domingo, 24 de maio de 2020

Tucídides e a praga de Atenas - o que isso pode nos ensinar agora - Por Christopher Mackie


Christopher Mackie

O coronavírus está concentrando nossas mentes na fragilidade da existência humana em face de uma doença mortal. Palavras como “epidemia” e “pandemia” (e ‘pânico’!) têm se tornado parte do nosso discurso diário.

Estas palavras são gregas em origem e apontam para o fato de os gregos da antiguidade pensaram muito sobre doença, quer no seu sentido puramente médico, quer como metáfora para a condução mais ampla dos assuntos humanos. O que os gregos chamavam de “praga” (loimos) aparece em algumas passagens memoráveis da literatura grega.

Uma de taus descrições situa-se logo no início da literatura ocidental. A Ilíada de Homero[1] (cerca de 700 a. C.) começa com uma descrição de uma praga que atinge o exército grego em Troia. Agamenon, o príncipe líder do exército grego, insulta um sacerdote local de Apolo chamado Crises.

Apolo é o deus da praga – um destruidor e curandeiro – e castiga todos os gregos enviando uma pestilência entre eles. Apolo é também o deus arqueiro, e ele é representado atirando flechas no exército grego com um efeito terrível:
Baixou do alto do Olimpo, coração colérico, levando aos ombros o arco e a aljava bem fechada.
À espádua do Iracundo retiniam as flechas, enquanto o deus movia-se, ícone da noite.
Sentou longe das naus: então dispara a flecha.
Honoríssimo clangor irrompe do arco argênteo.
Fere os mulos; depois, rápida prata, os cães; então mira nos homens, setas pontiagudas lançando: e ardem sem pausa densas piras fúnebres.[2]

Narrativas de pragas

Cerca de 270 anos após a Ilíada, ou a partir de então, a praga é o ponto central de duas grandes obras clássicas de atenienses – Édipo rei, de Sófocles[3], e o Livro 2 da História da Guerra do Peloponeso, de Tucídides[4].

Tucídides escreve prosa, não verso (como Homero e Sófocles fazem), e ele trabalhou no campo relativamente novo da “história” (que significa “inquérito” ou “pesquisa” em grego). Seu foco era a guerra do Peloponeso travada entre Atenas e Esparta e seus respectivos aliados, entre 431 e 404 a.C.

A descrição de Tucídides da praga que atingiu Atenas em 430 a.C. é uma das grandes passagens da literatura grega. Uma das coisas notáveis sobre o assunto é como ele se concentra na resposta social geral à pestilência, tanto dos que morreram quanto dos que sobreviveram.

Pintura representando uma praga antiga, de Peter van Halen.


Uma crise de saúde

A descrição da praga segue imediatamente sobre o relato renomado de Tucídides da Oração Funeral de Péricles (é importante dizer que Péricles morreu da praga em 429 a.C., enquanto Tucídides a pegou, mas sobreviveu).

Tucídides faz um relato geral dos estágios iniciais da praga – com origens prováveis no norte da África, sua propagação nas regiões mais amplas de Atenas, as lutas dos médicos para lidar com isso e a alta taxa de mortalidade dos próprios médicos.

Nada parecia melhorar a crise – nem conhecimento médico ou outras superadas por seus sofrimentos que não deram mais atenção a tais coisas”.

Ele descreve os sintomas em alguns detalhes – a sensação de queimação de pessoas que sofrem, dores de estômago e vômitos, o desejo de ficar totalmente nu, sem nenhum linho sobre o próprio corpo, a insônia e a inquietação.

O estágio seguinte, após sete ou oito dias, se as pessoas sobreviverem por tanto tempo, via a pestilência descer para os intestinos e outras partes do corpo – órgãos genitais, dedos das mãos e pés. Algumas pessoas até ficaram cegas.
O caráter da doença desafia qualquer descrição, sendo a violência do ataque, em geral, grande demais para ser suportada pela natureza humana;[5]
Aqueles com constituições fortes não sobreviveram melhor que os fracos. 
Mas o aspecto mais terrível da doença era a apatia das pessoas atingidas por ela, pois seu espírito se rendia imediatamente ao desespero e elas se consideravam perdidas, incapazes de reagir. [6]
Por fim, Tucídides se concentra no colapso dos valores tradicionais, onde a autoindulgência substituía a honra, onde não existia medo de Deus ou do homem.
ninguém esperava estar vivo para ser chamado a prestar contas e responder por seus atos; ao contrário, todos acreditavam que o castigo já decretado contra cada um deles e pendente sobre suas cabeças, era pesado demais, e que seria justo, portanto, gozar os prazeres da vida antes de sua consumação.[7]
Toda a descrição da praga no Livro 2 dura somente cerca de cinco páginas, embora pareça mais longa.

O primeiro surto de praga durou dois anos, após o que ocorreu uma segunda vez, embora com menos virulência. Quando Tucídides capta muito brevemente o fio da praga um pouco depois (3,87), ele fornece um número de mortos: 4.400 hoplitas (cidadãos-soldados), 300 cavaleiros e um número desconhecido de pessoas comuns.
Os atenienses foram mais castigados por ela que por qualquer outra calamidade, e sofreram um golpe sumamente nocivo ao seu poder de luta.[8]

Uma lente moderna

Os estudiosos modernos discutem[9] sobre a ciência de tudo isso, principalmente porque Tucídides oferece uma quantidade generosa de detalhes dos sintomas.

O Tifo epidêmico e varíola são os mais favorecidos, mas cerca de 30 doenças diferentes foram postas[10].

Tucídides nos oferece uma narrativa de uma pestilência que é diferente em todos os tipos de formas do que enfrentamos.

As lições que aprendemos da crise do coronavírus virão de nossas próprias experiências, e não da leitura de Tucídides. Mas estes não são mutuamente exclusivos. Tucídides nos oferece uma descrição de uma cidade-estado em crise que é tão comovente e poderosa agora, como era em 430 a.C.

Tradução de Leonardo Campos (via Sentinela)
Revisão e edição de Mykel Alexander


Notas


[1] Fonte utilizada pelo autor: Homer, The Iliad, tradução de Samuel Butler.

