Continuação de Gaza, poder judaico e o Holocausto - parte 2 - por Ron Keeva Unz
Ron Keeva Unz |
Outras perspectivas na historiografia do Holocausto.
A
importante análise historiográfica de Novick foi elogiada por muitos dos
principais estudiosos judeus, mas outros pesquisadores a contestaram agudamente,
por então eu li recentemente uma das principais refutações acadêmicas para
conhecer o outro lado da história. After the Holocaust acabou sendo uma
coleção bastante curta de ensaios de 2012 editada por David Cesarani e Eric J.
Sundquist, com o subtítulo descritivo “Challenging the Myth of Silence”
(Desafiando o mito do silêncio).
Eu
não fiquei grandemente impressionado com o conteúdo e senti que o livro, na
verdade, parecia reforçar o argumento de Novick. Os colaboradores incluíam mais
de uma dúzia de historiadores que haviam vasculhado cuidadosamente a mídia e a
literatura do período em busca de evidências que refutassem a tese de Novick, mas
eles pareciam vir à tona quase totalmente vazios. Eles descreveram algumas
denúncias agudas de antissemitismo, seja na Alemanha de Hitler ou nos Estados
Unidos de Truman, mas, exceto por um pequeno pico na época dos Tribunais de
Nuremberg, não havia quase nenhuma indicação na mídia de que algum Holocausto
tivesse jamais ocorrido. Ocasionalmente, havia referências superficiais ao fato
de os nazistas terem matado judeus, mas, em quase todos esses casos, o número
de mortos implícito poderia muito bem ter sido seiscentos ou seis milhões e, na
verdade, na amarga luta pós-guerra pela Palestina, alguns dos sionistas
furiosos e seus aliados polemistas americanos às vezes denunciavam os
britânicos por terem sido quase tão cruéis com os judeus quanto os nazistas
alemães tinham sido.
A
única grande exceção a esse clima de silêncio quase total foi encontrada no
recém-criado Estado de Israel, que apresentou uma literatura muito difundida e
popular sobre o Holocausto durante todo esse período. Mas a maior parte desse
material consistia em relatos bizarros de perversão sexual sadomasoquista nos
campos de extermínio nazistas e, com o passar dos anos, foi gradualmente
reconhecida como mera ficção pornográfica.
Enquanto
isso, outros acadêmicos de perspectivas ideológicas muito diferentes parecem
chegar a conclusões muito semelhantes às de Novick. A longa resenha de Norman
Finkelstein*18 sobre o trabalho de
Novick logo foi publicada na London Review of Books e acabou levando-o a
estender a análise do último autor e publicar The Holocaust Industry {A
Indústria do Holocausto} em 2000, que se tornou um best-seller
internacional. Embora os dois acadêmicos tenham divergido em sua ênfase e suas
diferenças ideológicas acentuadas tenham provocado algumas trocas hostis –
Novick era um sionista liberal dominante e Finkelstein um antissionista
fervoroso – eu acho que suas descrições eram bastante complementares.
A
área de especialização histórica de Finkelstein é o Oriente Médio e sua breve
incursão no tema do Holocausto provavelmente foi inspirada pelo que ele
considerava seu impacto político muito pernicioso sobre o conflito
Israel/Palestina. Porém, na mesma época em que li o livro de Novick, eu também
li os livros das especialistas em Holocausto Deborah Lipstadt e Lucy
Dawidowicz, e descobri que elas confirmaram e ampliaram totalmente as
conclusões de Novick, embora tenham apresentado suas descobertas em um tom e
uma maneira muito diferentes.
O
livro de Lipstadt de 1986, Beyond Belief [Além da Crença], demonstrou
que, apesar dos altos clamores de ativistas judeus agitados, durante os anos de
guerra, nem a grande mídia americana nem o público americano pareciam acreditar
que o Holocausto estava realmente ocorrendo. Ela relatou que, ainda em 1944:
Escrevendo na segunda-feira no New York Times Magazine, {Arthur} Koestler citou pesquisas de opinião pública nos Estados Unidos, nas quais nove entre dez americanos médios rejeitaram as acusações contra os nazistas como mentiras de propaganda e declararam categoricamente que não acreditavam em uma palavra sequer.
