domingo, 14 de maio de 2023

Como Jeová Conquistou Roma - Cristianismo e a Grande Mentira - parte 2 - judeus em Roma antes das guerras judaicas - por Laurent Guyénot

 Continuação de Como Jeová Conquistou Roma - Cristianismo e a Grande Mentira - parte 1 - Jeová como uma mentira - por Laurent Guyénot

Laurent Guyénot

 

Judeus em Roma antes das Guerras Judaicas

Muito antes de ser reembalado para os gentios, a Grande Mentira era uma autoilusão judaica. Conforme eu tenho detalhado no final do meu longo artigo “Sionismo, cripto-judaísmo e a farsa bíblica”*4, no século VI e V a.C. na Babilônia, uma elite sacerdotal de Jerusalém decidiu que Jeová, o deus nacional de Israel, embora aparentemente completamente vencido, era de fato o único deus real e, por consequência, o Criador do Céu e da Terra. Uma afirmação risível, mas quando os persas conquistaram a Babilônia, aqueles judeus, que se encontraram em uma posição favorável depois de ajudar os persas, começaram a fingir que seu monoteísmo teoclástico {isto é, que não respeito a divindade}, baseado na exclusão de todos os outros deuses, era idêntico ao monoteísmo tolerante. dos persas; em outras palavras, que o deus tribal deles, Jeová, era Ahura Mazda, o Deus do Céu. Eu tenho mostrado que o engano é claramente aparente nos livros de Esdras e Neemias, onde apenas os persas são retratados acreditando que Jeová é “o Deus do céu”, enquanto para os israelitas ele é apenas “o deus de Israel”.

O que os judeus sacerdotais alcançaram na Babilônia no século V a.C. foi uma etapa preliminar para o que outra geração do mesmo elenco sacerdotal começaria a planejar no século I d.C. em Roma, depois de ter sido trazida para lá em condições similares de cativeiro. Enquanto Jeová parecia novamente derrotado, ele partiu para conquistar seu vencedor por dentro. A conspiração dos judeus da Babilônia para enganar os persas com seu falso monoteísmo foi o projeto para a conspiração mais sofisticada dos judeus de Roma para enganar os romanos com o cristianismo.

Entre aqueles dois estágios, os judeus parecem ter convencido uma parte da aristocracia romana de que foram os primeiros verdadeiros monoteístas, os adoradores do verdadeiro Deus. Para gregos e romanos, o Criador supremo era um conceito filosófico, enquanto os cultos religiosos eram politeístas por definição {na realidade o deus supremo é um conceito arcaico e ancestral, porém pela dificuldade temática, dificilmente abordada fora dos círculos filosóficos ou sacerdotais#5}. É por isso que, por volta de 315 a.C., o aristotélico Teofrasto de Ereso considerava os judeus como “filósofos de nascimento”, embora estivesse preocupado com seus holocaustos primitivos. Alguns escritores judeus (Aristóbulo de Paneas, Artapanos de Alexandria, ou mesmo Fílon de Alexandria) conseguiram até blefar alguns gregos com a alegação loucamente selvagem de que Homero, Hesíodo, Pitágoras, Sócrates e Platão foram inspirados por Moisés.8

Os judeus são mencionados em Roma já no século II a.C. Tem sido suposto que eles eram em sua maioria fenícios convertidos. {O acadêmico judeu} Martin Bernal defende essa tese em “Jews and Phoenicians,”*5, com o argumento de que “não há evidências de judeus no Mediterrâneo Ocidental antes da destruição de Cartago [146 a.C.]”, mas “depois dessa data, eles foram amplamente divulgados lá,” enquanto os fenícios desapareceram das páginas da história. As línguas e culturas dos fenícios e dos judeus eram virtualmente idênticas.9 Peter Myers traz luz adicional em seu artigo bem fundamentado “Carthaginians, Phoenicians & Berbers became Jews,”*6 argumentando que, “Depois da destruição de Cartago por Roma, muitos cartagineses e fenícios se converteram ao judaísmo, porque Jerusalém era o único centro restante da civilização semita do Ocidente”. O artigo da Encyclopedia Judaica sobre Cartago, citado por Myers, apoia essa hipótese, acrescentando que os fenícios, ao se converterem ao judaísmo após seu declínio político, “preservaram sua identidade semítica e não foram assimilados pela cultura romano-helenística a qual eles odiavam”. Essa teoria, que explica também a misteriosa origem dos sefarditas na Espanha — uma colônia cartaginesa —, é de óbvia importância para compreender a atitude dos judeus em relação ao Império Romano, destruidor da civilização fenícia.

