terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Cristianismo – uma ruptura total ou parcial com o judaísmo? - Parte 1 - Por Mykel Alexander

  

Mykel Alexander
Religião e geopolítica no Ocidente contemporâneo

Num artigo publicado no The Occidental Observer (07/01/2017) sobre o livro de Rusell Gmirkin, Berossus and Genesis, Manetho and Exodus: Hellenistic Histories and the Date of the Pentateuch, levantou-se o tema sobre consistentes contradições do Antigo Testamento, o que significaria inclusive registros de pretensões históricas legítimas por parte dos compositores do Antigo Testamento  e de seus seguidores atuais sem, contudo, possuírem tal legitimidade a corroboração nos estudos históricos e arqueológicos.

            Dentro das polêmicas atuais sobre o cristianismo, acentuadas pelas polêmicas políticas, a relação entre religião e política passou a ficar mais viva. Dos três grandes grupos cristãos, os dos católicos, ortodoxos e evangélicos, no Ocidente tem mais relevância as divergências entre católicos e evangélicos, já que os ortodoxos se situam mais no leste da Europa, Rússia e partes da Ásia e Egito, locais de menos contato com o Ocidente.

Um novo fator tem entrado nas querelas cristãs, a saber, a corrente de fiéis cristãos sionistas que apoiam o Estado judaico de Israel devido a associarem tal Estado às profecias bíblicas. Entre os brasileiros talvez o principal nome vinculado a esta nova corrente seja o publicista Olavo de Carvalho. É inegável que a soma de fatores recentes, como o fortalecimento da direita liberal e o cristianismo sionista, deu impulso nas eleições brasileiras de 2018 nas quais alguns importantes vencedores estreitam relações com Israel. Na realidade esse padrão tem sido recorrente nos governos recém-eleitos de direita, como nos EUA, na Áustria e na Itália. É uma geopolítica que gravita ao redor de Israel.

           Mas de onde é retirado o critério de voto dos eleitores dessa direita pró-Israel?  Muitos votos que foram para essa nova direita procederam das correntes cristãs, católicas, evangélicas e sionistas, e são conquistas políticas originadas de expectativas não só políticas, mas em grande parte religiosas. Para quem não é completamente leigo sobre pontos básicos do cristianismo, sabe que a Bíblia possui uma divisão fundamental, entre o Antigo Testamento com escrituras exclusivamente dos israelitas e dos judeus, as quais antecedem Jesus, e o Novo Testamento que traz conteúdo atribuído aos ensinamentos de Jesus, embora muitos dos quais escritos e difundidos por judeus, começando pelos apóstolos Paulo e Pedro, dois dos mais importantes nomes para a formação da Igreja Católica, que, repito, eram judeus e com inseparáveis laços afetivo à tradição judaica .

            De modo muito simples a Bíblia em seu conteúdo apresenta um suposto acordo de um personagem, Abraão, com o deus, narrado no livro bíblico Gênesis do Antigo Testamento. Este acordo é a chamada Aliança (exatamente em Genesis 15, 18) que teria ocorrido entre o deus do Antigo Testamento, Iahweh, e Abraão o qual a partir de então seria o ancestral patriarca do povo judeu[1], e aceito como ancestral comum das tradições cristãs e islâmicas, daí o nome de religiões abraâmicas para o judaísmo, cristianismo e islamismo. Para os cristãos em João 13,34 e no decorrer do livro Epístolas aos hebreus, a Aliança do Antigo Testamento, que tinha sido iniciada com Abraão e reforçada com Moisés, é substituída pela Nova Aliança mediada entre Deus e os homens através de Jesus Cristo. Para os islâmicos as alianças anteriores entre Deus e os homens, mediadas por Abraão, Moisés e Jesus Cristo, foram, decido ao desgaste ou deturpações, perdendo o sentido legítimo através do tempo, e teria sido através de Maomé que os ensinamentos de Deus foram retificados em seu sentido original no Alcorão.

            Também, quem não é totalmente leigo sobre a tradição cristã sabe que as igrejas evangélicas preconizam o Antigo Testamento sobre o Novo Testamento enquanto que a Igreja Católica preconiza o Novo Testamento sobre o Antigo Testamento. Claro que essa posição adotada pelos evangélicos os fazem muito mais próximos aos judeus do que faz a posição dos católicos. E, de modo simples, dentro das polêmicas que conjugam religião e política encontram-se no Ocidente os católicos como os cristãos mais críticos ao Estado de Israel ou até mesmo judaísmo internacional (isto é, da coesão judaica incondicional apesar da condição de diáspora que permite aos judeus viverem em culturas diferentes). Na verdade, é comum os católicos, e também os ortodoxos, falarem que Jesus é o rompimento com o judaísmo. Mas será mesmo que é?

            Como é muito nebulosa a reconstrução dos primórdios do cristianismo, pularei aqui o que teria exortado ou não Jesus antes de surgirem supostas alterações em sua mensagem original, pois no decorrer dos séculos muitas disputas doutrinárias e muitos ajustes, compilações e exclusões de textos ocorreram, e isso é uma marca patente dos concílios, onde e quando se formalizavam e oficializavam as doutrinas e escrituras, e, portanto, não me precipitarei em afirmar ou negar que alguma passagem é de Jesus ou que seja fidedignamente desenvolvida sobre ensinamentos de Jesus, e irei direto a uma passagem que escolhi como ponto de partida para dar início  à reflexão se o cristianismo, como instituição religiosa que desenvolveu-se na forma de igrejas, é uma ruptura com o judaísmo como alguns cristãos afirmam.


A alegação de que a ‘salvação vem dos judeus’

Para fins de referência utilizei a versão em português da Bíblia de Jerusalém, que é considerada uma das mais sérias versões devido ao rigor das traduções e do contexto histórico feito por conjunto um conjunto multidisciplinar, que incluiu teólogos, historiadores, arqueólogos entre outros especialistas. Cada livro da Bíblia de Jerusalém contou com um especialista fazendo um texto introdutório, de contexto teológico, documental e histórico[2]. Então para as passagens analisadas aqui dei o crédito da autoria ao estudioso responsável pelo livro bíblico em questão conforme o índice de ‘Principais colaboradores’. Um ponto fundamental que a Bíblia de Jerusalém traz é que enquanto muitas versões em português da Bíblia usam a palavra ‘Senhor’ para Deus no Antigo Testamento, esta versão bíblica utiliza o termo original Iahweh. Isto pode parecer inicialmente irrelevante, mas tem significado profundo, uma vez que existe a polêmica de que o Deus do Antigo Testamento é um e o Deus do Novo Testamento, o que Jesus se refere, seria outro. Isso por si só já bastaria para afirmar um tipo de ruptura entre o Antigo e o Novo Testamento conforme será, em certa medida, também examinado aqui.

No Evangelho segundo São João, 4, 22, temos uma passagem que levanta questões muito importantes no que toca continuação ou ruptura entre o judaísmo e o cristianismo. Nela afirma-se o seguinte:

Vós adorais o que não conheceis;  

Nós adoramos o que conhecemos,  

Porque a salvação vem dos judeus

            O que se pode deduzir dessa passagem? Talvez num primeiro momento pode-se deduzir que apenas procedendo dos judeus, e de nenhum outro grupo ou povo, o bom caminho é obtido. Vamos então apurar um pouco mais o contexto.

            É comum, como uma resposta pronta, ouvir da boca dos cristãos que minimamente estudam a Bíblia alegarem que interpretar essa passagem de João como uma apologia aos judeus, seria descontextualizar tal passagem, já que esta refere-se a estadia de Jesus na Samaria onde teria conversado com uma mulher, e que, portanto, essa passagem não seria algo generalizante, mas sim restrito ao específico contexto da pequena comunidade da Samaria.

Todavia, segundo Donatien Mollat, talvez o maior especialista francês em escrituras joaninas, essa passagem tem um simbolismo, mas que no meu entender envolve depreciação de outras tradições sim. Em João 4, 18, Jesus adverte que a samaritana em questão tinha tido 5 maridos, e o tom é de reprovação, mas não exatamente por promiscuidade ou instabilidade conjugal. Explica Mollat et al.:
“Os cinco maridos simbolizam os deuses importados por cinco povoamentos pagãos [...]. O deus dos cananeus chamava-se Baal, mas esta palavra tornou-se o nome comum para designar todos falsos deuses. Ora, nas línguas semíticas, a palavra baal significa também ‘marido’, teríamos portanto aqui, um jogo de palavras não traduzido em grego, que seria retomado de Oséias 2,18-19, texto que anuncia a conversão da Samaria.” (Mollat et al., p.1851, nota b).
            É totalmente compreensível que os fiéis não tenham obrigação de conhecerem esse contexto que reúne ao simultaneamente erudição e sensibilidade para interpretação simbólica. A moça samaritana desta passagem representa, na interpretação alegórica acima, a própria história da Samaria. É uma interpretação mais profunda, que passa geralmente despercebida em relação a interpretação comum desta passagem, a saber, Jesus, alegadamente judeu, não possui repulsa à uma habitante da Samaria como era comum os demais judeus terem.

