domingo, 19 de maio de 2019

{Lembrando} Julius Evola {19/05/1898-11/06/1974} - por Alain de Benoist


Alain de Benoist

“O que se vai ler diz respeito somente ao homem que, apesar de integrado ao mundo atual, no ponto mais paradoxal e problemático da vida moderna, não lhe quer, no entanto, ceder e que se sente, na sua essência, de uma raça diferente da maioria dos homens de hoje” (Cavalcare la tigre).

De barba curta e aristocrática, feições regulares, alto, o filósofo Julius Evola escrevia para um pequeno número de leitores, para os homens que ficam “de pé entre as ruínas”. Morreu em 11 de junho de 1974, aos 76 anos de idade, na sua casa de Corso Vittorio Emanuele, em Roma.

            – Cerca das 15 horas e 15 minutos, como lhe tinha sido predito e ele tão ansiosamente desejava, declara Pierre Pascal, amigo de Evola, escritor e tradutor em francês de vários dos seus livros.

Julius Evola era o mais iminente representante de um pensamento “tradicional” em Itália, o que o fez referir-se a Joseph de Maistre, Taparelli d’Azeglio e Solaro della Margherita. Foi muitas vezes comparado com o alemão Ernst Jünger ou, ainda mais corretamente, ao esoterista francês René Guénon.

No velho conflito entre os guelfos, partidários exclusivos do papado e os gibelinos, para quem o Império Romano-Germânico era ao mesmo tempo que a Igreja, uma instituição de caráter sobrenatural, Evola era partidário dos segundos.


Contra o mundo moderno

Nascido em Roma a 19 de maio de 1898, J. Evola declara-se primeiramente contra a obra de Nietzsche, Michelstäder e Otto Weininger (Geschlecht Und Charakter). Durante a Primeira Grande Guerra é oficial de artilharia na frente. Participa em seguida aos movimentos culturais de vanguarda que se desenvolvem em Itália: dadaísmo com Tristan Tzara, futurismo com Marinetti. Poemas, quadros. Em 1920 publica uma brochura sobre L’Art Abstrait, na coleção Dada de Zurique, que é a sua consagração.
Evola ainda jovem.

A sua formação científica, no entanto, leva-o mais longe. Uma primeira série de ensaios que publica, traduzem o seu interesse pela filosofia (Teoria dell'individuo assoluto, 1920), pelo esoterismo (La tradizione ermetica, 1931) e pelo movimento das idéias (Maschera e volto dello spiritualismo contemporaneo, 1932).

Dirige a revista Ur desde 1927 até 1929. Um ano mais tarde anima La Torre. “A palavra ur – explicará – é a velha denominação do ‘fogo’, mas refere-se também a tudo o que é ‘primordial’, ‘original’ (sentido que ainda conserva a língua alemã).”

Em 1934 publica uma obra capital, Rivolta contro il mondo moderno, que é uma espécie de manifesto. Aí, Evola vai descrever, como opostos, “dois tipos universais, duas categorias a priori da civilização”: o mundo moderno e o mundo da tradição – uma tradição que associa o esoterismo ocidental (aventura templária e mistério do Graal) a um retorno às fontes da antiguidade pré-cristã e de um passado “hiperbóreo”.

Logo de início, a ideia de progresso é rejeitada: “Não há nada mais absurdo que essa ideia de progresso que, com o seu corolário da superioridade da civilização moderna, criou álibis ‘positivos’ falsificando a história e insinuando nos espíritos mitos deletérios, e proclamando a sua superioridade nas encruzilhadas da ideologia plebeia que, afinal, lhe deu origem”.

Para Evola, o mundo moderno é “uma floresta petrificada tendo o centro o caos”. Daí, que a história dos últimos dois milênios seja, não de progresso, mas sim de involução.

Evola compara o Ocidente a um corpo: “Depois de ter tido os organismos vivos e móveis, estes foram tomados pela rigidez que transforma o corpo em cadáver. Depois, vem a última fase da decomposição”. “Nós entramos”, acrescenta, “no último grau de um ciclo: o reino da máquina, da expansão do materialismo e do igualitarismo são as provas evidentes disso. Em volta da cultura europeia aperta-se o torno do bolchevismo e do americanismo, ambos fundados numa concepção economista da vida. Nós vivemos na idade sombria dos velhos hindus[1] (o kali-yuga), na idade de ferro da tradição clássica, na idade do lobo da tradição nórdica. Esqueceu-se a tradição”.

1ª edição de Rivolta contro il mondo
 moderno, de 1934. Uma obra prima 
escrita quando Evola tinha 36 anos.
Dando-nos, assim, uma visão diferente da perspectiva histórica. Evola não dissimula o seu parti pris {viés} metodológico: “As questões que mais nos absorvem são aquelas em que os elementos com valor ‘histórico’ e ‘científico’ menos contam; em que tudo o que, quanto é mito, lenda ou saga, está desprovido de verdade histórica e de força demonstrativa e adquire, pelo contrário, por essa mesma razão, uma validade superior, tornando-se fonte de um conhecimento mais real e seguro. É por isso que a Roma da lenda nos falará numa linguagem mais clara do que a Roma temporal e que as lendas de Carlos Magno nos farão compreender melhor o que significava o rei para os francos, do que as crônicas e os documentos positivos da época. Não nos preocuparemos, pois, em discutir e ‘demonstrar’. As verdades que nos podem fazer compreender o mundo tradicional, não são das que se ‘aprendem’ ou se ‘discutem’. Elas apenas são ou não são: apenas podem relembrar”.

