Continuação de Como Jeová Conquistou Roma - Cristianismo e a Grande Mentira - parte 1 - Jeová como uma mentira - por Laurent Guyénot
Laurent Guyénot |
Judeus em Roma antes das
Guerras Judaicas
Muito antes de ser reembalado para os gentios, a Grande Mentira era uma autoilusão judaica. Conforme eu tenho detalhado no final do meu longo artigo “Sionismo, cripto-judaísmo e a farsa bíblica”*4, no século VI e V a.C. na Babilônia, uma elite sacerdotal de Jerusalém decidiu que Jeová, o deus nacional de Israel, embora aparentemente completamente vencido, era de fato o único deus real e, por consequência, o Criador do Céu e da Terra. Uma afirmação risível, mas quando os persas conquistaram a Babilônia, aqueles judeus, que se encontraram em uma posição favorável depois de ajudar os persas, começaram a fingir que seu monoteísmo teoclástico {isto é, que não respeito a divindade}, baseado na exclusão de todos os outros deuses, era idêntico ao monoteísmo tolerante. dos persas; em outras palavras, que o deus tribal deles, Jeová, era Ahura Mazda, o Deus do Céu. Eu tenho mostrado que o engano é claramente aparente nos livros de Esdras e Neemias, onde apenas os persas são retratados acreditando que Jeová é “o Deus do céu”, enquanto para os israelitas ele é apenas “o deus de Israel”.
O
que os judeus sacerdotais alcançaram na Babilônia no século V a.C. foi uma
etapa preliminar para o que outra geração do mesmo elenco sacerdotal começaria
a planejar no século I d.C. em Roma, depois de ter sido trazida para lá em
condições similares de cativeiro. Enquanto Jeová parecia novamente derrotado,
ele partiu para conquistar seu vencedor por dentro. A conspiração dos judeus da
Babilônia para enganar os persas com seu falso monoteísmo foi o projeto para a
conspiração mais sofisticada dos judeus de Roma para enganar os romanos com o
cristianismo.
Entre
aqueles dois estágios, os judeus parecem ter convencido uma parte da
aristocracia romana de que foram os primeiros verdadeiros monoteístas, os
adoradores do verdadeiro Deus. Para gregos e romanos, o Criador supremo era um
conceito filosófico, enquanto os cultos religiosos eram politeístas por
definição {na realidade o deus supremo é um conceito arcaico e ancestral, porém
pela dificuldade temática, dificilmente abordada fora dos círculos filosóficos
ou sacerdotais#5}. É por isso que, por
volta de 315 a.C., o aristotélico Teofrasto de Ereso considerava os judeus como
“filósofos de nascimento”, embora estivesse preocupado com seus holocaustos
primitivos. Alguns escritores judeus (Aristóbulo de Paneas, Artapanos de
Alexandria, ou mesmo Fílon de Alexandria) conseguiram até blefar alguns gregos com
a alegação loucamente selvagem de que Homero, Hesíodo, Pitágoras, Sócrates e
Platão foram inspirados por Moisés.8
Os
judeus são mencionados em Roma já no século II a.C. Tem sido suposto que eles
eram em sua maioria fenícios convertidos. {O acadêmico judeu} Martin Bernal
defende essa tese em “Jews and Phoenicians,”*5,
com o argumento de que “não há evidências de judeus no Mediterrâneo Ocidental
antes da destruição de Cartago [146 a.C.]”, mas “depois dessa data, eles foram
amplamente divulgados lá,” enquanto os fenícios desapareceram das páginas da
história. As línguas e culturas dos fenícios e dos judeus eram virtualmente
idênticas.9 Peter Myers traz luz adicional em seu
artigo bem fundamentado “Carthaginians, Phoenicians & Berbers became Jews,”*6 argumentando que, “Depois da
destruição de Cartago por Roma, muitos cartagineses e fenícios se converteram
ao judaísmo, porque Jerusalém era o único centro restante da civilização semita
do Ocidente”. O artigo da Encyclopedia Judaica sobre Cartago, citado por
Myers, apoia essa hipótese, acrescentando que os fenícios, ao se converterem ao
judaísmo após seu declínio político, “preservaram sua identidade semítica e não
foram assimilados pela cultura romano-helenística a qual eles odiavam”. Essa
teoria, que explica também a misteriosa origem dos sefarditas na Espanha — uma
colônia cartaginesa —, é de óbvia importância para compreender a atitude dos
judeus em relação ao Império Romano, destruidor da civilização fenícia.
