quinta-feira, 31 de agosto de 2023

{Retrospectiva Revisionismo em ação na História} - As Origens Esquerdistas do Revisionismo {primeiro desafio do revisionismo x uma “testemunha” das alegadas câmaras de gás} - por German Rudolf

 

 Germar Rudolf 


O texto a seguir é baseado principalmente em apresentações reais que fiz na Alemanha e em outros lugares. A maioria deles foi estruturada como diálogos com membros da audiência, que foram continuamente encorajados a fazer perguntas, fazer objeções e oferecer contra-argumentos. Este estilo de diálogo é mantido neste livro. Minhas próprias contribuições são marcadas com “Germar Rudolf” e as dos ouvintes com “Ouvinte” (ou Ouvinte'/Ouvinte"/ Ouvinte'" no caso de comentários consecutivos de vários ouvintes distintos).

* * *

Germar Rudolf: No início desta segunda palestra, eu gostaria de falar sobre o professor francês de história e geografia Paul Rassinier, que pode ser visto como o pai da historiografia crítica lidando com Holocausto. Antes da Segunda Guerra Mundial, Rassinier era um comunista declarado e, por essa razão, também esteve ativamente envolvido no movimento de resistência francês depois que a França cair para a Wehrmacht. Como tal, ele foi preso durante a guerra pelas forças de ocupação alemãs e deportado para o Campo de Concentração de Buchenwald.

Ouvinte: eu pensei que a Wehrmacht atirasse em guerrilheiros na hora no próprio local?

Germar Rudolf: Bem, primeiro de tudo, Rassinier não era um combatente partidário violento. Pelo contrário, ele sempre tinha advogado uma atitude pacifista e livre de qualquer violência. Uma de suas atividades foi, por exemplo, ajudar judeus na França a fugir para a Suíça. Mas mesmo que ele tivesse empunhado uma arma contra os ocupantes alemães, isso não teria necessariamente resultado na sua execução após a sua prisão pelos alemães. Embora o fuzilamento de guerrilheiros sob lei marcial fosse absolutamente legal de acordo com o direito internacional válido naquela época, e ainda o é hoje, em 1943 a Wehrmacht mudou a sua política a este respeito, uma vez que as tropas alemãs simplesmente tinham demasiados guerrilheiros para lidar, e porque a execução em massa de guerrilheiros despertou a população local contra as forças de ocupação alemãs a tal grau que os guerrilheiros ganharam vantagem moral e, assim, ganharam um apoio cada vez mais amplo da população (Seidler 1999, p. 127).*1

Ouvinte: O que pode muito bem ser visto como somente compreensível.

{Paul Rassinier (1906-1967) , pesquisador francês
 e fundador do revisionismo do alegado Holocausto}.

Germar Rudolf: Sim, a luta da população civil contra uma potência ocupante pode de fato ser ilegal, mas é moralmente compreensível e é sempre vista como gloriosa se a potência ocupante contestada perde a guerra. Mas seja como for, o fato é que naquele tempo os alemães preferiam enviar o pacifista Paul Rassinier e os seus companheiros de prisão para trabalhos forçados em fábricas importantes para o esforço de guerra, em vez de os executar. Assim, depois de várias semanas sob custódia de quarentena em Buchenwald, Rassinier finalmente aterrou no campo Dora-Mittelbau, onde os alemães montaram os seus foguetes para atacar remotamente o continente britânico. Frente ao fim da guerra, ele, juntamente com os outros prisioneiros, foi transferido sem rumo de um lugar para outro pela SS, que a essa altura estava bastante decapitada. Rassinier relata sobre os excessos violentos dos nervosos homens da SS durante este transporte. Ele finalmente escapou de seus guardas e foi libertado pelo avanço das unidades americanas (Rassinier 1948, 1990).*2

No período pós-guerra, Rassinier sentou-se no parlamento francês como um representante dos socialistas. Conforme é provavelmente do conhecimento geral, durante o período diretamente a após à guerra, vários antigos prisioneiros de campos de concentração começaram a publicar artigos e livros sobre as suas experiências. Um desses autores de campos de concentração foi um padre francês chamado Abbé Jean-Paul Renard, que tinha escrito:

Vi como milhares e milhares de pessoas entraram nos chuveiros em Buchenwald, dos quais fluía gás sufocante em vez de líquido.”

Quando Rassinier objetou que sabia por experiência própria que não existiam câmaras de gás, Abbé Renard respondeu (Rassinier 1959, pp. 153 e seguinte)*3:

Concordo, mas isto é meramente uma expressão literária, e desde que tais coisas aconteceram em algum lugar, afinal, isso é dificilmente significante.”

Germar Rudolf: Outro desses ex-presidiários que se tornaram autores foi Eugen Kogon, que foi prisioneiro político durante a guerra e ex-presidiário companheiro de Rassinier no Campo de Concentração de Buchenwald. Quando Rassinier leu o livro de Kogon de 1946, ficou tão perturbado com o que, na sua opinião, eram as distorções, os exageros e as mentiras diretamente claras nele escritas – particularmente o apagamento da responsabilidade dos seus camaradas comunistas por muitas das atrocidades cometidas no campos – que ele dedicou um capítulo inteiro para criticar o relato de Kogon em seu livro The Lies of Ulysses (Rassinier 1950, inglês em 1990).

Ouvinte: Portanto Kogon estava usando óculos com suas próprias lentes de distorção política.

{O judeu Eugene Kogon (1903-1987) 
foi um dos promotores das falsificações
contra os nazistas na criação do 
alegado holocausto. Foto de 1970. 
Wikipedia em inglês.}

Germar Rudolf: Em sua introdução, o próprio Kogon escreveu que tinha apresentado o seu manuscrito a antigos prisioneiros importantes do campo “a fim de dissipar certos receios de que o relatório pudesse transformar-se numa espécie de ilustrativa acusação contra os principais prisioneiros do campo”.

