Mark Weber |
Praticamente
todas as principais biografias de Adolf Hitler ou da história do Terceiro Reich
fazem citações da memória de Hermann Rauschning, um ex-Presidente do Senado Nacional-Socialista de Danzig[1]. No livro publicado na Grã-Bretanha como Hitler Speaks (Londres, 1939) e
na América como The Voice of Destruction (Nova Iorque, 1940) Rauschning
apresenta página após página do que são supostamente as mais íntimas visões de
Hitler e os planos deste para o futuro. Elas são supostamente baseadas em uma
centena de conversações privadas entre os dois homens.
Agora,
depois de mais de quarenta anos, um historiador suíço tem exposto
minuciosamente este suposto documento da loucura de Hitler como completamente
fraudulento. Wolfgang Haenel apresentou os resultados de sua pesquisa na
conferência anual em maio de 1983 do Centro de Pesquisa de História
Contemporânea de Ingolstadt na Alemanha Ocidental.
O
Hitler de Rauschning é nada mais que um revolucionário niilista totalmente
carente de ideias, objetivos, princípios ou ideologia sistemática, o qual
demagogicamente explorou as palavras e os homens para acumular poder para seu
próprio bem. Ele era inteligente, mas completamente inescrupuloso e oportunista, que não acreditava em nada do que ele próprio dizia. Seu Nacional -Socialismo, de
acordo com Rauschning, era apenas uma “Revolução do Niilismo”. Ele estava supostamente preocupado com a guerra. Suas
numerosas propostas de desarmamento e ofertas de paz eram apenas hipócrita
retórica designada para enganar suas futuras vítimas.
Do
homem que unificou a Alemanha, Hitler é suposto ter dito: “Bismarck foi
estúpido. Ele era apenas um protestante.” Ele teria repreendido Rauschning por
seus escrúpulos: “Por que você balbucia sobre brutalidade e se aborrece em
relação ao sofrimento. As massas querem isso. Elas necessitam de um pouco de crueldade.”
“Eu quero uma juventude violenta, magistral, sem medo e cruel,” ele é citado
como tendo dito. Em outra ocasião, Hitler teria, de acordo com relatos,
declarado: “Sim, nós somos bárbaros. Nós queremos ser bárbaros. É um título
honroso.”
Wolfgang
Haenel passou muitos anos em uma pesquisa detalhada, em comparações de textos e
entrevistando testemunhas contemporâneas. Ele descobriu que ao invés de “cerca
de uma centena de conversações” com Hitler, Rauschning na verdade se encontrou
com o líder alemão somente quatro ou cinco vezes. E estes poucos encontros não
foram nem em tempo privado e nem foram longos, mas sempre na companhia de altos
funcionários enquanto visitava Hitler em Berlim ou em Obersalzberg. Rauschning
nunca teve a oportunidade de ouvir as opiniões íntimas de Hitler ou seus planos
secretos para o futuro, conforme ele se vangloriou em suas espúrias “memórias.”
Haenel
mostra que algumas palavras atribuídas a Hitler por Rauschning eram na verdade
levantadas dos trabalhos de Ernst Jünger[2]
e Friedrich Nietzsche. Hitler é citado como tendo feito afirmações as quais não
poderiam ter sido feitas na alegada época. Algumas citações supostamente feitas
em privado foram de fato retiradas de discursos feitos por Hitler depois de
1935, o ano que Rauschning foi para a França. Haenel também expõe sérias
contradições entre eventos conforme apresentados por Rauschning e a forma de
como eles realmente ocorreram, como no caso de uma alegada conversação após o
incêndio do Reichstag em março de 1933.
Haenel
mostra que o livro de memórias espúrias foi encomendado por alguns jornalistas
franceses e por editoras de Nova Iorque como uma arma na propaganda de guerra
contra a Alemanha Nacional Socialista. Por muitos anos a soma paga para o quase
falido Rauschning por seu trabalho permaneceu um recorde na França se tratando
de um livro político.
Os
meios de comunicação de massa democráticos, os quais devotaram intermináveis
colunas de impressão e horas de transmissão em denunciar o livro chamado de Hitler diaries[3]
como falso, ignoraram caracteristicamente a história desta grande farsa
histórica. Uma exceção foi o geralmente sóbrio jornal da Alemanha Ocidental Die
Welt (19 de maio) o qual, no entanto, encerrou seu relatório na página 21.
A imprensa diária americana publicou nada.