Agora quero passar já destes documentos aos escritos dos fenícios que tratam de nossa raça e apresentar seu testemunho. Existe entre os tirianos, desde há muitíssimos anos, crônicas redigidas e conservadas cuidadosamente pelo Estado sobre os feitos dignos de recordação que têm sucedido entre eles e sobre suas relações com outros povos. Nelas se diz que o templo de Jerusalém foi construído pelo rei Salomão cento e quarenta e três anos e oito meses antes de que os tirianos fundassem Cártago. E não sem razão mencionam a fundação de nosso templo, pois Hiram, rei de Tiro, era amigo de nosso rei Salomão, amizade que havia herdado de seu pai. Compartilhando com Salomão o orgulho pelo esplendor do edifício, lhe entregou cento e vinte talentos de ouro e fez cortar as madeiras mais belas do monte chamado Líbano e as enviou para a cobertura. Salomão lhe mostrou seu agradecimento com muitos presentes, entre outros um território da Galileia chamado Cabul. Mas, sobretudo, lhes unia a paixão pela sabedoria: trocavam entre si enigmas que se convidavam para resolver. Salomão era o mais hábil e, em geral, resultava o mais sábio. Todavia, se conservam entre os tirianos muitas das cartas que trocavam. {Flavio Josefo, Contra Apião, 106-112}#6
Em
63 a.C., a comunidade judaica de Roma foi ampliada com milhares de cativos
trazidos de volta da Judéia por Pompeu e progressivamente libertados (Filo de
Alexandria, Legatio ad Caium, 156). É acreditado que Júlio César
introduziu uma legislação para garantir sua liberdade religiosa, e que a lei
foi confirmada por Augusto, que também os isentou do serviço militar. É dito
que o imperador Cláudio (41-54 d.C.) expulsou os judeus de Roma (Suetônio, Cláudio
xv, 4; Atos 18:2), ou pelo menos os proibiu de se congregarem (Cassius
Dio lx, 6). Mas eles parecem ter conhecido tempos favoráveis sob Nero (54-68),
cuja esposa Poppaea Sabina é considerada uma judia secreta do tipo Ester na
tradição judaica, porque o historiador judeu Flávio Josefo a chama de “uma
adoradora de Deus” (Antiguidades do Judeus, xx, 195) e menciona seu
apoio à libertação de padres judeus processados em Roma (Vita 16).10
A Fundação da Igreja
Romana Sob a Dinastia Flaviana
Em 70, o recém-proclamado imperador Vespasiano e seu
filho Tito trouxeram para Roma cerca de 97.000 cativos judeus (Josefo, Guerra
Judaica vi, 9), bem como membros da nobreza judaica recompensados por seu
apoio na guerra na Judéia – sendo Josefo o mais famoso deles. Logo depois,
quando Josefo começou a trabalhar em suas Antiguidades dos Judeus em 20
volumes, somos informados de que os Evangelhos foram escritos.11 No mesmo período, de acordo com a
história padrão da Igreja, já temos em Roma uma igreja cristã, chefiada por um
certo Clemente de Roma (88-99). Clemente deve ter sido um judeu educado como
Josefo, porque sua única epístola genuína é caracterizada por numerosos
hebraísmos, referências abundantes ao Velho Testamento e uma mentalidade
levítica. Uma tradição antiga e credível faz dele um liberto do cônsul Tito
Flávio Clemente, primo dos imperadores Flavianos. Aprendemos com Cássio Dio que
Flávio Clemente foi executado por Domiciano, irmão e sucessor de Tito, por
“ateísmo” e “desvio rumo aos costumes judaicos”. Sua esposa Flavia Domitilla
foi banida para a ilha de Pandateria (Ventotene). Com o tempo, Flávio Clemente passou
a ser considerado como um mártir cristão, e isso deu origem à ideia da
perseguição de Domiciano aos cristãos. Mas os historiadores agora descartam
essa noção (não há perseguição claramente atestada aos cristãos antes da metade
do terceiro século)12 e
assumem que Flávio Clemente e Flávia Domitila foram simplesmente acusados de
judaizar, e o primeiro talvez de circuncidar a si mesmo.13
Um dos assassinos de Domiciano em 96 foi um mordomo de Domitilla chamado
Stephanus, o que pode sugerir uma vingança judaica.
A
atitude dos flavianos em relação aos judeus era aparentemente de dupla forma.