Agora quero passar já destes documentos aos escritos dos fenícios que tratam de nossa raça e apresentar seu testemunho. Existe entre os tirianos, desde há muitíssimos anos, crônicas redigidas e conservadas cuidadosamente pelo Estado sobre os feitos dignos de recordação que têm sucedido entre eles e sobre suas relações com outros povos. Nelas se diz que o templo de Jerusalém foi construído pelo rei Salomão cento e quarenta e três anos e oito meses antes de que os tirianos fundassem Cártago. E não sem razão mencionam a fundação de nosso templo, pois Hiram, rei de Tiro, era amigo de nosso rei Salomão, amizade que havia herdado de seu pai. Compartilhando com Salomão o orgulho pelo esplendor do edifício, lhe entregou cento e vinte talentos de ouro e fez cortar as madeiras mais belas do monte chamado Líbano e as enviou para a cobertura. Salomão lhe mostrou seu agradecimento com muitos presentes, entre outros um território da Galileia chamado Cabul. Mas, sobretudo, lhes unia a paixão pela sabedoria: trocavam entre si enigmas que se convidavam para resolver. Salomão era o mais hábil e, em geral, resultava o mais sábio. Todavia, se conservam entre os tirianos muitas das cartas que trocavam. {Flavio Josefo, Contra Apião, 106-112}#6

Em 63 a.C., a comunidade judaica de Roma foi ampliada com milhares de cativos trazidos de volta da Judéia por Pompeu e progressivamente libertados (Filo de Alexandria, Legatio ad Caium, 156). É acreditado que Júlio César introduziu uma legislação para garantir sua liberdade religiosa, e que a lei foi confirmada por Augusto, que também os isentou do serviço militar. É dito que o imperador Cláudio (41-54 d.C.) expulsou os judeus de Roma (Suetônio, Cláudio xv, 4; Atos 18:2), ou pelo menos os proibiu de se congregarem (Cassius Dio lx, 6). Mas eles parecem ter conhecido tempos favoráveis sob Nero (54-68), cuja esposa Poppaea Sabina é considerada uma judia secreta do tipo Ester na tradição judaica, porque o historiador judeu Flávio Josefo a chama de “uma adoradora de Deus” (Antiguidades do Judeus, xx, 195) e menciona seu apoio à libertação de padres judeus processados em Roma (Vita 16).10

 

A Fundação da Igreja Romana Sob a Dinastia Flaviana

            Em 70, o recém-proclamado imperador Vespasiano e seu filho Tito trouxeram para Roma cerca de 97.000 cativos judeus (Josefo, Guerra Judaica vi, 9), bem como membros da nobreza judaica recompensados por seu apoio na guerra na Judéia – sendo Josefo o mais famoso deles. Logo depois, quando Josefo começou a trabalhar em suas Antiguidades dos Judeus em 20 volumes, somos informados de que os Evangelhos foram escritos.11 No mesmo período, de acordo com a história padrão da Igreja, já temos em Roma uma igreja cristã, chefiada por um certo Clemente de Roma (88-99). Clemente deve ter sido um judeu educado como Josefo, porque sua única epístola genuína é caracterizada por numerosos hebraísmos, referências abundantes ao Velho Testamento e uma mentalidade levítica. Uma tradição antiga e credível faz dele um liberto do cônsul Tito Flávio Clemente, primo dos imperadores Flavianos. Aprendemos com Cássio Dio que Flávio Clemente foi executado por Domiciano, irmão e sucessor de Tito, por “ateísmo” e “desvio rumo aos costumes judaicos”. Sua esposa Flavia Domitilla foi banida para a ilha de Pandateria (Ventotene). Com o tempo, Flávio Clemente passou a ser considerado como um mártir cristão, e isso deu origem à ideia da perseguição de Domiciano aos cristãos. Mas os historiadores agora descartam essa noção (não há perseguição claramente atestada aos cristãos antes da metade do terceiro século)12 e assumem que Flávio Clemente e Flávia Domitila foram simplesmente acusados de judaizar, e o primeiro talvez de circuncidar a si mesmo.13  Um dos assassinos de Domiciano em 96 foi um mordomo de Domitilla chamado Stephanus, o que pode sugerir uma vingança judaica.