E conclui: “Só um regresso tradicional a uma nova consciência unitária europeia pode salvar o Ocidente”.

O livro produz grande celeuma desde a sua publicação. O poeta Gottfried Benn, depois de o ler, declare-se “transformado”. Na Itália as reações são menos retumbantes. Apesar de ligado a Mussolini, J. Evola conta com grande número de adversários nas fileiras do partido fascista. O filósofo Giovanni Gentile é-lhe hostil. O pessimismo aristocrático que se desprende de sua obra não é coisa que convenha a uma época triunfalista por encomenda. A sua obra intitulada Imperialismo pagano, publicada em 1928, ainda hoje nos faz os meios contraditórios rangerem os dentes.

Evola continua a interessar-se pelo esoterismo e depois da publicação de La tradizione ermetica, publica La dottrina del risveglio (1943), sobre a ascese do budismo, e ainda Lo Yoga della potenza. Em Il Mistero del Graal (1937), estuda os fundamentos da “tradição gibelina no Império”, lançando bases, também, de uma “antropologia espiritual”. A exemplo de Ludwig Ferdinand Clauss (Rasse und Seele, 1933), define a raça segundo critérios estritamente biológicos (Il mito del sangue, 1937; Sintesi di dottrina della razza, 1941)[2].

Em 1945, Evola encontra-se em Viena por altura de um violento bombardeio. Ferido na coluna vertebral, Evola é hospitalizado por vários meses. Ficará com os membros inferiores paralisados.

Regressa a Itália em 1948, e dois anos depois apresenta novas ideias que desenvolverá mais tarde na obra Gli uomini e le rovine (1953), num pequeno ensaio intitulado Orientamenti, undici punti. A este seguem-se: Metafisica del sesso (1958), Cavalcare la tigre (1961), Il cammino del cinabro (1963), L'arco e la clava (1968), etc.


O Estado orgânico

No livro Gli uomini e le rovine, Evola aborda diretamente a questão política, dirigindo-se à jovem direita italiana e propondo-lhe “uma visão geral da vida e uma doutrina rigorosa do Estado”. Ao Estado moderno ele opõe o ideal de Estado orgânico cantado já por Vico e Fustel de Coulanges: o Estado em que cada um tem o seu lugar – como, no organismo cada órgão tem o seu. O Estado, diz ele, é o conjunto tanto espiritual como “físico”. Não é “o reflexo” da sociedade, é o agente que transforma e estrutura essa sociedade e que, apontando-lhe um destino, faz de um agregado sem coesão um verdadeiro conjunto elevado à dignidade de político.
“O fundamento de qualquer Estado verdadeiro”, escreve Evola, “é a transcendência do seu princípio, quer dizer, do princípio da soberania, da autoridade e da legitimidade. Por exemplo, a antiga noção romana de impérium pertence essencialmente ao domínio do sagrado: antes de significar um sistema de hegemonia territorial supranacional, designa sobretudo o puro poder do comando, a força quase mística e a auctoritas próprias daquele que exerce as funções e a qualidade de chefe, tanto na ordem religiosa e guerreira, como na família patrícia (a gens) e no Estado (a república).”
O Estado aparece, assim, como uma noção essencialmente masculina. As suas relações como povo (a pátria, a nação), são análogas às do homem para com a mulher, do pater famílias como a família, e, no domínio das crenças indo-européias, do céu com a terra. “É assim que, na Roma antiga, a noção de Estado e de impérium, de poder sagrado, se ligava fortemente ao culto simbólico das divindades viris do céu, da luz e do mundo superior, por oposição à região obscura das Mães e das divindades infernais gregas.”
Só quando os recursos do impéruim se esgotaram e a população não estava em estado de perceber o que isto significava, é que os chefes de Estado, não conseguindo tirar a sua legitimidade “do alto”, se viram obrigado a ir buscá-las “em baixo”: foi a democracia, o cesarismo, a ditadura e a tirania – sistemas diferentes, mas cuja força provém do demos e que levam ao comunismo, cujo objetivo confesso é a supressão do Estado.
De passagem, J. Evola denuncia a ilusão igualitária como um simples absurdo lógico: “Vários seres iguais não seriam ‘vários, mas um. Querer a ‘igualdade de vários’ implica uma contradição nos termos. Pelo contrário, numa sociedade hierarquizada, podem conceber-se facilmente diferentes ‘níveis de igualdade’: quando a ideia hierárquica, no passado, era reconhecida a noção de ‘par’ e de ‘igual’ significaram muitas vezes uma ideia aristocrática. Em Esparta, o título de omoioi, de ‘iguais’, aplicava-se exclusivamente à elite que detinha o poder, título revogável em caso de indignidade por parte de detentor. Da mesma forma, na antiga Inglaterra, o título de pair (peer), foi, como se sabe, reservado aos lordes.”
Já Jean-Batista Vico, inspirador de Montesquieu, dizia: “Os homens querem primeiro a liberdade dos corpos e depois das almas, ou seja, a liberdade do pensamento e a igualdade com os outros; em seguida querem ultrapassar os iguais; e, finalmente, colocar os seus superiores por baixo deles” (Scienza Nuova, II, 23).
Ao mesmo tempo, Evola preocupa-se em distinguir o elitismo do bonapartismo e do maquiavelismo. Considera Bonaparte o sucessor dos condottieri da Renascença, dos tribunos da plebe romana e dos “tiranos populares” surgidos na Grécia antiga depois do declínio das aristocracias. Há bonapartismo todas as vezes que o chefe retira sua autoridade de outro que não ele, cada vez que se apresenta como “filho do povo” e não como “o representante de uma humanidade mais perfeita, que afirma um princípio superior”. “Enquanto que o conceito tradicional de soberania e autoridade implica distância”, escreve Evola, “porque é o sentimento da distância que provoca nos inferiores a veneração, o respeito natural, uma disposição instintiva para a obediência e lealdade para com o chefe, neste caso tudo se passa inversamente: de um lado o poder, a abolição da distância e do outro a aversão a ela. O chefe bonapartista ... ignora o princípio qual quanto maior for a base mais alto se deve manter o cume. Sucumbo do complexo de “popularidade”, o bonapartista faz questão de todas as manifestações que lhe possam dar a certeza, ainda que ilusória, de que o povo o segue e o aprova. Neste caso, é o superior que precisa do inferior para experimentar o sentimento do seu próprio valor e não o contrário, como seria normal.”
Evola toma, assim, partido por uma ascese do poder: “É bom que a superioridade e o poder se associem, mas com a condição de que o poder se funda na superioridade e não a superioridade no poder. E cita Platão: “Os verdadeiros chefes são aqueles que apenas assumem o poder por necessidade, porque não conhecem nem melhores nem iguais a quem essa tarefa possa ser confiada” (Republica, 347 c).