Trata-se do proselitismo de conversão geral em que visa simultaneamente converter os povos, no caso, da Samaria, apagando, consequentemente, cinco tradições pagãs. Em Oséias, livro do Antigo Testamento, o oráculo judaico de Jeová (Yahweh) é quem está contra Baal, e o povo da Samaria teria de não mais adorar Baal, mas sim Jeová, o deus judeu.

Então, vamos fazer a seguinte suposição, para vermos se há algum grau de ruptura ou de continuidade entre judaísmo e cristianismo no seguinte exemplo: se quando diante do Antigo Testamento o cristão samário tem de escolher entre Jeová (Yahweh), deus judeu do Antigo Testamento, ou Baal; o cristão grego entre Jeová (Yahweh) ou Zeus; entre Jeová ou Osíris; o cristão romano ou entre Jeová (Yahweh) ou Júpiter, todos eles escolhem sempre Jeová (Yahweh), como pode isso não ser uma conexão com o judaísmo? Há ao mesmo tempo uma deleção da identidade nacional ancestral dos respectivos povos nessa situação, uma vez que religião e a ordem social destes povos sempre foram interconectadas, e o passado destes, de tempos ancestrais, passa a ser substituído pela visão de mundo ancestral que há na narrativa do Antigo Testamento. Assim o gentil ao ser convertido, paulatinamente vai sendo desenraizado totalmente de suas tradições arcaicas. Junto com a nova religião concomitantemente dissolve-se os vínculos ancestrais já que estes são inseparáveis das religiões nas tradições dos povos. Deste modo ser cristão implica perder teor da tradição gentílica e receber teor da tradição judaica.

Pode-se afirmar que o cristão admite, sem dificuldades, que as escrituras judaicas colocaram que todos outros povos tinham falsos deuses na antiguidade, antes do advento de Jesus, e que na antiguidade o verdadeiro deus era o dos judeus e não o de quaisquer outros povos, e que o cristianismo adotou totalmente este contexto. Para os cristãos o que os judeus colocaram sobre os outros povos no Antigo Testamento é a palavra final.

É nítido que a narrativa do Antigo Testamento, em que os deuses dos demais povos que não o povo judeu são deuses falsos, retomada em João é uma nova carga contra as tradições não-abraâmicas, porém desta vez com o cristianismo se valendo exatamente das mesmas premissas judaicas. Pode-se dizer que tal postura cristã não é uma herança do judaísmo? As reprovações dos cristãos à idolatria significam isso, tais reprovações possuem antecedentes nas reprovações dos judeus à idolatria dos outros povos, conforme segue abaixo.

Na tradição grega a palavra daimôn é relacionada com seres sobrenaturais ou sobre-humanas, que não são necessariamente benéficos ou maléficos aos homens, existindo tipos de daimôn de ambas naturezas. Por exemplo, Sócrates teriam um daimôn conselheiro guiando sua busca pela sabedoria (ver Apologia de Sócrates de Platão) e Júlio César também teria um daimôn que lhe acompanhava nos desafios em vida e foi-lhe fiel após a morte em limpar-lhe a honra diante de seus assassinos (Plutarco, Vida de César, 69.2).

Na Septuaginta, a versão da Bíblia hebraica traduzida para o grego entre os séculos III a.C. e o século I a.C., os tradutores judeus substituíram vários termos gregos relacionados com a palavra daimôn na palavra plural daimonia. Christopher P. Jones, da Universidade de Harvard, observa:
“A cristandade também tomou do judaísmo uma concepção de inumeráveis poderes do mal, frequentemente identificado com os deuses das nações ‘aos arredores,’ [...]” (Jones, p. 36).
Em Salmos 96.5 se diz,  “Todos os deuses das nações são demônios” (daimonia)[3] e, explica Jones, esta passagem dos Salmos:
“[...] tornou-se um texto favorito dos escritores cristãos. Os primeiros escritos canônicos da cristandade perpetuaram a concepção judaica dos deuses pagãos como ‘demônios,’[...]”(Jones, p. 37).
          Deste modo, a palavra grega daimôn que não tinha, de modo geral, a conotação de forças malignas, foi deformada numa guerra ideológica entre os judeus e seus vizinhos, passando a palavra daimôn significar exclusivamente força maligna, e a mesma estratégia foi adotada pelos cristãos. 

Ora, como não dizer que a passagem de João 4,22, não é generalizante se a parábola da mulher samaritana, segundo a mentalidade cristã, se adapta sim em ser dirigida às nações dos respectivos deuses anteriormente mencionados da Cananeia, Grécia, Egito e Roma? É fora de dúvida que em relação a todas as tradições destes respectivos povos, anteriores a Jesus, os judeus as colocam como tradições de falsos deuses, e isto é uma postura que conta com a concordância do cristão, já que este concorda na manutenção deste discurso judeu de que os demais deuses são falsos deuses ou uma multidão de forças do mal, isto é, as demais nações são governadas pelas forças do mal. Definitivamente é a edificação da postura de um lado ser o totalmente certo e o outro lado o totalmente errado.

Eis agora a linha de raciocínio que permite admitir que a passagem “a salvação vem dos judeus”, de João 4,22 é generalizante. Por exemplo, nada impediria um prosélito cristão fazer uma parábola de que uma moça romana (simbolizando a própria Roma, como no exemplo da moça samaritana que representa a própria Samaria) tinha tido três maridos, e que isso significava, que Roma tinha adorado Zeus, depois Apolo, e depois Hélio em sua forma Sol Invicto. O que importa para o prosélito cristão é que, dando continuidade a mesma linha de pensamento judaico, todos os outros deuses são falsos ou forças do mal, tenham o nome que for.

O Evangelho de Marcos põe na boca de Jesus que:
Ide por todo mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo; o que não o crer será condenado” (Marcos 16, 15-16).
São Justino (100-165 d.C.) diz ao prefeito de Roma que só a ‘fé’ dos cristãos é a verdadeira.[4]

Santo Agostinho (354-430 d.C.) em sua Cidade de Deus, a sua maneira, após afirmar que somente Jesus é intermediário entre os homens e Deus (livro 9, cap. 15), tenta dizer que os deuses e os demônios/daimôn não teriam interação benéfica com os homens, tentando refutar o médio-platônico Apuleio (125-170 d.C.), de modo a depreciar todas as divindades das demais tradições, e faz isso da seguinte maneira, buscando autoridade em Platão, que mesmo entre os cristãos impunha ainda grande respeito:
Não é verdade o dito que o mesmo platónico [Apuleio] atribui a Platão:
Nenhum deus se mistura com os homens.” (Cidade de Deus, livro 9, cap. 16).
Contra a afirmação de Santo Agostinho, consta no próprio Platão o seguinte:
Deus não se mistura ao homem e todavia a natureza demoníaca torna possível aos deuses terem geralmente relações com os homens e com eles conversarem tanto durante a vigília como durante o sono”. (Banquete 203 a)[5].
Depois de proferir que os povos que não são da comunidade ‘eleita por Deus’, isto é, que não são da comunidade cristã, como desamparados por Deus, por dependerem de daimôn ou deuses falsos, Agostinho faz o elogio à tradição de Israel, o qual reproduzo inteiramente para não haver risco de palavras ou frases isoladas e descontextualizadas:
Julgo que nem os próprios judeus se atrevem a pretender que ninguém além dos israelitas pertenceu a Deus desde quando começou a descendência de Israel com a reprovação de seu irmão mais velho. É verdade que nenhum outro povo se encontrou que fosse digno de se chamar propriamente o povo de Deus; mas que tenha havido, mesmo entre outros povos, homens que tenham pertencido, não por comunhão terrestre mas celeste, aos verdadeiros israelitas, cidadãos da pátria do Alto, não podem eles negá-lo; porque, se o negassem facilmente seriam convencidos como o santo e admirável Job, que não foi indígena, nem prosélito, isto é, adventício do povo de Israel, mas procedia do povo idumeu, onde nascera e onde veio a morrer; e, todavia, é de tal maneira louvado pela palavra divina que nenhum homem dos seus tempos se lhe pode igualar no que respeita a justiça e piedade. Embora nas Crónicas não encontremos qual foi a sua época, podemos, porém, deduzir do seu livro, - que, devido ao seu mérito, os israelitas admitem no seu cânon – que ele pertencia à terceira geração posterior a Israel.
Não duvido de que a divina Providência quis, apenas por intermédio deste, que ficássemos a saber que puderam existir também entre os outros povos homens que viveram em conformidade com Deus, procuraram agradar-lhe e pertencerem à Jerusalém espiritual. Não se deve crer que isto tenha sido concedido senão àqueles a quem Deus revelou o único mediador entre Deus e os homens – o homem Jesus Cristo. Aos antigos santos foi anunciado que Ele havia de vir em carne, tal qual nós O anunciámos como já chegado, para que por Ele uma só e a mesma fé conduza a Deus todos os que estão predestinados a tornarem-se Cidade de Deus, Casa de Deus, Templo de Deus. É certo que as profecias de outros acerca da graça de Deus por Jesus Cristo podem ser encaradas como inventadas pelos cristãos. Por isso, se há quem discuta a este respeito, nada há mais de seguro para convencer os estranhos, quaisquer que eles sejam, e torna-los nossos (se procedem com rectidão) do que apresentarem-se-lhes as predições divinas acerca de Cristo que estão escritas nos códices dos judeus; uma vez arrancados estes às suas próprias moradas e dispersos eles por toda a Terra para prestarem este testemunho, é que a Igreja de Cristo se estendeu por toda parte.” (Cidade de Deus, livro 18, cap. 47).
Dado todo o contexto, agora posso extrair a inserção de Agostinho de pretender colocar na memória do Mundo que no passado o judeu era o ‘povo eleito’:
É verdade que nenhum outro povo se encontrou que fosse digno de se chamar propriamente o povo de Deus [...]”
E também, essencial ao cristianismo é se basear no judaísmo, pois a disputa entre judeus e cristãos é para ser o ‘povo eleito’ de Deus:
É certo que as profecias de outros acerca da graça de Deus por Jesus Cristo podem ser encaradas como inventadas pelos cristãos. Por isso, se há quem discuta a este respeito, nada há mais de seguro para convencer os estranhos, quaisquer que eles sejam, e torna-los nossos (se procedem com rectidão) do que apresentarem-se-lhes as predições divinas acerca de Cristo que estão escritas nos códices dos judeus.
Egípcios, minoicos, hititas, micênicos, babilônios, assírios, persas, gregos, e romanos, as grandes civilizações que Agostinho certamente estudou ou leu menção em maior ou menor medida, também chineses e hindus cujas rotas comerciais que direta ou indiretamente o império macedônico conectou com Roma, em alguma medida, mesmo que ínfima, lhe devem ter chegado algo, e todas estas civilizações, nas palavras de Agostinho, pode-se inferir, estariam abaixo de Israel, pois “nenhum outro povo se encontrou que fosse digno de se chamar propriamente o povo de Deus”, enquanto incas, astecas e maias, também três povos que se enquadram na categoria de altas culturas, que dificilmente ele deve ter ouvido falar, mas existiam no período em que vivia, também eram, pela lógica dele, abaixo de Israel. O conjunto somado de toda criação destes povos das mais altas culturas da humanidade histórica, que captaram as leis inteligíveis do universo e plasmaram na terra, captação que só a mente superior, não reduzida aos imperativos biológicos do corpo, pode fazer, resultando em alta cultura material e espiritual, com duração de séculos, e inclusive milênios algumas delas como a egípcia e chinesa, não satisfizeram o Deus de Agostinho nos períodos anteriores à Jesus, pois “nenhum outro povo se encontrou que fosse digno de se chamar propriamente o povo de Deus”!