Por um lado, eles pareciam determinados a acabar com a religião judaica, que
eles viam, corretamente, como a fonte do separatismo judaico. Não contente com
a destruição do templo judaico em Jerusalém, Vespasiano também ordenou a
destruição do de Leontópolis, no Egito. Em geral, os romanos costumavam
integrar os deuses vencidos com uma cerimônia de evocatio deorum, pela
qual o deus recebia um santuário em Roma. Mas o deus Jeová era considerado
inassimilável, razão pela qual seus objetos de adoração eram tratados como mero
espólio, segundo Emily Schmidt: “O tratamento do deus judeu pode ser visto como
uma inversão do típico tratamento ou atitude romana frente aos deuses estrangeiros,
talvez como uma anti-evocatio.”14
Por
outro lado, a biografia de Josefo mostra que Vespasiano e Tito não foram apenas
misericordiosos, mas também gratos aos judeus que se uniram a eles na Judéia.
Não há contradição entre esses dois aspectos da política judaica dos flavianos:
eles reprimiam o separatismo judaico e proibiam o proselitismo judaico, mas
encorajavam a assimilação judaica. Os judeus assimilacionistas abandonaram a
circuncisão e não fizeram objeção à assimilação sincrética de Jeová com Zeus ou
Júpiter. A mesma política básica dupla foi seguida pelos sucessores dos
Flavianos, Trajano (98-117) e Adriano (117-138).15
A partir desses fatos básicos e tendo em mente o padrão
estabelecido pelo círculo sacerdotal de Esdras na Babilônia, não é difícil
imaginar o que estava acontecendo em Roma no primeiro século. A teoria que vou
discutir agora é a seguinte: a pedra fundamental da Igreja Católica Romana foi
colocada pela primeira vez por uma irmandade secreta de sacerdotes judeus, que
foram trazidos a Roma por Vespasiano e Tito após a Guerra Judaica que destruiu
seu templo em 70 d.C. Alguns ganharam o favor e a proteção de Vespasiano
entregando-lhe o fabuloso tesouro do Templo que possibilitou sua ascensão ao
trono imperial. Flávio Josefo, que desertou para os romanos na Galiléia e foi
recompensado além da medida por Vespasiano, pode ter sido um membro influente
desse círculo judaico. Esses judeus poderosos, ricos e autoconscientes, usando
a assimilação para dissimulação, tiveram o motivo, os meios e a oportunidade de
fabricar a religião sincrética que poderia servir como seu cavalo de Tróia.
Eu
pego emprestada essa teoria do livro de Flavio Barbiero, The Secret Society
of Moses: The Mosaic Bloodline and a Conspiracy Spanning Three Millennia
(2010). O autor não é um historiador treinado, mas um cientista com uma mente
inquisitiva e lógica aguçada combinada com uma grande imaginação e um gosto por
teorias arrebatadoras. Há grande parte abordada em especulação na grande
história que ele revela, de Moisés aos tempos modernos, mas é de muita
percepção captada e consistente. Pelo menos é um bom ponto de partida para
tentar responder à questão de como os judeus criaram o cristianismo.
De
acordo com essa tese, esses judeus sacerdotais trazidos a Roma por Vespasiano e
Tito chegaram a um acordo com a ruína de sua nação e do Templo, mas não
desistiram de seu programa bíblico de supremacia judaica; eles simplesmente o
reinterpretaram a partir de seu novo ponto de vista dentro da capital do
Império. Ainda com ciúmes de seu nascimento e estritamente endogâmicos, eles
retiveram e transmitiram à sua progênie um senso de missão para pavimentar para
Israel um novo caminho rumo ao seu destino. Nós não podemos supor que, sob sua
aparente lealdade ao imperador, eles compartilhavam o mesmo ódio a Roma que
inspirou textos judaicos do primeiro século, como os Apocalipses de Esdras
e de Baruque? Em Esdras, o rugido do Leão de Judá faz a águia
romana explodir em chamas, e um Israel reunido e livre é reunido na Palestina.
Em Baruch, o Messias derrota e destrói os exércitos romanos, então leva
o imperador romano acorrentado ao Monte Sião e o leva à morte.16 O mesmo ódio de Roma permeia o Livro
do Apocalipse, onde Roma, sob o tênue véu da Babilônia, é chamada de Grande
Prostituta, cuja carne será consumida pela ira de Deus, para produzir assim uma
nova Jerusalém.
