Mykel Alexander |
O imaginário ocidental contemporâneo
do que é cultura tem suas origens com o surgimento dos centros urbanos
denominados de burgos
O que é realmente “cultura”? - parte 1 - Por Mykel Alexander
O que é realmente “cultura”? - parte 2 - Por Mykel Alexander
Antes
de examinar o conceito original da
palavra cultura será esclarecida a
concepção de cultura que prevaleceu
no século XX, pois é a que ainda ressoa na mentalidade atual das pessoas
independentemente da idade que tenham. A definição ‘c’ para a palavra cultura
extraída do dicionário Houaiss, “O
cabedal de conhecimentos, a ilustração, o saber de uma pessoa ou grupo
social.”, se apresentada a um indivíduo, qualquer que seja sua idade, será
certamente admitida como verdadeira a não ser que ele não tenha a mínima
instrução básica, uma vez que por mais precária que possa ser a condição atual
do sistema educacional, por exemplo no Brasil, é de comum acordo que os
professores e alunos admitem que a leitura e o estudo tendem a melhorar o “o
saber de uma pessoa ou grupo social,” enquanto que as pessoas que hoje ultrapassaram
os 50 anos de idade testemunharam a época em que as residências, especialmente
nas estantes da sala de estar, tinham coleções de livros ou enciclopédias,
estas sempre à venda inclusive nas bancas de jornais, e muito estimada era
especialmente a denominada Enciclopédia
Barsa, que feita com material de muita qualidade era um produto mais caro.
Essa
maneira de definir a cultura, é a que
se denomina de burguesa, isto é, o
modo que o indivíduo burguês entende
o que é cultura, e tem suas origens
durante o período denominado de Renascimento, o qual sucedeu à Idade Média, a
partir do século XV. Mas antes de examinarmos essa visão burguesa de cultura,
devemos primeiro entender o que significa realmente o burguês. Explica Gian Mario Bravo, Decano da Faculdade de Ciências
Políticas de Turim:
“Originariamente o termo Burguesia, cuja raiz se encontra no vocábulo latino medieval burgensis, caracteriza os habitantes do burgo, da cidade. Temos, assim, derivações nas diferentes línguas: Bürger na Alemanha e posteriormente, bourgeois na França, que se tornará apelido de uso comum após a Revolução Francesa. Na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, o habitante da cidade adquire uma sua configuração típica de classe: afirma-se como artesão, como comerciante, como pequeno e médio proprietário rural ou imobiliário, como representante da lei e, enfim, como ‘capitalista’.[9]”
Henri
Pirenne (1862-1935), o grande historiador medievalista belga, da Universidade
de Gante, explica, por sua vez, a origem dos próprios burgos dentro do contexto do século IX d.C. duma Europa predominantemente
rural e empesteada de saques e desordem:
“A primeira necessidade à qual era preciso fazer face era a da defesa, quer contra os Sarracenos e Normandos, quer contra os príncipes vizinhos. Deste modo, vemos, a partir do século IX, todo o território cobrir-se de fortalezas. Os textos contemporâneos dão-lhe os mais diversos nomes: castellum, castrum, oppidum, urbs, municipium; a mais usual, e em todo o caso a mais técnica destas designações, é a de burgus, palavra adoptada dos Germanos pelo latim do Baixo Império e que se conservou em todas as línguas modernas (burg, borough, bourg, borgo).[10]”
As palavras burguês e burguesia, portanto, originalmente
significavam o habitante ou classe de habitantes dos núcleos urbanos, fossem
pequenas ou grandes cidades, que em geral tinham inicialmente sido fortalezas,
aglutinando gradualmente pessoas que exerciam atividades variadas produtivas e
comerciais, em contraposição aos vilarejos e aldeias rurais que possuíam sua
própria dinâmica de vida peculiar. Esta
dualidade é praticamente ignorada totalmente na atualidade, mas o modo de
pensar do habitante do campo, particularmente em vilarejos e aldeias, o que
significava a maior parte da população europeia até o período do Renascimento,
ou seja, na passagem da Idade Média para a Idade Moderna nos séculos XV e XVI,
possui muitas diferenças do modo de pensar do habitante das cidades que passa a
ser um contingente da população europeia cada vez maior a partir do fim do
período medieval. A Sociologia dos séculos XIX e XX produziu muitos estudos[11] mostrando as diferenças
do homem do campo em relação ao homem da cidade ou burguês, e bastando para nossa temática, se pode citar três
diferenças básicas, enumeradas abaixo:
1)
Quanto às leis e ritmos da natureza, o homem do campo está mais próximo que o
homem da cidade, o burguês. Em termos
de negócios, por exemplo, o homem do campo dependia direta e totalmente em
quase todas áreas de trabalho dos ciclos das estações do ano, enquanto que o
homem da cidade dependia disso indiretamente e não em todas áreas do trabalho.