Ao menos na cristandade essa é a arqueologia cultural da humanidade! Ou a maioria dos cristãos acha que não? Que algum outro povo antes de cristo tinha mais valor que o povo de Israel?

É verdade que o proselitismo, a evangelização cristã, colocava para fins de concorrência com seus contemporâneos a pessoa de Jesus, e se para as grandes civilizações acima mencionadas, muitas já envelhecidas, corrompidas, degeneradas, em dissolução, na fase final de seus ciclos, o mesmo recurso era usado nas culturas mais novas que haviam no Ocidente, especialmente os indo-europeus, quando para fazerem estes abdicarem de suas tradições ancestrais os prosélitos recorriam à narrativa de que no período anterior à Jesus, “nenhum outro povo se encontrou que fosse digno de se chamar propriamente o povo de Deus,” uma vez que tal período de conversão dos povos mais jovens é um período, séculos IV e V d.C., que vive o próprio autor desta frase, Santo Agostinho.

É a mesma lógica da simbologia da passagem da conversa entre Jesus e a moça da Samaria em João 4,22, “A salvação vem dos judeus.” Uma lógica aplicada de modo generalizante, e desta vez para os indo-europeus, fossem celtas, ibéricos, germânicos, bálticos, eslavos, bretões, nórdicos etc, e que a história verdadeira da antiguidade do mundo era a que constava no Antigo Testamento.

Até aqui, vemos que apesar dos cristãos afirmarem que Jesus é um rompimento com o judaísmo, não obstante, a evangelização inevitavelmente procura sua base no judaísmo, recorrendo também frequentemente ao Antigo Testamento, tanto para interpretação histórica dos povos da antiguidade, pois aceita como história da antiguidade praticamente apenas o que está contido no Antigo Testamento, bem como precisa recorrer ao Antigo Testamento a profecia que permite para o cristão transição da condição de ‘povo eleito’ do judeu para os membros da ‘comunidade cristã’.

Notas


[1] The Cambridge Dictionary of Judaism & Jewish Culture, vocábulo Abraham.

[2] As autoridades responsáveis pelos estudos introdutórios na dos respectivos livros na 1ª edição (1956) da Bíblia de Jerusalém foram (pág. 7 da edição utilizada, Bíblia de Jerusalém, Editora Paulus, 1ª edição, 12 ª reimpressão, São Paulo, 2017):
Evangelho de Marcos: Joseph Huby.
Evangelho de Mateus: Maurice Benoît que também assinava como Pierre-Benoît.
Evangelho de Lucas: Émile Osty.
Evangelho de João: Donatien Mollat.
Nas demais edições, 1973 e 1998, o alto colegiado reunido pela École Biblique de Jérusalem avançou os estudos críticos, os quais resultaram na presente edição brasileira baseada na edição original francesa de 1988. Tendo isto em conta quando alguma citação referente aos quatro autores acima for feita será acompanhada de Et al., creditando assim os colaboradores do alto colegiado da École Biblique Jerusalém que avançaram os estudos dos especialistas citados.
Para a introdução sobre os sinóticos usarei para referenciar o autor simplesmente École Biblique uma vez que na edição em português da Bíblia de Jerusalém não é apontado o autor, e também pelo fato dos textos das edições terem sido atualizados pelo alto colegiado da École Biblique de Jérusalem. 

[3] Passagem em Between pagan and christians, de Christopher P. Jones, pág. 37. Na Bíblia de Jerusalém versão em português, vertida a partir da escritura em hebraico, está assim “Os deuses dos povos são todos vazios.”, contudo a nota a, pág. 965, referente à este versículo reitera que no grego corresponde à demônio.”

[4] Gustave Bardy, La Conversion al Cristianismo durante los primeiros siglos, Ediciones Encuentro, Madrid, 1990, p. 150.

[5] Passagem extraída por J. Dias Pereira, presente na própria nota referente a afirmação em questão, feita por Santo Agostinho, na edição utilizada da Cidade de Deus, volume II, pág. 859, nota 1.


          
Bibliografia:

Douglas Reed, The Controversy of Zion, Editora Veritas, Bullsbruck.

Simon Dubnow, Manual de la Historia Judia – (desde los origenes hasta nuestros dias), Editorial S. Sigal, 4ª edição, Buenos Aires, 1955. Tradução de Salomon Resnick.

The Jewish Encyclopedia – 12 volumes (editado por Isidore Singer), Kitav Publishing House, Inc, Nova Iorque, 1901-1906.

Bíblia de Jerusalém, Editora Paulus, 1ª edição, 12 ª reimpressão, São Paulo, 2017.

Franz Altheim, Historia de Roma – 3 volumes, Editora Uteha, Cidade do México, 1961/1964. Traduzido por Carlos Gerhard da 2ª edição original alemã Römische Geschichite, Editora Walter de Gruyter, Berlim.

Christopher P. Jones, Between pagan and christian, Harvard University Press, Massachusetts, 2014.

Julio Trebolle Barrera, A Bíblia judaica e a Bíblia Cristã – Introdução à história da Bíblia, Editora Vozes, Petrópolis, 1999, 2ª Edição. Traduzido da edição espanhol por Pe. Ramiro Mincato.

Antonio Piñero, Guía para entender el Nuevo Testamento, Editorial Trotta, Madrid, quarta edição, 2011.

Shlomoh Ben-Ami, Fuentes del Cristianismo, Antonio Piñero (editor), Ediciones El Almendro, Madrid, 1993. Capítulo “Palestina em el primer siglo de la era comum.”

Aaron Oppenheimer, Fuentes del Cristianismo, Antonio Piñero (editor), Ediciones El Almendro, Madrid, 1993. Capítulo “Sectas judias en tiempos de Jesus: fariseos, saduceos, los ‘amme ha’aretz’.”

Juan Mateos, Fuentes del Cristianismo, Antonio Piñero (editor), Ediciones El Almendro, Madrid, 1993. Capítulo “El Evangelio de Juan.”

Robert Henry Lightfoot, St. John Gospel – a commentary, Clarendon Oxford Press, Oxford, 1957.

John J. Clabeaux, ‘Abraham in Marcion’s Gospel and Epistles: Marcion and the Jews’ em When Judaism & Christianity Began – Essays in Memory of Abthony J. Saldarini Volume One –Christianity in the Beginning – (editado por Alan J. Avery-Peck, Daniel Harrington & Jacob Neusner), Supplements to the Journal for the Study of Judaism, vol. 85, Editora Brill, Leiden . Boston, 2004.

José Montserrat Torrents, Los Gnósticos, vol. 1/2, Editorial Gredos, Madrid, 1983.