Deixe-nos
considerar, como hipótese de trabalho, que esses sacerdotes judeus tinham um
plano. Eles adotaram a estratégia de rede que permitiu que seus ancestrais
distantes se infiltrassem na corte persa e, assim, recuperassem o poder perdido
sob o patrocínio de Esdras. Seu objetivo, segundo Flavio Barbiero, era
“apropriar-se da nascente religião cristã e transformá-la em sólida base de
poder para a família sacerdotal” (página 146). Já existia um culto a Cristo,
atestado pelas epístolas de Paulo escritas na década de 50, mas os Evangelhos
deram-lhe uma orientação completamente diferente nas décadas seguintes à
destruição do Templo. O Pedro cumpridor da lei, apresentado como o chefe da
Igreja de Jerusalém pelo Evangelho de Mateus, tornou-se o fundador do
papado romano na literatura atribuída a Clemente de Roma, estabelecendo assim
um vínculo espiritual entre Roma e Jerusalém.
Para
entender melhor a comunidade judaica que elaborou essas tradições, nós devemos
examinar mais de perto a primeira guerra judaica. Em 67, o imperador Nero
enviou seu comandante de exército Vespasiano para esmagar a rebelião dos
saduceus sacerdotais que haviam desafiado o poder romano ao banir do Templo os
sacrifícios diários oferecidos em nome e às custas do imperador. Quando, após a
morte de Nero, Vespasiano foi declarado imperador em dezembro de 69, seu filho
Tito foi deixado na Judéia para finalizar a derrubada da rebelião. No livro vi
da Guerra Judaica de Josefo, nós aprendemos que, desde o estágio inicial
do cerco de Jerusalém por Tito, muitos judeus passaram para os romanos,
incluindo “chefes das famílias sacerdotais”. Tito “não somente recebeu esses
homens com muita gentileza em outros aspectos, mas [...] disse-lhes que, quando
ele se livrasse desta guerra, restauraria cada um deles às suas posses
novamente.” Até os últimos dias do cerco, Josefo nos informa, alguns sacerdotes
obtiveram salvo-conduto sob a condição de entregarem a Tito parte da riqueza do
Templo. Um, chamado Jesus, entregou “dois castiçais semelhantes aos que foram
depositados no Templo, algumas mesas, alguns cálices e taças, todos de ouro
maciço. Ele também entregou as cortinas [aquelas que foram rasgadas quando
Jesus expirou de acordo com Mateus 27:51], as vestes do sumo sacerdote,
com as pedras preciosas e muitos outros objetos usados para sacrifícios.” Outro,
Fineias, apresentado por Josefo como “o guardião do tesouro do Templo”,
entregou “as túnicas e cintos dos sacerdotes, uma grande quantidade de tecido
púrpura e escarlate [...] e uma grande quantidade de ornamentos sagrados,
graças a que, mesmo sendo prisioneiro de guerra, ele obteve a anistia reservada
aos desertores”.
Aqueles
sacerdotes obviamente negociaram suas vidas e sua liberdade com partes do
tesouro do Templo. O Templo não era apenas um santuário religioso, era, no
sentido real, um banco central e um cofre gigante, abrigando enormes
quantidades de ouro, prata e artefatos preciosos financiados por dízimos de
todo o mundo. Um dos propósitos do Templo, poderíamos dizer, era satisfazer a
ganância de Jeová: “Abalarei todas as nações, então afluirão riquezas de todas
as nações e eu encherei este Templo de glória, disse Jeová dos Exércitos. A mim
pertence o ouro!” (Ageu 2:7-817).#7 De acordo com o Pergaminho de Cobre
encontrado perto do Mar Morto em 1952, o tesouro do Templo, no valor de toneladas
de ouro, prata e itens preciosos, havia sido escondido durante o cerco em 64
localizações.18 Portanto, é lógico
supor, como Barbiero faz, que Tito e Vespasiano só conseguiram colocar as mãos
nele com a ajuda de padres de alto escalão.
Esse
enormemente abarrotado butim, cuja peça central simbólica era a enorme menorá
representada no Arco de Tito {imagem acima}, certamente ajudou Vespasiano a
ganhar a aclamação de suas tropas como imperador e depois a convencer o Senado.
A construção do Coliseu, entre os anos 70 e 80, foi integralmente financiada
por este espólio.
Flávio Josefo e o
Cristianismo
Barbiero
faz a suposição plausível de que Josefo contribuiu com sua parte do tesouro do
Templo para Vespasiano. Visto que Josefo desempenha um papel importante na
teoria de Barbiero, vamos primeiro esboçar o que sabemos sobre ele. Nascido
Yosef ben Matityahu, ele era da primeira das vinte e quatro classes sacerdotais
por seu pai, de acordo com sua autobiografia. Ele também nos conta que, em seus
vinte e poucos anos, passou mais de dois anos em Roma para negociar com o
imperador Nero a libertação de alguns sacerdotes judeus que foram processados,
provavelmente por evasão de impostos (Vita 16). Em 67, aos 30 anos, serviu
como comandante do exército judeu, desertando para o lado romano no mesmo ano.