[2] Nota de Mykel Alexander: Homero, Ilíada, editora ARX, 5ª edição, São Paulo, tradução de Haroldo de Campos. Livro 1, 44-52.

[3] Fonte utilizada pelo autor: Plays of Sophocles: Oedipus the King; Oedipus at Colonus; Antigone by Sophocles.

[4] Fonte utilizada pelo autor: The History of the Peloponnesian War by Thucydides.

[5] Nota de Mykel Alexander: Tucídides, História da Guerra do Peloponeso, UNB, Brasília, 1982, Tradução de Mário da Gama Cury. Livro II, 50.

[6] Nota de Mykel Alexander: Tucídides, História da Guerra do Peloponeso, UNB, Brasília, 1982, Tradução de Mário da Gama Cury. Livro II, 51.

[7] Nota de Mykel Alexander: Tucídides, História da Guerra do Peloponeso, UNB, Brasília, 1982, Tradução de Mário da Gama Cury. Livro II, 53.

[8] Nota de Mykel Alexander: Tucídides, História da Guerra do Peloponeso, UNB, Brasília, 1982, Tradução de Mário da Gama Cury. Livro III, 87.

[9] Fonte utilizada pelo autor: The Plague at Athens, 430-427 BCE, por John Horgan, 24 de agosto de 2016, Ancient History Encyclopedia.

[10] Fonte utilizada pelo autor: J.R. Sallares, The Ecology of the Ancient Greek World Hardcover, Gerald Duckworth & Co Ltd, 1991.


Fonte: O que a peste de Atenas nos pode ensinar sobre o Coronavírus hoje? – por Chris Mackie, 22 de abril de 2020, O Sentinela – mídia crítica independente.

Originalmente publicado como Thucydides and the plague of Athens - what it can teach us now, Chris Mackie, 19 de março de 2020, The Conversation.


Sobre o autor: Christopher Mackie, original de Melbourne, Australia, é Professor de Clássicos, Universidade La Trobe. Estudou na Universidade de Newcastle, N.S.W e na Universidade de Glasgow. Trabalhou na Universidade da Nova Inglaterra, na Universidade de Melbourne. Atualmente é Professor de Estudos Gregos e Diretor da Escola de Ciências Humanas da Universidade La Trobe.
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domingo, 10 de maio de 2020

Sobre conservadorismo e liberalismo - por Revilo P. Oliver


Revilo P. Oliver
Conservadorismo

            Conservadorismo, quando esta palavra foi primeiro usada num sentido político, corretamente implicou na manutenção das instituições governamentais e sociais existentes e sua preservação de todas inovações indesejáveis e mudanças substanciais. Na Europa e nos Estados Unidos, contudo, o termo tem agora adquirido um significado linguisticamente muito impróprio e diferente: ele implica a restauração das instituições políticas e sociais que foram radicalmente subvertidas e alteradas para produzir as instituições governamentais e sociais que agora existem.

            Estritamente falando, portanto, “conservadorismo” tem vindo, paradoxalmente, a significar reação, um esforço para expurgar da organização política e social da nação os deletérios acréscimos e mudanças revolucionárias impostas sobre ela nos tempos recentes, e restaurá-la ao seu prístino estado no qual ela existiu em algum tempo definido precisa ou vagamente no passado. As pessoas que agora chamam a elas mesmas conservadoras, se elas querem dizer o que se propõem, são realmente reacionárias, mas afastassem-se da palavra mais sincera como prejudicial na propaganda.

            Eu comecei como um conservador americano: eu desejei preservar a sociedade americana na qual eu cresci, não porque eu estava inconsciente de suas muitas e grosseiramente grandes deficiências, mas porque eu a vi ameaçada pela agitação astuciosamente instigada para mudanças que a destruiriam inevitavelmente e poderiam ultimamente resultar numa reversão total ao barbarismo. E com a euforia da juventude, eu imaginei que a estrutura existente, se preservada da subversão, iria, sob o impacto de os previsíveis e historicamente inevitáveis eventos, acomodar-se ela própria às realidades do mundo físico e biofísico e talvez dar para a nação uma era de grandeza romana.

            Ao longo dos anos, conforme a fatal subversão procedia gradualmente, implacavelmente, e frequentemente furtivamente, e foi impensadamente aceita por uma população carente de força de iniciativa ou incapaz de pensar claramente, eu tornei-me crescentemente consciente que “conservadorismo” era um termo impróprio, mas eu entretive-me numa esperança de que a corrente do pensamento e sentimento representados pela palavra poderia ser bem-sucedida em restaurar ao menos os elementos essenciais da sociedade cuja suplantação eu lastimava. E quando eu finalmente decidi envolver-me eu mesmo em esforço político e agitação, eu comecei uma educação em realidades políticas muito cara e dolorosa.   

            Desde que eu tenho mantido posições de alguma importância em vários daqueles considerados os mais promissores movimentos “conservadores” nos Estados Unidos, pelos quais eu fui em uma ou outra maneira um porta-voz, e eu fui ao mesmo tempo um observador atento de muitas organizações comparáveis e oposição efetiva a todos tais esforços, amigos têm me convencido que um relato sucinto e cândido de minha educação política pode fazer alguma contribuição para o registro histórico do “conservadorismo” americano, se devesse alguém em um futuro imprevisível futuro ser interessado em estudar sua ascensão e queda.

            Eu acho que eu posso reivindicar sem falta de modéstia que eu sempre vi a realidade mais claramente que qualquer um da procissão de dispersos “líderes” autoproclamados que, inspirados pelas esperanças ilusórias e certezas imaginadas, erigiram-se para “salvar a nação,” saídos afligidos de sua pequena hora no sombrio momento de um teatro quase vazio, e desaparecidos, algumas vezes pateticamente, na obscuridade da qual eles vieram. O que eu não ouso afirmar é que eu já vi a realidade tão claramente como alguns dos homens de raciocínio agudo e sólido que cinicamente – exploraram – exploram – o resíduo de sentimento patriótico e confuso instinto de autopreservação que permanece nos americanos brancos que ainda respondem a uma ou outra variedade da propaganda da “ala direita”.

