segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

{Guerra na Síria – retrospectiva 2013} - O Lobby Israelense e a Comunidade Judaica Organizada querem mudança de regime na Síria - por Kevin MacDonald

 

Kevin MacDonald


O presidente Obama está dizendo agora que sua administração decidiu atacar a Síria, mas buscará aprovação do Congresso antes de fazê-lo. Isso configura uma situação realmente interessante se o Congresso não concordar, como parece bem possível.[1]

A ideia de Obama ordenar um ato de guerra na Síria sem apoio internacional significativo e sem um mandato do Congresso sempre foi um quebra-cabeças. Aqui está nosso presidente de extrema esquerda defendendo mais uma guerra no Oriente Médio após se opor à guerra do Iraque quando era senador. O mesmo presidente que tem um relacionamento frio[2] com Benjamin Netanyahu e repetidamente ficou aquém[3] das demandas do Lobby de Israel.

É claro que a justificativa é emoldurada em termos morais — como todas as guerras americanas, mas houve mais do que um toque disso também na preparação para a guerra do Iraque. Aqui, o caso dos falcões se torna mais difícil porque a história das armas de destruição em massa acabou se revelando falsa. Para que não esqueçamos, essa história foi fabricada por agentes pró-Israel, fortemente identificados etnicamente como judeus, ligados ao Escritório de Planos Especiais do Departamento de Defesa, incluindo Paul Wolfowitz, Douglas Feith, Abraham Shulsky, Elliott Abrams, David Wurmser, Michael Ledeen, David Schencker e Michael Rubin, com a cooperação próxima da inteligência israelense (veja aqui, páginas 47 e seguintes).

Os suspeitos neoconservadores habituais[4] do Weekly Standard — incluindo muitas das mesmas pessoas que promoveram a guerra do Iraque — estão pressionando por um envolvimento muito grande dos EUA na Síria. É alucinante ler na declaração desses chamados “especialistas” que o presidente deve agir “para garantir que as armas químicas de Assad não ameacem mais a América”. Sombras de como o Iraque sob Saddam Hussein iria destruir os EUA com suas armas de destruição em massa. Como Assad vai liberar suas armas químicas na América é para se adivinhar.

Dado o forte apoio dos neoconservadores para ação contra a Síria, nós devemos assumir que Israel está inteiramente a bordo com uma campanha dos EUA. Então não é surpreendente que, como no caso da preparação para a guerra do Iraque, a inteligência israelense esteja na frente e no centro: “A maior parte das evidências provando a implantação de armas químicas pelo regime de Assad — o que forneceria bases legais essenciais para justificar qualquer ação militar ocidental — foi fornecida pela inteligência militar israelense, a revista alemã Focus tem relatado” (veja aqui).[5] Isso inclui a muito discutida ligação telefônica interceptada entre oficiais sírios discutindo o uso de armas químicas (Ibid.) e a alegação de que armas químicas foram movidas para o local do ataque (veja aqui)[6].

Eu não tenho conhecimento de evidências de um envolvimento pesado de agentes do Lobby de Israel no lado dos EUA responsáveis por verificar essa inteligência, como foi o caso quando o Lobby de Israel fabricou a justificativa para o desastre do Iraque — sem dúvida o episódio mais traiçoeiro e corrupto da história americana. No entanto, seria preciso ser realmente ingênuo para não suspeitar do envolvimento israelense.

Como muitos têm notado, não faria sentido para Assad lançar armas químicas em um conflito que ele estava vencendo; não faria sentido matar mulheres e crianças; não faria sentido atacar no momento em que os investigadores da ONU chegavam à Síria; não faria sentido incorrer na ira dos moralistas dos EUA ao cruzar a linha vermelha idiota de Obama — idiota porque é um convite aberto para uma operação de bandeira falsa realizada pelos oponentes do regime de Assad.

