domingo, 21 de outubro de 2018

Pode-se prever a história? - por Oswald Spengler

(Abaixo segue a introdução do próprio Oswald Spengler à sua célebre obra Decadência do Ocidente, publicada pela primeira vez em 1918 e corrigida em 1922) 

Oswald Spengler 

           Neste livro se acomete pela primeira vez o intento de predizer a história. Trata-se de vislumbrar o destino de uma cultura, a única da terra que se acha hoje a caminho da plenitude: a cultura da América e da Europa ocidental. Trata-se, digo, de persegui-la naqueles estágios de seu desenvolvimento que, todavia, não tem transcorrido.

            Ninguém até agora tem parado enquanto à possibilidade de resolver um problema de tão enorme transcendência e, se alguma vez foi tentado, não se conheceram bem os meios próprios para tratá-lo ou se usou deles em forma deficiente.

            Há uma lógica da história? Há mais além dos fatos singulares, que são contingentes e imprevisíveis, uma estrutura da humanidade histórica, por dizê-la assim metafisica, que seja no essencial independente das manifestações político-espirituais tão patentes e de todos conhecidas? Uma estrutura que é, em rigor, a geradora dessa outra menos profunda? Não ocorre que os grandes momentos da história universal se apresentam sempre ante a pupila inteligente com uma configuração que permite deduzir certas conclusões? E se isto é assim, quais são os limites de tais deduções? É possível descobrir na vida mesma – porque a história humana não é senão um conjunto de enormes ciclos vitais, cada qual com um eu e uma personalidade, que a mesma linguagem usual concebe indeliberadamente como indivíduos de ordem superior, ativos e pensantes e chama “a antiguidade”, “a cultura chinesa” ou “a civilização moderna” – é possível, digo, descobrir na vida mesma os estágios por que tem de passar e uma ordem neles que não admite exceção?


Destruição de Roma pelos Visigodos (pintura de 1836) - de Thomas Cole (1801-1848)

            Os conceitos fundamentais de todo o orgânico: nascimento, morte, juventude, velhice, duração da vida, não teriam também nesta esfera um sentido rigoroso que ninguém ainda tem desentranhado? Não teria, em suma, à base de todo o histórico, certas protoformas biográficas universais?

            A decadência do Ocidente, que por logo, não é senão um fenômeno imitado em lugar e tempo, como o é seu correspondente a decadência da “antiguidade”, resulta, pois um tema filosófico que, considerado em todo seu peso, implica todos os grandes problemas da realidade.


Detroit (EUA) - foto The Guardian 19/07/2013

            Se queremos saber em que forma se está verificando a extinção da cultura ocidental, haverá de averiguar primeiro o que seja cultura; em que relação se acha a cultura com a história visível, com a vida, com a alma, com a natureza, com o espírito; em que formas se manifesta, e até que ponto sejam essas formas – povos, idiomas e épocas, batalhas e ideias, Estados e deuses, artes e obras, ciências, direitos, organizações econômicas e concepções do universo, grandes homens e grandes acontecimentos –, símbolos e, portanto, qual deva ser sua interpretação legítima.

Tradução por Mykel Alexander
Da versão em espanhol
Editorial Mundo Nuevo, Chile, 1938



Sobre o autor: Oswald Spengler (1880-1936) foi um filósofo alemão, nascido em Blankenburg, formado em Filosofia na Universidade de Munique e de Halle. Sua obra Decadência do Ocidente (Der Untergang des Abendlandes: Umrisse einer Morphologie der Weltgeschichte) foi um marco no século XX ao trazer novamente para a Idade Contemporânea a visão cíclica da história. De conhecimento intuitivo e amplo, sintetizou de modo profundo o desenvolvimento histórico da humanidade em sua célebre obra.

Para mais sobre Oswald Spengler ver:

Oswald Spengler: Uma introdução para sua Vida e Idéias - por Keith Stimely


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