            Um aviso explícito: este escrito pode vir para as mãos de leitores para os quais ele não foi pretendido. Eu não proponho entreter com anedotas ou acalmar recontando qualquer dos contos de fadas os quais os americanos parecem nunca se cansar. Se estas páginas são dignas de serem lidas afinal, elas lidam com um problema que é estritamente intelectual e histórico, e elas são, portanto, endereçadas somente para comparativamente poucos indivíduos que são dispostos e capazes de considerar tais questões objetiva e desapaixonadamente, pensando exclusivamente em termos de fatos demonstráveis e razão, e sem referência aos desejos emocionais e fixações emocionais que são comumente chamados de “fé” ou “ideais.” Não é meu propósito causar dificuldades na placidez de muitos que se encolhem diante das realidades desagradáveis e poupam-se elas mesmas do desconforto da cogitação, ao assegurar a elas mesmas que algum salvador, mais comumente Jesus ou Marx, tinha prometido que a terra, se não o universo inteiro, irá brevemente ser rearranjada para se adequar aos seus gostos. Conforme {o Nobel de literatura de 1907, o inglês Rudyard} Kipling disse dos fanáticos de sua época, eles devem se manterem fieis a sua fé, qualquer que seja o custo da racionalidade deles: “Se elas desejam uma coisa, elas declaram-na verdadeira. Se eles não desejam-na, embora esta fosse a própria morte, eles clamam em voz alta, ‘isso nunca tem acontecido’.”

            Pessoas que não são capazes de objetividade ou são indispostos a perturbar seu repouso cerebral ao encarar fatos desagradáveis não devem nunca ler páginas que não podem senão perturbar eles emocionalmente. Se eles assim fizerem, devem culpar a curiosidade que lhes impeliu a ler palavras que não eram pretendidas a eles. O leitor tem sido avisado.


Liberalismo

           “Liberalismo” é uma religião sucedânea que foi ideada no fim do século XVIII e ele originalmente incluía um vago deísmo. Como o cristianismo do qual ele surgiu, ele se dividiu em várias seitas e heresias, tais como jacobinismo, fouierismo, owenismo, socialismo Fabiano, marxismo, e coisas do tipo. A doutrina dos cultos “liberais” é essencialmente o cristianismo despojado de sua crença nos seres sobrenaturais, mas retendo suas superstições sociais, as quais eram originalmente derivadas, e necessariamente dependentes, dos supostos desejos de um deus. Assim o “liberalismo,” o resíduo do cristianismo, é, apesar do fervor com o qual seus votantes mantém sua fé, meramente um absurdo lógico, uma série de deduções de uma premissa que tinha sido negada.

            A dependência dos cultos “liberais” sobre uma fé cega e irracional foi ao longo do tempo obscurecida ou escondida por sua professada estima pela ciência objetiva a qual eles usaram como uma polêmica arma contra o cristianismo ortodoxo, tal como os protestantes assumiram a restauração copernicana da astronomia heliocêntrica como uma arma contra os católicos, que tinham imprudentemente decidido que a terra poderia ser impedida de girar ao redor do Sol ao desafiar as Escrituras Sagradas, queimando homens inteligentes na estaca ou torturando eles até que eles não mais sustentassem suas opiniões heréticas. Os protestantes piedosos naturalmente teriam preferido uma pequena terra aconchegante, tal como seu deus descreveu em seu livro sagrado, mas eles viram a vantagem de um apelo para nosso respeito racial para realidade observada para alistar apoio, enquanto simultaneamente estigmatizavam seus rivais como ignorantes obscurantistas e ridículos resmungões.

            Os votantes do “liberalismo” teriam preferido muito ter várias espécies humanas criadas especialmente para formar uma raça dotada das qualidades fictícias queridas às extravagantes crenças “liberais”, mas os cultistas viram a vantagem de endossar os achados de geologia e biologia, incluindo a evolução das espécies, em suas polêmicas contra o cristianismo ortodoxo, para mostrar o absurdo da versão judaica do mito da criação sumério. A hipocrisia da devoção professada ao conhecimento científico foi feita inconfundível quando os “liberais” começaram seus esforços frenéticos e frequentemente históricos para suprimir o conhecimento científico sobre genética e a obviamente inata diferença entre as espécies humanas e entre os indivíduos de qualquer espécie[1].

            No presente, os “liberais” são limitados a gritarem agudamente e cuspir quando eles são confrontados com fatos inconvenientes, mas ninguém que lhes tinha ouvido em ação pode ter falhado em noticiar quão exasperado eles são pelas limitações que têm assim até agora lhes impedido de queimar biólogos e outros homens racionais na estaca.

            É desnecessário se dilatar sobre as superstições do “liberalismo.” Elas são óbvias no culto das palavras sagradas. “Liberais” estão sempre conversando sobre “toda humanidade,” um termo o qual tem um significado específico, como fazem termos paralelos na biologia, tal como “todos marsupiais” ou “todas espécies do gênero Canis,” mas os fanáticos dão ao termo um significado místico e especial, derivado do mito zorostriano de “toda humanidade” e sua contra parte na especulação estóica, mas absurdo quando usada por pessoas que negam a existência de Ahura Mazada ou uma divindade comparável que poderia ter alegadamente imposto uma unidade transcendental sobre a diversidade manifesta das várias espécies humanas.