A atitude dos flavianos em relação aos judeus era aparentemente de dupla forma. Por um lado, eles pareciam determinados a acabar com a religião judaica, que eles viam, corretamente, como a fonte do separatismo judaico. Não contente com a destruição do templo judaico em Jerusalém, Vespasiano também ordenou a destruição do de Leontópolis, no Egito. Em geral, os romanos costumavam integrar os deuses vencidos com uma cerimônia de evocatio deorum, pela qual o deus recebia um santuário em Roma. Mas o deus Jeová era considerado inassimilável, razão pela qual seus objetos de adoração eram tratados como mero espólio, segundo Emily Schmidt: “O tratamento do deus judeu pode ser visto como uma inversão do típico tratamento ou atitude romana frente aos deuses estrangeiros, talvez como uma anti-evocatio.”14

Por outro lado, a biografia de Josefo mostra que Vespasiano e Tito não foram apenas misericordiosos, mas também gratos aos judeus que se uniram a eles na Judéia. Não há contradição entre esses dois aspectos da política judaica dos flavianos: eles reprimiam o separatismo judaico e proibiam o proselitismo judaico, mas encorajavam a assimilação judaica. Os judeus assimilacionistas abandonaram a circuncisão e não fizeram objeção à assimilação sincrética de Jeová com Zeus ou Júpiter. A mesma política básica dupla foi seguida pelos sucessores dos Flavianos, Trajano (98-117) e Adriano (117-138).15

            A partir desses fatos básicos e tendo em mente o padrão estabelecido pelo círculo sacerdotal de Esdras na Babilônia, não é difícil imaginar o que estava acontecendo em Roma no primeiro século. A teoria que vou discutir agora é a seguinte: a pedra fundamental da Igreja Católica Romana foi colocada pela primeira vez por uma irmandade secreta de sacerdotes judeus, que foram trazidos a Roma por Vespasiano e Tito após a Guerra Judaica que destruiu seu templo em 70 d.C. Alguns ganharam o favor e a proteção de Vespasiano entregando-lhe o fabuloso tesouro do Templo que possibilitou sua ascensão ao trono imperial. Flávio Josefo, que desertou para os romanos na Galiléia e foi recompensado além da medida por Vespasiano, pode ter sido um membro influente desse círculo judaico. Esses judeus poderosos, ricos e autoconscientes, usando a assimilação para dissimulação, tiveram o motivo, os meios e a oportunidade de fabricar a religião sincrética que poderia servir como seu cavalo de Tróia.

Eu pego emprestada essa teoria do livro de Flavio Barbiero, The Secret Society of Moses: The Mosaic Bloodline and a Conspiracy Spanning Three Millennia (2010). O autor não é um historiador treinado, mas um cientista com uma mente inquisitiva e lógica aguçada combinada com uma grande imaginação e um gosto por teorias arrebatadoras. Há grande parte abordada em especulação na grande história que ele revela, de Moisés aos tempos modernos, mas é de muita percepção captada e consistente. Pelo menos é um bom ponto de partida para tentar responder à questão de como os judeus criaram o cristianismo.

De acordo com essa tese, esses judeus sacerdotais trazidos a Roma por Vespasiano e Tito chegaram a um acordo com a ruína de sua nação e do Templo, mas não desistiram de seu programa bíblico de supremacia judaica; eles simplesmente o reinterpretaram a partir de seu novo ponto de vista dentro da capital do Império. Ainda com ciúmes de seu nascimento e estritamente endogâmicos, eles retiveram e transmitiram à sua progênie um senso de missão para pavimentar para Israel um novo caminho rumo ao seu destino. Nós não podemos supor que, sob sua aparente lealdade ao imperador, eles compartilhavam o mesmo ódio a Roma que inspirou textos judaicos do primeiro século, como os Apocalipses de Esdras e de Baruque? Em Esdras, o rugido do Leão de Judá faz a águia romana explodir em chamas, e um Israel reunido e livre é reunido na Palestina. Em Baruch, o Messias derrota e destrói os exércitos romanos, então leva o imperador romano acorrentado ao Monte Sião e o leva à morte.16 O mesmo ódio de Roma permeia o Livro do Apocalipse, onde Roma, sob o tênue véu da Babilônia, é chamada de Grande Prostituta, cuja carne será consumida pela ira de Deus, para produzir assim uma nova Jerusalém.