Como Rassinier caracterizou o livro de Kogon, Der SS-Staat (edição em inglês: The Theory and Practice of Hell) como um panfleto polêmico, ele foi processado por Kogon por difamação. Kogon, no entanto, perdeu o processo judicial subsequente. Em seu julgamento, o tribunal declarou (Rassinier 1959, p. 205)*4:

Esta acusação [de que o livro de Kogon era um panfleto não científico] não parece ter sido inventada de todo o tecido, na medida em que o queixoso escreveu uma avaliação sociológica do comportamento dos seres humanos no campo de concentração a partir da perspectiva de que deveria não se transformar numa acusação ilustrativa contra os principais reclusos dos campos.

[…] Se considerarmos que havia dois membros da URSS e oito comunistas entre os quinze representantes a quem ele leu o seu relatório, a fim de dissipar os receios de que apresentasse uma ilustrada acusação, então a impressão que se dá é que, independentemente da menção às atrocidades cometidas pelos comunistas, este círculo de pessoas acima de tudo seria poupado, […]. Tais considerações devem ser estranhas a um trabalho acadêmico. A ciência pura não pergunta se o resultado deixa esta ou aquela pessoa desconfortável. Quando questões de conveniência c-determinam o conteúdo, a objetividade está perdida. Portanto, quando o réu, enquanto companheiro de prisão, expressa a sua opinião de que o “Estado SS” é um panfleto, então ele está a fazer uso livre do seu direito constitucional à livre expressão de opinião, sem com isso infringir o direito à honra pessoal. do reclamante […].”

Ouvinte: Consequentemente, o livro de Kogon é um deliberado empenho em omitir erros e limpar o nome dele e o de seus amigos comunistas, que imputam todos os delitos experimentados (e inventados) às malvadas SS e a outros prisioneiros.

Germar Rudolf: E precisamente este Eugen Kogon, nos seus últimos dias, desempenhou um papel fundamental na Alemanha no “trabalho de trazer à luz” o Holocausto.

Ouvinte: Na verdade, seu papel vai muito além disso. Na ocasião do seu 100º aniversário, o jornal suíço Neue Züricher Zeitung chamou Kogon, que foi um dos membros fundadores do maior partido político da Alemanha (CDU, União Cristã Democrática) e co-autor dos seus Princípios Orientadores de 1945, um dos os pais fundadores da Alemanha do pós-guerra (Czempiel 2003)*5. A mentalidade de Kogon também resulta do fato mencionado pelo próprio Kogon em seu livro de que seu “panfleto” Der SS-Staat foi escrito a pedido da Divisão de Guerra Psicológica do Quartel-General Supremo da Força Expedicionária Aliada na Europa (SHAEF), portanto como uma contribuição para a propaganda de atrocidades nos EUA.

Germar Rudolf: Muito obrigado por esse detalhe! Eu nunca paro de aprender por mim próprio. Como pode ser visto a partir disso, Kogon não era principalmente um historiador, mas um ideólogo.

Mas de volta a Rassinier. Em livros posteriores, Rassinier preocupou-se cada vez mais com as alegações de atrocidades alemãs durante a Segunda Guerra Mundial, e especialmente com a questão de saber se tinha havido naquela época uma política alemã de extermínio sistemático dos judeus europeus.          

Em Le Mensonge d’Ulysse (inglês em The Holocaust Story and the Lies of Ulysses), Rassinier ainda presumia que existiram câmaras de gás em algum lugar, porque pensava que deveria haver fogo onde há fumaça. No entanto, à medida que a sua investigação progredia, Rassinier ficou cada vez mais convencido de que nunca houve um programa sistemático para exterminar os judeus e, com cada livro que escreveu, cresceu a sua certeza de que nunca houveram quaisquer câmaras de gás nas quais os judeus tivessem sido mortos em massa. Assim, no seu livro Le drame des juifs européens ele escreveu em 1964 (página 79):

Cada vez que, durante os últimos quinze anos, me disseram que havia uma testemunha numa parte da Europa não ocupada pelos soviéticos que afirmava ter sido ela próprio vítima de gaseamento, eu viajei imediatamente até ela para ouvir o seu testemunho. Mas em todos os casos terminou da mesma forma: com a minha pasta nas mãos, fiz à testemunha uma série de perguntas precisas, às quais ela só pôde responder com mentiras bastante óbvias, de modo que finalmente teve que admitir que não tinha experimentado ela próprio, mas que contou apenas a história de um bom amigo, que faleceu durante o seu internamento e cuja honestidade ela não podia questionar. Desta forma eu viajei milhares e milhares de quilómetros por toda a Europa.”

Germar Rudolf: Eu recomendo os livros de Rassinier a quem tiver interesse nestas obras históricas da historiografia crítica do Holocausto. Eu gostaria de salientar ao mesmo tempo, porém, que as obras de Rassinier não estão livres de erros. Mas, de qualquer maneira, quais obras estão livres de erros, especialmente quando elas são aquelas de um pioneiro? Rassinier tinha somente acesso limitado a fontes primárias, de modo que suas obras necessariamente estavam cheias de lacunas. Por essa razão, considerada da perspectiva de hoje, a persuasão e a exatidão dos seus argumentos interessam menos do que o próprio autor: um comunista francês que se tornou socialista, membro pacifista da resistência e ex-prisioneiro de campos de concentração foi o primeiro a se opor publicamente às mentiras e exageros dominantes em conexão com o Holocausto.1

Ouvinte: Isso me surpreende. Eu tinha sempre acreditado que os nazistas ou neonazistas foram os primeiros.

Germar Rudolf: Esse é um clichê generalizado, mas falso. Foi uma vítima dos Nacional-Socialistas, um oponente ideológico do Nacional-Socialismo, que tentou honrar a verdade.

Ouvinte: Bem, certamente ninguém pode acusar aquele homem de querer deliberada e empenhadamente omitir erros para limpar alguém.