Uns
poucos anos antes, em 1981, a Harvard University Press tinha publicado The
Holocaust and the Historians {O Holocausto e os Historiadores}, de
Dawidowicz, no qual a autora criticou quase todos os nossos historiadores
tradicionais do pós-guerra por ignorarem quase totalmente o Holocausto,
escrevendo suas histórias como se ele nunca tivesse ocorrido.
Sua
condenação severa se estendeu até mesmo ao britânico Alan Bullock, embora ele
pareça ter sido o único historiador convencionalmente consolidado a mencionar o
Holocausto durante essa época. Em 1952, quando ainda estava na casa dos 30
anos, ele publicou Hitler: A Study in Tyranny {Hitler: Um estudo em
Tirania}, a primeira biografia abrangente do ditador alemão e dificilmente
lisonjeira, como indica o título, e seu tratamento continuou sendo o trabalho
padrão durante as décadas seguintes, influenciando muito os que vieram depois.
No entanto, embora o Holocausto supostamente tenha sido responsável por cerca
de 10% de todas as mortes ocorridas durante a guerra e seu livro tenha quase
800 páginas, ele aparentemente dedicou apenas três frases a esse tópico,
limitando-se a citar as alegações de acusação feitas nos Tribunais de
Nuremberg, cujas transcrições de julgamento foram a base principal de todo o
seu texto. Na época de sua edição revisada de 1962, essas três frases haviam se
transformado em vários parágrafos entre as 850 páginas, e ele agora citava o
testemunho do recente julgamento de Eichmann em Israel, bem como o livro
publicado por Gerald Reitlinger, um historiador de arte judeu.
Tanto
Lipstadt quanto Dawidowicz se mostraram sionistas ferrenhos, que provavelmente
desprezavam Novick por suas opiniões muito mais moderadas, sem falar no
antissionismo estridente de Finkelstein, de modo que esses estudiosos
apresentaram suas conclusões de forma muito diferente, mas todos eles
apresentaram essencialmente a mesma visão da realidade histórica subjacente.
Para
aqueles que gostariam de rever algumas dessas descobertas de forma conveniente
e on-line, recomendo enfaticamente um trabalho de pesquisa de graduação de 2004
produzido para uma aula de Estudos sobre o Holocausto ministrada pelo Prof.
Harold Marcuse na UCSB. Aparentemente Marcuse considerou o trabalho tão bom que
decidiu colocá-lo on-line em seu próprio site.*19
Um
livro adicional que eu li tinha um foco muito mais restrito, explorando
cuidadosamente a cobertura do Holocausto em tempos de guerra – ou melhor, a
falta dela – feita pelo jornal New York Times, de proprietários judeus,
o jornal mais influente dos Estados Unidos. Buried by the Times foi
publicado em 2005 por Laurel Leff, que passou 18 anos como repórter do Wall
Street Journal e de outros veículos tradicionais antes de se tornar
professora de Jornalismo na Northeastern University, e seu estudo exaustivo e
acadêmico foi lançado pela Cambridge University Press. Como o título deixa
subentendido, ela criticou o jornal de registro nacional dos Estados Unidos por
subestimar e minimizar por completo os relatórios recebidos em tempo de guerra
sobre uma campanha de extermínio de judeus em andamento, sendo que muitos dos
principais editores aparentemente os descartaram como fabricações ridículas.
Ela analisou detalhadamente o funcionamento interno do Times em relação
a esse assunto e suas conclusões gerais pareciam em geral consistentes com as
dos demais autores.
Finalmente,
como outros exemplos desse estranho padrão de silêncio, eu devo mencionar o
fato curioso de que as memórias e histórias do pós-guerra de 1948-1959 dos três
grandes líderes aliados, Churchill, Eisenhower e De Gaulle, totalizaram mais de
7.000 páginas, mas não continham nenhuma menção ao Holocausto ou a qualquer um
de seus principais elementos. O mesmo ocorreu com os volumosos diários
publicados postumamente do general George Patton e de James Forrestal, nosso
primeiro secretário de Defesa.
