Mark Weber |
Uma
das fontes de informações mais amplamente citadas sobre a personalidade de
Hitler e de suas intenções secretas são as supostas memórias de Hermann Rauschning,
o Presidente Nacional-Socialista do Senado de Danzig[1]
em 1933 – 1934 que foi expulso do movimento de Hitler pouco tempo depois e
então seguiu por si mesmo uma nova vida como um anti-nazi profissional.
No
livro conhecido na Alemanha como Conversações com Hitler (Gespraech
mit Hitler) e publicado pela
primeira vez nos EUA em 1940 como The Voice of Destruction, Rauschning
apresenta página após página do que é alegado ser as mais íntimas opiniões de
Hitler e seus planos para o futuro, supostamente baseado em dezenas de
conversas privadas ocorridas entre 1932 e 1934. Depois da guerra as memórias
foram introduzidas como o documento do processo Aliado URSS-378 no principal
julgamento de “crimes de guerra” em Nuremberg.
Entre
as citações condenatórias atribuídas à Hitler por Rauschning estão estas
memoráveis declarações:
“Nós devemos ser brutais. Nós devemos recuperar uma clara consciência sobre brutalidade. Somente então podemos expulsar o carinho de nosso povo... Não me proponho a exterminar nacionalidades inteiras? Sim, isso irá dar resultados... Eu naturalmente tenho o direito de destruir milhões de homens das raças inferiores que aumentam como vermes... Sim, nós somos bárbaros. Nós queremos ser bárbaros. Isso é um título honroso.”
Hitler
é também suposto ter confidenciado para Rauschning, um quase desconhecido
oficial provincial, fantásticos planos para um império mundial germânico que
iria incluir África, América do Sul, México e, eventualmente, os Estados
Unidos.
Muitos
historiadores prestigiosos, incluindo Leon Poliakov, Gerhard Weinberg, Alan
Bullock, Joaquim Fest, Nora Levin e Robert Payne, utilizaram citações
escolhidas das memórias de Rauschning em seus trabalhos de história. Poliakov,
um dos mais proeminentes escritores do Holocausto, especificamente elogiou
Rauschning pela sua “excepcional precisão”, enquanto Levin, outro historiador
do Holocausto vastamente lido, chamou ele de “um dos mais penetrantes analistas
do período nazi.”
Mas
nem todos têm sido tão crédulos. O historiador suíço Wolfgang Haenel passou
cinco anos investigando diligentemente o livro de memórias antes de anunciar
suas descobertas em 1983 em uma conferência de história revisionista na
Alemanha Ocidental. A renomada Conversations with Hitler [Conversações
com Hitler], declarou ele, são uma fraude total. O livro não tem valor “exceto
como um documento da propaganda de guerra Aliada.”
Haenel
foi capaz de estabelecer de forma conclusiva que as alegações de Rauschning de
ter se encontrado com Hitler “mais que uma centena de vezes” é uma mentira. Os
dois se encontraram, de fato, somente quatro vezes, e nunca a sós. As palavras
atribuídas para Hitler, ele mostrou, foram simplesmente inventadas ou
levantadas de muitas outras diferentes fontes, incluindo escritos de Junger[2]
e Friedrich Nietzsche. Um relato de Hitler ouvindo vozes, andando a noite com
gritos convulsivos e, aterrorizado, apontando para um canto vazio enquanto gritava
“lá, lá no canto!” foi tomado de um conto do escritor francês Guy de Maupassant[3].
O livro de memórias falsas foi designado para
incitar a opinião pública nos países democráticos, especialmente nos Estados
Unidos, em favor da guerra contra a Alemanha. O projeto foi ideia do
jornalista, nascido na Hungria, Emery Reves, que dirigia uma influente agência
de imprensa e propaganda anti-alemã em Paris durante os anos 1930. Haenel tem
também encontrado evidência que um proeminente jornalista britânico chamado
Henry Wickham-Steele ajudou produzir o livro de memórias. Wickham-Steele foi um
braço direito de Sir Robert Vansittart, talvez a figura mais veementemente
anti-alemã na Grã-Bretanha.
Um
relatório sobre as descobertas sensacionais de Haenel apareceu na edição de
outono de 1983 no The Journal of Historical Review. Mais recentemente,
os jornais periódicos semanários mais
influentes da Alemanha Ocidental, Die Zeit, e Der Spiegel (7 de
setembro de 1985), têm feito longos artigos sobre a histórica farsa. Der
Spiegel concluiu que as Conversations with Hitler de Rauschning “são
uma falsificação, uma distorção histórica da primeira até a última página...