Ele então serviu como tradutor para Tito e Vespasiano e conseguiu salvar a vida
de duzentos e cinquenta membros de seu círculo sacerdotal. Quando Vespasiano se
tornou imperador em 69, ele concedeu a Josefo sua liberdade, momento em que
Josefo assumiu o sobrenome do imperador. De volta a Roma, Vespasiano o alojou
em sua própria vila (tendo construído para si um luxuoso palácio) e
concedeu-lhe um salário vitalício do tesouro do estado, bem como uma impressionante
enorme propriedade na Judéia. Josefo dedicou o resto de sua vida a escrever
livros celebrando a história judaica, sendo seu último livro, Contra Apião,
uma defesa do judaísmo. Até sua morte na virada do século, ele era um membro
proeminente da comunidade judaica em Roma, que consistia de muitos outros
sacerdotes.
{Busto romano tido como de Flávio Josefo (37/38 d.C.-100 d.C.). Fonte da imagem: Wikipedia em Português. |
No
Livro IV da Guerra Judaica, Josefo conta como, após sua captura na Galileia,
ele foi trazido a Vespasiano e convenceu o general a ouvi-lo em privado. Vespasiano
consentiu e pediu a todos que se retirassem, exceto Tito e dois de seus amigos.
Então Josefo entregou a Vespasiano uma “profecia” de Deus, de que Nero logo
morreria e Vespasiano ascenderia ao poder imperial. Vespasiano manteve Josefo
com ele e o recompensou por sua profecia quando ela se tornou realidade. Essa
história em particular carece da credibilidade que geralmente caracteriza o
livro de Josefo. Flavio Barbiero assume, portanto, que isso deve ser entendido
como um eufemismo embaraçoso: na realidade, Josefo forneceu a Vespasiano não
uma predição de que ele se tornaria imperador, mas os meios para se
tornar imperador. Isso significa que era o tesouro do Templo.
Flávio Josefo foi o primeiro dos sacerdotes judeus a cair nas mãos dos romanos, e foi ele quem obteve os maiores favores. Vendo que ele não apenas pertencia à primeira das famílias sacerdotais, mas também ocupava uma posição de responsabilidade muito alta em Israel, como governador da Galileia, e que tinha um profundo conhecimento do deserto de Judá, onde havia passado três anos de sua juventude, é legítimo acreditar que ele sabia das operações para esconder o tesouro e era perfeitamente capaz de encontrar os esconderijos. Durante sua audiência privada com Vespasiano imediatamente após sua captura, Josefo deve ter negociado sua própria segurança e futura prosperidade em troca do tesouro do Templo. A proposta teria sido irresistível para o pobre general romano, que assim viu a possibilidade de assegurar os meios necessários para sua ascensão ao poder imperial. Naquela ocasião, os dois provavelmente fizeram um pacto, que mudaria os destinos do mundo.19
Isso,
ao invés de alguma “profecia”, pode explicar o favor extraordinário que Josefo
recebeu de Vespasiano, o qual, Josefo admite, despertou muita inveja entre a
aristocracia romana.
No
entanto, há algum significado na profecia de Josefo que Barbiero perde. É uma
reversão da expectativa messiânica que tinha provocado a revolta judaica contra
Roma. Como Josefo escreve em Guerra Judaica (vi, 5), “o que mais moveu o
povo a se revoltar contra Roma foi uma profecia ambígua de suas Escrituras de
que ‘alguém de seu país deveria governar o mundo inteiro’”. Os judeus foram
enganados em sua interpretação dessa profecia, escreve Josefo, porque ela se
aplicava na realidade a Vespasiano, “que foi nomeado imperador na Judéia”. Mas,
ao virar a profecia messiânica judaica de cabeça para baixo, Josefo estava
desistindo do destino dos judeus de governar o mundo, ou estava elaborando um
Plano B, que dependia de usar a força do Império Romano em vez de se opor a
ele? Em outras palavras, ao reconhecer Vespasiano como o Messias, ele não
estava pensando em transformar Roma no instrumento de longo prazo do
messianismo judaico?