Rainer Daehnhardt, Páginas Secretas da História de Portugal, Publicações Quipu, Lisboa, 1ª Edição, 1998. (especialmente o capítulo ‘O secretismo acerca dos vândalos’.)

Gustave Bardy, La Conversion al Cristianismo durante los primeiros siglos, Ediciones Encuentro, Madrid, 1990. Traduzido da edição francês, La conversion au Christianisme durant les premiers siècles, 1961, Desclée de Brower, Paris.

Mircea Eliade, Mito e Realidade, Editora Perspectiva, São Paulo. 6ª edição, 4ª reimpressão, 2000. Traduzido da edição inglesa de 1963 por Pola Civelli.

Mircea Eliade, História das Crenças e das Ideias Religiosas – 3 volumes, Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2011. Tradução do original em francês de 1978 por Roberto Cortes Lacerda.

Andrew Joyce, The Occidental Observer (07/01/2017), Êxodo recorrente: Identidade judaica e Formação da História. Traduzido por Mykel Alexander.

M. Tulio Cicerón, Discursos III, Editorial Gredos, Madrid, 1991. Tradução do latim, introdução e notas por Jesús Aspa Cereza.

Santo Agostinho, A Cidade de Deus, Volume II (Livro IX a XV), Editora Calouste Gulbenkian, 2ª Edição, Lisboa, 2000. Tradução por J. Dias Pereira, a partir do original latino intitulado De Civitate Dei baseada na edição de B. Dombart e A. Kalb.

Santo Agostinho, A Cidade de Deus, Volume III (Livro XV a XXII), Editora Calouste Gulbenkian, 2ª Edição, Lisboa, 2000. Tradução por J. Dias Pereira, a partir do original latino intitulado De Civitate Dei baseada na edição de B. Dombart e A. Kalb.

Dicionário Houaiss, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2001, 1ª edição.

The Cambridge Dictionary of Judaism & Jewish Culture, Cambridge University Press, Nova Iorque, 2011, (editado por Judith R. Baskin, Universidade de Oregon).   




Sobre o autor: Mykel Alexander é licenciado em História (Unimes), Bacharel em Farmácia (Unisantos) e está no último semestre de licenciatura em Filosofia (Unimes).
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Relacionado, leia também:

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Controvérsia de Sião - por Knud Bjeld Eriksen

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26 comentários:

  1. Ah tempo venho refletindo sobre esse ponto, para nós cristãos, onde começa o cristianismo e termina o judaísmo, claro que há esde distincad classica entre antigo e novo testamento, mas nas igrejas protestantes isso mistura-se de tal forma que fica difícil perceber. Basta entrar no templo de Salomão da IURD, parece mais uma sinagoga. Excelente texto.

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    1. Olá! O exame crítico vai mostrando que o Cristianismo parece ter tido inicialmente uma ruptura com o judaísmo, na qual deveria ser total, o que incluiria banir toda literatura judaica da elaboração futura dos cânones, isto significa banir totalmente o Antigo Testamento e adotar toda a base das demais tradições, com todo rigor crítico, do que era o período anterior a Jesus.

      Para história seria utilizada as melhores referências disponíveis na época, ex. Heródoto, Tucídides, Manetón, Políbio e Dionisio de Halicarnaso entre outros.

      Para costumes: Homero, Pitagóras e Platão

      Para filosofia: Pitagóras e Platão.

      Para religião: orfismo, pitagorismo e platonismo.

      E assim por diante.

      Ao não fazer isso e tendo o Antigo Testamento colocado na Bíblia, o cristão passou a adotar a visão de mundo judaica para o período anterior a Jesus, e tal visão colocava os judeus como certos e os demais povos como errados: egípcios, babilônios, assírios, persas, gregos, romanos, e ainda tendo que implicitamente assumir que as expulsões ou cativeiros judaicos eram por erros de todos esses povos e todas essas culturas, sendo os judeus sempre certos.

      Mas as grandes culturas e civilizações da humanidade vieram destes povos e não dos judeus.

      E mais, a grande autoridade do Ocidente estaria (como é de fato) em Homero, Pitágoras e Platão, e tudo que deriva destas tradições. Jesus entraria nessa fila, afinal, os feitos do espírito se manifestam moldando o mundo, e o Theos, atuando no caos, criando os cosmos. E tais nomes criaram o valor espiritual que moldou e criou o Ocidente legítimo, e que foi utilizado para criar o que teve de bom, o pseudo-ocidente baseado na Igreja.

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    2. Outro ponto essencial tocado no Texto é a diferença de israelenses e judeus. Eu só mencionei algumas citações de Douglas Reed, que serão tratadas posteriormente nos textos do próprio Reed.

      Basicamente israelenses viviam na Palestina.

      Judeus surgiram subitamente e se estabeleceram ao sul do território israelense.

      Ao chegar a expansão dos assírios, os israelenses desaparecem assimilados no império dos assírios.

      Os judeus subsistem.

      A partir de então o território que os judeus terão será nomeado só por Judeia, não Israel, pois não eram israelenses, e sim judeus. Não haverá mais um país com o nome de Israel desde o século VII a.C.

      A junção da elite judaica com a elite israelense teria sido breve, e sobraram somente judeus depois.

      Então a partir do século VII a.C. todo desdobramento é só referente aos judeus, nada sendo referente aos israelenses. Ver Reed abaixo:

      “Portanto o uso do nome ‘Israel’ pelo Estado sionista o qual foi criado na Palestina neste século está na natureza de uma falsificação. Uma forte razão deve ter ditado o uso do nome de povo que não eram judeus e não teria credo algum o qual tem se tornado o judaísmo. Uma sustentável teoria sugere-se por si própria. O Estado sionista foi estabelecido com a conivência das grandes nações do Ocidente, o qual é também a área da cristandade. O cálculo pode ter sido que estes povos iriam estar em conformidade com suas consciências se eles pudessem ser levados a acreditar que eles estariam cumprindo uma profecia bíblica e a promessa de Deus para ‘Israel’, a qualquer custo na ‘destruição’ de povos inocentes.” (Reed, p. 11).

      A partir de então as escrituras judaicas vão sendo feitas alterando os fatos, conforme a conveniência. Fizeram isso no Antigo Testamento, e depois ao que parece no Novo Testamento, conforme a citação abaixo:

      “Marcião proclamava que existia um único Evangelho autêntico, que de início foi transmitido oralmente, e depois redigido e pacientemente interpolado pelos entusiastas do judaísmo. Esse único Evangelho declarado válido era o de Lucas, reduzido por Marcião ao que ele julgava ser o núcleo autêntico.” (Eliade, p. 143).

      Então, já no início os judeus conseguem grande avanço, em longo prazo, como vinham fazendo há séculos. E já no século II d. C. desfizeram uma possível total ruptura que Jesus teria feito, ao enxertarem isso para remediar a situação e doutrinar os cristãos que a base original de tudo vem da antiguidade judia, e não da antiguidade dos demais povos:

      No Evangelho segundo São João, 4, 22, afirma-se o seguinte:

      Vós adorais o que não conheceis;

      Nós adoramos o que conhecemos,

      Porque a salvação vem dos judeus

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  2. Muito bom o seu artigo mas discordo quando você diz que deveriamos de romper totalmente com o Antigo Testamento, os judeus do Velho Testamento como Abrãao, Moisés ou Samuel por exemplo, foram escolhidos por Deus sim. E AQUELA Israel era o povo escolhido de Deus sim, Deus escolheu eles para que crescessem e compartilhassem as boas novas com todos. Deus não escolheu os egípcios nem os assirios. Por isso que em Joao 4:22(você tirou essa frase de contexto e por isso parece algo judaizante) Jesus disse à mulher samaritana "voces adoram o que nao conhecem, nós adoramos o que conhecemos pois a salvaçao vem dos judeus" é a pura verdade os samaritanos nao conheciam bem a religiao mas ainda assim alguns, como essa mulher, adoravam. Os judeus ja foram o povo escolhido, mas eles escolheram odiar o Messias deles, por isso eles foram abandonados e nós fomos escolhidos. Se eles se arrependerem serão o povo escolhido de novo junto conosco.

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    1. Vitor, há dois pontos que colocaste acima.

      1º A mentalidade que Deus escolhe um povo. Não irei exatamente agora trabalhar nesse ponto, apenas é nítido que esta é uma concepção abraâmica, e que ficam judeus, cristãos e muçulmanos disputando para ser o "povo eleito" de Deus. Mentalidade essa ausente em praticamente todos os povos, principalmente no que toca "o eleito" depreciar outros povos que não sejam "eleitos".

      2º Ponto. Sobre o uso indistinto de judeus e israelenses como se fossem os mesmos, no passado ou no presente. Leia as extrações que coloquei no artigo a partir de Douglas Reed e as inferências que fiz. Nela os judeus são um povo estranho aos israelenses, unidos num período curto, e antes dessa união eram completamente estranhos, e depois desta união, os israelenses desapareceram. Irei futuramente colocar três ou quatro capítulos do livro de Douglas Reed que aborda exatamente isso.

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  3. Respostas
    1. Você discorda com esses 2 pontos q vc fez menção aí ou que? Nao ficou claro.