            Os “liberais” reclamam sobre “direitos humanos” com o fervor de um evangelista que apela para o que Moisés supostamente disse, mas um momento para se pensar é o suficiente para mostrar que, na ausência de um deus que pode ser presumido ter decretado tais direitos, os únicos direitos são aqueles os quais os cidadãos de uma sociedade estável, por acordo ou por um longo tempo de uso que tem adquirido a força da lei, conferem sobre eles próprios; e enquanto os cidadãos podem mostrar bondade para alienígenas, escravos, e cavalos, estes seres podem não ter direitos. Além disso, nas sociedades que têm sido tão subjugadas pela conquista ou pela manipulação astuciosa das massas, em que os indivíduos não mais têm direitos constitucionais, que não são sujeitos a revogação pela violência ou em nome do “bem-estar social,” não existem direitos, estritamente falando, e portanto, não existem cidadãos – somente massas existindo em um estado de igualdade indiscriminada da qual os sonhos “liberais” e, naturalmente, um estado de escravidão de fato, que seus mestres podem considerá-lo um expediente, como nos Estados Unidos no presente, para fazer relativamente leve até que os animais sejam quebrados no jugo.

            Os “liberais” balbuciam sore “Um Mundo,” o qual é para ser uma “democracia universal” e é “inevitável,” e eles assim descrevem-na nos próprios termos nos quais a noção foi formulada, dois mil anos atrás, por Fílon, o judeu, o qual ele astutamente deu um colorido estico ao velho sonho judaico de um globo no qual todas as raças inferiores obedeceriam aos mestres que Jeová, por um acordo em aliança, nomeou para governá-los. E os cultos “liberais”, tendo rejeitado a doutrina cristã do “pecado original,” o qual, embora baseado em um apalermado mito sobre Adão e Eva, correspondia razoavelmente bem aos fatos da natureza humana, tendo mesmo revertido os mais perniciosos aspectos do cristianismo, os quais o senso comum tinha mantido em controle na Europa até o Século XVIII; e eles abertamente exibem a mórbida fascinação cristã com o que seja humildemente baixo, proletário, inferior, irracional, reduzido em qualidade, deformado, e degenerado. A grande preocupação choramingosa com o refugo biológico, usualmente levado ao enjoo com tais palavras sem sentido como “desprivilegiado,” faria sentido, se ela tivesse sido decretada por um deus que perversamente escolheu se tornar encarnado entre a mais pestilenta das raças humanas[2] e selecionar seus discípulos entre os resíduos iletrados até dessa peuplade {tribo}, mas desde que os “liberais” reivindicam ter rejeitado a crença em tal divindade, a superstição deles é exposta como tendo nenhuma outra base do que o próprio ressentimento sobre seus apostadores e de seus interesses profissionais em explorar a capacidade de ingenuidade de seus compatriotas.

No século XVIII, os cristãos cujo pensamento era cerebral, ao invés de glandular, perceberam que sua fé era incompatível com a realidade observada e a abandonaram relutantemente. Um desenvolvimento comparável está tomando lugar na fé minguante do “liberalismo”, e nós podemos estar certo de que, apesar do apelo do culto às massas que anseiam por uma existência sem esforço e sem mente, no nível animal, e apesar do uso prolongado de escolas públicas para deformar as mentes de todas as crianças com mitos “liberais”, o culto teria desaparecido, mas pelo apoio maciço lhe dado hoje, como aos cultos cristãos no mundo antigo, pelos judeus, que tem, por mais de dois mil anos , engordado glutonamente na venalidade, credulidade e vícios das raças que eles desprezam[3]. Em 1955, contudo, a extensão e a perfusão de seu poder nos Estados Unidos permaneceram a ser determinadas.

Há um fato crucial que não devemos deixar de fora, se nós estamos a ver a situação política como ela é, e não na anamorfose de alguma “ideologia”, isto é, linha de propaganda, seja “liberal” ou “conservadora”. O verdadeiro fulcro de poder em nossa sociedade não é nem os votantes de uma seita ideológica nem os judeus, de visão clara e perspicaz como são, mas os membros inteligentes de nossa própria raça cujo único princípio é um egoísmo não mitigável e implacável, e determinação implacável de satisfazer suas próprias ambições e cobiças a qualquer custo para sua raça, nação e até sua própria progênie. E com eles devemos considerar os burocratas, homens que, por muito ou pouco que possam pensar sobre as consequências previsíveis das políticas que realizam, são governados por uma determinação corporativa de afundar suas probóscides, cada vez mais profundamente no corpo político do qual eles extraem a alimentação deles. Nenhum desses grupos pode ser considerado “liberal” ou como tendo qualquer outra atitude política por convicção. Os primeiros são guardados pela lucidez de suas mentes, e o segundo por seus interesses coletivos, da adesão a qualquer ideologia ou outra superstição.

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander


Notas


[1] Nota do tradutor: Ver especialmente o trabalho mais recente de Nicholas Wade, Uma herança incômoda, Editora Três Estrelas, São Paulo, 2016. Tradução do original em inglês por Pedro Sette-Câmara.

[2] Nota do tradutor: Sobre a questão judaica ver:
- “Conversa direta sobre o sionismo - o que o nacionalismo judaico significa”, por Mark Weber, 19 de maio de 2019, World Traditional Front. Tradução do inglês ao português por Mykel Alexander.
Originalmente publicado como “Straight Talk About Zionism: What Jewish Nationalism Means”, por Mark Weber, 14 de abril de 2009, Institute for Historical Review.

- “Antissemitismo: Por que ele existe? E por que ele persiste?”, por Mark Weber, 07 de dezembro de 2019, World Traditional Front. Tradução do inglês ao português por Mykel Alexander.
Originalmente publicado como “Anti-Semitism: Why Does It Exist? And Why Does it Persist?”, por Mark Weber, Dezembro 2013 / revisado em janeiro de 2014, The Journal for Historical Review.

- “Controvérsia de Sião”, por Knud Bjeld Eriksen, 02 de novembro de 2018, World Traditional Front. Resumo por Knud Bjeld Eriksen, dinamarquês, bacharel em Direito. Traduzido do inglês ao português por Norberto Toedter (https://www.toedter.com.br/), e publicado posteriormente em Norberto Toedter, Outra face da Notícia, Editora do Chain, Curitiba, 2012, páginas 21-39.
Originalmente publicado em 6 de fevereiro de 1998 no site de Knud Bjeld Eriksen:

[3] Nota do tradutor: Um exemplo contundente da perspectiva das lideranças da militância sionista pode ser apreciado nos artigos abaixo:
- Grande rabino diz que não-judeus são burros {de carga}, criados para servir judeus - por Khalid Amayreh, 26 de abril de 2020, World Traditional Front. Tradução do inglês ao português por Mykel Alexander.
Orifinalmente publicado como “Major rabbi says non-Jews are donkeys, created to serve Jews”, por Khalid Amayreh, 18 de outubro de 2010, The peoples voice.