Direito às armas e dever militar
O “estilo militar”, que não é senão uma das facetas dos valores heróicos, não deve, da mesma forma, confundir-se com o militarismo ou com a guerra: “A ideia guerreira não se reduz a um materialismo, nem é sinônimo de exaltação do uso brutal da força e da violência destrutiva. A formação calma, consciente e dominada do ser interior e do comportamento, o amor pela distância, pela hierarquia, pela ordem, a faculdade de subordinar o elemento passional e individualista de si mesmo a princípios e fins superiores, sobretudo aos da honra e do dever, são elementos essenciais a esta ideia e o fundamento de um estilo preciso, que viria a perder-se quando estes Estados, em que tudo isto pertencia a uma severa e longa tradição quase de casta, foram substituídos por democracias tradicionalistas, em que o dever do serviço militar substituiu o direito às armas.”
Hoje, lembra Julius Evola, as guerras estão longe de ter desaparecido, antes pelo contrário: tornaram-se totais. Elas atingem o conjunto da população, que, em virtude do princípio igualitário, é obrigada a vestir o uniforme – toca a totalidade dos civis.
O homem da elite, para Evola, não é portanto nem o homem de exceção, nem o brilhante orador e nem sequer o gênio. É “aquele em que se revela uma tradição e uma ‘raça de espírito’, aquele que deve a sua grandeza não ao homem, mas sim ao princípio, à ideia, numa certa impessoalidade soberana”. Os critérios decisivos são aqui, antes da inteligência, o caráter e a forma do espírito, porque “a visão do mundo (Weltanschauung) pode ser mais clara num homem sem instrução do que num escritor, mais firme num soldado, num membro de família aristocrática ou num camponês fiel à terra do que num intelectual burguês, num professor ou num jornalista.”
A “visão de mundo” também não é qualquer coisa individual. Também ela procede de uma tradição, “resultante orgânica das forças às quais um tipo de civilização deve a forma que lhe é própria.”
“A cultura”, acrescenta Evola, “não cessa de ser um perigo para quem tem uma visão de mundo, porque essa pessoa dispõe de uma configuração interior que lhe serve de guia seguro para discernir (como em todos os processos orgânicos), o que pode ser assimilável e o que deve ser rejeitado (...). Uma das consequências mais graves da ‘livre cultura’ ao alcance de todos, é que os espíritos incapazes de discriminar segundo julgamento acertado, os espíritos que ainda não possuem forma própria, são os que se encontram mais desarmados no plano espiritual, para fazer face a todos os tipos de influências.”
Julius Evola volta afirmar que não se dirige às massas, mas sim aos égrégoroi: àqueles que trazem consigo a ideia de uma regeneração; àqueles que, depois de terem “cristalizado” na história, ainda se mantêm de pé. (“Resta saber quantos homens ainda se mantêm de pé por entre as ruínas para compreenderem.”) Evola diz a esses homens bem-nascidos que é inútil resistir directamente ao caos reinante: a corrente é demasiado forte para ser reprimida. Mas vale que se esforcem por tomar o comando de um processus que se considera inevitável. “É preciso determinar até que ponto se pode tirar partido das perturbações destruidoras; até que ponto, graças a uma firmeza interior e a uma orientação no sentido da transcendência, o não-humano do mundo moderno, em vez de levar ao sub-humano (como na maioria das formas atuais), pode favorecer as experiências de uma vida superior e de uma liberdade também superior.”
Um ditado do Extremo Oriente resume este conselho: “Cavalgar o tigre”, para o impedir de morder, e, talvez, para o poder dirigir na sua correria.