2)
Concernindo às relações sociais, o homem da cidade, o burguês, lida com maior quantidade e maior variedade de tipos de
pessoas que muitas vezes até procedem de regiões diferentes, distantes ou
próximas, resultando em pouca intimidade nas relações da vida cotidiana,
enquanto o homem do campo se relacionava com uma comunidade mais fixa e que
pouco mudava através dos séculos, e em população bem menor, resultando em maior
intimidade nas relações da vida cotidiana. Utilizando dois vocábulos alemães,
decorrente dos avanços dos estudos da sociologia alemã do século XIX,
especialmente a partir da obra do grande sociólogo alemão Ferdinand Tönnies (1855-1936),
de modo muito simplificado pode-se estipular que o homem da cidade tende ao
tipo de vida social fixado por contrato social e coerção jurídica, denominada
de Gesellschaft, enquanto o homem do
campo, ou dos núcleos urbanos de pequeno porte, vilas e aldeias, tende ao tipo de
vida social por vínculo de afinidades e de usos e costumes, denominada de Gemeinschaft. Nestes dois termos alemães
estão representados os dois principais modos de ser da humanidade,
especialmente no Ocidente, os quais serão melhor explicados mais adiante, mas a
importância destes dois termos é tanta que implica no ‘contrato social’, isto
é, a Gesellschaft, vincular-se
necessariamente tanto ao liberalismo
quanto ao socialismo marxista de luta de
classes, enquanto a Gemeinschaft,
a ‘comunidade por vínculos e afinidades’ implica necessariamente vincular-se ao
nacionalismo ou nacional-socialismo, isto fazendo uso das terminologias
contemporâneas.
3)
A combinação dos dois fatores acima resulta que a vida na cidade expõe o homem
a uma pressão maior de mudanças, enquanto a vida no campo conserva maior
estabilidade.
A
sociedade na Europa, a partir do fim da Idade Média e início da Idade Moderna
passará no decorrer do aumento de sua população a formação de dois tipos de
mentalidade conforme as dualidades acima delineadas, a do homem do campo e a do
homem da cidade que era denominado de burguês.
Contudo, a definição ‘c’ para a
palavra cultura extraída do
dicionário Houaiss, “O cabedal de
conhecimentos, a ilustração, o saber de uma pessoa ou grupo social.”, que consolidou-se
no imaginário ocidental do século XX será um desenvolvimento, de modo geral,
procedente da mentalidade do homem da cidade, isto é, do burguês.
A mentalidade medieval precedeu a
mentalidade burguesa
A
Idade Média do Ocidente foi uma época que, de modo simplificado, surgiu do fim
do Império Romano no século VI d.C. e perdurou até o século XV d.C. somando um
período de quase 1000 anos, o qual mesclava:
1) Costumes semitas através da religião
cristã, e irradiados da Igreja Católica e suas variações monásticas para os
núcleos urbanos e também para os vilarejos e aldeias. Pode-se considerar como
primeira força da Idade Média. É importante registrar que na Igreja Católica,
em núcleos mais estudiosos, adentrou pequena parte da filosofia de Platão
(cerca de 428-348 a.C.), de Aristóteles (384-322 a.C.) e de Plotino (204-270
d.C.), entre outros, e em grande medida em fontes indiretas de comentadores
pagãos e cristãos, formando um acervo que foi ferramenta para estudos
filosóficos e religiosos nestes núcleos eruditos.