Germar Rudolf: Em última análise, não importa quem apresenta um argumento e porquê, desde que seja ele sólido. Mas concordo com você que estamos mais inclinados a ouvir alguém neste assunto que se sentou atrás do arame farpado do que alguém que ficou do lado de fora com um rifle. Embora, francamente, se possa dizer que ambos os grupos de pessoas possam ter tido interesse, por motivos contrários, em apagar certas coisas e exagerar outras ou mesmo inventá-las. Portanto, nós podemos afirmar que o pai da investigação crítica e revisionista do Holocausto foi um esquerdista radical, um antifascista, um prisioneiro de campos de concentração.

Ouvinte: Rassinier encontrou problemas devido à sua atitude crítica?

Germar Rudolf: Ah, sim! Um processo criminal contra ele foi instaurado o qual, em última análise, foi suspenso, contudo. Ele foi continuamente difamado pela mídia francesa e, exceto em suas próprias publicações, apenas raramente teve a oportunidade de falar sobre si mesmo. Ainda, comparado com a perseguição contra investigadores críticos posteriores, Rassinier saiu-se levianamente.

Tradução por Mykel Alexander

Notas

*1 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Franz W. Seidler, 1999. Die Wehrmacht im Partisanenkrieg, Pour le Mérite, Selent 1999. 

*2 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Paul Rassinier, 1948. Passage de la ligne, La Librairie française, Paris 1948; Paul Rassinier, 1990. The Holocaust Story and the Lies of Ulysses, 2ª edição, Institute for Historical Review, New Port Beach 1990. 

*3 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Paul Rassinier, 1959. Die Lüge des Odysseus, Priester Verlag, Wiesbaden 1959. 

*4 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Fonte utilizada por Germar Rudolf: Paul Rassinier, 1959. Die Lüge des Odysseus, Priester Verlag, Wiesbaden 1959. 

*5 Fonte utilizada por Germar Rudolf: Czempiel, Ernst-Otto. “Demokrat und Europäer,” Neue Züricher Zeitung, 1 de fevereiro de 2003; www.nzz.ch/article8MW5T-1.207414  (acessado em 19 de maio de 2017). 

1 Nota de Germar Rudolf: Embora possa ser argumentado que os livros semi-revisionistas sobre o Tribunal Militar de Nuremberg, do autor francês Maurice Bardèche, que se autodenominava fascista, pré-datassem aqueles de Rassinier, embora Bardèche tenha escrito ensaios jornalísticos em vez de trabalhos acadêmicos, e ele não duvidasse do extermínio dos judeus como tais (Bardèche 1948 esp. páginas 128, 158 e seguinte, 187).

 


Fonte: Germar Rudolf, Lectures on the Holocaust - Controversial Issues Cross-Examined, 4th, revised edition, January 2023, Castle Hill Publishers, PO Box 141, Bargoed CF82 9DE, UK, 4th edition. Castle Hill Publishers. Capítulo 2.1. The Left-Wing Origins of Revisionism. PDF gratuito disponível no link abaixo.

https://holocausthandbooks.com/index.php?page_id=15



Sobre o autor: Germar Rudolf nasceu em 1964 em Limburg, Alemanha. Ele estudou química na Universidade de Bonn, onde ele graduou-se em 1989 com um diploma comparável ao grau de PhD no EUA. De 1990 – 1993 ele preparou uma tese de PhD (na graduação alemã) no Instituto Max Planck, paralelo a isso Rudolf preparou um relatório especial sobre as questões químicas e técnicas das alegadas câmaras de gás de Auschwitz, The Rudolf Report. Como a conclusão era de que as instalações de Auschwitz e Birkenau não eram para propósitos de extermínio em massa ele teve que enfrentar perseguições e encontrou exílio na Inglaterra onde fundou a editora Castle Hill. Por pressão do desgoverno alemão por extradição ele teve que fugir em 1999 para o EUA em busca de asilo político. No EUA casou e tornou-se cidadão americano em 2005 mas imediatamente a isso foi preso e subsequentemente deportado para Alemanha onde cumpriu 44 meses de prisão por seus escritos acadêmicos, muitos deles feitos no EUA onde não são ilegais. Desde 2011 vive com sua família, esposa e três crianças, na Pennsylvânia. Entre suas principais obras estão:

Dissecting the Holocaust, 1ª edição 2003 pela Theses & Dissertations Press, EUA. 3ª edição revisada, Castle Hill, Uckfield (East Sussex), 2019.

The Chemistry of Auschwitz: The Technology and Toxicology of Zyklon B and the Gas Chambers – A Crime-Scene Investigation, Castle Hill, Uckfield (East Sussex), 3ª edição revisada e expandida (março de 2017).

Lectures on Holocaust (1ª ed. 2005) 3ª edição revisada e expandida, Castle Hill, Bargoed, 2023.

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As câmaras de gás: verdade ou mentira? - parte 1 - por Robert Faurisson (primeira de seis partes, as quais são dispostas na sequência).

A Mecânica do gaseamento - Por Robert Faurisson

O “problema das câmaras de gás” - Por Robert Faurisson

As câmaras de gás de Auschwitz parecem ser fisicamente inconcebíveis - Por Robert Faurisson

Confissões de homens da SS que estiveram em Auschwitz - por Robert Faurisson - parte 1 (primeira de seis partes, as quais são dispostas na sequência).

A mentira a serviço de “um bem maior” - Por Antônio Caleari

Os Julgamentos de Nuremberg - Os julgamentos dos “crimes de guerra” provam extermínio? - Por Mark Weber

Liberdade para a narrativa da História - por Antonio Caleari


segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Lev Gumilev e a Quimera Cazar {judaica} Por Laurent Guyénot

 

Laurent Guyénot


Lev Gumilev

Lev Nikolaevich Gumilev (1912-1992) é um historiador, geógrafo e etnólogo russo que ocupa um lugar importante na paisagem cultural russa pós-soviética. Sua reavaliação positiva da aliança entre a Moscóvia russa e a Horda Dourada tártara faz dele a principal referência acadêmica no crescente círculo de intelectuais neoeurasianistas.  Incontáveis monumentos, conferências, publicações e teses de doutorado são dedicados a ele. Vladimir Putin o mencionou várias vezes em discursos públicos, elogiando sua “contribuição única para o desenvolvimento do pensamento científico nacional e mundial”.