Evola em 1973. Um ano antes de falecer,
e completamente lúcido com 75 anos.
Conseguir uma ultrapassagem por cima
O que, portanto, Evola propõe, é uma contestação radical da sociedade burguesa, mas uma contestação inversa à que hoje vemos, e que não passa da sua antítese relativa. Não é, aliás, a burguesia como classe que Evola ataca, mas sim a burguesia como forma de espírito, como “tudo o que sai da mentalidade burguesa com o seu conformismo, os seus prolongamentos psicológicos e românticos, o seu moralismo e a sua preocupação por uma vidinha segura, em que o materialismo fundamental encontra a sua compensação no sentimentalismo e na grandiloquência humanitária e democrática.”
E tal como, precisa ele, “a burguesia nas civilizações tradicionais ocupava um lugar intermediário entre a aristocracia guerreira e política e o povo, também existem duas maneiras – uma positiva e outra negativa – de ultrapassá-la com categoria e de tomar posição contra o tipo, a civilização, os valores e o espírito burgueses. A primeira possibilidade consiste em seguir uma direção que leva ainda mais abaixo, que dizer, aos valores sociais marxistas opostos àquilo que se chama “decadentismo burguês” (...). O resultado não poderá ser senão uma nova regressão: vai-se em direção a algo que se situa abaixo da pessoa e não acima dela...”
“Mas existe outra possibilidade: uma exigência e uma luta contra o espírito burguês, contra o individualismo e o falso idealismo, mais decididos que os dos movimentos de esquerda, mas, desta vez, orientados para o alto. Esta segunda possibilidade obriga-nos a retomar e assumir, uma forma natural e clara, sem retórica nem grandiloquência, os valores heróicos e aristocráticos. Porque podemos deste modo manter a distância em relação a tudo o que não passa de humano e principalmente subjetivo; podemos desprezar o conformismo burguês, o seu egoismozinho e seu moralismozinho; podemos assumir um estilo ativo de impersonalidade, amar o que é essencial e real (no sentido superior), pondo de parte as brumas do sentimentalismo e as estruturas intelectualistas; podemos consagrar-nos a uma ‘desmistificação’ radical – tudo isso mantendo-nos de pé, sentindo a evidência daquilo que na vida vai para o além da vida e extraindo daí regras precisas para a ação e comportamento.”

Era do partido da estrela polar
Julius Evola vivia retirado há trinta anos, com as duas pernas paralisadas, entre os seus quadros, os seus livros e os amigos que ainda o visitavam, quando chegou o momento da sua morte. Tendo tornado-se mestre da maneira de pensar duma parte da direita italiana e, sobretudo de um número crescente de jovens, não cessou de ser atacado pela esquerda que fingia ver nele o ideólogo de uma nova Ordem de Sainte Vehme[3]. Ficou sempre impassível, visto ter optado, de uma vez para sempre, por não se deixar arrastar para o campo da polemica.
– O homem que tem virtude não discute, dizia ele citando o Lao-Tse.
Um livro de homenagem, publicado em 1973, orientado por Gianfranco de Turris (Testimonianze su Evola), mostra bem a influência que ele exercia.
Pierra Pascal compara a expressão grave e altaneira de Evola com a de Montherlant: dois gigantes solitários .
– Eram os dois, diz ele, do partido da estrela polar.

Julius Evola 19/05/1898-11/06/1974
Um dos faróis da regeneração humana na Idade das Trevas atual

{Bibliografia}
Les Hommes au Milleu des Ruines”, ensaio de Julius Evola, Sept Couleurs, 252 páginas.
Testimonianze su Evola”, ensaios publicados sobre a direção de Gianfranco de Turris, Ed. Mediterranee, Roma, 235 páginas.

Um dos últimos livros de Evola publicados na Itália é uma coletânea de artigos: “Ricognizioni” (Mediterranee, Roma, 1974). Na França, para além de “Les Hommes au Milieu des Ruines”, existem traduções de “La Doctrine de l’Eveil” (Adyar, 1956, 2° edição: Archè, Milano, 1976), “Métaphysique du Sexe” (Payot, 1959 e 1976), “La Tradition Hermétique” (Ed. Tradicionnelles, 1961 e 1968), “Chevaucher le Tigre” (La Colombe, 1964), “Le Mystère du Graal” (Ed. Traditionnelles, 1967), “Le Yoga Tantrique” (Fayard, 1971), “Révolte Contre l’Homme Moderne” (Ed. De l’Homme, Bruxelles, 1972), “Masques et Visages du Spiritualisme Contemporain” (Ed. De l’Homme, Bruxelles, 1972).

Dirigida por Paolo Andriani, a Fundação Julius Evola propõe-se velar pela conservação dos livros e manuscritos deixados por Evola, e “defender os valores de uma cultura conforme a tradição”. A Fundação instalou a sede no antigo domicílio do escritor (Corso Vittorio Emanuele, 197, Roma).
Foi publicada em 1977, nas edições Copernic, uma obra coletiva sobre “Julius Evola. L’Homme et l’Ouevre”. Podem aí ler-se textos de Jean Varenne, Michel Angebert, Pierra Pascal, Renato Del Ponte, Robert de Herte e Vintila Horia.



Notas


[1] Nota do editor: Na tradução do francês ao português foi colocado originalmente índios e não hindus, este último termo opção que escolhi como editor para não deixar espaço para confusão entre índios e os povos indo-europeus.

[2] Nota do editor: É preciso fazer um esclarecimento, pois na realidade o trabalho de Julius Evola Il mito del sangue (O mito do sangue), de 1937 é uma análise das diversas concepções raciais que registravam decisiva, mas não única, importância ao fator biológico na apreciação racial, e o trabalho de Ludwig Ferdinand Clauss, um dos principais nomes da Alemanha de Hitler na questão racial, era revolucionário justamente por priorizar o componente psicológico, sendo, portanto, uma contraparte aos outros eruditos e cientistas raciais da Alemanha que priorizavam componente biológico. Posteriormente, Evola escreveu o trabalho racial que trazia as concepções dele próprio, Sintesi di dottrina della razza (Síntese da doutrina da raça), de 1941, na qual o homem é delineado em suas partes transcendental, psicológica e biológica.

[3] Nota do editor: Refere-se à uma organização medieval remontando ao início da Idade Média no período de Carlos Magno, porém com heranças mais arcaicas, que atuava na Europa, especialmente na Alemanha, impondo severa patrulha sobre os costumes de então.


