terça-feira, 1 de dezembro de 2020

História e Historiadores - por Revilo P. Oliver

 

Revilo P. Oliver


            Um conservador é essencialmente um homem que está disposto a aprender da experiência acumulada da humanidade. Ele deve se esforçar desapaixonada e objetivamente, e ele deve ler a partir de suas observações com uma plena consciência das limitações da razão. E ele deve, acima de tudo, ter a coragem de confrontar as realidades desagradáveis da natureza humana e o mundo no qual nós vivemos.

            Isto é o porquê a história, o vasto registro da tentativa e erro humano, é uma disciplina para conservadores. Ela necessariamente reside além das capacidades emocionais e intelectuais das crianças, selvagens, e “intelectuais liberais,” que instintivamente fogem da realidade para viver em um mundo de sonho no qual as leis da natureza podem ser suspensas pela intervenção de fadas, médicos-feiticeiros, ou “cientistas sociais.”

            A história é uma alta e árdua disciplina na qual é sempre necessária coletar e pesar dados complexos e muitas vezes elusivos, e nos quais, como em muitos outros campos de pesquisa, nós devemos frequentemente nos contentar com um cálculo de probabilidades mais que uma certeza. E quando nós tentamos extrair da história as leis do desenvolvimento histórico, descobrimos nós mesmos calculando a probabilidade das probabilidades – tão difícil e delicada tarefa que a mente humana pode estabelecer para ela própria.

            Afortunadamente para nós, nas questões práticas deste mundo, prudência e bom senso (embora qualidades um tanto incomuns) são um guia adequado e não dependem de respostas para grandes questões de filosofia. Um homem pode aprender não comprar um porco em um bolso sem encontrar solução para o problema epistemológica que Hume possuí tão claramente e que ainda permanece não solucionado. Nós podemos aprender muito da história sem responder as questões derradeiras.

            Nossas mentes, contudo, pela própria natureza delas, desejam uma filosofia coerente que irá dar conta da inteira realidade percebida. E nós vivemos em um tempo no qual nós somos constantemente confrontados pelas reivindicações, algumas obviamente mera propaganda, mas outras séria e sinceramente colocadas a diante – que este ou aquele desenvolvimento deve tomar lugar no futuro porque ele é “historicamente necessário.” Além do mais, nós vivemos em um tempo no qual tudo, exceto o não atencioso e irrefletido sentido de que nossa própria civilização está sendo erodida por vastas e obscuras forças, as quais, se não checadas, irão destruí-la totalmente – forças que nós podemos identificar e compreender somente se nós pudermos averiguar como e por que elas estão moldando nossa história. E aqui novamente nos é frequentemente dito que aquelas forças representam um destino inerente na própria civilização e, portanto, irresistível e inescapável.

            Isto é o porquê o desenvolvimento de um trabalho de filosofia da história é a mais urgente, bem como a mais difícil tarefa do pensamento do século XX.

 

Grécia e Roma

            A história como um relato raciocinado das mudanças políticas e sociais foi produto da mente grega. De fato, poderia ser argumentado que a capacidade para a história nesse sentido é exclusiva propriedade da cultura ocidental que os gregos criaram e nós herdamos – mas seria um argumento bastante longo. Não podemos indulgenciar nós mesmos nisso aqui, não mais do que nós podemos empreender um exame dos antigos historiadores. Mas nós devemos observar que as duas concepções básicas do processo histórico entre as quais a mente moderna deve escolher ambas formadas na Antiguidade Clássica. Eu meramente menciono dois historiadores que ilustram o contraste.

            Se nós considerarmos seu desapego e objetividade quase sobre-humanos, o poder intelectual que capacita-o extrair o essencial da grande massa de detalhes e então escrever concisamente do alto de complexos eventos, e sua lúcida apresentação da evidência incluída pela teoria da tese, nós devemos considerar Tucídides como o grande historiador de todos os tempos. Com perfeita precisão ele diz-nos o que aconteceu e como isso aconteceu; ele vê a realidade com um olho que nunca é borrado por uma lágrima pelo destino de seu país; e a implacável lucidez de seu intelecto é não mais perturbada por uma teoria do que era perturbada pela tentação, a qual nenhum outro escritor poderia ter resistido, adicionar no mínimo umas poucas palavras para explicar ou defender sua própria conduta como um general ou mencionar seus próprios infortúnios. Nós não podemos ler Tucídides sem profunda emoção, mas a emoção é nossa, não dele; nós não podemos lê-lo sem ponderar as lições de história, mas elas são lições que nós devemos extrair dos fatos, não aceitá-las feitas prontas do escritor.