Deixe-nos considerar, como hipótese de trabalho, que esses sacerdotes judeus tinham um plano. Eles adotaram a estratégia de rede que permitiu que seus ancestrais distantes se infiltrassem na corte persa e, assim, recuperassem o poder perdido sob o patrocínio de Esdras. Seu objetivo, segundo Flavio Barbiero, era “apropriar-se da nascente religião cristã e transformá-la em sólida base de poder para a família sacerdotal” (página 146). Já existia um culto a Cristo, atestado pelas epístolas de Paulo escritas na década de 50, mas os Evangelhos deram-lhe uma orientação completamente diferente nas décadas seguintes à destruição do Templo. O Pedro cumpridor da lei, apresentado como o chefe da Igreja de Jerusalém pelo Evangelho de Mateus, tornou-se o fundador do papado romano na literatura atribuída a Clemente de Roma, estabelecendo assim um vínculo espiritual entre Roma e Jerusalém.

Para entender melhor a comunidade judaica que elaborou essas tradições, nós devemos examinar mais de perto a primeira guerra judaica. Em 67, o imperador Nero enviou seu comandante de exército Vespasiano para esmagar a rebelião dos saduceus sacerdotais que haviam desafiado o poder romano ao banir do Templo os sacrifícios diários oferecidos em nome e às custas do imperador. Quando, após a morte de Nero, Vespasiano foi declarado imperador em dezembro de 69, seu filho Tito foi deixado na Judéia para finalizar a derrubada da rebelião. No livro vi da Guerra Judaica de Josefo, nós aprendemos que, desde o estágio inicial do cerco de Jerusalém por Tito, muitos judeus passaram para os romanos, incluindo “chefes das famílias sacerdotais”. Tito “não somente recebeu esses homens com muita gentileza em outros aspectos, mas [...] disse-lhes que, quando ele se livrasse desta guerra, restauraria cada um deles às suas posses novamente.” Até os últimos dias do cerco, Josefo nos informa, alguns sacerdotes obtiveram salvo-conduto sob a condição de entregarem a Tito parte da riqueza do Templo. Um, chamado Jesus, entregou “dois castiçais semelhantes aos que foram depositados no Templo, algumas mesas, alguns cálices e taças, todos de ouro maciço. Ele também entregou as cortinas [aquelas que foram rasgadas quando Jesus expirou de acordo com Mateus 27:51], as vestes do sumo sacerdote, com as pedras preciosas e muitos outros objetos usados para sacrifícios.” Outro, Fineias, apresentado por Josefo como “o guardião do tesouro do Templo”, entregou “as túnicas e cintos dos sacerdotes, uma grande quantidade de tecido púrpura e escarlate [...] e uma grande quantidade de ornamentos sagrados, graças a que, mesmo sendo prisioneiro de guerra, ele obteve a anistia reservada aos desertores”.

Aqueles sacerdotes obviamente negociaram suas vidas e sua liberdade com partes do tesouro do Templo. O Templo não era apenas um santuário religioso, era, no sentido real, um banco central e um cofre gigante, abrigando enormes quantidades de ouro, prata e artefatos preciosos financiados por dízimos de todo o mundo. Um dos propósitos do Templo, poderíamos dizer, era satisfazer a ganância de Jeová: “Abalarei todas as nações, então afluirão riquezas de todas as nações e eu encherei este Templo de glória, disse Jeová dos Exércitos. A mim pertence o ouro!” (Ageu 2:7-817).#7 De acordo com o Pergaminho de Cobre encontrado perto do Mar Morto em 1952, o tesouro do Templo, no valor de toneladas de ouro, prata e itens preciosos, havia sido escondido durante o cerco em 64 localizações.18 Portanto, é lógico supor, como Barbiero faz, que Tito e Vespasiano só conseguiram colocar as mãos nele com a ajuda de padres de alto escalão.

Esse enormemente abarrotado butim, cuja peça central simbólica era a enorme menorá representada no Arco de Tito {imagem acima}, certamente ajudou Vespasiano a ganhar a aclamação de suas tropas como imperador e depois a convencer o Senado. A construção do Coliseu, entre os anos 70 e 80, foi integralmente financiada por este espólio.

 