Tradução
e palavras entre colchetes por Davi Ciampa Heras
Revisão
e palavras entre chaves por Mykel Alexander
*18 Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: How the Arab-Israeli War of 1967 gave birth to a memorial industry, por Norman Finkelstein, The London Review of Books, vol. 22 nº 1, 6 de janeiro de 2000.
*19 Fonte utilizada por Ron Keeva Unz:
College Textbooks and the Holocaust, 1952-1968, Carlos Magaña, UCSB
History, 133páginas, junho de 2004, 7.700 palavras.
https://marcuse.faculty.history.ucsb.edu/classes/133p/133p04papers/CMaganaTextbooks046.htm
Fonte: American Pravda: Gaza, Jewish Power, and the Holocaust, 19 de fevereiro de 2024, The Unz Review – An Alternative Media Selection.
https://www.unz.com/runz/american-pravda-gaza-jewish-power-and-the-holocaust/
Sobre o autor: Ron Keeva Unz (1961 -), de nacionalidade americana, oriundo de família judaica da Ucrânia, é um escritor e ativista político. Possui graduação de Bachelor of Arts (graduação superior de 4 anos nos EUA) em Física e também em História, pós-graduação em Física Teórica na Universidade de Cambridge e na Universidade de Stanford, e já foi o vencedor do primeiro lugar na Intel / Westinghouse Science Talent Search. Seus escritos sobre questões de imigração, raça, etnia e política social apareceram no The New York Times, no Wall Street Journal, no Commentary, no Nation e em várias outras publicações.
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Relacionado, leia também sobre a questão judaica, sionismo e seus interesses globais ver:
Genocídio em Gaza - por John J. Mearsheimer
{Retrospectiva 2023 - Genocídio em Gaza} - Morte e destruição em Gaza - por John J. Mearsheimer
O Legado violento do sionismo - por Donald Neff
Quem são os Palestinos? - por Sami Hadawi
Palestina: Liberdade e Justiça - por Samuel Edward Konkin III
Crimes de Guerra e Atrocidades-embustes no Conflito Israel/Gaza - por Ron Keeva Unz
A cultura do engano de Israel - por Christopher Hedges
“Grande Israel”: O Plano Sionista para o Oriente Médio O infame "Plano Oded Yinon". - Por Israel Shahak - parte 1 - apresentação por Michel Chossudovsky (demais partes na sequência do próprio artigo)
Conversa direta sobre o sionismo - o que o nacionalismo judaico significa - Por Mark Weber
Judeus: Uma comunidade religiosa, um povo ou uma raça? por Mark Weber
Controvérsia de Sião - por Knud Bjeld Eriksen
Sionismo e judeus americanos - por Alfred M. Lilienthal
Por trás da Declaração de Balfour A penhora britânica da Grande Guerra ao Lord Rothschild - parte 1 - Por Robert John {as demais 5 partes seguem na sequência}
Um olhar direto sobre o lobby judaico - por Mark Weber
Por que querem destruir a Síria? - por Dr. Ghassan Nseir
Petróleo ou 'o Lobby' {judaico-sionista} um debate sobre a Guerra do Iraque
Libertando a América de Israel - por Paul Findley
Deus, os judeus e nós – Um Contrato Civilizacional Enganoso - por Laurent Guyénot
A Psicopatia Bíblica de Israel - por Laurent Guyénot
Israel como Um Homem: Uma Teoria do Poder Judaico - parte 1 - por Laurent Guyénot (Demais partes na sequência do próprio artigo)
O peso da tradição: por que o judaísmo não é como outras religiões - por Mark Weber
Sionismo, Cripto-Judaísmo e a farsa bíblica - parte 1 - por Laurent Guyénot (as demais partes na sequência do próprio artigo)
O truque do diabo: desmascarando o Deus de Israel - Por Laurent Guyénot - parte 1 (Parte 2 na sequência do próprio artigo)
Historiadores israelenses expõem o mito do nascimento de Israel - por Rachelle Marshall
Sionismo e o Terceiro Reich - por Mark Weber
O que é ‘Negação do Holocausto’? - Por Barbara Kulaszka
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