Fonte: Nova Direita Nova Cultura – Antologia crítica das ideias contemporâneas; Editora Afrodite, 1981, Lisboa – Portugal. Este capítulo foi traduzido da edição francesa ao português por Maria João de Serpa Pacheco de Amorim.
Edição do artigo e palavras entre chaves por Mykel Alexander. Isso inclui a escolha pelos nomes das obras de Evola no decorrer do artigo no original italiano e não francês como fez Benoist.  


Nota do editor: Em português das obras de Julius Evola vertidas a partir do italiano temos:
A Tradição Hermética, Edições 70, Lisboa, 1971, tradução de Maria Teresa Simões.
O Mistério do Graal, Editora Pensamento, São Paulo, 1972, tradução de Pier Luigi Cabram.
Revolta contra o Mundo Moderno, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1989, Tradução de José Colaço Barreiros.
Metafísica do Sexo, Editora Vega, Lisboa, 1993 (2ª edição), tradução de Elisa Teixeira Pinto.
Revolta contra o Mundo Moderno, Editora Irget, São Paulo, 2010, Edição de Luiz Pontual.

Sobre o autor: Alain de Benoist (1943 – ) é um acadêmico e jornalista francês formado em Direito (Universidade de Paris, especializado em Direito Constitucional) e Filosofia (Universidade de Sorbonne, especializado em Sociologia e História das Religiões). De vasta obra literária, escreveu mais de 60 livros assim como ultrapassou a marca de 4500 artigos escritos, 50 teses universitárias, e 140 reportagens, e na atualidade é uma das mais respeitadas autoridades sobre a cultura ocidental. Por quatro anos foi editor da revista semanal L'Observateur europée, depois foi editor da L'Echo de la presse et de la publicité's, em 1969 assumiu o cargo de editor da Nouvelle Ecole, cargo que ocupa até hoje, e desde 1988 tem sido editor da revista Krisis.
Dentre seus livros foram traduzidos para português:
Nova Direita Nova Cultura – Antologia crítica das ideias contemporâneas; Editora Afrodite, 1981, Lisboa – Portugal.
Comunismo e nazismo – 25 reflexões sobre o totalitarismo no século XX (1917 – 1989), Editora Hugin, 1989, Lisboa – Portugal.
Odinismo e Cristianismo no Terceiro Reich – a Suástica contra a Irminsul – Editora Antagonista, 2009, Portugal; capítulo A fábula de um “paganismo nazi”.
Para Além dos Direitos Humanos – defender as liberdades – Editora Austral, Porto Alegre, 2013.

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domingo, 12 de maio de 2019

Conversa direta sobre o sionismo - o que o nacionalismo judaico significa - Por Mark Weber


Mark Weber 
14/04/2009

            É importante compreender o sionismo, não apenas porque ele é uma ideologia influente e um poderoso movimento sócio-político, mas também porquê existe muito de ignorância, confusão e desinformação deliberada sobre ele.

            Se você procura pela palavra “sionismo” em um dicionário padrão americano, o que você irá encontrar é provável ser impreciso, ao menos enganoso. Por exemplo, um popular e supostamente autorizado dicionário americano em meu escritório define sionismo como “Um movimento anteriormente para o restabelecimento, agora para apoiar, o Estado nacional judeu de Israel[1].” Esta definição, a qual é típica para as obras de referência na América, é mais que apenas inclinada ao erro. É enganadora.

            O fundador do moderno movimento sionista foi um escritor judeu de nome Theodor Herzl. Nos anos da década de 1890 ele estava vivendo em Paris, onde ele era um jornalista para um jornal de grande circulação em Viena. Ele estava profundamente preocupado com o alastramento do antissemitismo, ou o sentimento antijudaico, na França de então. Ele pensou muito sobre o padrão da tensão, desconfiança e conflito entre judeus e não judeus que tinha persistido através dos séculos, e ele bateu sobre o que ele acreditou ser uma solução para este problema de velha idade.

            Herzl delineou seus pontos de vista num livro, escrito em alemão, intitulado O Estado Judeu (Der Judenstaat). Publicado em 1896, este trabalho é o manifesto ou básico documento do movimento sionista. Um ano e meio depois, Herzl convocou a primeira conferência internacional sionista. Cinquenta anos depois, quando o “Estado de Israel” foi solenemente proclamado na reunião em Tel Aviv, sobre o pódio dos oradores na conferência estavam apropriadamente, um grande retrato de Herzl.

O judeu Theodor Herzl (1860-1904) foto domínio público, Wikipédia

            Em seu livro Herzl explicou que indiferente de onde eles vivem, ou da cidadania deles, os judeus constituem não meramente uma comunidade religiosa, mas uma nacionalidade, um povo. Ele utilizou a palavra alemã volk. Onde quer que um grande número de judeus viva entre os não judeus, ele disse, o conflito não é apenas provável, é inevitável. Ele escreveu: “A questão judaica existe onde quer que os judeus vivam em números perceptíveis. Quando não existir, ela é trazida pelos judeus que estão chegando... Eu acredito e entendo o antissemitismo, o qual é um fenômeno muito complexo. Eu como judeu considero este desenvolvimento sem ódio ou medo[2].”

            Em seus escritos públicos e privados, Herzl explicou que o antissemitismo não é uma aberração, mas uma natural resposta dos não-judeus ao comportamento e atitudes alienígenas judaicos. O sentimento antijudaico, ele disse, não é devido a ignorância ou ao fanatismo, conforme muitos têm reclamado. Ao invés, ele concluiu, o antigo e aparentemente intratável conflito entre judeus e não judeus é totalmente compreensível, porquê os judeus são um povo distinto e separado, com interesses que são diferentes do, e que muitas vezes entram em conflito com, o povo entre os quais eles vivem.