Flávio Josefo e o Cristianismo

Barbiero faz a suposição plausível de que Josefo contribuiu com sua parte do tesouro do Templo para Vespasiano. Visto que Josefo desempenha um papel importante na teoria de Barbiero, vamos primeiro esboçar o que sabemos sobre ele. Nascido Yosef ben Matityahu, ele era da primeira das vinte e quatro classes sacerdotais por seu pai, de acordo com sua autobiografia. Ele também nos conta que, em seus vinte e poucos anos, passou mais de dois anos em Roma para negociar com o imperador Nero a libertação de alguns sacerdotes judeus que foram processados, provavelmente por evasão de impostos (Vita 16). Em 67, aos 30 anos, serviu como comandante do exército judeu, desertando para o lado romano no mesmo ano. Ele então serviu como tradutor para Tito e Vespasiano e conseguiu salvar a vida de duzentos e cinquenta membros de seu círculo sacerdotal. Quando Vespasiano se tornou imperador em 69, ele concedeu a Josefo sua liberdade, momento em que Josefo assumiu o sobrenome do imperador. De volta a Roma, Vespasiano o alojou em sua própria vila (tendo construído para si um luxuoso palácio) e concedeu-lhe um salário vitalício do tesouro do estado, bem como uma impressionante enorme propriedade na Judéia. Josefo dedicou o resto de sua vida a escrever livros celebrando a história judaica, sendo seu último livro, Contra Apião, uma defesa do judaísmo. Até sua morte na virada do século, ele era um membro proeminente da comunidade judaica em Roma, que consistia de muitos outros sacerdotes.

{Busto romano tido como de Flávio Josefo (37/38 d.C.-100 d.C.).
Fonte da imagem: Wikipedia em Português. 
 

No Livro IV da Guerra Judaica, Josefo conta como, após sua captura na Galileia, ele foi trazido a Vespasiano e convenceu o general a ouvi-lo em privado. Vespasiano consentiu e pediu a todos que se retirassem, exceto Tito e dois de seus amigos. Então Josefo entregou a Vespasiano uma “profecia” de Deus, de que Nero logo morreria e Vespasiano ascenderia ao poder imperial. Vespasiano manteve Josefo com ele e o recompensou por sua profecia quando ela se tornou realidade. Essa história em particular carece da credibilidade que geralmente caracteriza o livro de Josefo. Flavio Barbiero assume, portanto, que isso deve ser entendido como um eufemismo embaraçoso: na realidade, Josefo forneceu a Vespasiano não uma predição de que ele se tornaria imperador, mas os meios para se tornar imperador. Isso significa que era o tesouro do Templo.

Flávio Josefo foi o primeiro dos sacerdotes judeus a cair nas mãos dos romanos, e foi ele quem obteve os maiores favores. Vendo que ele não apenas pertencia à primeira das famílias sacerdotais, mas também ocupava uma posição de responsabilidade muito alta em Israel, como governador da Galileia, e que tinha um profundo conhecimento do deserto de Judá, onde havia passado três anos de sua juventude, é legítimo acreditar que ele sabia das operações para esconder o tesouro e era perfeitamente capaz de encontrar os esconderijos. Durante sua audiência privada com Vespasiano imediatamente após sua captura, Josefo deve ter negociado sua própria segurança e futura prosperidade em troca do tesouro do Templo. A proposta teria sido irresistível para o pobre general romano, que assim viu a possibilidade de assegurar os meios necessários para sua ascensão ao poder imperial. Naquela ocasião, os dois provavelmente fizeram um pacto, que mudaria os destinos do mundo.19

Isso, ao invés de alguma “profecia”, pode explicar o favor extraordinário que Josefo recebeu de Vespasiano, o qual, Josefo admite, despertou muita inveja entre a aristocracia romana.

No entanto, há algum significado na profecia de Josefo que Barbiero perde. É uma reversão da expectativa messiânica que tinha provocado a revolta judaica contra Roma. Como Josefo escreve em Guerra Judaica (vi, 5), “o que mais moveu o povo a se revoltar contra Roma foi uma profecia ambígua de suas Escrituras de que ‘alguém de seu país deveria governar o mundo inteiro’”. Os judeus foram enganados em sua interpretação dessa profecia, escreve Josefo, porque ela se aplicava na realidade a Vespasiano, “que foi nomeado imperador na Judéia”. Mas, ao virar a profecia messiânica judaica de cabeça para baixo, Josefo estava desistindo do destino dos judeus de governar o mundo, ou estava elaborando um Plano B, que dependia de usar a força do Império Romano em vez de se opor a ele? Em outras palavras, ao reconhecer Vespasiano como o Messias, ele não estava pensando em transformar Roma no instrumento de longo prazo do messianismo judaico?