Para
seu crédito, o historiador americano John Toland não fez uso do trabalho de
Rauschning em seu detalhado estudo, Adolf Hitler. E o historiador alemão
Werner Maser colocou a observação em sua biografia de Hitler que “As
declarações de Rauschning podem, na melhor das hipóteses, serem consideradas
como uma fonte histórica secundária. Elas não têm valor documental.”
{Hermann Rauschning (1887-1982). Quatro livros que fizeram a cabeça de leitores no Ocidente a partir dos anos da década de 1960 se utilizaram de uma fraude, a obra de Rauschning, para difamar Hitler e o Nacionalsocialismo (nazismo). William Shirer em Rise and Fall of the Third Reich, 1962; Alan Bullock em Hitler, a Study in Tyranny, 1952; Joachim Fest, Hitler, 1973; e Robert Payne em Life and Death of Adolf Hitler, 1973. Os livros de Shirer e Fest continuam inclusive sendo publicados no Brasil em português como obras supostamente sem falsificações.}
É
sempre mais fácil produzir um documento forjado ou memórias falsas que provar
que elas sejam falsas. Mas é ainda notável que levou tanto tempo para alguém
expor o trabalho de Rauschning como fraudulento. Qualquer leitor de mente
aberta e familiar com a literatura sobre Hitler pode determinar mais
rapidamente que The Voice of Destruction é uma imaginativa mistura. O
leitor simplesmente sente falta da “sensação” de autenticidade. Em contraste, a
genuína memória de Otto Wagener, Hitler aus naechster Naehe, fornece
prolongados e detalhados esboços dentro do pensamento de Hitler e suas opiniões
privadas. Como primeiro chefe da equipe da SA (“os Camisas Pardas”) e diretor
do Departamento de Econômico Político do Partido Nacional Socialista, Wagener
conseguiu conhecer Hitler intimamente. Eles gastaram centenas de horas juntos
entre 1929 e 1932, muitos deles sozinhos.
O
Centro de Pesquisa de História Contemporânea de Ingolstadt merece crédito por
seu papel em expor esta grande fraude. Seu diretor, o Dr. Alfred Schickel, tem
escrito numerosos ensaios substanciais de revisionismo histórico.
O
desmascaramento que Haenel fez sobre o livro de memórias de Rauschning é uma bem-vinda
contribuição para o lento e doloroso processo de esclarecimento em uma época de
ofuscação histórica.
Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander
Notas:
[1] Nota do
Tradutor: Danzig é uma cidade que durante o período entre a Primeira e a
Segunda Guerra Mundial foi o centro de muitas disputas, de teor histórico e de
questões urgentes na época, entre o Reich Alemão e a Polônia. O insucesso em
resolver estas disputas pacificamente resultou no conflito entre o Reich Alemão
e a Polônia, resultando na reincorporação de Danzig ao território alemão.
[2] Nota do
Tradutor: Ernst Jünger (1895-1998) foi um escritor e ex-combatente alemão da
Primeira Guerra Mundial. No período nazista serviu no exército e também como
administrador de uma província da França quando esta estava ocupada pelas
forças alemãs. Esteve perifericamente envolvido com a oposição à Hitler que
havia dentro do Reich, e, anteriormente, em 1938, foi proibido de publicar
livros.
[3] Nota do Tradutor:
Refere-se ao evento ocorrido em 1983 quando foi anunciado nos meios de
comunicação a descoberta de documentos que seriam diários de Adolf Hitler.
Contudo duas semanas depois esta descoberta foi classificada como uma fraude
devido a muitas inconsistências tais como o texto ter sido escrito em papel e com
tinteiro de época posterior à Hitler, e também devido a muitas incoerências
históricas.
Sobre o autor:
Mark Weber é um historiador
americano, escritor, palestrante e analista de questões atuais. Ele estudou
história na Universidade de Illinois (Chicago), na Universidade de Munique
(Alemanha), e na Portland State University. Ele possui um mestrado em História
Europeia da Universidade de Indiana. Desde 1995 ele tem sido diretor do Institute
for Historical Review, um centro independente de publicações, educação e
pesquisas de interesse público, no sul da Califórnia, que trabalha para
promover a paz, compreensão e justiça através de uma maior consciência pública
para com o passado.
Informação
Bibliográfica
Autor
|
Mark Weber
|
Título
|
Historiador
suíço expõe memórias anti-Hitler de Rauschning como fraudulenta
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Fonte
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Data
|
Outono de 198
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Fascículo
|
Volume 4, número 3
|
Localização
|
Página 378 – 380
|
Endereço
|
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