Uri Avnery afirma[7] que “praticamente todos os líderes políticos e militares israelenses” querem que a guerra civil síria “continue para sempre”. O outro motivo óbvio para Israel e sua quinta coluna nos EUA é dar um golpe contra o Irã, como muitos notaram. O motivo anti-Irã está na frente e no centro do site do AIPAC (“Síria prova urgência em parar o Irã”). [8]Este artigo assume como verdade que Assad usou armas químicas:

O uso de armas químicas pelo regime de Assad destaca o perigo de permitir que os regimes mais perigosos do mundo possuam armas de destruição em massa. Enquanto Israel prepara seus cidadãos para as possíveis ramificações de um ataque químico da Síria, os Estados Unidos devem considerar ramificações potencialmente catastróficas se o Irã, que está apoiando ativamente Assad, adquirir uma capacidade de armas nucleares. … Não podemos permitir que Assad opere com o apoio de seu maior aliado em Teerã apoiado por uma capacidade de armas nucleares. A República Islâmica já está expandindo sua influência por toda a região, movendo equipamentos e recursos militares para a Síria e o Líbano.

Em uma declaração de junho de 2013, o Jewish Institute for National Security Affairs {ou JINSA – traduzido: Instituto Judaico para Assuntos de Segurança Nacional}, assim como o AIPAC, enfatiza[9] as implicações da falha em agir na Síria para a questão maior do Irã:

Em vez de dissuadir a Síria ou o Irã de usar ou buscar armas ilícitas, as linhas vermelhas da administração parecem estar corroendo a credibilidade e a segurança nacional dos EUA. A lição aprendida com a Síria é que impedir um Irã nuclear exigirá uma linha vermelha acionável e verificável. Isso deve incluir um mecanismo confiável para avaliar o progresso do Irã em direção à linha vermelha e alertar sobre sua travessia.

Um artigo no site JINSA {Jewish Institute for National Security Affairs} por Michael Makovsky e Blaise Misztal[10] defende uma resposta “assimétrica” na qual os EUA causariam muito mais danos à Síria do que os causados pelo ataque com armas químicas: “se Washington ordenar uma operação contra o regime de Assad, não deve se conter em quebrar alguns ovos no caminho para a Síria para garantir acesso mais fácil no futuro. Essa abordagem enviaria uma mensagem crível e ameaçadora ao regime para emendar seu comportamento ou enfrentar novos ataques.”

A declaração da ADL {Anti-Defamation League} envolve uma conversa de suplo sentido sobre quem é responsável pelo uso de armas químicas (“Uso de armas químicas na Síria ‘um crime imoral de primeira ordem’”).[11] Por um lado, afirma que o ataque foi realizado “supostamente pelo governo sírio”. Por outro lado, Abe Foxman claramente culpa o governo sírio pelos “horríveis eventos da semana passada”, uma alegação que vai muito além. E, como de costume, o Holocausto é invocado como estabelecendo uma postura moral judaica especial útil para atingir os interesses judaicos:

Por mais de dois anos, o mundo tem sido testemunha do massacre de seus próprios cidadãos pelo presidente Bashar al-Assad. Após os eventos horríveis da semana passada, não há mais dúvidas sobre a natureza brutal e maligna de Assad e seu regime.

Nós saudamos a declaração clara do Secretário Kerry de condenação do uso de armas químicas na Síria e o compromisso dos EUA de trabalhar com aliados para garantir que os responsáveis sejam responsabilizados. O mundo falhou em agir durante o Holocausto e ficou parado durante os genocídios no Camboja e em Ruanda. É um imperativo moral que a comunidade internacional aja agora para evitar mais atrocidades na Síria.

Da perspectiva de Foxman, é difícil ver como “prevenir mais atrocidades” poderia acontecer sem uma mudança de regime.

Claramente, a comunidade judaica organizada não ficará satisfeita com um mero gesto contra Assad, mas quer algo na vizinhança geral de uma mudança de regime. O Washington Institute for Near East Policy[12] tem vários artigos com a mensagem de que um ataque dos EUA precisa ser vinculado a objetivos estratégicos. Robert Satloff[13] (um dos neoconservadores mais desprezíveis[14]) faz um caso ridículo de que a mudança de regime na Síria é do interesse americano:

Dadas as apostas estratégicas em jogo na Síria, que tocam em todos os principais interesses americanos na região, o curso de ação mais sensato é aproveitar a oportunidade da flagrante violação das normas globais pelo regime de Assad para tomar medidas que apressem o fim do regime de Assad. Ao contrário das opiniões dos líderes militares americanos, isso também aumentará a credibilidade do compromisso do presidente de impedir a aquisição de capacidade de armas nucleares pelo Irã, não corroerá a capacidade dos Estados Unidos de aplicá-la.