Talvez ele já estivesse pensando na reconstrução de Jerusalém. Nós sabemos que os primeiros cristãos judeus o fizeram. Duas gerações depois de Josefo, Justino Mártir (falecido em 165), nascido em Samaria e provavelmente judeu, mas pregando em Roma, escreveu em seu Diálogo com Trifão#8 que respondeu afirmativamente à pergunta: “Dize-me, porém: vós realmente confessais que a cidade de Jerusalém será reconstruída e esperais que aí vosso povo irá reunir-se e alegrar-se com Cristo...?”20

Barbiero sugere que Josefo estava intimamente ligado aos fundadores judeus do cristianismo romano. Essa hipótese deriva dos próprios escritos de Josefo, que contêm três referências indiretas ao cristianismo. O livro xviii, capítulo 3 das Antiguidades Judaicas inclui a famosa passagem sobre Jesus, “homem sábio” e “fazedor de maravilhas, mestre de homens que recebem a verdade com prazer”, que foi condenado à cruz por Pilatos. “E a tribo dos cristãos, assim chamada por causa dele, não está extinta até hoje.” A autenticidade deste Testimonium Flavianum é debatida, mas a opinião acadêmica dominante é que é uma passagem genuína com interpolações cristãs. Em xviii, 5, Josefo fala com grande admiração sobre “João, que se chamava o Batista”, sublinhando sua grande popularidade e condenando Herodes Antipas por seu assassinato. Esta é considerada uma passagem genuína. Em xx, 9, Josefo expressa a mesma simpatia por Tiago, “o irmão de Jesus, que era chamado Cristo”, e o apresenta como uma figura respeitada nos círculos farisaicos: quando foi apedrejado até a morte por ordem do sumo sacerdote Anan, provocou a indignação de todos os zelosos da Lei e, finalmente, o fim da carreira de Anan. Esta também é considerada uma passagem genuína, com apenas a referência a Jesus sendo chamado de Cristo uma inserção cristã.

A tese de Barbiero sobre o envolvimento de Josefo com o cristianismo é plausível.

Se nós aceitarmos o consenso de que a Igreja Romana já estava organizada nos anos 90, com um bispo de sangue sacerdotal judeu, então é inconcebível que Josefo não tivesse conhecimento disso. Estando ciente disso, ele pode ser hostil ou apoiá-lo. Além disso, se aceitarmos o consenso em relação às referências positivas de Josefo a Jesus, a seu precursor João Batista e a seu irmão Tiago, devemos concluir que Josefo apoiou a Igreja Cristã primitiva. Ele era secretamente um cristão?

A pergunta remete a outro José, um personagem misterioso presente nos quatro Evangelhos canônicos: José de Arimateia, que assumiu a responsabilidade pelo sepultamento de Jesus após sua crucificação.

Ele é descrito como “ilustre membro do Conselho {Sinédrio}” (Marcos 15:43), “homem bom e justo” que “não concordara nem com o desígnio, nem com a ação deles” (Lucas 23:51) e “que era discípulo de Jesus, mas secretamente, por medo dos judeus” (João 19:38), e suficientemente ligado a Pilatos para obter sua permissão para tirar o corpo de Jesus da cruz e enterrá-lo em sua tumba privada. A razão pela qual menciono José de Arimatéia aqui é para sugerir – esta é minha contribuição para a teoria de Barbiero – que ele pode ter sido inventado como um alter ego simbólico de Flávio Josefo.

Dito isto, Barbiero talvez superestime a autenticidade das referências de Josefo a Jesus, João Batista e Tiago. A questão permanece não estabelecida. Eu acho todo o Testimonium Flavianum inteiramente, e não apenas parcialmente suspeito. Ele figura em todos os manuscritos gregos, mas pode ter sido acrescentado no segundo ou terceiro século. Eu voltarei a este problema. 

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander

Continua em Como Jeová Conquistou Roma - Cristianismo e a Grande Mentira - parte 3 - cristianismo se apropriando do mitraísmo - por Laurent Guyénot 

Notas

*4 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: Sionismo, Cripto-Judaísmo e a farsa bíblica - parte 1, por Laurent Guyénot, 26 de março de 2023, World Traditional Front. (Parte 2 na própria sequência da primeira parte)

https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2023/03/sionismo-cripto-judaismo-e-farsa.html 

#5 Nota de Mykel Alexander: Link errado no artigo original, mas supõem-se que se refere a seguinte fonte:

- Martin Bernal, Geography of a Life, capítulo 45, “Jews and Phoenicians.” 

8 Nota de Laurent Guyénot: Joseph Mélèze Modrzejewski, The Jews of Egypt, From Rameses II to Emperor Hadrian, Princeton University Press, 1995, páginas 48-49, 66. 

*5 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: {link errado segue abaixo a fonte}:

- Martin Bernal, Geography of a Life, capítulo 45, “Jews and Phoenicians.” 