2) Costumes latinos que possuíam misturas de
costumes de diversos povos asiáticos e do norte da África, decorrentes da
herança do Império Romano, procedentes em parte da Igreja Católica e em parte
da fração da população não-cristã, presentes, de modo geral, na parte
mediterrânea da Europa. Todavia, certos costumes foram fundidos nas práticas e
liturgias católicas através de uma reinterpretação cristã, tendo esta mais
força nos centros urbanos e perdendo sua prevalência conforme se afastava destes
e alcançava os vilarejos e aldeias longínquas no campo ou fronteiriças com as
florestas denominadas de pagus, onde
viviam os pagãos[12], isto é, os não cristãos,
enquanto, por outro lado, outros costumes, o dos pagãos, conservaram de modo predominante a interpretação de outras
religiões não-cristãs, com teor original ou alterado, mas num sentido de
prevalência oposta, sendo mais relevante nos pagus, isto é, nos vilarejos e aldeias longínquas no campo ou
fronteiriças com as florestas, e perdendo influência conforme aproximavam-se as
pequenas cidades e demais centros urbanos. É importante registrar que nos
costumes latinos penetrou alguma influência da filosofia greco-romana de teor
de bons costumes, isto é, moral, ao menos em nível superficial. Pode-se considerar
como a terceira força da Idade Média, entrando em dissolução devido ao advento
do cristianismo, ao influxo dos costumes germânicos, e ao desgaste do tempo.
3) Costumes indo-europeus dos chamados povos
bárbaros, especialmente os germânicos, os quais também eram pagãos. Tais costumes eram mais fortes
nas regiões de populações germânicas e se tornavam menos presentes conforme se
adentrava em outras regiões com menor população germânica, mantendo com a Igreja
uma relação de influência mútua. Um dos principais costumes indo-europeus em
questão era o denominado de fides,
que é o da mútua confiança entre as pessoas decorrente da força que possuíam em
manterem suas palavras e promessas. Neste contexto, conforme prevaleciam os
costumes indo-europeus, ia se formando no decorrer do tempo uma espécie de
movimento político denominado de gibelino,
que prevalecia nos segmentos políticos da sociedade, enquanto por outro lado,
conforme prevaleciam os costumes da Igreja Católica, formava-se um movimento
religioso-político denominado de guelfo,
centrado nas autoridades papais. Ambos movimentos representavam as forças da
sociedade e da Igreja com seus respectivos interesses, com pontos concordantes
e divergentes. Pode-se considerar como a segunda força da Idade Média, mantendo
disputa com os valores semitas do cristianismo.
A
instituição central da Europa medieval era a Igreja Católica, que continha em
si os três itens acima numa proporção que variava de região para região,
todavia submetidos a dois conceitos fundamentais do cristianismo: a tradição
semita baseada na Bíblia e a
cristologia, isto é, o estudo da natureza de Cristo e de como essa alegadamente
regeria a humanidade para seu melhor destino.
Se
admitida a constatação que com o advento do cristianismo, em todas suas expressões,
desde as ordens monásticas isoladas da vida mundana até as instituições que
influíam fortemente na política e que somadas formavam a Igreja Católica,
passou-se a ter os escritos bíblicos como a fonte mais autorizada no Ocidente
durante a Idade Média, e que partindo das premissas contidas na Bíblia, tanto do Antigo Testamento como do Novo
Testamento, a verdade e o bem estavam presentes somente entre as
comunidades que a Bíblia afirmava
terem aliança com Deus, esta alegadamente iniciada na Primeira Aliança da
humanidade com Deus, através do personagem bíblico Abraão, dando origem ao povo
judeu, depois de supostos séculos este povo através de seu então líder Moisés
renovaram a aliança com Deus sob novos termos, e após um longo período,
alegadamente superior a mais de mil anos, uma nova aliança entre Deus e a
humanidade foi feita, outra vez em novos termos, intermediada por Jesus Cristo,
pode-se ter como fato que as disputas no período medieval que concerniam a
interpretação histórica da humanidade recorriam sempre aos escritos bíblicos
para obterem o veredito final, sendo que a margem para tais disputas estava
situada apenas dentro de interpretações que não feriam as bases de como as
escrituras bíblicas viam Deus, o Universo, o mundo, o homem, os animais,
impérios e reinos, pode-se conceder que
as fontes de conhecimento que provinham de impérios e reinos que não
compartilhavam das concepções bíblicas dificilmente tinham difusão entre os
povos cristãos ocidentais que estavam sob influência da Igreja Católica.