- Ex-rabino-chefe de Israel diz que todos nós, não judeus, somos burros, criados para servir judeus - como a aprovação dele prova o supremacismo judaico, por David Duke, 03 de maio de 2020, World Traditional Front. Tradução do inglês ao português por Mykel Alexander.
Originalmente publicado como Honoring Rabbi Yosef: How His Approval Proves Jewish Supremacism, por David Duke, 01 de outubro de 2014, David Duke.




Fonte: Este artigo é da antologia America’s Decline: The Education of a Conservative (1982), páginas 1-4, 79-83. Ele apareceu no The Journal of Historical Review, setembro-outubro de 1994 (Vol. 14, nº 5), páginas 21-23.

Sobre o autor: Revilo P. Oliver (1910-1994) foi um estudioso americano de estatura internacional, ensinou Clássicos na Universidade de Illinois por 32 anos. Ele conhecia doze idiomas e escreveu artigos em quatro deles para publicações acadêmicas nos EUA e na Europa. Oliver obteve seu doutorado na Universidade de Illinois em 1940 e, em 1947, iniciou sua carreira de professor no departamento de Clássicos de lá. Durante o início da década de 1950 ele era tanto um membro da Guggenheim como da Fulbright.

Uma estilista brilhante e meticulosa, a escrita de Oliver pode ser elegante e erudita ou sarcástica e cortante. Entre 1955 e 1959, ele colaborou com frequência na National Review de William Buckley. Ele ajudou a organizar a sociedade anticomunista John Birch e por alguns anos serviu como membro do seu Conselho Nacional. Oliver foi um colaborador frequente do American Opinion, principal periódico da sociedade até 1966, quando renunciou após um desacordo político com o fundador Robert Welch.

            Ele era amigo e apoiador do Institute for Historical Review. De 1980 até sua morte, ele foi membro do Comitê Consultivo Editorial do Journal of Historical Review

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sexta-feira, 8 de maio de 2020

Oswald Spengler: crítica e homenagem - por Revilo Oliver


Revilo Oliver

Concebida antes da Primeira Guerra Mundial, é a obra magistral de Oswald Spengler, Der Untergang des Abendlandes (Munique, 1918)[1]. Lida neste país principalmente na tradução brilhantemente fiel de Charles Francis Atkinson, The Decline of the West (Nova Iorque, dois volumes, 1926-28), a morfologia da história de Spengler foi a grande conquista intelectual de nosso século. Qualquer que seja a nossa opinião sobre seus métodos ou conclusões, não podemos negar que ele foi o Copérnico da historionomia. Todos os escritos subsequentes sobre a filosofia da história podem ser descritos como uma crítica ao The Decline of the West.

Spengler, tendo formulado uma história universal, empreendeu uma análise das forças operando no mundo imediatamente contemporâneo. Isso ele expôs em uma obra magistral, Die Jahre der Entscheidung, da qual apenas o primeiro volume poderia ser publicado na Alemanha (Munique, 1933) e traduzido para o inglês (The Hour of Decision Nova Iorque, 1934)[2]. Bastava-se ler este brilhante trabalho, com sua análise lúcida de forças que até os observadores agudos não perceberam até 25 ou 30 anos mais tarde, e com sua previsão que eventos subsequentes agora se mostraram absolutamente corretos, para reconhecer que seu autor foi uma das grandes mentes políticas e filosóficas do Ocidente. Deve-se lembrar, no entanto, que a incrível precisão de sua análise da situação contemporânea não prova necessariamente a validade de sua morfologia histórica.

A publicação do primeiro volume de Spengler em 1918 lançou uma súbita enxente de controvérsia que continua até os dias atuais. Manfred Schroeter, em Der Streit um Spengler (Munique, 1922), pôde dar uma prévia das críticas que apareceram em pouco mais de três anos; hoje, uma mera bibliografia, se razoavelmente completa, levaria anos para compilar e provavelmente chegaria a oitocentas ou mil páginas impressas.

Spengler naturalmente provocou enxames de patetas carentes de julgamento, que ficaram particularmente irritados com sua sugestão imoral e prepóstera de que poderia haver outra guerra na Europa, quando todos sabiam que não poderia haver nada além da Paz Mundial depois de 1918, porque Papai Noel tinha acabado de trazer uma nova, boa e brilhante “Liga das Nações”. Tais caixas de diálogo “liberais” estão sempre fazendo barulho, mas ninguém com o menor conhecimento da história humana prestaram atenção nelas, exceto como sintomas.

Infelizmente, críticas muito mais inteligentes à Spengler foram motivadas pela insatisfação emocional com suas conclusões. Em um artigo na Antiquity de 1927, o erudito R.S. Collingwood, de Oxford, chegou ao ponto de afirmar que os dois volumes de Spengler não haviam lhe dado “uma única ideia genuinamente nova” e que ele “ própria havia a realizado há muito tempo” – e, é claro, rejeitou – mesmo as análises detalhadas de Spengler de culturas individuais. Conforme um breve olhar no trabalho de Spengler será suficiente para mostrar, essa afirmação é menos plausível do que uma alegação de saber tudo o que está contido na Décima Segunda Edição da Encyclopaedia Britannica. Collingwood, o autor do Speculum Mentis e outras obras filosóficas, deve ter sido atormentado por ressentimentos emocionais tão fortes que ele não podia ver o quão vaidosa, arrogante e improvável sua vaidade pareceria para a maioria dos leitores.