Talvez
ele já estivesse pensando na reconstrução de Jerusalém. Nós sabemos que os
primeiros cristãos judeus o fizeram. Duas gerações depois de Josefo, Justino
Mártir (falecido em 165), nascido em Samaria e provavelmente judeu, mas
pregando em Roma, escreveu em seu Diálogo com Trifão#8 que respondeu afirmativamente à
pergunta: “Dize-me, porém: vós realmente confessais que a cidade de Jerusalém
será reconstruída e esperais que aí vosso povo irá reunir-se e alegrar-se com
Cristo...?”20
Barbiero
sugere que Josefo estava intimamente ligado aos fundadores judeus do
cristianismo romano. Essa hipótese deriva dos próprios escritos de Josefo, que
contêm três referências indiretas ao cristianismo. O livro xviii, capítulo 3
das Antiguidades Judaicas inclui a famosa passagem sobre Jesus, “homem
sábio” e “fazedor de maravilhas, mestre de homens que recebem a verdade com
prazer”, que foi condenado à cruz por Pilatos. “E a tribo dos cristãos, assim
chamada por causa dele, não está extinta até hoje.” A autenticidade deste Testimonium
Flavianum é debatida, mas a opinião acadêmica dominante é que é uma
passagem genuína com interpolações cristãs. Em xviii, 5, Josefo fala com grande
admiração sobre “João, que se chamava o Batista”, sublinhando sua grande
popularidade e condenando Herodes Antipas por seu assassinato. Esta é
considerada uma passagem genuína. Em xx, 9, Josefo expressa a mesma simpatia
por Tiago, “o irmão de Jesus, que era chamado Cristo”, e o apresenta como uma
figura respeitada nos círculos farisaicos: quando foi apedrejado até a morte
por ordem do sumo sacerdote Anan, provocou a indignação de todos os zelosos da
Lei e, finalmente, o fim da carreira de Anan. Esta também é considerada uma
passagem genuína, com apenas a referência a Jesus sendo chamado de Cristo uma
inserção cristã.
A
tese de Barbiero sobre o envolvimento de Josefo com o cristianismo é plausível.
Se
nós aceitarmos o consenso de que a Igreja Romana já estava organizada nos anos
90, com um bispo de sangue sacerdotal judeu, então é inconcebível que Josefo
não tivesse conhecimento disso. Estando ciente disso, ele pode ser hostil ou
apoiá-lo. Além disso, se aceitarmos o consenso em relação às referências
positivas de Josefo a Jesus, a seu precursor João Batista e a seu irmão Tiago,
devemos concluir que Josefo apoiou a Igreja Cristã primitiva. Ele era
secretamente um cristão?
A
pergunta remete a outro José, um personagem misterioso presente nos quatro
Evangelhos canônicos: José de Arimateia, que assumiu a responsabilidade pelo
sepultamento de Jesus após sua crucificação.
Ele
é descrito como “ilustre membro do Conselho {Sinédrio}” (Marcos 15:43),
“homem bom e justo” que “não concordara nem com o desígnio, nem com a ação
deles” (Lucas 23:51) e “que era discípulo de Jesus, mas secretamente,
por medo dos judeus” (João 19:38), e suficientemente ligado a Pilatos
para obter sua permissão para tirar o corpo de Jesus da cruz e enterrá-lo em
sua tumba privada. A razão pela qual menciono José de Arimatéia aqui é para
sugerir – esta é minha contribuição para a teoria de Barbiero – que ele pode
ter sido inventado como um alter ego simbólico de Flávio Josefo.
Dito isto, Barbiero talvez superestime a autenticidade das referências de Josefo a Jesus, João Batista e Tiago. A questão permanece não estabelecida. Eu acho todo o Testimonium Flavianum inteiramente, e não apenas parcialmente suspeito. Ele figura em todos os manuscritos gregos, mas pode ter sido acrescentado no segundo ou terceiro século. Eu voltarei a este problema.
Tradução
e palavras entre chaves por Mykel Alexander
*4 Fonte utilizada por Laurent
Guyénot: Sionismo, Cripto-Judaísmo e a farsa bíblica - parte 1, por Laurent
Guyénot, 26 de março de 2023, World Traditional Front. (Parte 2 na
própria sequência da primeira parte)
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2023/03/sionismo-cripto-judaismo-e-farsa.html
#5
- Martin Bernal, Geography of a Life, capítulo 45, “Jews and Phoenicians.”
8 Nota de Laurent Guyénot: Joseph Mélèze Modrzejewski, The Jews of Egypt, From Rameses II to Emperor Hadrian, Princeton University Press, 1995, páginas 48-49, 66.