Os
únicos três povos que mantinham intercambio de conceitos com a Igreja Católica
eram os judeus, os islâmicos e os cristãos de outras igrejas cristãs, como a
Bizantina, isto é a ortodoxa, ou igreja copta, além de ramificações cristãs
menos relevantes, desde igrejas menores até monastérios remotos. Esse
intercâmbio de conceitos era possível pelo fato que tanto a Igreja Católica,
como as variadas correntes judaicas, islâmicas e cristãs não católicas admitiam
um passado comum baseado na alegada primeira aliança de Deus com a humanidade,
intermediada supostamente por Abraão. Não obstante essa base comum, cada grupo
acima reivindicava possuir a mais legítima interpretação dessa aliança,
inclusive os islâmicos afirmavam ser os possuidores da mais atual aliança entre
Deus e a humanidade, intermediada por Maomé, e que as alianças anteriores
tinham deteriorado e, portanto, tinham caducado.
A
população da Europa em sua maior parte era composta por camponeses[13], cerca de 90 por cento,
enquanto a parte restante vivia nos centros urbanos, e ambas partes sob a
influência dos três componentes acima enumerados, 1) costumes semitas, 2) costumes
latinos com as mencionadas misturas, 3) costumes indo-europeus germânicos, conforme a área de influência destes acima
descritas. Se termos em consideração a definição ‘c’ para a palavra cultura
extraída do dicionário Houaiss, “O
cabedal de conhecimentos, a ilustração, o saber de uma pessoa ou grupo
social.”, que consolidou-se no imaginário ocidental do século XX, a cultura na Idade Média era muito
polarizada, uma vez que, por um lado, a esmagadora parte da população era
analfabeta[14],
enquanto, por outro lado, uma minoria ínfima da população, mantinha-se em plena
forma intelectual nas disputas e polêmicas, centradas na infalibilidade das
escrituras bíblicas bem como das formulações das autoridades religiosas, que se
sucediam através dos séculos medievais, especialmente na disciplina de Lógica,
isto é, a coerência racional, mas também na disciplina de Metafísica, ou seja,
a das constatações mais próximas das verdades absolutas universais.
Em
resumo, a mentalidade da esmagadora maioria da população europeia era a soma de antigos
costumes que eram sobrepostos a costumes mais antigos ainda procedentes dos costumes
semitas, costumes latinos, costumes indo-europeus, cujos significados originais
iam sendo esquecidos através de séculos e séculos de vivência mais automatizada
que consciente, enquanto apenas uma minoria de cerca de 1 por cento da
população se ocupava de investigar com profundidade a realidade do Universo, de
Deus, do homem e da vida. Todo o contexto geral medieval avançou lentamente
através de um período de quase 1000 anos durante a Idade Média até o século XV
d.C., quando cinco marcos históricos radicalmente importantes transformam o
lento ritmo de mudanças da vida medieval numa marcha de aceleração quase
ininterrupta.
Destacadamente
se pode enumerar dois marcos de total impacto geopolítico:
1)
A colonização das Américas como parte da expansão europeia através dos avanços
nas navegações. As três principais forças aqui eram os reinos europeus, a
Igreja Católica e o judaísmo internacional, cuja equação de forças variava de
região para região na Europa.
2)
A invasão dos turcos otomanos no leste da Europa, resultando na aniquilação do
Império Bizantino no oriente da Europa.
E
mais três marcos de total impacto na mentalidade europeia.
3)
Ressurgimento da tradição greco-romana, particularmente sua filosofia e sua
ciência.
4)
Avanço de concepções judaicas através da Reforma Protestante, que foi a origem das
atuais igrejas evangélicas.
5)
Advento da máquina de imprensa pelo alemão Johannes Gutenberg (1400-1468).
Com
estes cinco marcos, estavam reunidos cinco dos seis ingredientes para formar o
explosivo século XX, sendo que o sexto ingrediente será mencionado no devido
momento.
Notas
[9] Nota do autor: Gian Mario Bravo, Dicionário de Política (Organizado por
Norberto Bobbio, Nicola Matteucci, Gianfranco Pasquino), 2 volumes, 11ª edição,
UnB, Brasília, 1998. Tradução do
italiano Dizionario di política,
UTET, 1983, ao português por
Carmen C. Varriale, Gaetano Lo Mônaco, João Ferreira, Luíz Guerreiro Pinto
Cacais e Renzo Dini. Ver vocábulo burguesia.
[10] Nota do autor: Henri Pirenne, As cidades da Idade Média, Publicações
Europa-América, Mira Sintra, 1977. Traduzido do original em francês Les Villes du Moyen Âge, por Carlos
Montenegro Miguel. Páginas 60-61.