Agora é um truísmo que o “pessimismo” e o “fatalismo” de Spengler tenham sido um choque insuportável para as mentes alimentadas na ilusão do século XIX de que tudo ficaria cada vez melhor para sempre e sempre. A interpretação cíclica da história de Spengler afirmava que uma civilização era um organismo com um tempo de vida definido e fixo, passando da infância à senescência e morte por uma necessidade interna comparável à necessidade biológica que decreta o desenvolvimento do organismo humano da imbecilidade infantil à senil decrepitude. Napoleão, por exemplo, era a contraparte de Alexandre no mundo antigo.

Oswald Spengler

Nós estávamos agora, portanto, em uma fase da vida civilizacional em que as formas constitucionais são suplantadas pelo prestígio dos indivíduos. Em 2000, seremos “contemporâneos” com a Roma de Sulla, o Egito da Décima Oitava Dinastia e a China na época em que os “Estados contendores” foram soldados em um império. Isso significa que enfrentamos uma era de guerras mundiais e, o que é pior, guerras civis e proscrições, e que por volta de 2060 o Ocidente (se não for destruído por seus inimigos alienígenas) se unirá sob o domínio pessoal de um César ou Augusto. Essa não é uma perspectiva agradável.


Grandeza ou otimismo

A única questão perante nós, no entanto, é se Spengler está correto em sua análise. Os homens racionais consideram irrelevante o fato de que suas conclusões não são encantadoras. Se um médico informar que você tem sintomas de arteriosclerose, ele pode ou não estar certo em seu diagnóstico, mas é absolutamente certo que você não pode se rejuvenescer dando um tapa na cara dele.

Penso que todo observador desapegado de nosso tempo concorda que o “pessimismo” de Spengler despertou emoções que impossibilitam a consideração racional. Estou inclinado a acreditar que o nível moral de seu pensamento foi um obstáculo maior. Seu “fatalismo” não era do tipo consolador que permite que os homens levantem as mãos e se esquivem de responsabilidades. Considere, por exemplo, as linhas finais de seus Men and Technics (Nova Iorque, 1932)[3]:
O perigo já é tão grande, para todo indivíduo, toda a classe, toda o povo, que nutrir qualquer ilusão que seja é deplorável. O tempo não deixa ele mesmo ser interrompido; não há questão de recuo prudente ou renúncia sábia. Somente os sonhadores acreditam que há uma saída. Otimismo é covardia.
Nós nascemos neste tempo e devemos bravamente seguir o caminho para o fim destinado. Não há outro caminho. Nosso dever é manter a posição perdida, sem esperança, sem resgate, como aquele soldado romano cujos ossos foram encontrados em frente a uma porta em Pompéia, que, durante a erupção do Vesúvio, morreu em seu posto porque se esqueceram de liberá-lo. Isso é grandeza. É isso que significa ser um raça-pura. O fim honroso é a única coisa que não pode ser tirada de um homem.
Agora, se o prognóstico austero e severo que está por trás dessa conclusão é ou não correto, nenhum homem apto a viver o presente pode ler essas linhas sem sentir seu coração elevado pelo grande ethos de uma cultura nobre – a força espiritual do Ocidente que pode conhecer tragédia e não ter medo. E, simultaneamente, esse pronunciamento afronta à histeria o epiceno homúnculo entre nós, os covardes que esperam apenas fugir com segurança na escuridão e se infiltrar na decadência de uma cultura infinitamente além da compreensão deles.

Esse contraste é em si mesmo um dado muito significativo para uma estimativa da condição atual de nossa civilização…


Três pontos de crítica

As críticas a Spengler, portanto, para que não pareçam meras discussões sobre detalhes, devem lidar com as principais premissas. Agora, até onde posso ver, a tese de Spengler pode ser contestada em três pontos realmente fundamentais, a saber:

          (1) Spengler considera cada civilização como uma entidade fechada e isolada, animada por uma ideia dominante, ou Weltanschauung, que é sua “alma”. Por que devem as ideias, ou conceitos, as criações impalpáveis ​​da mente humana, passar por uma evolução orgânica como se estivessem vivendo um protoplasma, que, como substância material, está compreensivelmente sujeito a alterações químicas e, portanto, leis biológicas? Essa objeção lógica não é conclusiva: os homens podem observar as marés, por exemplo, e até prever, sem poder explicar o que as causa. Mas quando devemos deduzir as leis históricas das quatro das cinco civilizações das quais temos algum conhecimento bastante preciso, não temos repetições suficientes de um fenômeno para calcular sua periodicidade com segurança, se não sabemos por que isso acontece.

          (2) Uma dificuldade muito mais grave surge do fato histórico que nós temos já mencionados. Por cinco séculos, pelo menos, os homens do Ocidente consideraram a civilização moderna como um renascimento ou prolongamento da antiguidade greco-romana. Spengler, como a própria base de sua hipótese, considera o mundo clássico como uma civilização distinta e alheia à nossa – uma civilização que, como a egípcia, viveu, morreu, e agora se foi. Era dominada por uma Weltanschauung completamente diferente e, consequentemente, os homens instruídos da Europa e da América, que durante cinco séculos acreditavam na continuidade, estavam apenas sofrendo de uma ilusão ou alucinação.

Mesmo se admitirmos que, no entanto, ainda estamos diante de um fenômeno histórico único. As civilizações egípcia, babilônica, chinesa, hindu e árabe (“magiana”) são todas consideradas por Spengler (e outros proponentes de uma estrutura orgânica da cultura) como organismos únicos e não relacionados: cada um surgiu sem derivar seus conceitos de outra civilização (ou, alternativamente, vendo seus próprios conceitos nos registros de uma civilização anterior), e cada um morreu sem deixar descendência (ou, alternativamente, nenhuma civilização subsequente pensava em ver neles seus próprios conceitos). Simplesmente não há paralelo ou precedente para o relacionamento (real ou imaginário) que liga a cultura greco-romana à nossa.