      Sobre o 2° Uso as definiçoes de judeu e israelense como entendemos normalmente, judeu o que pratica o judaismo e israelense que é de Israel. Tambem existe o israelita que é o que provêm do Israel Antigo.
      Mas entendi o que você disse que judeu era o de Judá e israelense o de Israel.

      Sobre o 1° ponto. O fato historico de Deus escolher Abraão e sua progenie para o adorar é como disse, um fato histórico não uma mentalidade equivocada, a nao ser que você nao creia na Biblia claro. Fico triste pelas pessoas que não confiam na vericidade da Biblia porque a Biblia é nosso principal meio para conhecer o evangelho, se o homem questiona a legitimidade da Biblia como vai levar o evangelho a sério porque para o por em prática é preciso muita fé...

      Ache algum erro se puder ou contradição, ao contrario do que você diz, não há, você só acha esse tipo de erros se tira as falas de contexto.

      Voltando ao tema de sobre como Deus escolhe de fato um povo para si:
      Haviam muitos homens sobre a Terra, muitos que faziam a justiça provavelmente mas Deus escolheu um, Abraão. Isso confirma a doutrina cristã de que todos somos pecadores imundos mas Deus é que tira da lama a uns sim e a outros simplesmente não, porque existem "vasos para a ira" e "vasos para a glória" como diz na Bíblia.
      Ser salvo é um favor que não merecemos por sermos pecadores. Deus é quem extende a mão a quem ele quer, escolhendo a quem ele quer escolher e desjeitando a quem quer desjeitar.
      Eles foram o povo escolhido mas foram rejeitados, se você quer refutar a Bíblia eliminando o velho testamento você elimina tambem o sentido do Novo Testamento.
      Nos Evangelhos de Mateus,Marcos João e Lucas, nâo se fala tanto assim de Jesus como para que vire uma religião gigantesca mundial como é.
      Mas nas escrituras do Velho Testamento ja se falava de Jesus, ja se antecipava a vinda do Messias e incluso em Genesis existem referencias a Ele. A Biblia precisa do Velho Testamento para contextualizar o Novo e o entender de verdade.

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    2. Vitor, colocaste o seguinte:

      “Sobre o 2° Uso as definiçoes de judeu e israelense como entendemos normalmente, judeu o que pratica o judaismo e israelense que é de Israel. Tambem existe o israelita que é o que provêm do Israel Antigo.
      Mas entendi o que você disse que judeu era o de Judá e israelense o de Israel.”

      Vejo que esta sua colocação mistura conceitos tradicionais do judaísmo, com definições contemporâneas. Releia antes o meu texto, as citações que usei, e os comentários até então colocados. No que coloco referente a diferença entre judeus e israelenses.

      Resumindo: judeus eram povo completamente alheio aos israelenses. Judeu era um povo e israelense outro povo.

      Judeus são os que nascem de sangue judeu, sendo a confissão religiosa deles irrelevante. Por isso nos congressos judaicos internacionais tinham judeus de várias confissões religiosas e judeus ateus.

      Israelitas eram povos da Israel antiga, os quais desapareceram no século VII ou VIII a.C. E não eram do mesmo sangue, e sem as mesmas crenças dos judeus. Fique atento ao artigo do meu blog que mostra interpolação judaica para fazer parecer que existia semelhança entre judeus e israelenses. Link abaixo:

      https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2018/11/exodo-recorrente-identidade-judaica-e.html


      O território que os judeus ocuparam depois se chamava Judéia, por ser povoada por judeus, e não por israelitas / israelenses (caso se use indistintamente o termo para os antigos, como ocorre hoje) que tinham desaparecido.

      Portanto o uso de Israel é errado para a região lá, pois só judeus a ocupam, sejam religiosos ou ateus, e o nome do Estado judaico aí deveria ser Judéia, pois é povoada por judeus e não por israelenses ou israelitas, estes foram extintos.

      Sobre essa temática especificamente vou postar os quatro primeiros capítulos de Controverse of Sion de Douglas Reed, donde tirei as passagens desta temática nesse artigo. Se possível, baixe o livro e leia os quatro primeiros capítulos. Abaixo segue o link:

      https://archive.org/download/DouglasReedTheControversyOfZion/Douglas%20Reed%20-%20The%20Controversy%20of%20Zion.pdf

      Acho que essa questão é fundamental ser aprofundada, pois rompe com a visão que judeus e israelenses eram afins, em geral, e que judeus representam os israelenses.

      Seguindo o diálogo, aguardo colocações específicas do que tratei dessa temática no meu artigo, e se puder do que está contido nos quatro primeiros capítulos do livro de Reed disponível no link, caso não queira esperar eu postar os capítulos no blog para tratá-los especificamente do conteúdo dos capítulos que evidenciam a diferença total de judeus e israelenses / israelitas.

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    3. Vitor Dilucca irei tratar os pontos enumerando-os:

      1º Colocaste o seguinte:

      “Fico triste pelas pessoas que não confiam na vericidade da Biblia porque a Biblia é nosso principal meio para conhecer o evangelho, se o homem questiona a legitimidade da Biblia como vai levar o evangelho a sério porque para o por em prática é preciso muita fé...”

      Diante de sua colocação, reitero essa minha: baseada sobre o livro de Rusell Gmirkin, Berossus and Genesis, Manetho and Exodus: Hellenistic Histories and the Date of the Pentateuch, o qual levantou-se o tema sobre consistentes contradições do Velho Testamento, o que significaria inclusive registros de pretensões históricas sem, contudo, possuírem corroboração nos estudos históricos e arqueológicos.

      Quando se examina as culturas e civilizações, repare que nos povos antigos, a política, a religião, a história e o mito/simbologia estão todos unidos em conexões que nem sempre são possíveis de se separar. Contudo, a análise que se faz sobre a história é uma busca pela veracidade em todos aspectos, isto é, política, religião, história, mito/simbologia, busca que não se faz esperando uma garantia de obter toda verdade, porém de buscar o máximo possível de verdade, e justamente a obra de Rusell Gmirkin expõe fraudes na narrativa histórica e mítica bíblica feita pelos judeus e que os cristãos conservam como verdades inquestionáveis em absoluto. Porém uma verdade em absoluto não pode ceder a fraudes comprováveis como ocorreu após Gmirkin fazer sua apuração. (tem o artigo específico disso: https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2018/11/exodo-recorrente-identidade-judaica-e.html )


      No século XIX a arqueologia foi evidenciando que vários postulados judaicos, cristãos e islâmicos, em suma abraâmicos que pretendiam datar a humanidade estavam errados. Errar faz parte, o problema é errar e alegar infalibilidade, e isso em questões mensuráveis como cronologia da humanidade, a qual a arqueologia e demais ciências mostraram-se certas e os religiosos errados.

      Em suma, a verdade infalível, se pretende-se reivindicar para si ou para uma religião ou uma ciência, pode até não ser refutada nem ser comprovada em níveis não verificáveis, mas em níveis verificáveis quem pretende ter tal verdade, seja homem ou religião ou ciência, não pode se revelar falível.
      Vejo necessário ainda um complemento. Tu alegaste que necessita-se de fé para acreditar. Na realidade, essa postura tem uma remota origem.

      Para se referir as culturas e civilizações da antiguidade, não é sempre producente ter como parâmetro a religião, até porque em muitos povos da antiguidade nem existia uma palavra para religião como algo separado dos demais aspectos de tal povo. A palavra certa seria TRADIÇÃO, algo que é transmitido geração após geração, no caso dos povos, toda a cultura, realizações e costumes deles, que de modo sistemático e usando as palavras de hoje, para ser didático, pode-se elencar tais aspectos em: filosofia (busca pela sabedoria), religião (busca pela transcendência/espiritualidade), política (busca pela harmonia dos indivíduos num todo e pela defesa/ataque bélico, além da economia), arte (busca pela beleza), ciência (busca das causas através da razão, e da aplicabilidade do conhecimento). A fé entra só num aspecto aí, na religião, e em parte dela, mais exatamente em LIDAR COM O DESCONHECIDO dado os limites da compreensão humana.

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    4. 2ª Parte - continuação da resposta a sua colocação 1.

      O abraâmismo se arma contra outros povos dizendo que são eleitos (primeira aliança, segunda aliança, etc) de Deus. Todavia as realizações de tais povos, em alto nível, preenchendo os aspectos elencados acima, não pode ocorrer por via materialista. A matéria é oposta a espiritualidade na questão hierárquica, pois embora no universo se complementem (didaticamente o exemplo grego é muito claro: Theos (deus/ordem/espiritualidade) atua no caos (matéria/aleatoriedade) e cria o Cosmos/Universo ordenado em marcha), o bem é quando os princípios espirituais se impõem sobre os princípios materiais, e é justamente o que se evidencia pelas realizações das grandes civilizações.

      Tais realizações não são pela fé, que é o mergulho no desconhecido sem ter compreensão, mas sim pelo esclarecimento em cada campo, baseado na compreensão das leis do universo que penetram cada um destes campos, e são leis da inteligência divina ou universal, que só por semelhante mentalidade se pode captar, ou seja, uma mentalidade que desenvolva aspectos divinos, que é o que faz possível a transformação do homem que impõe em si seu lado espiritual sobre seu lado material, e impõe na natureza a ordem construtora.
      Isso mostra que em vários aspectos da humanidade da terra, que são COMPROVÁVEIS, a espiritualidade, isto é, uma mentalidade de semelhança com a divindade, é imprescindível, e que os méritos do homem de se elevar à um nível superior, mais divino e menos animal, esteve em vários povos, e não num auto-alegado povo eleito.