            A principal fonte do moderno sentimento antijudaico, acreditava Herzl, era que a então chamada “emancipação” dos judeus, nos séculos 18 e 19, da confinada vida do gueto para uma moderna sociedade urbana trouxe eles para a direta competição econômica com os não judeus da classe média. O antissemitismo, escreveu Herzl, é “uma compreensível reação aos defeitos judaicos.” Em seu diário ele escreveu: “Eu acho que os antissemitas estão totalmente dentro de seus direitos[3].”

O judeu Louis Brandeis (1856-1941 )
Foto domínio público Wikipédia
            Herzl sustentou que os judeus devem parar de fingir – tanto para eles mesmos e para os não judeus – que eles são como todos os outros, e ao invés devem francamente reconhecer que eles são um distinto e separado povo, com distintos e separados objetivos e interesses. A única solução a longo prazo, ele disse, é os judeus reconhecerem a realidade e viverem, finalmente, como um povo “normal” num estado separado para eles próprios. Em um memorando para o Czar da Rússia, Herzl escreveu que o sionismo é a “solução final para a questão judaica[4].”

            Sobre os anos muitos outros líderes judeus têm afirmado a perspectiva de Herzl. Louis Brandeis, um juiz da Suprema Corte Americana e um líder sionista americano, disse: “Vamos todos reconhecer que nós judeus somos uma distinta nacionalidade da qual cada judeu, seja qual for seu país, sua estação ou sua crença, é necessariamente um membro[5].”

Stephen S. Wise (1874-1949)
Foto domínio público
Wikipédia
            Stephen S. Wise, presidente do Congresso Judaico Americano e do Congresso Judaico Mundial, disse num comício em junho de 1938 em Nova Iorque: “Eu não sou um cidadão americano de fé judaica. Eu sou um judeu... Hitler estava certo em uma coisa. Ele chama o povo judeu de uma raça, e nós somos uma raça[6].”

            O primeiro presidente de Israel, Chaim Weizmann, escreveu em suas memórias:
“Sempre que a quantidade de judeus em muitos países alcance o ponto de saturação, aquele país reage contra eles... [esta] reação... não pode ser olhada como antissemitismo no sentido ordinário ou vulgar da palavra; é uma situação universal econômica e social concomitante da imigração judaica, e nós não podemos removê-la.[7]
Chaim Weizmann (1974-1952)
Foto Government Press Office (Israel)
Wikipedia
            De acordo com a visão de mundo sionista, o primeiro ministro Ariel Sharon disse em uma reunião de judeus americanos em Jerusalém em julho de 2004 que todos judeus ao redor do mundo devem se mudar para Israel o mais breve quanto possível. E porquê antissemitismo estava especialmente difundido na França, ele adicionou, judeus naquele país devem imediatamente moverem-se para Israel. Autoridades francesas rapidamente, e previsivelmente, responderam rejeitando as declarações de Sharon como “inaceitáveis[8]”.

            Mas imagine se os líderes da França, dos Estados Unidos, e outros países fossem responder aquelas observações de Sharon, e similares feitas por outros sionistas, ao expressarem estar de acordo. Imagine se um presidente americano fosse responder dizendo: “Você está certo, Sr. Sharon. Nó concordamos com você. Nós concordamos que judeus não pertencem aos Estados Unidos. De fato, nós estamos prontos a mostrar nosso apoio para o que você diz por fazer tudo o que nós podemos para promover e encorajar todos os judeus para deixarem nosso país e moverem-se para Israel.”

            Esta seria a lógica e honesta atitude de líderes políticos não judeus que dizem que eles apoiam Israel e o Sionismo. Mas os líderes políticos dos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, e de outros países não são nem honestos nem consistentes.

Ariel Sharon (1928-2014)
Foto domínio público
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            Durante os anos da década de 1930, um governo europeu que foi honesto e consistente em sua atitude nesta questão foi o governo do Terceiro Reich Alemão. Judeus sionistas e alemães nacional-socialistas compartilharam similares visões sobre a melhor forma de lidar com o que Herzl chamou “a Questão Judaica.” Eles concordaram que os judeus e os alemães eram distintamente diferentes nacionalidades, e que os judeus não pertenciam a Europa, mas sim na então chamada “pátria judaica” na Palestina.

            Com base em suas visões compartilhadas, alemães e judeus trabalharam juntos para o que cada comunidade acreditava que estava em seus próprios e melhores interesses nacionais. O governo de Hitler apoiou vigorosamente o sionismo e a emigração judaica para a Palestina de 1933 até 1940 – 1941, quando a Segunda Guerra Mundial impediu uma colaboração mais extensa[9].

            Durante os anos da década de 1930, o jornal central da SS, Das Schwarze Korps, repetidamente proclamou seu apoio ao Sionismo. Um artigo publicado em 1935, por exemplo, disse aos leitores[10]:
“O reconhecimento dos judeus  como uma comunidade racial baseada no sangue e não na religião leva o governo alemão a garantir sem reservas a separação racial desta comunidade. O governo encontra-se em completo acordo com o grande movimento espiritual que ocorre entre os judeus, o chamado sionismo, com seu reconhecimento da solidariedade da comunidade judaica ao redor do mundo, e da rejeição {sionista} de todas noções de assimilação. Nestas bases, a Alemanha compromete-se nas medidas que irão assegurar um papel significante no futuro no tratamento do problema judaico ao redor do mundo.”
            Em 1933, uma linha principal de navegação alemã começou o serviço de passageiros de Hamburgo para Haifa, Palestina, fornecendo “comida estritamente Kosher” a bordo.