Desde que Spengler escreveu, uma grande descoberta histórica complicou ainda mais a questão. Sabemos agora que os povos micênicos eram gregos, e é virtualmente certo que os elementos essenciais de sua cultura sobreviveram à desintegração causada pela invasão dórica e foram a base da cultura grega posterior. (Para um bom resumo, veja Leonard R. Palmer, Mycenaeans and Minoans, Londres, 1961). Portanto, temos uma sequência que, até onde sabemos, é única:

Micênico → Idade das Trevas → Greco-Romano → Idade das Trevas → Moderno. Se essa é uma civilização, ela tem tido uma vida criativa muito mais longa do que a de qualquer outra que até agora apareceu no mundo. Se for mais de uma, as inter-relações formam uma exceção à lei geral de Spengler e sugerem a possibilidade de que uma civilização, se morrer por algum tipo de processo quase biológico, pode, em alguns casos, ter um poder quase biológico de reprodução.

A exceção se torna ainda mais notável se, diferentemente de Spengler, considerarmos fundamentalmente importante o conceito de autogoverno, que pode estar presente até nos tempos micênicos (ver L.R. Palmer, Mycenaeans and Minoans). Democracias e repúblicas constitucionais são encontradas apenas no mundo greco-romano e no nosso; essas instituições parecem ter sido incompreensíveis para outras culturas.

(3) Para todos os fins práticos, Spengler ignora diferenças hereditárias e raciais. Ele até usa a palavra “raça” para representar uma diferença qualitativa entre os membros do que deveríamos chamar de mesma raça, e nega que essa diferença seja, em qualquer extensão significativa, causada pela hereditariedade. Ele considera as raças biológicas plásticas e mutáveis, mesmo em suas características físicas, sob a influência de fatores geográficos (incluindo o solo, que se diz afetar o organismo físico através dos alimentos) e do que Spengler chama de “uma força cósmica misteriosa” que nada tem a ver com biologia. A única unidade real é cultural, isto é, as ideias e crenças fundamentais compartilhadas pelos povos que formam uma civilização. Assim, Spengler, que faz aquelas sujeitas ao crescimento e decaimento quase biológico, estranhamente rejeita como insignificante os achados da ciência biológica concernente aos organismos vivos.

É verdade, é claro, que o homem é em parte um ser espiritual. Disso, as pessoas que têm fé religiosa não precisam de garantia. Outros, a menos que estejam determinados a negar cegamente as evidências diante de nós, devem admitir a existência de fenômenos do tipo descrito por Franz E. Winkler, MD, em Man the Bridge Between Two Worlds (Nova Iorque, Harper, 1960) e, é claro, por muitos outros escritores. E todo historiador sabe que nenhuma das culturas superiores poderia existir, se os seres humanos fossem meramente animais.

Mas também é verdade que a ciência da genética, fundada pelo padre Mendel há apenas um século e quase totalmente negligenciada até os primeiros anos do século XX, determinou leis biológicas que só podem ser negadas negando a realidade do mundo físico. Toda pessoa educada sabe que a cor dos olhos de um homem, a forma dos lóbulos das orelhas e todas as outras características fisiológicas são determinadas por fatores hereditários. É virtualmente certo que a capacidade intelectual também é produzida por herança, e há uma quantidade razoável de evidências que indicam que mesmo as capacidades morais são igualmente inatas.

O poder de intervenção do homem no desenvolvimento das qualidades herdadas parece ser inteiramente negativo, fornecendo assim outra prova melancólica de que a engenhosidade humana pode facilmente destruir o que nunca pode criar. Qualquer tolo com uma faca pode, em três minutos, tornar a mulher mais bonita para sempre horrível, e um de nossos “especialistas em saúde mental”, mesmo sem usar uma faca, pode destruir rápida e permanentemente o melhor intelecto. E parece que intervenções menos drásticas, por meio da educação e outro controle do ambiente, podem perverter ou deformar temporariamente ou mesmo permanentemente, mas são impotentes para criar capacidades que um indivíduo não herdou de ancestrais próximos ou mais remotos.

Os fatos estão fora de questão, embora a Polícia Secreta na Rússia Soviética e os esquadrões de cuspidores “liberais” nos Estados Unidos tenham conseguido manter esses fatos longe do público em geral nas áreas que controlam. Mas nenhuma quantidade de terrorismo pode alterar as leis da natureza. Para uma exposição legível da genética, veja Nature e Fate’s Man, de Garrett Hardin (Nova Iorque, Rinehart, 1959)[4], que está sujeita apenas à reserva de que as leis da genética, como as leis da química, são verificadas por observação todos os dias, enquanto a doutrina da evolução biológica é necessariamente uma hipótese que não pode ser verificada por experimento.


O fator raça

Também está fora de dúvida que as raças da humanidade diferem muito na aparência física, na suscetibilidade para doenças específicas e na capacidade intelectual média. Há indícios de que elas diferem também na organização nervosa e, possivelmente, nos instintos morais[5]. Seria um milagre se não fosse assim, pois, como é sabido, as três raças primárias eram distintas e separadas no momento em que homens inteligentes apareceram pela primeira vez neste planeta, e assim permanecem desde então. As diferenças são tão pronunciadas e estáveis ​​que os proponentes da evolução biológica acham cada vez mais necessário postular que as diferenças remontam a espécies que precederam o aparecimento do homo sapiens. (Veja a edição nova e revisada de The Story of Man, do Dr. Carleton S. Coon, Nova Iorque, Knopf, 1962).[6]

Que tais diferenças existam é sem dúvida deplorável. Certamente é deplorável que todos os homens morram, e há pessoas que consideram deplorável a existência de diferenças, tanto anatômicas quanto espirituais, entre homens e mulheres. No entanto, nenhuma quantidade de mentiras combinadas de “liberais” e nenhuma quantidade de decretos da Gangue Warren [Suprema Corte] mudará, no mínimo, as leis da natureza.

Agora, sabemos muito sobre genética, tanto individual quanto racial, e essas incertezas permitem estimativas muito diferentes da importância relativa de fatores biologicamente determinados e conceitos culturais no desenvolvimento de uma civilização. Nosso único argumento aqui é que é altamente improvável que fatores biológicos não tenham nenhuma influência sobre a origem e o curso das civilizações. E na medida em que eles influenciam, a teoria de Spengler é defeituosa e provavelmente enganosa.