*5 Fonte utilizada por Laurent
Guyénot: {link errado segue abaixo a fonte}:
- Martin Bernal, Geography of a Life, capítulo 45, “Jews and Phoenicians.”
9 Nota de Laurent Guyénot: Martin Bernal, Geography of a Life, capítulo 45, “Jews and Phoenicians,” páginas 386-394.
*6
Fonte utilizada por Laurent Guyénot: Carthaginians, Phoenicians & Berbers
became Jews; Freud sided with Hannibal as a Jewish proxy against Rome, por
Peter Myers, 29 agosto de 2008, atualizado em 19 de agosto de 2011,
#6 Nota de Mykel Alexander: Laurent Guyénot na sua publicação em inglês extrai esta passagem do texto de Flávio Josefo, Contra Apião, I, 108-112, enquanto, visando a didática, extraí e traduzi tal passagem de 106-112, e a partir da versão em espanhol: Flavio Josefo, Autobiografiá * Contra Apión, Editorial Gredos, Madrid, 1994, tradução de Margarita Rodríguez de Sepúlveda.
10 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: Nahum Goldmann, Le Paradoxe juif. Conversations en français avec Léon Abramowicz, Stock, 1976, página 36; Heinrich Graetz, Histoire des Juifs, A. Lévy, 1882 (em fr.wikisource.org), tome I, páginas 413-428.
11 Nota de Laurent Guyénot: O evangelho mais antigo, o Evangelho de Marcos, é comumente datado no final dos anos 60, mas essa data é muito antiga, especialmente porque menciona a destruição do Templo.
12 Nota de Laurent Guyénot: Tácito escreveu nos Anais (xv, 44) que Nero acusou os cristãos de iniciar o grande incêndio de Roma em 64, e fez com que muitos deles fossem “jogados às feras, crucificados e queimados vivos”. Mas este é o único atestado dessa história, e alguns estudiosos modernos lançaram dúvidas sobre sua credibilidade: Richard Carrier a vê como uma interpolação cristã posterior, e Brent Shaw argumenta que a perseguição de Nero é um mito (Wikipedia). Há outra menção de perseguição contra os cristãos antes do século III, em uma carta escrita a Trajano por Plínio, o Jovem, governador da Bitínia (norte da Ásia Menor). Mas esta carta também é de autenticidade duvidosa, pertencendo a um livro de 121 cartas encontrado no século XVI, copiado e perdido novamente.
13 Nota de Laurent Guyénot: Paul Mattei, Le Christianisme antique: De Jésus à Constantin, Armand Colin, 2011, página 119.
14 Nota de Laurent Guyénot: Emily A. Schmidt, “The Flavian Triumph and the Arch of Titus: The Jewish God in Flavian Rome,” UC Santa Barbara: Ancient Borderlands Research Focus Group, 2010, recuperado de https://escholarship.org/uc/item/9xw0k5kh .
15 Nota de Laurent Guyénot: Diz-se que Trajano teve uma esposa pró-judaica, Pompeia Plotina, e certa vez condenou à morte um dignitário grego chamado Hermaiskos por ter reclamado que a comitiva do imperador estava “cheia de judeus ímpios”. (Joseph Mélèze Modrzejewski, The Jews of Egypt – From Rameses II to Emperor Hadrian, Princeton University Press, 1997, página 193-196). Mas Adriano é creditado por ter banido a circuncisão e, quando enfrentou em 132 uma nova revolta judaica anti-romana na Judéia, liderada por Simon bar Kokhba, ele destruiu Jerusalém mais uma vez, converteu-a em uma cidade grega chamada Aelia Capitolina e proibiu judeus para entrar.
16 Nota de Laurent Guyénot: Norman Cohn, The Pursuit of the Millennium, Essential Books, 1957, página 4.
17 Nota de Laurent Guyénot: De acordo com 1 Reis 10:14, a quantidade de ouro acumulada a cada ano no templo de Salomão era de “666 talentos de ouro” (1 talento = 30 kg). O tesouro de Salomão pode ser lendário, mas ilustra o que o Templo de Jerusalém ainda significava para os sacerdotes do primeiro século d.C.
#7 Nota de Mykel Alexander: No texto original, em inglês, de Laurent Guyénot, ele cita Ageu 2:7, porém a passagem inteira que ele cita de Ageu inclui 2.8 também, daí eu colocar na presente tradução Ageu 2:7-8 e não apenas 2:7.