O revisionismo inovador de Gumilev do “jugo tártaro” é interessante por seu próprio direito. Mas o que o torna em tudo mais fascinante é que ele também carrega uma sólida reputação de antissemitismo, como ilustra, por exemplo, o capítulo VI do livro Russia Between East and West (Brill, 2007), intitulado “Anti-Semitism In Eurasian Historiography: The Case Of Lev Gumilev”, onde o autor afirma que “o próprio edifício da teoria de Gumilev promove uma agenda antissemita”. Embora a representação de Gumilev de algumas comunidades judaicas como “etnoparasitas” comparáveis a “bactérias perniciosas” lhe rendesse total desonra no Ocidente – se seu nome se tornasse conhecido –, eles não parecem manchar sua fama na Rússia e na Ásia Central. Dificilmente parece haver qualquer controvérsia sobre isso.

Por essas duas razões – a significância do trabalho de Gumilev na geopolítica da Eurásia e a falta de condenação de sua crítica do parasitismo judeu na Rússia – parece interessante conhecer com melhor familiaridade essa figura notável. Infelizmente, eu não leio russo, e nenhum dos trabalhos de Gumilev está disponível em francês, enquanto apenas um de seus livros tem sido traduzido para o inglês, Searches for an Imaginary Kingdom: The Legend of the Kingdom of Prester John (Cambridge University Press, 1989, disponivel aqui).*1 Estou, portanto, contando principalmente com um livro do estudioso judeu americano Mark Bassin, The Gumilev Mystique,#1 crítico dele, mas, no entanto, bem informado e, eu presumo, honesto em suas traduções.  Alguns artigos de Bassin também estão disponíveis na Internet.

Lev Gumilev é filho de dois dos maiores poetas russos do século XX, Nikolai Gumilev e Anna Akhmatova, ambos perseguidos pelas autoridades soviéticas. Seu pai foi preso e executado pelos bolcheviques como um contrarrevolucionário em 1921. Lev passou treze anos em prisões stalinistas e campos de trabalhos forçados e, mesmo após seu retorno do exílio em 1956, permaneceu sob vigilância da KGB até sua aposentadoria no início dos anos 1980.

Em 1962, foi nomeado pesquisador associado da faculdade de Geografia da Universidade Estadual de Leningrado, e suas ideias se desenvolveram como parte de um movimento mais amplo entre os etnógrafos soviéticos que buscavam novas perspectivas sobre a natureza da etnia. Sua ascensão à celebridade começou durante a perestroika de Gorbachev no final da década de 1980 e, desde o colapso da URSS, continua até os dias presentes. Nacionalistas russos e muitos membros da elite dominante de hoje abraçaram seu trabalho. Talvez com algum exagero, Mark Bassin escreve:

Sua estatura e reputação hoje são de fato imensas, não apenas na Rússia, mas também através de toda a antiga União Soviética. Gumilev é livremente comparado a Heródoto e Karl Marx, Oswald Spengler e Albert Einstein, e suas obras têm vendido literalmente milhões de cópias. Nas livrarias, eles não enchem prateleiras, mas estantes inteiras. Desde a década de 1990, tem havido pelo menos meia dúzia de projetos concorrentes para publicar seus escritos coletados, e muitos livros e dezenas de dissertações de pós-graduação foram escritos sobre sua vida e obra. Um de seus livros tem sido adotado como livro didático para escolas secundárias russas, e suas ideias podem ser encontradas espalhadas através de todo o currículo. Organizações foram estabelecidas dedicadas exclusivamente ao desenvolvimento de seu legado, a maior das quais - o Centro Lev Gumilev com sede em Moscou - tem filiais em São Petersburgo, Baku e Bishkek, e continua a se expandir. Há uma rua Lev Gumilev na capital da república Kalmyk, Elista, um grande monumento público a ele no centro de Kazan, e seu busto é exibido com destaque em institutos científicos em Moscou, Ufa, Yakutsk e outros lugares. No Cazaquistão, uma importante universidade na capital Astana leva com orgulho seu nome. No centenário de seu nascimento em 2012, o governo do Cazaquistão reafirmou sua veneração por sua memória ao batizar uma montanha na cordilheira de Altai, na parte oriental do país, de “Pico Gumilev” e emitindo um selo postal comemorativo em sua honra. As ideias de Gumilev são regularmente invocadas pelos principais políticos da antiga União Soviética, incluindo o presidente russo Vladimir Vladimirovich Putin, que elogia os “talentos extraordinários” de Gumilev e o “impacto único” que suas ideias tiveram. De fato, Putin deixa bem clara a inspiração gumileviana por trás de uma importante iniciativa de política externa de seu terceiro mandato – o estabelecimento de uma “União Eurasiática” entre os ex-estados soviéticos.

 

A fusão étnica russo-turca

Gumilev é principalmente respeitado como um especialista nas tribos das estepes do interior da Eurásia: os citas, os xiongnu, os hunos, os turcos, os khitai, os tanguts e os mongóis. A parte mais influente do seu trabalho é sobre as relações que se desenvolveram entre os russos e os nômades das estepes, da Mongólia à Europa Oriental. Esta pesquisa é sintetizada em sua magnum opus, Ancient Rus and the Great Steppe, publicada três anos antes de sua morte. O principal interesse de Gumilev era o khaganato conhecido como Horda Dourada, que no século XIII invadiu e conquistou as terras da antiga Rússia.