Igualmente, neoconservadores como Charles Krauthammer[15] (também no topo da lista dos neoconservadores mais desprezíveis[16]) querem que a campanha dos EUA mude o equilíbrio de poder — “uma campanha sustentada com o objetivo de mudar o equilíbrio de forças removendo a vantagem militar decisiva do regime sírio — o poder aéreo”. O que os neoconservadores não querem é um breve ataque que sirva pouco mais do que mostrar o descontentamento dos EUA, deixe Assad no poder e não mude a situação militar.

Então, do ponto de vista israelense e (o que é o mesmo) neoconservador, é ganha-ganha. Uma intervenção séria dos EUA prolongaria minimamente uma guerra que Assad está vencendo, enfraquecendo a Síria e o Hezbollah por muito tempo no futuro. E talvez isso pudesse levar à queda de Assad e a um governo sunita separado do Irã. O Irã e seus aliados são vistos[17] como um inimigo muito mais perigoso de Israel do que as nações árabes[18] e os rebeldes principalmente sunitas que se opõem ao governo de Assad, não importa o quão fanaticamente muçulmanos, odiadores de Israel e na cama com a Al Qaeda eles se mostrem.

A decisão de Obama de consultar o Congresso pode realmente beneficiar o Lobby de Israel porque poderia muito possivelmente fornecer um mandato para muito mais do que um breve ataque que é pouco mais do que um gesto — como Bill Clinton lançando alguns mísseis de cruzeiro no Afeganistão para protestar contra o bombardeio de embaixadas americanas na África. Sem um mandato do Congresso e sem apoio do Reino Unido, Obama dificilmente realizaria o tipo de ataque desejado pelo Lobby. Agora há uma chance.

O atraso fornece uma oportunidade para o Lobby de Israel entrar em alta velocidade para aumentar os números das pesquisas e exercer seu poder sobre o Congresso. Neste momento, não há claramente nenhum mandato popular[19] para uma guerra; apenas 42% são a favor de uma “ampla resposta militar”, e apenas 16% são a favor da mudança de regime desejada pelo Lobby de Israel. Uma porcentagem muito maior, mas ainda longe de um mandato (50%) é a favor do tipo de ação detestada pelo Lobby de Israel — uma resposta limitada envolvendo apenas navios da Marinha dos EUA direcionados às armas químicas.

A aprovação do Congresso também é duvidosa. O senador Rand Paul (representando o Kentucky) tem declarado[20] que as probabilidades são de “50/50” de que a Câmara aprovará força, mas que o Senado “carimbará o que [Obama] quer”. Outros acreditam que até mesmo o Senado será uma “morro acima”.[21]

Então o Lobby de Israel tem um desafio pela frente, mas certamente é factível. Espere uma tempestade de propaganda emanando da mídia mais elitista dos EUA, e muita pressão no Congresso. O Lobby de Israel vê isso como uma batalha preliminar antes da campanha realmente séria por uma guerra com o Irã. Se o Lobby perder esse teste, seria uma indicação clara de que os EUA não têm determinação para atacar o Irã.

A pressão será intensa. Não aposte contra o Lobby.

Tradução por Leonardo Campos

Revisão e palavras entre chaves por Mykel Alexander

 Notas


[7] Fonte utilizada por Kevin MacDonald:

http://www.avnery-news.co.il/english/

[12] Fonte utilizada por Kevin MacDonald:

http://www.washingtoninstitute.org/

Fonte: The Israel Lobby and the Organized Jewish Community Want Regime Change in Syria, por Kevin B. MacDonald, 01 de setembro de 2023, The Occidental Observer.

https://www.theoccidentalobserver.net/2013/09/01/the-israel-lobby-and-the-organized-jewish-community-want-regime-change-in-syria/

Sobre o autor: Kevin B. MacDonald (1944 – ) é um professor americano de psicologia na Universidade Estadual da Califórnia. Graduou-se em Filosofia (University of Wisconsin-Madison), fez o mestrado em Biologia (University of Connecticut), Doutorado em Ciências Biocomportamentais (University of Connecticut). É um estudioso das relações da população judaica com os povos ocidentais. É editor do periódico The Occidental Quarterly e do site The Occidental Observer.

            Entre seus principais livros estão: 

            Social and Personality Development: An Evolutionary Synthesis (Plenum 1988).

