento mais próximo. Agora eles estão sendo informados, de fato, que eles mangados e feito de tolos; que seus próprios oficiais os incitaram deliberadamente ao ponto de ebulição desejado, usando uma mentira infame para despertá-los, assim como um valentão adulto sussurra para um menino que outro menino disse que poderia lambê-lo.

O sinal encorajador encontrado nesta revoltante admissão de como a guerra moderna é travada é a inferência natural de que o homem moderno não está ansioso demais para se jogar na garganta de seu irmão com a simples palavra de comando. Suas paixões devem ser aproveitadas, então o escritório de propaganda tomou seu lugar como uma das principais armas.

Na próxima guerra, a propaganda deve ser mais sutil e inteligente do que o melhor que a {Primeira} Guerra Mundial produziu. Essas francas admissões de mentiras indiscriminadas por parte de governos confiáveis na última guerra não serão tão cedo esquecidas.

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander

 



Fonte: The Journal of Historical Review, verão de 1980 (Volume 1, nº 2), páginas121 -130.

http://www.ihr.org/jhr/v01/v01p121_Ponsonby.html

Este artigo é um capítulo do livro Falsehood in Wartime, de Arthur Ponsonby, publicado pela primeira vez na Grã-Bretanha em 1928 e reimpresso na edição acima do The Journal of Historical Review.

Sobre o autor: Arthur Ponsonby (1871-1946), foi um político, escritor e ativista social britânico. Ele estudou no Eton College em Berkshire, fez estudos superiores no Balliol College, Oxford, antes de ingressar no Serviço Diplomático e assumir missões em Constantinopla e Copenhague. Foi eleito pela primeira vez para o parlamento em 1908. Junto com algumas outras figuras políticas britânicas proeminentes, em 1914 ele se opôs à entrada de seu país na Primeira Guerra Mundial. Após a derrota nas eleições gerais de 1918, ele ficou fora do parlamento por quatro anos. Mas em 1922 foi eleito deputado do Partido Trabalhista. Tornou-se Barão em 1930 e serviu como líder do Partido Trabalhista na Câmara dos Lordes a partir de 1935. Ele renunciou a este cargo em oposição à política de sanções do Partido contra a Itália por sua invasão da Etiópia.

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