Insights profundos

Poder-se-ia adicionar alguns pontos menores às três objeções expostas acima, mas serão suficientes para mostrar que a historionomia spengleriana não pode ser aceita como uma certeza. É, contudo, uma grande formulação filosófica que coloca questões de extrema importância e aprofunda nossa percepção da causalidade histórica. Nenhum estudante de história precisou de Spengler para lhe dizer que um declínio da fé religiosa necessariamente enfraquece os laços morais que tornam possível a sociedade civilizada. Porém, a demonstração de Spengler de que esse declínio parece ter ocorrido em um ponto definido no desenvolvimento de várias civilizações fundamentalmente diferentes com, é claro, religiões radicalmente diferentes nos fornece dados que devemos levar em consideração quando tentamos verificar as verdadeiras causas do declínio. E sua posterior observação que o declínio era eventualmente seguido por uma varredura do reavivamento da crença religiosa é igualmente significante.  

Por mais errado que ele possa estar em relação a algumas coisas, Spengler nos deu insights profundos sobre a natureza de nossa própria cultura. Mas, para ele, nós poderíamos ter ficado acreditando que nossa grande tecnologia era apenas uma questão de economia – de tentar fazer mais coisas mais baratas. Mas ele nos mostrou, penso eu, que nossa tecnologia tem um significado mais profundo – que, para nós, os homens da civilização ocidental, responde a certa necessidade espiritual inerente a nós, e que derivamos de seus triunfos como a satisfação análoga àquela que é derivada de boa música ou grande arte.

Oswald Arnold Gottfried Spengler (29 de Maio de 1880 - 8 de Maio de 1936)

E Spengler, acima de tudo, tem nos forçado a investigar a natureza da civilização e a nos perguntar por que meios – se houver – podemos consertar e preservar os longos e estreitos diques que sozinhos nos protegem do vasto e turbulento oceano de barbárie eterna. Por isso, nós devemos sempre honrá-lo.

Tradução de Leonardo Campos via Sentinela .
Revisão de Mykel Alexander

Apêndice

Revilo Oliver sobre História

O desenvolvimento de uma filosofia da história funcional é a tarefa mais urgente e difícil do pensamento do século XX.

O futuro sempre se parecerá com o passado, porque a natureza humana não muda.

As questões sociais e políticas de nossos dias são todas principalmente problemas históricos. Para pensar sobre eles racionalmente, devemos começar consultando o registro da experiência humana no passado. E logo percebemos que, se soubéssemos o suficiente sobre a história – e a entendêssemos -, nós teríamos as respostas para todas as nossas perguntas.

Nenhum homem vive o suficiente para contemplar com seus próprios olhos um padrão de mudança na sociedade. Ele é como ao mosquito que nasce à tarde e morre ao pôr do sol, e que, portanto, por mais inteligente que seja, nunca poderia descobrir, ou mesmo suspeitar, que dia e noite alternam regularmente. Ao contrário do mosquito, no entanto, o homem pode consultar a experiência das relativamente poucas gerações de sua espécie que o precederam durante o período comparativamente breve de cerca de cinco mil anos em que os seres humanos tiveram o poder de deixar registros para a instrução de sua posteridade.

Tradução de Leonardo Campos via Sentinela.
Revisão de Mykel Alexander


Notas


[1] Nota de Mykel Alexander: Em português foi publicado pela editora Zahar (várias edições) como A Decadência do Ocidente, porém apenas numa edição resumida.

[2] Nota de Mykel Alexander: Em português foi publicado como Anos de Decisão – A Alemanha e a evolução histórico-mundial, Edições Meridiano, Porto Alegre, 1941, tradução de Herbert Caro.

[3] Nota de Mykel Alexander: Em português foi publicado como O Homem e a Técnica, Guimarães Editora, Lisboa, 1993 (ao menos duas edições), tradução do alemão ao português por João Botelho e prefácio de Luis Furtado.

[4] Nota de Mykel Alexander: Sobre a influência da genética na humanidade ver especialmente o trabalho mais recente de Nicholas Wade, Uma herança incômoda, Editora Três Estrelas, São Paulo, 2016. Tradução do original em inglês por Pedro Sette-Câmara.

[5] Nota de Mykel Alexander: Novamente, sobre a influência da genética na humanidade ver Nicholas Wade, Uma herança incômoda, Editora Três Estrelas, São Paulo, 2016. Tradução do original em inglês por Pedro Sette-Câmara.

[6] Nota de Mykel Alexander: Em português foi publicado como a história do homem, Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1960, traduzido do inglês ao português por Milton Amado. Contudo esta tradução não procede da edição revisada de 1962, mas certamente da primeira edição de 1954.




Fonte: Este ensaio, originalmente escrito e publicado em 1963, é da antologia America's Decline: The Education of a Conservative (1982), páginas 193-200. Apareceu no The Journal of Historical Review, março-abril de 1998 (Vol. 17, nº 2), páginas 10-13.

Sobre o autor: Revilo P. Oliver (1910-1994) foi um estudioso americano de estatura internacional, ensinou Clássicos na Universidade de Illinois por 32 anos. Ele conhecia doze idiomas e escreveu artigos em quatro deles para publicações acadêmicas nos EUA e na Europa. Oliver obteve seu doutorado na Universidade de Illinois em 1940 e, em 1947, iniciou sua carreira de professor no departamento de Clássicos de lá. Durante o início da década de 1950 ele era tanto um membro da Guggenheim como da Fulbright.

Uma estilista brilhante e meticulosa, a escrita de Oliver pode ser elegante e erudita ou sarcástica e cortante. Entre 1955 e 1959, ele colaborou com frequência na National Review de William Buckley. Ele ajudou a organizar a sociedade anticomunista John Birch e por alguns anos serviu como membro do seu Conselho Nacional. Oliver foi um colaborador frequente do American Opinion, principal periódico da sociedade até 1966, quando renunciou após um desacordo político com o fundador Robert Welch.

         Ele era amigo e apoiador do Institute for Historical Review. De 1980 até sua morte, ele foi membro do Comitê Consultivo Editorial do Journal of Historical Review.

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