Ele interpretou o reinado do herói nacional e santo ortodoxo Alexander Nevsky como o exemplo mais importante da complementaridade interétnica entre os eslavos e os tártaros. Ele destacou a presença e influência dos cristãos nestorianos entre os últimos, e a importância histórica da amizade de Nevsky com o filho do grande Khan Batu. Sua jurada “irmandade eterna” formou uma aliança “para deter o avanço dos alemães, que queriam reduzir os remanescentes da antiga população russa à servidão”. De sua parte, Nevsky enviou suas próprias tropas para ajudar a Horda Dourada a lutar contra os alanos e outros grupos nômades. Essa aliança permitiu que a antiga Rus′ resistisse à invasão das forças do Ocidente sob mandato papal e foi a chave para a emergência da Moscóvia como uma grande potência. Em última análise, a interação entre russo-eslavos e tártaros-mongóis deve ser vista “não como a subjugação de Rus′ pela Horda Dourada”, como tradicionalmente retratada pela historiografia ocidentalizada elaborada sob os Romanov, mas sim como uma “simbiose étnica,” uma união entre duas etnias para benefício mútuo.   A Rússia começou sua existência moderna como um “país russo-tártaro” e assim permaneceu desde então.

O valor desta nova interpretação da identidade russa na diplomacia geopolítica não pode ser sobrestimado. Ela justifica, por um lado, o estrelato de Gumilev na república russa do Tartaristão. Após a morte de Gumilev em 1992, o governo do Tartaristão patrocinou um memorial em seu túmulo no Mosteiro Alexander Nevsky em São Petersburgo, e uma placa memorial no bloco de apartamentos onde ele morou pela última vez (foto na capa do livro The Gumilev Mystique de Bassin). Uma grande conferência internacional sobre “As Ideias do Eurasianismo no Legado Científico de Lev Nikolaevich Gumilev” foi realizada em 2004 na capital do Tartaristão (Kazan). No ano seguinte, por ocasião do aniversário de mil anos da cidade, foi erguida uma estátua de Gumilev, com a inscrição de sua memorável declaração: “Sou um russo que passou a vida inteira defendendo os tártaros contra insultos.” Vladimir Putin participou da inauguração do monumento junto com o presidente tártaro Mintimer Shaimiev. O sucessor de Shaimiev, Rustam Minnikhanov, confirmou o “enorme respeito e profunda gratidão” do povo tártaro à memória de Gumilev.

Gumilev é igualmente honrado como grande benfeitor do Cazaquistão, uma antiga república soviética que se tornou independente em 1991. O presidente cazaque, Nursultan Nazarbaev (1990-2019), o primeiro líder pós-soviético a apelar à criação de uma “União Eurasiática”, inaugurou em 1996 a Universidade Nacional Eurasiática Lev-Gumilev na sua nova capital, Astana. Em outubro de 2000, Putin viajou para Astana para assinar uma convenção que estabelece uma Comunidade Económica Eurasiática e, alguns anos mais tarde, falando na Universidade Lev-Gumilev, chamou a atenção para a importância de Gumilev para este projeto de eurasianismo. Gumilev, disse ele, deu uma “contribuição brilhante não apenas para o desenvolvimento do pensamento histórico, mas também para a afirmação das ideias de comunhão ao longo dos tempos e da inter-relação dos povos que colonizaram os enormes espaços da Eurásia, do Báltico aos Cárpatos e o Oceano Pacífico.” Em 2012, Vladimir Putin deu o seu apoio público ao projeto de Nazarbaev e, em janeiro de 2015, a União Económica Eurasiática veio à existência.

{Selo postal emitido pelo governo do Casaquistão em homenagem a
Lev Nikolaevich Gumilev (1912-1992) }.


Embora eu não tenha encontrado qualquer informação relativa ao interesse público de Gumilev na Turquia, é óbvio que a sua afirmação do vínculo étnico comum entre turcos e russos é também potencialmente significativa para as futuras relações entre a Turquia e a Rússia, dois impérios os quais têm estado frequentemente em guerra no século XIX, em benefício do império britânico que utilizou o primeiro para “conter” o segundo. Israel Shamir destacou este ponto num magnífico artigo intitulado “Ottoman Empire, Please Come Back!” {“Império Otomano, por favor, volte!”}, datado de 29 de agosto de 2005.*2 Citando a palavra de Gumilev de que “a Rússia é imbatível na sua união com os bravos turcos”, Shamir desejou que Moscou e Constantinopla – agora Istambul – aqueles dois herdeiros da glória de Bizâncio, se unissem numa nova grande civilização capaz de resistir à influência perniciosa do Oeste. Ele menciona que:

Num livro recente, The Eurasian Symphony, do escritor de São Petersburgo van Zaichik, uma história alternativa da nossa parte [oriental] do mundo é proposta. O que teria acontecido se o governante esclarecido da Horda Dourada turca, Sartak Khan, amigo de Santo Alexandre Nevsky, tivesse sobrevivido a uma tentativa de assassinato e, como consequência, os russos e os turcos tivessem permanecido num estado próspero? Van Zaichik chama este império resultante de “Ordus”, um amálgama da Horda e da Rus, abrangendo a maior parte da massa terrestre da Eurásia. Ordus é uma terra onde a modernidade incorporou tradição e religião; a família permaneceu intacta; e embora existam homens ricos, a busca desenfreada pela riqueza é desaprovada já no olhar.

Esta visão de uma nova Rússia reunida com a Turquia deve muito a Gumilev. Mas tem uma longa história anterior na filosofia geopolítica russa.   A reavaliação de Gumilev do “jugo tártaro” como um vínculo étnico e civilizacional positivo exposta nos escritos de historiadores russos anteriores, como Nikolay Karamzin (1766-1826) que, em um capítulo de sua História do Estado Russo de 12 volumes, sublinhou os resultados positivos do domínio turco-mongol. Constantin Leontiev (1831-1891), um grande pioneiro do eurasianismo, também contribuiu grandemente para aumentar a consciência da história e do destino asiático da Rússia. O próprio Fyodor Dostoyevsky (1822-1881) tornou-se um profeta do eurasianismo no auge de sua fama e no fim de sua vida. Eu encontrei numa das suas últimas entradas no seu Diário do Escritor uma comparação interessante entre o que a América significou para os europeus e o que a Ásia deveria agora significar para os russos: “para nós, a Ásia é como a então desconhecida América. Com a nossa aspiração pela Ásia, o nosso espírito e as nossas forças serão regenerados” (janeiro de 1881, cap. II, §4). Se nós considerarmos que a degradação espiritual do Ocidente remonta, em última análise, à forma como os europeus lidaram com os nativos nas Américas, então nós podemos esperar que uma aliança russo-asiática vantajosa para todos fomente uma nova ordem mundial de natureza completamente diferente.