{Busto do antigo general e historiador grego Tucídides (460-400 a.C.) do Museu Real de Ontário.
Fonte da imagem: Wikipedia em inglês.}


            O futuro sempre se assemelhará ao passado porque a natureza humana não muda; os homens serão sempre movidos pelos mesmos motivos e desejos básicos; as limitações da razão humana e da disposição humana de raciocinar constituem um tipo de fatalidade, mas os eventos da história são sempre o resultado de decisões humanas, de sabedoria ou loucas tolices, em lidar com questões que podem nunca ser calculadas com certeza no avanço porque o resultado irá em alguma extensão depender da uma chance – sobre fatores que não podem ser previstos. Nações, como os homens, podem sofrer consequências de seus próprios atos – consequências frequentemente imprevistas e algumas vezes imprevisíveis, mas não há força histórica a qual os compele a decidir como irão atuar; eles são sujeitos, portanto, a nenhum destino, além daquele que é inerente nas limitações de seus recursos morais, mentais e físicos. A história é trágica, mas sua tragédia é no estrito sentido da palavra, o resultado da cegueira humana.

            Esta concepção da história contrasta fortemente com outra, podendo ser descrita como ou mais covarde, desde que ela desloca responsabilidades, ou mais profunda, desde que ela tenta ter em conta decisões. O Sêneca velho, escrevendo sua história das Guerras Civis depois da queda da República Romana e o estabelecimento do Principado, foi certamente influenciado pela concepção estoica de um universo que opera por uma estrita necessidade mecânica em vastos ciclos de uma ecpirose à outra, repetindo-se ela própria interminavelmente. Sêneca viu no povo romano um organismo comparável a um homem e submetido, como o homem, a um tipo de desenvolvimento biológico. Roma passou sua infância sob os primeiros reis. Adolescente, a nação estabeleceu uma república e, como o infatigável vigor de um organismo, estendeu seu governo sobre as partes adjacentes da Itália; com a força e resolução da maturidade (iuventus), Roma conquistou virtualmente todo o mundo que era digno de tomar, e então, finalmente, cansada e sentindo o declínio de seus poderes, incapaz de reunir belicamente força e resolução para governar a si mesmo, ela em sua velhice (senectus) resignou-se a si mesma e a seus negócios nas mão de um guardião, encerrando sua carreira conforme ela começou, sob a tutela e governo de um monarca.

            Infelizmente, o fragmento sobrevivente da história de Sêneca não nos diz quão logo ele pensou que a decrepitude seria seguida pela morte. Nós não podemos sequer estar certo quão estritamente ele aplicou o implícito fatalismo na analogia; ele parece ter estabelecido que as nações, como os homens, poderiam em sua maturidade apressar ou retardar o iniciar da senilidade pelo cuidado que eles poderiam tomar sobre eles mesmos. Mas no melhor, a vontade e sabedoria humana podem pouco afetar a necessidade biológica que carregou todas coisas vivas para a inexorável tumba. Sêneca estava pensando em Roma, mais do que na civilização clássica como um todo, mas essa analogia antecipou o essencial do que nós agora chamamos concepção da história orgânica ou cíclica.

 

O dilema moderno

            A história moderna começa com o Renascimento, uma idade a qual pensava de si própria, conforme o nome indica, como um “renascimento” da Antiguidade Clássica. Por um longo tempo, as energias dos homens estavam concentradas em um esforço para ascender ao nível da alta civilização representada pelas grandes eras de Grécia e Roma. A mais comum metáfora descreveu a mudança cultural em termos de dia e noite: A civilização tinha alcançado o meio-dia na era de Cícero e Virgílio; a decadência do Império Romano foi o crepúsculo que precedeu a longa noite da Idade das Trevas; e o avivamento da literatura e artes que começou com Petrarca foi o alvorecer de um novo dia – o retorno do sol para iluminar a terra e levantar a mente dos homens. Esta metáfora foi pretendida marcar contrastes, não traçar uma analogia. A cultura não veio ao mundo conforme o sol levanta-se e se põe, independentemente do esforço humano; ao contrário, literatura, filosofia (incluindo o que nós agora chamamos ciência), e as artes foram produtos da mais alta e mais intensa criatividade da mente humana. Seguiu-se, portanto, que a civilização era essencialmente o corpo do conhecimento acumulado e mantido pelo intelecto e vontade do homem. Essa sensação de constante luta sob máximo esforço impedia uma concepção da história, enquanto a consciência de que o pedaço da civilização tinha sido senão quebrado durante a Idade das Trevas impedia um otimismo fácil e impensado.

            Da alvorada do Renascimento até os primeiros dias do século XX os homens pensaram da história da civilização como um continuum que poderia ser reduzido a uma linha em um gráfico. A linha começou na parte inferior em algum lugar na pré-história antes do tempo de Homero, subiu constante e regularmente ao pico na grande era de Atenas, mergulhou um pouco e então subiu novamente para a Idade Dourada de Roma, caiu regular e continuamente rumo ao zero, o qual quase é alcançado na Idade das Trevas, subindo um pouco na Idade Média tardia, e com o avivamento da aquisição de conhecimento, subiu de maneira cortante frente a um novo pico. A história assim concebida dividiu-se ela própria em três períodos: Antiga, Medieval, e Moderna.

            Essa concepção linear da história foi simplesmente tomada por concedida pelos historiadores. Guicciardini, Juan de Mariana, Thuanus, Gibbon, e Macaulay diferem grandemente um do outro em perspectiva, mas eles todos consideram a concepção linear como apodítica.