      O abraâmico, furioso com uma exposição dessa, tenta apelar a fé, isto é, ao elemento de cegueira inevitável que existe na fé quando se enfrenta o desconhecido, porém ele quer forçar ao crente um estado de cegueira que não permita a este perceber todo esse contexto, no qual tirando uma parte da religião (e não toda a religião) que a cegueira é inevitável, toda a realização do homem é com conhecimento, domínio e clareza, e isso tudo com a condição de que o homem imponha a si mesmo sua parte espiritual (divina) sobre sua parte material (animal). Feito isso, todos os povos estão em sintonia com a divindade/universo/inteligência/ordem.

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    5. 3ª Parte - continuação da resposta a sua colocação 1.

      Agora é preciso expor o truque abraâmico:

      Em vez de contrapor espiritualidade/inteligência/realização x estado da natureza mais próximo do animal/nomadismo/dependência de outro povo criador, uma comparação que evidencia bem quais povos estão mais e menos longe da divindade (claro que o estágio de alto nível em nenhuma civilização é interminável, e a decadência ocorre, sendo isso um tema referente a transcendência que deve chegar na cultura e se ESTABELECER, quando esta está em alto nível, caso contrário ocorre a estagnação e degeneração) o abraâmico contrapõe os eleitos/bons x os não eleitos/maus e eis o truque de manipulação emocional, explorando a boa vontade do povo, alegando que isso é uma questão de fé.

      Ora será que é mesmo uma questão de fé? Fé é o avanço ao desconhecido quando estamos privados de compreensão após esta esgotar-se em todo esforço. A questão de povo eleito e não eleito não é algo de fé, cegueira, mas sim comparando as realizações dos povos, e as grandes realizações são impossíveis de se fazer ficando tais povos no estado mais próximo de natureza / animal, necessariamente é preciso que tais povos se elevem a um nível superior que tenha capacidade de apreensão das leis divinas, e isso somente com uma mente semelhante à mente divina. Claro que a mente divina é equivalente à perfeição, e uma mente apenas semelhante à divina não é equivalente à perfeição, mas é algo tão superior à condição do homem que está mais próximo da vida animal (reduzidos à COMER/FAZER SEXO/DORMIR) que a mente semelhante à divindade já faz as grandes realizações da humanidade, enquanto a mente próxima à vida animal é a das massas de hoje, degenerando-se e indefesas contra toda deterioração de sua civilização, ou a de tribos muito antigas que vivem em estado semelhante ao de animais, cujas casas parecem casas de cupim.

      No desespero, o abraâmico diz que ele é o eleito, que no reino dos céus é que se encontra a realização. Que no reino dos céus (cujos povos muito anteriores ao abraamismo se detiveram também em tais questões) a alma, ou o espírito (parte superior da alma) encontre seu domicílio é algo que tradição alguma irá negar, mas o que não se pode aceitar é que quem nem consegue uma mente semelhante ao divino na terra, que imponha valores espirituais sobre os naturais instintos materiais do corpo, valores que transmitidos e vividos geração após geração é que tornam possíveis os povos fazerem as grandes realizações, vai conseguir se sustentar em tais alturas celestiais, nas quais não cabem imperativos materiais.

      Como um indivíduo ou um povo que viveu a maior parte do tempo em imperativos materiais, e junto a isso não CULTIVOU na alma as virtudes divinas, que podem ser chamadas de asas da alma, irá se ser povo eleito, ao passo que os que cultivaram virtudes divinas que se comprovam nas realizações na terra que se EVIDENCIAM em fazer primar a criação sobre a natureza, a vida de disciplina e contemplação das leis divinas/universais que permitem se elevar sobre a vida semelhante ao animal, não serão eleitos?

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    6. 4ª Parte - continuação da resposta a sua colocação 1.

      O abraâmismo tem seu discurso resumido em eleito e não eleito, porém evitando uma leitura ampla e profunda, pois caso faça isso, tal discurso mostra-se contraditório, daí a necessidade de tentarem PRENDER a atenção no fiel com o ‘slogan’ :

      Nós os eleitos de deus somos o bem, enquanto os outros os não eleitos, seguem ou representam o mal/ o diabo. E para sustentar esse ‘slogan’ exortam que os fieis sejam cegos, isto é, tenham fé, mesmo em áreas que é possível clareza e não é necessário dar o mergulho da fé quando se depara com pontos inevitavelmente então impossíveis de compreender. Aqui é nítido o expediente de manipulação principal do abraamismo, fazer uso da fé além do minoritário domínio em que a fé é necessária, isto é, nos momentos em que é preciso avançar sem saber o que vem pela frente. Em vários domínios o abraamismo se mostrou e se mostra errado, especialmente em depreciar povos que não teriam atingido enormes alturas sem compreender leis divinas e universais, que escaparam aos abraâmicos. Um exemplo maior é a Idade Média, onde o cristianismo teve mais poder em sua história, e ainda assim, vários domínios do saber que estão dentro inevitavelmente da mente divina escaparam aos cristãos, mas estiveram no domínio de não cristãos antes e depois da Idade Média (o mesmo vale para judeus e islâmicos, cujas realizações, em grande parte, quando próprias, são reestabelecimento de descobertas de outras culturas). Outros povos tiveram erros, mas não atribuíam a si, como únicos detentores da verdade, enquanto nesse exemplo, o maior, da Idade Média, a ignorância era algo alastrado, inclusive as missas foram por muito tempo realizadas sem o público entender o idioma da missa, tudo em conformidade com as exigências de fé cega!

      Eis a conclusão: A divindade, embora não em tudo, se evidencia em muitas realizações humanas conforme acima brevemente exposto. Não que seja o máximo da divindade, mas sim o quão perto ou longe está o homem da divindade e o quão perto ou longe está o homem da animalidade. E o lugar que o homem ocupa entre o mundo celestial e o mundo natural/animal não é apenas fé (religião, embora fé é só parte e não toda a religião), é também sabedoria (via filosofia), via conhecimento de fundamentos e de aplicabilidade (ciência), via beleza (arte), via ordem e harmonia social (política). As leis da divindade suprema não estão apenas na religião, mas sim em tudo, na ciência, na arte, na filosofia e na política, e o quão alto o homem levanta tais aspectos da divindade, é expressão de que altura o homem está entre o céu e a terra, sendo que cada povo teve uma equação própria de tais desenvolvimentos e um aprofundamento disso já é desnecessário aqui.

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  4. Pelo que li do texto, é bem provável que os atuais "judeus" devam ter mais ligação com os antigos levitas (da tribo de Levi, uma tribo sacerdotal que não possuía terras) do que qualquer outra tribo israelita. O sobrenome Cohen, Cohani (que significa sacerdote), é bastante comum entre judeus.

    Shlomo Sand já desmentiu a possibilidade de os israelitas e judeus, após a Destruição do Templo de Jerusalém no ano 70, terem sido deportados em massa para fora da região da Judeia. Ele defende que a grande maioria dos israelitas e judeus permaneceram ao redor de Jerusalém, mesmo, e, com o passar do tempo, se converteram a outras religiões como cristianismo e islamismo.

    De qualquer maneira, a Bíblia superestima e coloca os israelitas e judeus num pedestal, e os cristãos (e talvez os islâmicos, também) ajudam a reforçar esse estereótipo de "povo escolhido" por deus. A própria escatologia cristã serve-se do judaísmo como ordem política a ser estabelecida: "Nova Jerusalém".

    O cristianismo carece de provas consistentes de sua fundação, ainda nos três primeiros séculos. Já a partir do século IV, as fontes abundam, e ao que tudo indica, a ideia de Jesus parece ter sido criada de forma retroativa para atrair os judeus - e como isso não funcionou, tentaram fazer pegar nos não-judeus: e conseguiram.

    Como bem foi dito no texto do seu blog, os judeus eram detestáveis e repulsivos. O comportamento deles era tipicamente selvagem e bárbaro; já os gregos e romanos eram civilizados, nobres e educados, e talvez por isso, fossem mais fáceis de serem dissuadidos a repudiar seu paganismo e endossar o cristianismo.

    A história do judaísmo e cristianismo é muito turva, escassa de evidências históricas e abundante em mitos, conceitos e preconceitos diversos que, como já disse, favorecem o judaísmo enquanto ordem mundial e subjugam e desprezam outros povos e suas idiossincrasias.

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    1. Colocastes alguns pontos importantes que irei enumerar:

      1º Sobre os judeus terem origens nos levitas. É o ponto central dos quatro primeiros capítulos de Controversy of Zion de Douglas Reed. Seriam os judeus o aglomerado endogâmico de povos conduzidos pelos levitas, e que se aproximaram dos israelenses aproximadamente em 1000 a.C. Estudando a história dos Hititas e Egípcios pode-se relacionar esses judeus com os habiru (descritos pelos egípcios e hititas como povo agitador e subversivo, aproximadamente século XVIII a.C. em diante), desta palavra, 'habiru', derivaria a palavra 'hebreu'. Também um povo chamado hicsus (aproximadamente século XVII a.C. em diante), que teria entrado em conflito intenso com os egípcios também continha misturado entre suas fileiras o que seria o proto-judeu (semelhante ao judaísmo dentro das fileiras bolcheviques na Rússia, Ásia e Europa, só que na época assediando o Egito).