18 Nota de Laurent Guyénot: Como o
Pergaminho de Cobre faz parte dos chamados Manuscritos do Mar Morto, que foram
erroneamente atribuídos a uma origem essênia por décadas, seu conteúdo foi
considerado fictício por muito tempo. A revisão dessa teoria equivocada,
iniciada por Norman Golb em Who wrote the Dead Sea scrolls?: The search for
the secret of Qumran, Scribner, 1995, tem corrigido esse viés.
19 Nota de Laurent Guyénot: Flavio Barbiero, The Secret Society of Moses: The Mosaic Bloodline and a Conspiracy Spanning Three Millennia, Inner Traditions, 2010, página 111.
#8 Nota de Mykel Alexander: Diálogo com Trifão, 80,1. Em Justino de Roma, I e II Apologias e Diálogo com Trifão. Coleção Patrística – vol. 3. Tradução de Ivo Storniolo e Euclides M. Balancim. Editora Paulus, São Paulo, 1ª edição (1995), 2ª reimpressão, 2016.
20 Nota de Laurent Guyénot: Norman
Cohn, The Pursuit of the Millennium, Essential Books, 1957, página 10.
How Yahweh Conquered Rome - Christianity and the Big Lie, por Laurent Guyénot, 25 de dezembro de 2020, The Unz Review – An alternative media selection.
https://www.unz.com/article/how-yahweh-conquered-rome/
Sobre o autor: Laurent Guyénot (1960-) possuí mestrado em Estudos Bíblicos e trabalho em antropologia e história das religiões, tendo ainda o título de medievalista (PhD em Estudos Medievais em Paris IV-Sorbonne, 2009) e de engenheiro (Escola Nacional de Tecnologia Avançada, 1982).
Entre seus livros estão:
LE ROI SANS PROPHETE. L'enquête historique sur la relation entre Jésus et Jean-Baptiste, Exergue, 1996.
Jésus et Jean Baptiste : Enquête historique sur une rencontre légendaire, Imago Exergue, 1998.
Le livre noir de l'industrie rose – de la pornographie à la criminalité sexuelle, IMAGO, 2000.
Les avatars de la réincarnation: une histoire de la transmigration, des croyances primitives au paradigme moderne, Exergue, 2000.
Lumieres nouvelles sur la reincarnation, Exergue, 2003.
La Lance qui saigne: Métatextes et hypertextes du Conte du Graal de Chrétien de Troyes, Honoré Champion, 2010.
La mort féerique: Anthropologie du merveilleux (XIIᵉ-XVᵉ siècle), Gallimard, 2011.
JFK 11 Septembre: 50 ans de manipulations, Blanche, 2014.
Du Yahvisme au sionisme. Dieu jaloux, peuple élu, terre promise: 2500 ans de manipulations, Kontre Kulture, Kontre Kulture, 2016. Tem edição em inglês: From Yahweh to Zion: Jealous God, Chosen People, Promised Land...Clash of Civilizations, Sifting and Winnowing Books, 2018.
Petit livre de - 150 idées pour se débarrasser des cons, Le petit livre, 2019.
“Our God is Your God Too, But He Has Chosen Us”: Essays on Jewish Power, AFNIL, 2020.
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Relacionado: sobre a questão judaica, sionismo e seus interesses globais ver:
O Gancho Sagrado - O Cavalo de Tróia de Jeová na Cidade dos Gentios {os não-judeus} - por Laurent Guyénot - parte 1 (demais duas partes na sequência do próprio artigo)
O truque do diabo: desmascarando o Deus de Israel - Por Laurent Guyénot - parte 1
Sionismo, Cripto-Judaísmo e a farsa bíblica - parte 1 - por Laurent Guyénot (parte 2 na sequência do próprio artigo)
Conversa direta sobre o sionismo - o que o nacionalismo judaico significa - Por Mark Weber
Judeus: Uma comunidade religiosa, um povo ou uma raça? por Mark Weber
Controvérsia de Sião - por Knud Bjeld Eriksen
Sionismo e judeus americanos - por Alfred M. Lilienthal
Por trás da Declaração de Balfour A penhora britânica da Grande Guerra ao Lord Rothschild - parte 1 - Por Robert John {as demais 5 partes seguem na sequência}
Raízes do Conflito Mundial Atual – Estratégias sionistas e a duplicidade Ocidental durante a Primeira Guerra Mundial – por Kerry Bolton
Por que querem destruir a Síria? - por Dr. Ghassan Nseir
Congresso Mundial Judaico: Bilionários, Oligarcas, e influenciadores - Por Alison Weir
Um olhar direto sobre o lobby judaico - por Mark Weber
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