 

Teoria da Etnogênese de Gumilev

Goumilev é um teórico da etnogênese. Ele é considerado um essencialista que vê o ethnos como uma categoria fundamental da vida social humana. Todas as etnias, acredita ele, distinguem-se umas das outras pela sua “linguagem comportamental especial” ou “estereótipo comportamental”. Isto se refere a “uma norma estritamente definida que rege as relações entre o coletivo e o indivíduo e entre os próprios indivíduos. Esta norma opera imperceptivelmente em todos os aspectos da vida e da rotina diária.” É transmitido entre gerações por “herança de sinais”, um processo que permite às crianças espontaneamente “assimilar um estereótipo comportamental que representa competências adaptativas” e, em última análise, é a chave para toda a sobrevivência étnica.

Gumilev sublinha a interligação intrínseca entre a vida orgânica e o ambiente geográfico.  “Independentemente da sua dimensão, a esmagadora maioria das etnias vive ou viveu em determinados territórios, onde faziam parte da biocenose da respetiva paisagem, e juntamente com ela formavam uma espécie de ‘sistema fechado’”. Somente em seu lar natural pode um ethnos garantir sua sobrevivência de maneira saudável. O seu estereótipo comportamental, a sua cultura material, economia e vida espiritual estavam todos inextricavelmente ligados às condições ambientais específicas do seu “nicho ecológico”. Quando um povo migra para uma paisagem substancialmente diferente, os colonos eventualmente desenvolvem traços étnicos inteiramente novos, um processo que Gumilev chama de “divergência étnica”. Se um grupo étnico se desloca para o território de outro povo, podem ocorrer vários resultados, desde o desaparecimento do grupo até à sua fusão com os nativos.

Há, contudo, um modo especialmente “doentio” de interação étnica, através do qual uma etnia migrante pode sobreviver intacta apesar da deslocação, às expensas da etnia nativa. Incapaz de se estabelecer como parte orgânica da nova região e de extrair dela o seu sustento de forma normal, a etnia invasora recorre à exploração de sistemas etnoecológicos indígenas. Gumilev denominou esta situação particular, em que duas etnias ocupam um único nicho ecológico, uma “quimera” (khimera). Ele pegou emprestada a designação das ciências naturais.

Um exemplo de relação quimérica em zoologia é aquela que se forma quando as tênias estão presentes dentro dos órgãos de um animal. Enquanto o animal é capaz de existir sem o parasita, o parasita perecerá sem o seu hospedeiro. Quando o parasita vive no corpo do primeiro, contudo, ele toma parte no seu ciclo de vida. Ao necessitar de um maior fluxo de nutrição e ao introduzir os seus hormônios no sangue e na bílis do organismo hospedeiro, o parasita altera a bioquímica do seu hospedeiro.

No reino da etnosfera, Gumilev caracterizou uma quimera como um “etnoparasita” que “explora a população indígena do país, juntamente com a sua flora, fauna e minerais preciosos”. Assim como “uma população de bactérias ou infusórios [um tipo de organismo unicelular]” que “se espalha pelos órgãos internos da pessoa ou animal”, uma invasão quimérica pode ser fatal para a etnia indígena, pois se baseia nas energias de vida e recursos de seus organismos hospedeiros. Gumilev também comparou a relação entre uma quimera e uma etnia indígena a um tumor cancerígeno. “Este último só pode crescer com o organismo e não além dele, e vive exclusivamente às custas do organismo hospedeiro.” Tal como um cancro, uma quimera étnica “suga o seu sustento da etnia indígena”.

A própria etnia invasora também está irremediavelmente degradada, mas de uma forma que a fortalece em vez de a enfraquecer. As etnias desenraizadas sobrevivem precisamente através do desenvolvimento de características que, embora não naturais, lhes conferem vantagens críticas sobre os seus coabitantes. À medida que o seu desenraizamento se torna estrutural, ele se transforma em competências internalizadas para penetrar e prosperar virtualmente em qualquer lugar.

 

Um golpe judaico na Cazaria

Gumilev menciona vários exemplos bastante obscuros de “quimera”, mas estava principalmente preocupado com o caso particular do povo judeu. De acordo com Mark Bassin,

A preocupação singular de Gumilev com este problema específico corre como um fio vermelho por toda a sua obra; na verdade, pode-se argumentar que todas as suas teorias e reconstruções históricas são impulsionadas em medida significativa por ela. No entendimento de Gumilev, os judeus… emergem como um protótipo de quimera e antissistema cuja história de vida étnica fornece a melhor evidência da ruptura e devastação que este tipo de contacto étnico negativo certamente implicará por necessidade.

Por causa que a sua ruptura com o seu ambiente original ocorreu num estágio inicial do seu ciclo etnogenético, os judeus desenvolveram a capacidade de penetrar em todos os tipos de paisagens naturais, e mesmo codificaram as suas estratégias no Talmud. Onde quer que eles se estabelecessem, eles atuavam como uma quimera em relação às populações indígenas, promovendo deliberadamente o “cepticismo e a indiferença” a fim de erodir a resistência espiritual e moral dos seus anfitriões e alargar a sua dominância sobre eles.