      2º Douglas Reed coloca que os israelitas evitavam o contato com o povo judeu, e insiste em salientar que israelita era um povo e judeu outro povo. Eram definitivamente separados e diferentes. Teria havido uma junção ou aliança devido aos esforços judaicos para reforçarem sua geopolítica na época.

      3º A palavra usada para definir a reputação dos judeus entre seus vizinhos, no livro de Reed, é 'ill' que pode ser traduzida como 'má', 'infame' ou 'doentia', no contexto. Há significantes relatos do atrito de judeus e demais povos no Império Romano, em 41 d.C. a comunidade de Alexandria escreveu uma carta para o imperador Cláudio sobre a questão judaica, que se alastrava inclusive no Império, há também a célebre queixa do egípcio romano Apião, contemporâneo de Cláudio e que gerou a réplica do judeu Flávio Josefo, intitulada "Contra Apião", e um pouco antes, nada mais nada menos que Cícero denuncia, com medo, a influência subversiva judaica em Roma, na sua obra "Pró Flacco", século I a.C.

      4º O estudo comparado do das tradições mostra essa linhagem habiru -> proto-judeus entre os hicsus -> judeus liderados pelos levitas - breve associação com Israel -> dissolução dos israelenses e permanência dos judeus. como a sequência espinhal da qual deve-se centrar a questão judaica na história antiga, e que revela na antiguidade antagonismo contra todos demais povos. Aí a questão dos levitas como ponto central para invalidar os apelos cristãos a prestigiar a associação de israelitas e judeus, e principalmente dar crédito a qualquer profecia judaica sobre a vinda do alegado messias.

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  5. Chega a ser bizarro como essa absorção da história judaica pra si alcança tal grau que mesmo evangélicos daqui, talvez os mais distantes temporal e espacialmente de "Israel" adotam pra si a história judaica. Não faltam "crentes" que afirmam ser de "descendência israelita", ou mesmo seitas que chamam seu rebanho de "filhos de Israel".
    Creio que um fenômeno histórico em que esse fanatismo herdado foi levado ao extremo foi a Rebelião Taiping, em uma cultura com uma riquíssima identidade filosófica e espiritual, onde o extremismo cristão declarou verdadeira guerra à religiosidade tradicional chinesa, levando a um dos conflitos mais sangrentos da História humana.

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    1. Exatamente Vitor Oliveira.

      De suas colocações, irei comentar em dois pontos:

      1º Um dos temas que mencionei no meu artigo é a diferença de judeus e israelitas,que são dois povos diferentes e inclusive estiveram junto por breve período, mais por pressão da geopolítica judaica, usando um termo anacrônico, nos primeiros séculos do primeiro milênio a.C. do que por afinidade israelita com os judeus.

      2º Ponto é a necessidade do judaísmo colocar o cristianismo no Oriente como intermediário entre o oriente e eles, pois o velho testamento apenas é sem conexão alguma com as tradições chinesas, então precisam de um suposto vínculo universal entre judeus e chineses, que seria o universalismo do cristianismo, depois, paulatinamente vão retirando o suposto universalismo cristão e vão reinserindo a temática do Velho Testamento. priorizando o tal "povo eleito", pois sem um estágio de adaptação do universalismo, a premissa de 'povo eleito' apenas por si não tem conexão alguma noutras tradições. Fizeram isso no Ocidente, com os greco-romanos, egípcios, anglo-germânicos e eslavos.

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  6. Bom artigo. Eu cheguei a conclusão de que o Novo testamento rompe totalmente com a ideia de judeus serem o povo escolhido e de que há ainda promessas materiais ou profecias a serem cumpridas em um estado de Israel e em templo judaico, apenas estudando a fundo as cartas apostólicas paulinas e a escatologia preterista total. São Mateus 21:33-43 registra a parábola dos lavradores maus (judeus) que mataram os servos (profetas) e o filho (o Messias), do proprietário da vinha (Deus) e diz qual seria a punição destes lavradores:
    ...Mateus 21:41 - Dizem-lhe eles: Dará afrontosa morte aos maus, e arrendará a vinha a outros lavradores (gentios- não judeus), que a seu tempo lhe dêem os frutos.

    Ou seja, Jesus concordou e indicou claramente que os lavradores seriam substituídos.
    ...Mateus 21:43 - "Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos."
    Por terem rejeitado Jesus como Messias, o Novo testamento ensina que os judeus perderam o posto de povo escolhido. Deus faria uma nova aliança agora não apenas com um determinado povo, descendente carnal de Abraão, mas com todos aqueles de todas as nações pela fé em Jesus (Gl 3:7;28-29) (Romanos 11:1-25). O livro de apocalipse apresenta portanto( dentro da visão escatológica preterista total, e não na visão futurista que a totalidade das igrejas evangélicas adotam, jogando o cumprimento das profecias para um futuro distante que dependa do estado de Israel e seu templo) o julgamento do povo judeu, representado pela mulher adultera, a Jerusalém terrena que rejeitou o seu Noivo, o seu rei, Cristo (João 19:15).

    " A mulher adúltera é simbolizada por uma grande cidade: "a grande Babilônia, a mãe das prostitutas" (Apocalipse 17:5) e onde Jesus foi crucificado (Apocalipse 11:8) Esta mulher/cidade não pode ser outra senão o Antigo Pacto de Judá: a esposa de Deus. Ele já havia se divorciado de sua irmã Israel:

    ...Jeremias 3:8-11 - E vi que, por causa de tudo isto, por ter cometido adultério a rebelde Israel, a despedi, e lhe dei a sua carta de divórcio, que a aleivosa Judá, sua irmã, não temeu; mas se foi e também ela mesma se prostituiu. E sucedeu que pela fama da sua prostituição, contaminou a terra; porque adulterou com a pedra e com a madeira. E, contudo, apesar de tudo isso a sua aleivosa irmã Judá não voltou para mim de todo o seu coração, mas falsamente, diz o SENHOR. E o SENHOR me disse: Já a rebelde Israel mostrou-se mais justa do que a aleivosa Judá.

    ...Deus já havia se divorciado Israel por causa de seu adultério. Agora, ele declara: "Judá traiçoeira" pior do que Israel!

    ...Apocalipse 18:7-8 - Quanto ela se glorificou, e em delícias esteve, foi-lhe outro tanto de tormento e pranto; porque diz em seu coração: Estou assentada como rainha, e não sou viúva, e não verei o pranto. Portanto, num dia virão as suas pragas, a morte, e o pranto, e a fome; e será queimada no fogo; porque é forte o Senhor Deus que a julga.

    ...Neste ponto, Jesus é livre para tomar uma nova mulher, a noiva de Cristo entra em cena: "para o casamento do Cordeiro e sua noiva já se aprontou" (Apocalipse 19:7). É claro que Judá foi substituída. Simplesmente não há outras palavras para descrever melhor o que ocorre em Apocalipse capítulos 18 e 19.Finalmente, uma vez que a Nova Jerusalém representa a noiva de Cristo (Apocalipse 21:2), ela substitui Velha de Jerusalém (Babilônia, a Grande), "A cidade fiel que se tornou prostituta" (Isaías 1:21). Assim como Jesus não pode ter duas esposas, as duas cidades não coexistem no plano de Deus. O templo da Jerusalém terrena foi destruído, e a cidade tornou-se espiritualmente irrelevante."(Daniel Plautz)

    -Débora

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    1. Olá Débora!

      Discordo que suas colocações sejam suficientes para falar de uma ruptura do cristianismo com o judaísmo. Na realidade eu fiquei com a impressão que tu não compreendeste o que o artigo realmente questiona, mas ainda sim vi dois pontos aí que avalio poder lhe questionar de modo a levar nosso diálogo ao tema real do artigo. Inicialmente irei colocar a primeira, para tentar esclarecer ela. Uma vez tratada a primeira, então iremos para a segunda.

      Eis abaixo a primeira colocação sua.

      1ª “Por terem rejeitado Jesus como Messias, o Novo testamento ensina que os judeus perderam o posto de povo escolhido.”

      É bem claro que o conceito de povo escolhido é algo característicamente abraâmico (origina-se no ‘contrato’ entre o alegado deus do Antigo Testamento e Abraão) e judaico especialmente. A sua afirmação acima contém em si a admissão que alguma vez o povo judeu foi um povo escolhido. Tinham um “posto de povo escolhido.”

      Então faço para você então a seguinte pergunta:

      Não teria que para haver uma ruptura completa do cristianismo com os judeus, ter que rejeitar a condição histórica de que alguma vez no passado o povo judeu foi “escolhido de deus”?