*6 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: Carthaginians, Phoenicians & Berbers became Jews; Freud sided with Hannibal as a Jewish proxy against Rome, por Peter Myers, 29 agosto de 2008, atualizado em 19 de agosto de 2011,

https://mailstar.net/carthage-became-jewish.html 

#6 Nota de Mykel Alexander: Laurent Guyénot na sua publicação em inglês extrai esta passagem do texto de Flávio Josefo, Contra Apião, I, 108-112, enquanto, visando a didática, extraí e traduzi tal passagem de 106-112, e a partir da versão em espanhol: Flavio Josefo, Autobiografiá * Contra Apión, Editorial Gredos, Madrid, 1994, tradução de Margarita Rodríguez de Sepúlveda. 

10 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: Nahum Goldmann, Le Paradoxe juif. Conversations en français avec Léon Abramowicz, Stock, 1976, página 36; Heinrich Graetz, Histoire des Juifs, A. Lévy, 1882 (em fr.wikisource.org), tome I, páginas 413-428. 

11 Nota de Laurent Guyénot: O evangelho mais antigo, o Evangelho de Marcos, é comumente datado no final dos anos 60, mas essa data é muito antiga, especialmente porque menciona a destruição do Templo. 

12 Nota de Laurent Guyénot: Tácito escreveu nos Anais (xv, 44) que Nero acusou os cristãos de iniciar o grande incêndio de Roma em 64, e fez com que muitos deles fossem “jogados às feras, crucificados e queimados vivos”. Mas este é o único atestado dessa história, e alguns estudiosos modernos lançaram dúvidas sobre sua credibilidade: Richard Carrier a vê como uma interpolação cristã posterior, e Brent Shaw argumenta que a perseguição de Nero é um mito (Wikipedia). Há outra menção de perseguição contra os cristãos antes do século III, em uma carta escrita a Trajano por Plínio, o Jovem, governador da Bitínia (norte da Ásia Menor). Mas esta carta também é de autenticidade duvidosa, pertencendo a um livro de 121 cartas encontrado no século XVI, copiado e perdido novamente. 

13 Nota de Laurent Guyénot: Paul Mattei, Le Christianisme antique: De Jésus à Constantin, Armand Colin, 2011, página 119. 

14 Nota de Laurent Guyénot: Emily A. Schmidt, “The Flavian Triumph and the Arch of Titus: The Jewish God in Flavian Rome,” UC Santa Barbara: Ancient Borderlands Research Focus Group, 2010, recuperado de https://escholarship.org/uc/item/9xw0k5kh . 

15 Nota de Laurent Guyénot: Diz-se que Trajano teve uma esposa pró-judaica, Pompeia Plotina, e certa vez condenou à morte um dignitário grego chamado Hermaiskos por ter reclamado que a comitiva do imperador estava “cheia de judeus ímpios”. (Joseph Mélèze Modrzejewski, The Jews of Egypt – From Rameses II to Emperor Hadrian, Princeton University Press, 1997, página 193-196). Mas Adriano é creditado por ter banido a circuncisão e, quando enfrentou em 132 uma nova revolta judaica anti-romana na Judéia, liderada por Simon bar Kokhba, ele destruiu Jerusalém mais uma vez, converteu-a em uma cidade grega chamada Aelia Capitolina e proibiu judeus para entrar. 

16 Nota de Laurent Guyénot: Norman Cohn, The Pursuit of the Millennium, Essential Books, 1957, página 4. 

17 Nota de Laurent Guyénot: De acordo com 1 Reis 10:14, a quantidade de ouro acumulada a cada ano no templo de Salomão era de “666 talentos de ouro” (1 talento = 30 kg). O tesouro de Salomão pode ser lendário, mas ilustra o que o Templo de Jerusalém ainda significava para os sacerdotes do primeiro século d.C. 

#7 Nota de Mykel Alexander: No texto original, em inglês, de Laurent Guyénot, ele cita Ageu 2:7, porém a passagem inteira que ele cita de Ageu inclui 2.8 também, daí eu colocar na presente tradução Ageu 2:7-8 e não apenas 2:7. 

18 Nota de Laurent Guyénot: Como o Pergaminho de Cobre faz parte dos chamados Manuscritos do Mar Morto, que foram erroneamente atribuídos a uma origem essênia por décadas, seu conteúdo foi considerado fictício por muito tempo. A revisão dessa teoria equivocada, iniciada por Norman Golb em Who wrote the Dead Sea scrolls?: The search for the secret of Qumran, Scribner, 1995, tem corrigido esse viés.