Gumilev, ao contrário de Aleksandr Solzhenitsyn mais tarde, não elaborou sobre o efeito da quimera judaica na Rússia moderna. Em vez disso, ele investiu sua energia no estudo arqueológico, etnográfico, histórico e geográfico do reino da Cazaria na Ásia Central no início da Idade Média. Gumilev tratou a Cazaria como sua ilustração mais desenvolvida de uma quimera étnica. Segundo ele, os cazares desenvolveram interações harmoniosas com todas as etnias vizinhas, com exceção dos judeus talmúdicos. Eles não tiveram problemas com os judeus caraítas, que ignoraram o Talmud e reconheceram somente a Torá, estando, portanto, mais próximos em espírito do Cristianismo e do Islã. Tudo mudou no século VII, quando imigrantes judeus que fugiam da perseguição na Pérsia e em Bizâncio se derramaram nas estepes da Eurásia. Os mais agressivos destes recém-chegados foram os judeus radanitas – mercadores medievais ativos nas rotas comerciais que ligavam os mundos cristão e islâmico ao Extremo Oriente no final do primeiro milénio d.C.

Ao contrário dos caraítas, os radanitas eram seguidores da tradição rabínica. Eles eram uma “etnia brutal” sem escrúpulos morais. A sua monopolização do comércio de caravanas trouxe-lhes uma riqueza fabulosa, que provinha em grande parte do comércio de escravos – sobretudo rapazes e raparigas retirados das populações indígenas da Europa Oriental. O fato de “eslavo” ter passado a significar “escravo” testemunha a extensão deste comércio.

Esses mercadores judeus estabeleceram-se em grande número na capital cazar, Itil, e pelo século VIII formaram uma elite estrangeira e ganharam influência política cada vez maior. A situação atingiu o auge no início do século IX, quando um príncipe judeu tomou o poder e fez do judaísmo rabínico a religião oficial do Estado. O golpe foi resistido pela população local e levou a uma sangrenta guerra civil que a casta judaica venceu com a contratação de mercenários. Embora a massa da etnia cazar tenha sido eventualmente constrangida a submeter-se à autoridade da elite judaica, nunca se converteu ao judaísmo, que permaneceu exclusivamente como fé das autoridades políticas. Com isto, conclui Gumilev, a Cazaria foi transformada numa quimera étnica completa. “No seu próprio país”, os cazares tornaram-se “os súbditos conquistados, privados de direitos e impotentes de um governo que lhes era estranho em termos da sua etnia, da sua religião e dos seus objetivos”.

A Cazaria judaica tornou-se um “octopus mercantil”, construindo uma elaborada rede internacional de alianças com grandes potências estrangeiras, incluindo a dinastia Tan na China, os carolíngios e os seus sucessores no Norte da Europa, o califado de Bagdad e os varangianos da Escandinávia.

A Rússia de Kiev entrou em competição e conflito com os cazares e, em 965, o império Cazar entrou em colapso sob os golpes do príncipe de Kiev, Sviatoslav.  A elite judaico-cazar sobrevivente espalhou-se pela Eurásia e pela Europa. Alguns recuaram para a Crimeia, outros fugiram para o Ocidente. Muitos, segundo Gumilev, permaneceram ativos nas terras russas, encorajando hostilidades entre os príncipes russos e incitando os povos das estepes a atacar os russos.

 

Conclusão

Obviamente, a interpretação extremamente negativa de Gumilev da diáspora judaica, e dos judeus radanitas em particular, cai claramente na categoria dos piores tropos antissemitas de acordo com o padrão ocidental (judaico) de hoje. Sua representação dos judeus desenraizados como etnoparasitas é reminiscente das palavras impressas por Henry Ford em 1920:

a genialidade do judeu é viver das pessoas; não da terra, nem da produção de mercadorias a partir de matérias-primas, mas das pessoas. Deixe outras pessoas cultivarem o solo; o judeu, se puder, viverá fora do leme lavrador. Deixe outras pessoas trabalharem no comércio e na manufatura; o judeu explorará os frutos do seu trabalho. Esse é o seu gênio peculiar. Se esse gênio fosse descrito como parasita, o termo pareceria ser justificado por uma certa adequação.  (The International Jew, 13 de novembro, 1920)

É, portanto, altamente significativo que, em vez de ser “cancelado” e perseguido como é, por exemplo, na América Kevin MacDonald, o nome de Gumilev seja tido em grande estima na Rússia e entre os povos que aspiram a desempenhar o seu papel na Eurásia emergente, nomeadamente os Cazaques, cujo país se sobrepõe à antiga terra dos cazares indígenas (embora a identidade das duas etnias não possa ser confirmada).

A celebridade de Gumilev é mais extraordinária do que a de Solzhenitsyn, porque os escritos de Gumilev sobre os judeus são parte integrante do seu trabalho académico, enquanto Solzhenitsyn publicou os seus dois volumes sobre a relação entre russos e judeus (Dois Séculos Juntos: 1795-1995) somente no final de sua vida. Ambos os homens, no entanto, são considerados gigantes culturais na Rússia, e nenhum deles sofreu qualquer culpa oficial pelas suas críticas aos judeus.

Dado que o último trabalho de Solzhenitsyn foi banido pela comunidade editorial judaico-anglo-americana (mas traduzido em francês)*3, é apropriado terminar este artigo mencionando que a sua análise é consistente com a teoria da quimera de Gumilev. Uma das influências mais parasitárias dos judeus sobre os russos, mencionada por Solzhenitsyn, veio do monopólio da fabricação e venda de vodca que lhes foi concedido pela nobreza polonesa. Solzhenitsyn baseou a sua afirmação em documentos oficiais, como um relatório da administração bielorrussa afirmando: “A presença de judeus no campo tem consequências prejudiciais para o estado material e moral da população camponesa, porque os judeus… promovem a embriaguez da população local.” O poeta e estadista russo Gavrila Derzhavin escreveu, num relatório investigativo destinado ao imperador e aos altos dignitários do império:

Em cada vila há uma e às vezes várias tabernas construídas pelos proprietários, nas quais, para o lucro dos inquilinos judeus, a vodca é vendida dia e noite… Desta forma, os judeus conseguem extrair deles não apenas o pão de cada dia, mas também aquilo que é semeado na terra, bem como os seus instrumentos agrícolas, os seus bens, o seu tempo, a sua saúde, a sua própria vida.