            The Culture of Critique: A People That Shall Dwell Alone: Judaism As a Group Evolutionary Strategy, With Diaspora Peoples, (Praeger 1994).

            The Culture of Critique: Separation and Its Discontents Toward an Evolutionary Theory of Anti-Semitism, (Praeger 1998).

Understanding Jewish Influence: A Study in Ethnic Activism (Praeger 2004).

The Culture of Critique: An Evolutionary Analysis of Jewish Involvement in Twentieth-Century Intellectual and Political Movements, (Praeger 1998). 

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Relacionado, leia também sobre a questão judaica, sionismo e seus interesses globais ver:

Guerra de agressão não declarada dos EUA-OTAN-Israel contra a Síria: “Terrorismo da al-Qaeda” para dar um golpe de Estado contra um governo secular eleito - por Michael Chossudovsky

Libertando a América de Israel - por Paul Findley

Deus, os judeus e nós – Um Contrato Civilizacional Enganoso - por Laurent Guyénot

O Evangelho de Gaza - O que devemos aprender com as lições bíblicas de Netanyahu - por Laurent Guyénot

A Psicopatia Bíblica de Israel - por Laurent Guyénot

Israel como Um Homem: Uma Teoria do Poder Judaico - parte 1 - por Laurent Guyénot (Demais partes na sequência do próprio artigo)

 O peso da tradição: por que o judaísmo não é como outras religiões - por Mark Weber

Sionismo, Cripto-Judaísmo e a farsa bíblica - parte 1 - por Laurent Guyénot (as demais partes na sequência do próprio artigo)

O truque do diabo: desmascarando o Deus de Israel - Por Laurent Guyénot - parte 1 (Parte 2 na sequência do próprio artigo)

Historiadores israelenses expõem o mito do nascimento de Israel - por Rachelle Marshall

Resenha de: A Legacy of Hate: Anti-Semitism in America {Um legado de ódio: antissemitismo na América}, de Ernest Volkman - por Louis Andrew Rollins

Resenha de The Fateful Triangle: The United States, Israel & The Palestinians {O Triângulo Fatídico: Os Estados Unidos, Israel e os Palestinos} de Noam Chomsky por Louis Andrew Rollins

Resenha de THE DECADENCE OF JUDAISM IN OUR TIME {A DECADÊNCIA DO JUDAÍSMO EM NOSSO TEMPO}, de Moshe Menuhin, por David McCalden (escrito sob o pseudônimo Lewis Brandon)

Resenha de GENOCIDE IN THE HOLY LAND {GENOCÍDIO NA TERRA SANTA}, Rabbi Moshe Schonfeld, Neturei Karta dos EUA - por Bezalel Chaim

 Genocídio em Gaza - por John J. Mearsheimer

{Retrospectiva 2023 - Genocídio em Gaza} - Morte e destruição em Gaza - por John J. Mearsheimer

O Legado violento do sionismo - por Donald Neff

{Retrospectiva 1946 – terrorismo judaico-sionista} - O Ataque ao Hotel Rei David em Jerusalém - por W. R. Silberstein

Crimes de Guerra e Atrocidades-embustes no Conflito Israel/Gaza - por Ron Keeva Unz

A cultura do engano de Israel - por Christopher Hedges

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Por Favor, Alguma Conversa Direta do Movimento pela Paz - Grupos sionistas condenam “extremistas” a menos que sejam judeus - por Philip Giraldi

“Grande Israel”: O Plano Sionista para o Oriente Médio O infame "Plano Oded Yinon". - Por Israel Shahak - parte 1 - apresentação por Michel Chossudovsky (demais partes na sequência do próprio artigo)

Raízes do Conflito Mundial Atual – Estratégias sionistas e a duplicidade Ocidental durante a Primeira Guerra Mundial – por Kerry Bolton

Conversa direta sobre o sionismo - o que o nacionalismo judaico significa - Por Mark Weber

Judeus: Uma comunidade religiosa, um povo ou uma raça? por Mark Weber

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Um olhar direto sobre o lobby judaico - por Mark Weber


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O Mito do extermínio dos judeus – Parte 1.1 {nenhum documento sequer visando o alegado extermínio dos judeus foi jamais encontrado} - por Carlo Mattogno

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