[11] Nota do autor: Georges Vacher de
Lapouge (1854-1936) talvez tenha sido o de maior destaque até a primeira metade
do século XX na produção desta temática de diferenciação
rural e urbana. Um ponto muito relevante é o da perda de natalidade do
melhor do campesinato, quando os mais bem-dotados habitantes do meio rural ao
emigrarem do campo para a cidade, se submetem a uma voluntária restrição de
reprodução, assumida pelo bem da promoção social e conquistas no meio
competitivo. Outro fator também deletério à genética saudável procedente do
ambiente rural marcante refere-se ao envolvimento com práticas viciantes e
produtos tóxicos, alimentícios, industriais ou de abuso, os quais são mais
disseminados, em regra, nas cidades grandes que no campo. Ver Pitirim Sorokin, Contemporary sociological theories,
Harper & Brothers, Nova Iorque, 1928. Página 242.
Também pode-se apreciar a dinâmica da formação dos centros urbanos na Idade Média a partir da sociedade europeia predominantemente rural em Henri Pirenne, As cidades da Idade Média, Publicações Europa-América, Mira Sintra, 1977. Traduzido do original em francês Les Villes du Moyen Âge, por Carlos Montenegro Miguel.
Também pode-se apreciar a dinâmica da formação dos centros urbanos na Idade Média a partir da sociedade europeia predominantemente rural em Henri Pirenne, As cidades da Idade Média, Publicações Europa-América, Mira Sintra, 1977. Traduzido do original em francês Les Villes du Moyen Âge, por Carlos Montenegro Miguel.
[12] Nota do autor: Conforme o
dicionário o Houaiss a palavra pagão no século XIII era “o que ou
aquele que não foi batizado”, “adepto de qualquer religião que não adota o
batismo ou adota o politeísmo.” Mas a origem etimológica da palavra pagão procede da palavra latina pagānus, já na Antiguidade, que
significa “homem da aldeia, aldeão, cidadão que não é soldado, paisano, pagão,
gentio.’ Ver vocábulo pagão.
No Oxford Latin Dictionary (Editora Oxford, Oxford,
1968) pāgānus refere-se ao habitante
de um pagus, isto é, comunidade ou
distrito do interior, sendo um camponês ou habitante do interior, também o
civil em oposto ao soldado, bem como o ‘povo local’. Ver vocábulos pāgānus e pagus,
No Dictionnaire
étymologique de La Langue Latine: Histoires des Mots, Klincksiek, Paris,
2001, 4ª edição, de Antoine Meillet e Alfred Ernout é registrada uma observação
importante para compreender a evolução do termo pāgānus, pois esta palavra antes de ter significação religiosa,
tinha adquirido uma significação política-civil como contraparte de castrēnsis, palavra com relação à
atividade ou acampamento militar. Ver vocábulo pāgus.
[13] Nota do autor: De modo geral, na
Antiguidade, apesar dos grandes núcleos urbanos, cidades e capitais de
impérios, a população rural era a predominante, sendo que a inversão de
predominância da população urbana sobre a rural é um fenômeno dos últimos
duzentos anos (ver Patterns of urban and
rural population growth (Departmente of International Economic and Social
Affairs, POPULATION STUDIES, nº 68), United Nations Publication, Nova Iorque,
1980. Página 1.
Os estudos mais atuais ainda mantêm a estimativa de
90% da população medieval europeia. Ver Maryanne Kowaleski,
Medieval People in Town and Country: New Perspectives from Demography and
Bioarchaeology, Speculum, Vol. 89,
Nº. 3 (julho 2014), página 573.
[14] Nota do autor: Após a queda do
Império Romano a alfabetização na Europa ocidental, latina e cristã, foi quase
totalmente aniquilada. “A alfabetização leiga tinha quase desaparecido com o
fim da Antiguidade, e em geral somente o clero e membros das famílias
governantes era capazes de ler.” Ver L. D. Reynolds & N. G. Wilson, Scribes & Scholars – A Guide to the
Transmission of Greek & Latin Literature, Oxford Clarendon Press,
Oxford, 4ª edição, 2013. Página 112.
Sobre o autor: Mykel
Alexander possui Licenciatura em História (Unimes, 2018), Licenciatura em Filosofia
(Unimes, 2019) e Bacharel em Farmácia (Unisantos, 2000).
O que é realmente “cultura”? - parte 1 - Por Mykel Alexander
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