Solzhenitsyn foi violentamente criticado no Ocidente por ter expressado em voz alta esta antiga queixa dos russos contra os judeus. É, portanto, encorajador saber que uma professora israelita da Universidade Hebraica de Jerusalém, Dra Judith Kalik, o está agora a vindicar implicitamente. A sua tese foi mesmo divulgada pelo jornal israelense Haaretz*4 sob o título “A ligação entre a história da vodka e o antissemitismo: a investigação histórica revela um capítulo sombrio nas relações entre judeus e cristãos na Europa de Leste”. Neste pequeno vídeo intitulado “Vodka e Judeus Rurais na Europa Oriental”,*5 ela resume suas descobertas:{transcrição e extração abaixo por Mykel Alexander}

Embora os judeus sejam tipicamente vistos como predominantemente residentes urbanos, a presença de uma larga população judaica nas vilas era, de fato, um dos mais distintivos fatos da judiaria da Europa oriental. A principal razão para esta realização da população judaica foi a massiva entrada dos judeus na produção e venda de vodca para os camponeses no início da Idade Moderna, {...} Desde o início da era moderna de cultivo de grãos para os especialistas se tornou a principal forma de agricultura por causa da diferença dos preços entre grãos da Europa Ocidental e Oriental, o embarque de grãos para os portos bálticos era um negócio muito lucrativo, mas esta era também uma muito custosa e insegura opção. Vodca realmente apareceu nesta região como um dispositivo para lidar com grandes excedentes de grãos, especialmente nas áreas onde os rios não fluem para o mar Báltico, por exemplo na Ucrânia, quando eles levavam para o sul. Assim sua produção e venda para a população local se tornou o caminho mais barato para o proprietário de terra converter seus grãos em dinheiro líquido. Este setor da economia foi tomado por duas razões: suas estreitas relações com os magnatas poloneses e suas habilidades para pagar adiantadamente largas somas de dinheiro para o arrendamento, o qual era uma grande coisa em uma sociedade sempre agrária, sempre apertada em dinheiro vivo {...}.

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander


Notas

*1 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: Lev Gumilev, Searches for an Imaginary Kingdom The Legend of the Kingdom of Prester John.

https://www.academia.edu/40119304/Lev_Gumilev_Searches_for_an_Imaginary_Kingdom_The_Legend_of_the_Kingdom_of_Prester_John 

#1 Nota de Mykel Alexander: Mark Bassin, The Gumilev Mystique, Cornell University Press, 2016. 

*2 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: Ottoman Empire, Please Come Back!, por Israel Shamir, 29 de Agosto de 2005, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/ishamir/ottoman-empire-please-come-back/ 

*5 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: https://www.youtube.com/watch?v=PhGKkBdJtg0

 


Fonte: Lev Gumilev and the Khazar Chimera, por Laurent Guyénot, 07 de novembro de 2022, The Unz Review – An Alternative Media Selection.

https://www.unz.com/article/lev-gumilev-and-the-khazar-chimera/

Sobre o autor: Laurent Guyénot (1960-) possuí mestrado em Estudos Bíblicos e trabalho em antropologia e história das religiões, tendo ainda o título de medievalista (PhD em Estudos Medievais em Paris IV-Sorbonne, 2009) e de engenheiro (Escola Nacional de Tecnologia Avançada, 1982).

Entre seus livros estão:

LE ROI SANS PROPHETE. L'enquête historique sur la relation entre Jésus et Jean-Baptiste, Exergue, 1996.

Jésus et Jean Baptiste: Enquête historique sur une rencontre légendaire, Imago Exergue, 1998.

Le livre noir de l'industrie rose – de la pornographie à la criminalité sexuelle, IMAGO, 2000.

Les avatars de la réincarnation: une histoire de la transmigration, des croyances primitives au paradigme moderne, Exergue, 2000.

Lumieres nouvelles sur la reincarnation, Exergue, 2003.

La Lance qui saigne: Métatextes et hypertextes du Conte du Graal de Chrétien de Troyes, Honoré Champion, 2010.

La mort féerique: Anthropologie du merveilleux (XIIᵉ-XVᵉ siècle), Gallimard, 2011.

JFK 11 Septembre: 50 ans de manipulations, Blanche, 2014.

Du Yahvisme au sionisme. Dieu jaloux, peuple élu, terre promise: 2500 ans de manipulations, Kontre Kulture, Kontre Kulture, 2016. Tem edição em inglês: From Yahweh to Zion: Jealous God, Chosen People, Promised Land...Clash of Civilizations, Sifting and Winnowing Books, 2018.

Petit livre de - 150 idées pour se débarrasser des cons, Le petit livre, 2019.

“Our God is Your God Too, But He Has Chosen Us”: Essays on Jewish Power, AFNIL, 2020.

Anno Domini: A Short History of the First Millennium AD, 2023.

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Pogroms {alegados massacres sobre os judeus} na Rússia - por Rolf Kosiek

Sobre a difamação da Polônia pela judaísmo internacional ver:

Um olhar crítico sobre os “pogroms” {alegados massacres sobre os judeus} poloneses de 1914-1920 - por Andrew Joyce {academic auctor pseudonym}


Sobre a influência do judaico bolchevismo (comunismo-marxista) na Rússia ver:

Revisitando os Pogroms {alegados massacres de judeus} Russos do Século XIX, Parte 1: A Questão Judaica da Rússia - Por Andrew Joyce {academic auctor pseudonym}.  Parte 1 de 3, as demais na sequência do próprio artigo.


Mentindo sobre o judaico-bolchevismo {comunismo-marxista} - Por Andrew Joyce, Ph.D. {academic auctor pseudonym}

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