            Em setembro de 1935, o governo alemão promulgou as “Leis de Nuremberg”, a qual proibia casamento e relação sexual entre judeus e alemães e, em efeito, proclamou os judeus do país um grupo minoritário alienígena[11]. Uns poucos dias após das Leis de Nuremberg serem implementadas, o principal jornal sionista alemão, o Jüdische Rundschau, editorialmente saudou as novas medidas. Ele explicou aos leitores[12]
 “A Alemanha … está atendendo as demandas do Congresso Mundial Sionista quando ela declara os judeus agora vivendo na Alemanha serem uma minoria nacional. Uma vez que os judeus têm sido rotulados como uma minoria nacional é possível estabelecer relações normais entre a nação alemã e a judiaria. As novas leis dão a minoria judaica na Alemanha sua própria vida cultural, sua própria vida nacional. No futuro será possível moldar suas próprias escolas, seu próprio teatro, e suas próprias associações esportivas. Em suma, pode-se criar seu próprio futuro em todos aspectos da vida nacional...”
            Durante os anos da década de 1930, os grupos sionistas, trabalhando junto com as autoridades do Terceiro Reich organizaram uma rede de cerca de quarenta campos e centros agrícolas em toda a Alemanha onde potenciais colonos foram treinados para suas novas vidas na Palestina.

            O ponto central da cooperação alemã-sionista durante a era de Hitler foi o Acordo de Transferência, um pacto que permitiu dezenas de milhares de judeus alemães migrarem para a Palestina com a riqueza deles. O Acordo, também conhecido como Ha'avara – em hebreu significa “transferência” – foi concluído em Agosto de 1933 seguindo conversações entre oficiais alemães e oficiais da Agência Judaica, o centro palestino da Organização Mundial Sionista[13].

            Entre 1933 e 1941, cerca de 60,000 judeus alemães emigraram para a Palestina através do Ha'avara e outros acordos alemão-sionistas, o que era cerca de dez por cento da população judaica da Alemanha em 1933. Alguns dos emigrantes do Ha'avara transferiram considerável fortuna pessoal da Alemanha para a Palestina. Conforme o historiador judeu Edwin Black tem observado:
“Muitas destas pessoas, especialmente no final dos anos da década de 1930, foram permitidas transferir as réplicas reais de seus lares e fábricas – réplicas de fato materiais de sua própria existência[14].”
            O Acordo de Transferência foi o exemplo de maior alcance de cooperação entre a Alemanha de Hitler e o sionismo internacional. Através deste pacto, O Terceiro Reich de Hitler fez mais que qualquer outro governo durante os anos da década de 1930 para apoiar o movimento sionista e o desenvolvimento judaico na Palestina.

            A essência do sionismo, ou nacionalismo judaico, é que os judeus em toda parte – indiferente de onde eles vivem, indiferente de sua perspectiva religiosa, e indiferente de sua cidadania – são membros do “povo” ou “nação” judaica, para quem todos os judeus devem uma aliança e lealdade primária.

            A esmagadora maioria dos judeus nos Estados Unidos hoje se identifica com e apoia Israel, e são afiliados a grupos e organizações sionistas. Cada significante grupo ou associação judaica nos Estados Unidos, e todo proeminente líder de comunidade ou político judeu-americano apoia Israel e o Sionismo, na maioria dos casos com muito fervor. Com muitas poucas exceções, mesmo os judeus americanos que são críticos de algumas das mais embaraçosas medidas políticas de Israel, todavia expressam apoio para Israel e a ideologia nacionalista na qual o estado sionista é baseado.

            Um sionista, por definição, deve sua lealdade primária para a comunidade judaica e para Israel. Sionismo não é compatível com o patriotismo de qualquer país ou entidade que não seja Israel e o a comunidade judaica mundial. É por isso que é difícil aceitar como sincera ou honesta as garantias piedosas dos líderes judaicos nos Estados Unidos de que os americanos judeus são apenas tão leais para os EUA como todos os outros {americanos}.

            Nos Estados Unidos, quase todo proeminente líder político – judeu e não-judeu, democratas e republicanos – ardentemente apoiam Israel e a ideologia nacionalista judaica sobre a qual ele {o Estado de Israel} é baseado. Em Washington, líderes políticos de ambos os maiores partidos insistem no apoio dos EUA para Israel como um estado etnicamente judaico. Eles apoiam fervorosamente, e avidamente procuram o favor dos influentes grupos judaico-sionistas, tais como o American Israel Public Affairs Committee (AIPAC) e a Anti-Defamation League (ADL).

            Todo mundo – seja judeu ou não-judeu – que clame apoiar Israel deve, se ele é honesto e consciente, endossar a visão do primeiro-ministro israelense Sharon, e outros líderes sionistas, e apoiar a imigração dos judeus de todos os lugares para Israel. Mas é claro que isso não acontece.

            No que se refere ao sionismo e Israel, a atitude e as medidas políticas de aproximadamente todos os líderes políticos americanos, os judeus e não judeus, é caracterizada por hipocrisia e falsidade. Colocado de outra maneira, os judeus sionistas e seus apoiadores não judeus abraçam um padrão duplo flagrante. Organizações judaico-sionistas, junto com seus aliados não judeus, apoiam uma ideologia sociopolítica para Israel e a comunidade judaica mundial, e uma {outra ideologia} completamente diferente para os Estados Unidos e outros países não-judaicos. Eles insistem que o nacionalismo étnico é mal e ruim no caso de provir de não-judeus, enquanto ao mesmo tempo eles vigorosamente apoiam o nacionalismo étnico – que é o Sionismo – para os judeus.