Haenel não somente prova a falsificação, ele também mostra como a
impressionante montagem foi rapidamente compilada e quais ingredientes foram
misturados juntos.”
Existem algumas valiosas lições a serem
aprendidas da história desta sórdida farsa, a qual levou mais de 40 anos para
finalmente ser desmascarada: Ela mostra que mesmo as mais descaradas fraudes
podem ter um tremendo impacto se ela serve a importantes interesses, que é mais
fácil inventar uma grande mentira histórica que desmascarar uma e, finalmente,
que todos devem ser extremamente cautelosos diante de “autorizados” retratos da
emocionalmente carregada era Hitler.
Uma
nota de rodapé: Leitores interessados em um autêntico registro da personalidade
e das opiniões pessoais de Hitler devem olhar para o fascinante e abrangente
livro de memórias de Otto Wagener,
publicado em agosto de 1985 pela Yale University Press sobre o título de Hitler:
Memoirs of a Confidant. Wagener foi o primeiro chefe do Estado Maior da SA
(“tropas da tempestade”) e Diretor do Departamento de Política Econômica do
Partido Nacional Socialista. Ele passou centenas de horas com Hitler entre 1929
e 1932, muitas destas horas a sós.
Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander
Notas
[1] Nota do tradutor: Danzig é uma cidade que durante o período entre a
Primeira e a Segunda Guerra Mundial foi o centro de muitas disputas, de teor
histórico e de questões urgentes na época, entre o Reich Alemão e a Polônia. O
insucesso em resolver estas disputas pacificamente resultou no conflito entre o
Reich Alemão e a Polônia, resultando na reincorporação de Danzig ao território
alemão.
[2] Nota do tradutor: Ernst Jünger (1895 – 1998) foi um escritor e
ex-combatente alemão da Primeira Guerra Mundial. No período nazista serviu no
exército e também como administrador de uma província da França quando esta
estava ocupada pelas forças alemãs. Esteve perifericamente envolvido com a
oposição à Hitler que havia dentro do Reich, e, anteriormente, em 1938, foi
proibido de publicar livros.
[3] Nota do tradutor: James Herbert Brennan que,
ao contrário de muitos acadêmicos que rejeitam absolutamente temáticas
não-materialistas, se aventura em considerar algumas possibilidades
não-materialistas, neste caso, forças não compreendidas na maior parte da
ciência contemporânea, pisou em quase todas armadilhas da desinformação e manipulação
sobre o tema nazista. Neste caso, então, citações com teor macabro tiveram
passagem livre, já que davam um tom de obscurantismo ou patologia mental na
imagem de Adolf Hitler.
Em seu
livro Occult Reich de 1974
(publicado no Brasil como Reich Oculto, Editora Madras, São Paulo, 2007, tradução Julia Vidili), entre um mar de distorções, Brennan
cita (página 65 da edição brasileira) Hermann Rauschning ao colocar a passagem
que Hitler histericamente gritava para o canto vazio, passagem a qual Wolfgang
Haenel desvelou como sendo um plágio que Hermann Rauschning fez de um conto de
Guy de Maupassant. Além disso, Brennan utiliza durante seu livro muitas
citações do livro Hitler, a Study in Tyranny, de Alan Bullock, o qual, por
sua vez, também se sustenta em muitas passagens do trabalho de Hermann
Rauschning, e tudo isso, lastimavelmente, com o aviso na contracapa, tanto da
edição em inglês quanto da edição em português, de que o livro cita informações
de fontes autênticas (na edição inglesa ainda colocam como investigado a partir
de fontes de inquestionável autenticidade).
Sobre o autor: Mark weber é um
historiador americano, escritor, palestrante e analista de questões atuais. Ele
estudou história na Universidade de Illinois (Chicago), na Universidade de
Munique (Alemanha), e na Portland State University. Ele possui um mestrado em
História Europeia da Universidade de Indiana. Desde 1995 ele tem sido diretor
do Institute for Historical Review, um centro independente de publicações,
educação e pesquisas de interesse público, no sul da Califórnia, que trabalha
para promover a paz, compreensão e justiça através de uma maior consciência
pública para com o passado.
Informação
Bibliográfica
Autor
|
Mark
Weber
|
Título
|
Rauschning's Phony 'Conversations
With Hitler': An Update
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Fonte
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Data
|
Inverno de 1985 - 1986
|
Fascículo
|
Volume 6, número 4
|
Localização
|
Página 499
|
Endereço
|
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