      Pois somente antes de Jesus, somente no Antigo Testamento há menção do judeu como povo eleito, e, inclusive, as tradições grega, romana, egípcia e da mesopotâmia não admitem em momento algum que o judeu tenha sido alguma vez povo eleito, e isso baseado na ampla historiografia de seus registros que abrangem várias tradições, inclusive a judaica e/ou de povos da Ásia Menor.

      Nesse caso, quando o cristianismo afirma que substitui a antiga ‘aliança’ de Deus com o antigo ‘povo eleito’ o cristianismo teria para isso que admitir COMO VERDADEIRO que os relatos judaicos de que os judeus eram em um dado passado realmente um ‘povo eleito’ e ao mesmo tempo isso obriga o cristianismo, NESSE TEMA, ir contra as tradições gregas, romanas, egípcias e mesopotâmias?

      Nesse caso o cristianismo não teria, diante da possibilidade de escolher entre a versão judaica da história e a versão de todas demais tradições, optado por assumir a versão história judaica? Afinal nas demais tradições nem consta que o judeu EM QUALQUER MOMENTO DA HISTÓRIA foi alguma vez povo eleito!

      E agora?

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  7. “Porque a salvação vem dos judeus”.
    Nos partidos de direita no mundo o sionismo cresceu e junto com os cristãos onde cegamente protegem os judeus para eles os judeus são o povo escolhido é meio bizarro falar que eles são o povo escolhido ou seja você não será salvo na lógica dos cristãos que acham isso.

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  8. Deveras interessante o assunto e a forma que aborda, Mykel! Interessante também é a tua exposição das falácias repetidas por cristãos ignorantes...O que se observa é uma tendência frequente em agir como gravadores reprodutores: nada lêem, sua fonte histórica é a Bíblia judaica (a que dificilmente devem entender) e seu guia é o pastor, que dá a palavra de acordo com seu próprio entendimento...felizmente a experiência me fez perceber que esse 'fenômeno' atinge muito mais evangélicos do que católicos, mas sem esquecer da falta de ruptura com o judaísmo.
    É frequente, também, observar que os cristãos que questionam e procuram a crítica a esse estado de coisas sempre se encontram num estado infinito de negação dos fatos e de confusão mental...toda a sua "cultura", "tradição filosófica" e "conhecimento histórico" são dados pelo pensamento judaico. Contudo, ao questionar essa linha de pensamento, caem na realidade e percebem que não possuem cultura alguma, apenas a "cultura" internacionalista do cristianismo.


    Porém, analisando o texto, surgiram algumas dúvidas:

    - Qual a diferença entre judaísmo rabínico e judaísmo helenístico? O último conserva (e se conserva) alguma característica do pensamento helênico? Ou trata-se de uma apropriação e posterior distorção?

    - Sobre o trecho '“Marcião proclamava que existia um único Evangelho autêntico, que de início foi transmitido oralmente, e depois redigido e pacientemente interpolado pelos entusiastas do judaísmo. Esse único Evangelho declarado válido era o de Lucas, reduzido por Marcião ao que ele julgava ser o núcleo autêntico.” (Eliade, p. 143).' Ainda há algum resquício do pensamento original? Seja escrito original ou interpretação lúcida das informações passadas oralmente, levando em consideração as influências não-semiticas de Jesus.

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    1. Olá Diego:

      Vou responder enumerando os principais pontos que colocaste:

      1º “O que se observa é uma tendência frequente em agir como gravadores reprodutores: nada lêem, [...] e seu guia é o pastor, que dá a palavra de acordo com seu próprio entendimento [...]”

      Sim, os fiéis, de modo geral, não estudam a Bíblia, no máximo leem alguns trechos fora do contexto. E realmente o guia deles é o pastor, que não tem formação forte nas várias áreas do saber para desqualificar vários estudiosos, sejam estes religiosos ou não. Mas a base desse proceder é que basta ter fé e não questionar, e isso é difundido entre os fiéis e os pastores, e o resultado é que estes cristãos dizem que o que eles sabem, ou a pretensa sabedoria que seguem, é superior ao saber dos não cristãos, mesmo sem saber quase nada tanto das escrituras cristãs quanto das demais escrituras e áreas do saber. O resumo disso é que não há acréscimo de conhecimento nem de sabedoria em geral entre os cristãos em relação aos não cristãos que se empenham no aperfeiçoamento do saber, e esse fanatismo admite ter isso como estilo de vida e ainda assim ostentar melhora na condição humana, o que é uma contradição, pois o ganho de discernimento é um referencial de melhora humana, e eles mesmo sem ganhar discernimento afirmam melhorar a condição humana deles em relação aos que aperfeiçoam o próprio discernimento mas não são cristãos. O resultado final disso tudo é que esse fanatismo permite a ignorância se acumular no fiel, desde que se tenha a alegada fé, mesmo que tal fé seja cega, e a ignorância continua acumulada. Inclusive há o risco da ignorância se acumular mais e mais na medida que a fé exigida tenha que ser aceita cada vez mais cegamente. Uma religião boa não pode deixar o fiel mais ignorante, pois o aumento da ignorância não é adequada a condição real do ser humano, logo uma religião assim é ruim, logo o cristianismo é ruim, na forma que se desenvolveu. Se nas origens ele oferecia combate à ignorância, eu não duvido, mas que houve distorção no suposto combate à ignorância que podia haver no cristianismo original isso é evidente já no Novo Testamento e nos grandes nomes da patrística.

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    2. 2º " Qual a diferença entre judaísmo rabínico e judaísmo helenístico?"

      Nos três séculos a.C. a difusão de várias correntes de pensamento do mundo grego, egípcio, e da Ásia Menor, incluindo o judaísmo, formavam um conjunto chamado 'helenístico'.

      O judaísmo helenístico combina correntes judaicas com helenísticas.

      O judaísmo rabínico admite só correntes restritas ao conteúdo da Torah, Talmud, e outros escritos judaicos, que até podem ter elementos não judaicos (acumulados no decorrer do tempo, como tradições egípcias, babilônicas, assírias, israelenses, persas etc), mas foram inseridos no corpo literário judaico dentro da mentalidade rabínica por melhorarem ao invés de piorarem o estilo judaico de ser.

      O judaísmo helenístico preocupou os judeus pois alterava o estilo judaico de ser, basta dizer que a metafísica grega desfaz as falácias da Bíblia, de povo eleito etc. Houve inclusive intrigas judaicas em que se destacaram um grupo ultra-fanático chamado de zelotes, que tornaram-se famosos por assassinatos usando adagas. Nas intrigas estavam envolvidos aspectos políticos, religiosos, culturais, e tudo mais que atrapalhasse os judeus a conservarem entre os seus núcleos a doutrina de povo eleito, já que o saber grego ao ser realmente colocado de frente as falácias abraâmicas dissolvia estas e os rabinos ficaram alarmados.

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    3. 3° "Ainda há algum resquício do pensamento original? "

      Ao que sei não há mais fonte primária dos escritos de Marcião. Era comum na antiguidade os livros que contradiziam o cristianismo serem destruídos. O Evangelho de Marcião foi reconstruído, utilizando as seguintes fontes que conservaram registros indiretos, tais como réplicas a Marcião: 438 versos em Tertuliano, 114 versos em Epifânio, 75 versos em Pseudo-Origines e 33 versos de dez outras fontes.

      Ver em ‘The Text of Marcion’s Gospel’, autoria de Dieter T. Roth, Editora Brill, 2015, página 5.

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  9. Acho estranho alguns dos comentários acima. Deus escolher um povo apenas, nessa vasta terra, para ser escolhido por ele? Por mais que há diferentes religiões atualmente e no nosso passado, seria estranho Deus criar um apenas um povo num ponto específico do tempo para ser escolhido por ele. O que me parece é que ao longo da História existiram pessoas que conseguiram, mesmo vivendo adversidades, transpor a maioria das barreiras postas a sua frente e deixar um bom Exemplo para que gerações futuras pudessem ver como é possível de alguma forma, pelo esforço, chegar a manifestar Deus nessa Terra. Fica claro, como cita o artigo, que existem pessoas degeneradas e que derrubam a "linha do médio" para poder se valer em "escravizar" outros.

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  10. Amigo Mykel Alexander, interessantíssimas são as suas explicações, parabéns e obrigado! Mas, cara, você tem de aprender o que é "Crase".

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    1. Grato! Esse artigo foi publicado precocemente devido à algumas polêmicas, e sera reformulado com adições de temas e aprofundamento em algumas questões nele expostas.

      Quanto a "crase", cabe a mim melhorar o português mesmo, não tenho tanta facilidade.

      Mas também deixo uma advertência aos mais altos acadêmicos, a saber, a atenção à semântica e à etimologia deles está tão ou pior que a gramática viciada em erros e falta de formação dos jovens, e parte dessa pobreza semântica dos mais conceituados jornalistas, políticos, religiosos e acadêmicos é devido a submissão deles ao politicamente correto ou ao fanatismo.

      Fica minha dica aos que tentam interpor a um interlocutor uma ironia de erro gramatical, mas estão encharcados de analfabetismo semântico e/ou covardia acadêmica, religiosa e política (não me refiro a você obviamente colega!).

      Fazem do idioma a ferramenta da distorção, e da comunicação o canal da ignorância e mentira!

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