            Eles insistem que Israel é e deve ser um estado judaico nacionalista, com um privilegiado estatuto para sua população judaica, incluindo leis de imigração que discriminam contra os não-judeus. Ao mesmo tempo, grupos e líderes judaico-sionistas, e os não judeus que apoiam eles, insistem que nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha e outros países, não deve existir nenhum estatuto privilegiado para qualquer pessoa baseado em raça, etnia ou religião.

            Nossos líderes políticos nos dizem que os judeus americanos devem ser encorajados a pensar neles mesmos como um distinto grupo nacional com uma identidade e interesses comunitários separados daqueles dos outros americanos. Ao mesmo tempo os políticos americanos insistem que aos judeus sionistas devem ser dados todos direitos como plenos e iguais cidadãos americanos. Na base deste duplo padrão, os judeus recebem um privilegiado status na vida política e cultural americana.

            Os americanos são levados a acreditar que sionismo é uma amostra de apoio altruísta e justo para a chamada pátria judaica. De fato, o sionismo é uma ideologia e um movimento em etnia baseado no nacionalismo judaico que reforça a identidade e autoimagem dos judeus como uma distinta e separada comunidade com interesses diferentes daqueles dos não-judeus, e o qual fortalece a já poderosa comunidade judaica mundial.

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander

Notas


[1] Nota do autor: New World Dictionary of the American Language, Second College Edition (1978?), página 1654.

[2] Nota do autor: Th. Herzl, Der Judenstaat.
               
Tambem citado em Mark Weber, “Zionism and the Third Reich,” The Journal of Historical Review, julho-agosto de 1993, página 29. (
http://www.ihr.org/jhr/v13/v13n4p29_Weber.html ).

[3] Nota do autor: Kevin MacDonald, Separation and Its Discontents (Praeger,1998), páginas 45, 48.

[4] Nota do autor: Memo de 22 de novembro de 1899. R. Patai, ed., The Complete Diaries of Theodor Herzl (New York: 1960), Vol. 3, página 888.

[5] Nota do autor: Louis D. Brandeis, “The Jewish Problem and How to Solve It.” Discurso de  25 de abril de 1915.

[6] Nota do autor: Dr. Wise Urges Jews to Declare Selves as Such,” New York Herald Tribune, 13 de junho de 1938, página 12.

[7] Nota do autor: Chaim Weizmann, Trial and Error (1949), página 90. Citado em: Albert S. Lindemann, The Jew Accused (1991), página 277.

[8] Nota do autor: “French Jews Must `Move to Israel’,” BBC News, 18 de julho de 2004 ( http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/3904943.stm ).

[9] Nota do autor: M. Weber, “Zionism and the Third Reich,” The Journal of Historical Review, julho – Agosto de 1993 (Vol. 13, No. 4), páginas 29-37.

[10] Nota do autor: Das Schwarze Korps, 26 de setembro 1935. Citado em Francis R. Nicosia, The Third Reich and the Palestine Question (Univ. of Texas, 1985), p. 56-57.

[11] Nota do autor: Nos dias de hoje as  Leis de Nuremberg são habitualmente retratadas como impondo discriminação ultrajante e desumana contra os judeus. Mas para colocar isto em perspectiva, é válido mencionar dois pontos. Primeiro: As Leis de Nuremberg que bane o casamento entre judeus e não-judeus é consistente com a lei em Israel hoje, onde tais casamentos não são permitidos, assim como com a proibição de tais casamentos conforme colocado nas escrituras hebraicas. (Ver, por exemplo, Números 25: 6 – 8; Deuteronômio 7:3; Esdras 9: 12; 10: 10 – 11; Neemias 10: 30 ; 13:25).

        Segundo, em 1935 menos que um por cento da população da Alemanha era judaica, o qual significava que as leis de Nuremberg sobre o banimento do casamento entre judeus e não-judeus era irrelevante para a vasta maioria da população do país. Por outro lado, nos Estados Unidos durante os anos da década de 1930, a maioria dos Estados americanos tinha leis em vigor que proibiam casamentos entre pessoas de diferentes raças. Por causa que a porção da população americana que era racialmente não majoritária era muito maior que na Alemanha, as leis raciais dos EUA impactaram uma porção muito maior da população americana na época do que afetaram as Leis de Nuremberg afetando a população alemã.

[12] Nota do autor: Jüdische Rundschau, 17 de setembro de 1935. Citado em Y. Arad et al., Documents on the Holocaust (Jerusalem: 1981), páginas 82-83.

[13] Nota do autor: W. Feilchenfeld, “Ha’avara,” New Encyclopedia of Zionism and Israel (Herzl Press, 1994), páginas 535-536; M. Weber, “Zionism and the Third Reich,” The Journal of Historical Review, julho – Agosto de 1993, páginas 33-34.

[14] Nota do autor: Edwin Black, The Transfer Agreement (1984), página 379.






Sobre o autor: Mark weber é um historiador americano, escritor, palestrante e analista de questões atuais. Ele estudou história na Universidade de Illinois (Chicago), na Universidade de Munique (Alemanha), e na Portland State University. Ele possui um mestrado em História Européia da Universidade de Indiana. Desde 1995 ele tem sido diretor do Institute for Historical Review, um centro independente de publicações, educação e pesquisas de interesse público, no sul da Califórnia, que trabalha para promover a paz, compreensão e justiça através de uma maior consciência pública para com o passado.

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