19 Nota de Laurent Guyénot: Flavio Barbiero, The Secret Society of Moses: The Mosaic Bloodline and a Conspiracy Spanning Three Millennia, Inner Traditions, 2010, página 111. 

#8 Nota de Mykel Alexander: Diálogo com Trifão, 80,1. Em Justino de Roma, I e II Apologias e Diálogo com Trifão. Coleção Patrística – vol. 3. Tradução de Ivo Storniolo e Euclides M. Balancim. Editora Paulus, São Paulo, 1ª edição (1995), 2ª reimpressão, 2016. 

20 Nota de Laurent Guyénot: Norman Cohn, The Pursuit of the Millennium, Essential Books, 1957, página 10.

 

How Yahweh Conquered Rome - Christianity and the Big Lie, por Laurent Guyénot, 25 de dezembro de 2020, The Unz Review – An alternative media selection.

https://www.unz.com/article/how-yahweh-conquered-rome/

Sobre o autor: Laurent Guyénot (1960-) possuí mestrado em Estudos Bíblicos e trabalho em antropologia e história das religiões, tendo ainda o título de medievalista (PhD em Estudos Medievais em Paris IV-Sorbonne, 2009) e de engenheiro (Escola Nacional de Tecnologia Avançada, 1982).

Entre seus livros estão:

LE ROI SANS PROPHETE. L'enquête historique sur la relation entre Jésus et Jean-Baptiste, Exergue, 1996.

Jésus et Jean Baptiste : Enquête historique sur une rencontre légendaire, Imago Exergue, 1998.

Le livre noir de l'industrie rose – de la pornographie à la criminalité sexuelle, IMAGO, 2000.

Les avatars de la réincarnation: une histoire de la transmigration, des croyances primitives au paradigme moderne, Exergue, 2000.

Lumieres nouvelles sur la reincarnation, Exergue, 2003.

La Lance qui saigne: Métatextes et hypertextes du Conte du Graal de Chrétien de Troyes, Honoré Champion, 2010.

La mort féerique: Anthropologie du merveilleux (XIIᵉ-XVᵉ siècle), Gallimard, 2011.

JFK 11 Septembre: 50 ans de manipulations, Blanche, 2014.

Du Yahvisme au sionisme. Dieu jaloux, peuple élu, terre promise: 2500 ans de manipulations, Kontre Kulture, Kontre Kulture, 2016. Tem edição em inglês: From Yahweh to Zion: Jealous God, Chosen People, Promised Land...Clash of Civilizations, Sifting and Winnowing Books, 2018.

Petit livre de - 150 idées pour se débarrasser des cons, Le petit livre, 2019.

“Our God is Your God Too, But He Has Chosen Us”: Essays on Jewish Power, AFNIL, 2020.

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Relacionado: sobre a questão judaica, sionismo e seus interesses globais ver:

O Gancho Sagrado - O Cavalo de Tróia de Jeová na Cidade dos Gentios {os não-judeus} - por Laurent Guyénot - parte 1 (demais duas partes na sequência do próprio artigo)

O truque do diabo: desmascarando o Deus de Israel - Por Laurent Guyénot - parte 1

Êxodo recorrente: Identidade judaica e Formação da História - Por Andrew Joyce, Ph.D., {academic auctor pseudonym}

Sionismo, Cripto-Judaísmo e a farsa bíblica - parte 1 - por Laurent Guyénot (parte 2 na sequência do próprio artigo)

Conversa direta sobre o sionismo - o que o nacionalismo judaico significa - Por Mark Weber

Judeus: Uma comunidade religiosa, um povo ou uma raça? por Mark Weber

Controvérsia de Sião - por Knud Bjeld Eriksen

Sionismo e judeus americanos - por Alfred M. Lilienthal

Por trás da Declaração de Balfour A penhora britânica da Grande Guerra ao Lord Rothschild - parte 1 - Por Robert John {as demais 5 partes seguem na sequência}

Raízes do Conflito Mundial Atual – Estratégias sionistas e a duplicidade Ocidental durante a Primeira Guerra Mundial – por Kerry Bolton

Ex-rabino-chefe de Israel diz que todos nós, não judeus, somos burros, criados para servir judeus - como a aprovação dele prova o supremacismo judaico - por David Duke

Grande rabino diz que não-judeus são burros {de carga}, criados para servir judeus - por Khalid Amayreh

Por que querem destruir a Síria? - por Dr. Ghassan Nseir

Congresso Mundial Judaico: Bilionários, Oligarcas, e influenciadores - Por Alison Weir

Um olhar direto sobre o lobby judaico - por Mark Weber


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