 

{O italiano Francesco Guicciardini (1483-1540), o espanhol Juan de Mariana  (1544-1624), e o francês Jacques Auguste de Thou (Thuanus) (1553-1617), foram proeminentes na  formação da concepção histórica da Idade Moderna. Estátua de Francesco Guicciardini, em Florença, na Galeria Uffizi, foto via Wikipedia em italiano; Monumento à Juan de Mariana no município de Talavera de la Reina, foto via Wikipedia em inglês; Monumento à Jacques Auguste de Thou (Thuanus), no Hotel de Ville, Paris, foto via Wikipedia em inglês.}


{Os inglêses Edward Gibbon (1737-1794) e Thomas Babington Macaulay (1800-1859), dois dos mais proeminentes formadores da concepção histórica contemporânea. Arte respectivamente de  Joshua Reynolds  (1723–1792), Wikipedia em inglês, e John Partridge (?-1872), Wikipedia em inglês.}

Apreensões do porvir

            O século XIX trouxe ao Ocidente a garantia da superioridade miliar sobre todos os outros povos do mundo. Parecia certo que o homem branco, graças a sua tecnologia, governaria para sempre o globo e suas populações apinhadas. E desta confiança jorrou uma euforia louca sobre a cabeça de uma bizarra noção de que progresso era inevitável e automático; que a civilização, ao invés de ser uma criação frágil e preciosa que o homem deve trabalhar muito duro para manter e mesmo mais dura para melhorá-la, tinha se tornado autoperpetuante e auto-ampliada; e que a linha no gráfico, tendo subido mais alto que o mais alto ponto atingido na antiguidade, estava destinada a mover para cima para sempre e sempre. Esta extravagante fantasia infantil, para ser certo, não se impôs nas melhores mentes do século (por exemplo, Buckhardt), mas como um vinho inebriante, intoxicou muitos escritores (por exemplo, Herbert Spencer) que passaram por sérios pensadores no dia deles. E serviu para sugerir às mentes reflexivas a questão se era ou não um destino inerente na natureza dos próprios processos históricos como distintos da sabedoria ou insensatez das decisões feitas pelo homem.

            Frente ao fim do século, profundas apreensões do porvir que poderiam não mais ser reprimidas encontraram expressão em trabalhos tais como La civilisation et ses lois de Theodore Funck-Brentano, The Law of Civilization and Decay de Brook Adams, e The Degradation of Democratic Dogma de Henry Adams. Ninguém pensou de duvidar da supremacia do Ocidente ou sua perpetuidade, mas os homens começaram a pensar reflexivamente se a civilização não estava caindo para um nível inferior. E para encontrar uma resposta, eles buscaram estabelecer uma “ciência da história” – o que agora é chamado historionomia em inglês e metahistória em francês – a qual averiguaria as leis naturais que governam o desenvolvimento da civilização.

            Na véspera da Primeira Guerra Mundial, umas poucas mentes dignas de atenção, prescientes da vinda da catástrofe, formularam a questão histórica em termos mais drásticos e fundamentais: Era a civilização do Ocidente mortal e já estava ficando velha? Iria um viajante de algum futuro e alienígena civilização meditar entre as ruínas empoeiradas de Nova Iorque e Londres e Paris como Volney tinha meditado entre as ruínas da Babilônia, Baalbec, e Persépolis – e talvez, como Volney, acalmar-se ele próprio com ilusões de que sua civilização poderia resistir, embora todos seus predecessores tinham deixado apenas montões de pedras quebradas para atestar que eles tinham existido uma vez.

   

Poder no mundo

            Nós devemos compreender que a ameaçadora severa questão assim posada era naquele tempo, e permanece mesmo hoje, inteiramente uma questão de decadência interna – de uma doença ou debilidade da mente e vontade ocidentais. Não era então, e não tinha ainda se tornado uma questão de força relativa ao resto do mundo. O poder das nações do Ocidente era, e é, simplesmente esmagador.

            Em 1914, os homens debatiam se a Rússia era ou não parte do mundo ocidental. Assumindo que não era, era óbvio que havia somente duas nações não-ocidentais na terra que possuíam a capacidade militar e industrial de oferecer séria resistência para mesmo uma noção de médio tamanho do Ocidente. E nem Rússia nem Japão poderiam ter esperado derrotar uma potência maior ocidental, exceto formando uma aliança com outro poder maior da Europa ou América. E a despeito de todos os esforços do Ocidente para destruir ele próprio em guerras fratricidas e ao exportar sua tecnologia e sua riqueza para outros povos, que permanece em grande parte verdadeiro até hoje.

            A retirada do Ocidente tem sido auto-imposta, e nós não devemos permitir que os guinchos de “liberais” distraiam nossa atenção daquele óbvio e fundamental fato. A Grã-Bretanha, por exemplo, estava em nenhum sentido compelido a desistir da Índia como colônia. Durante o grande motim indiano de 1857, cinquenta mil soldados britânicos abriram seu caminho através do inteiro subcontinente indiano, e em pouco mais que um ano reduziu à completa submissão sua população de mais de cem milhões. E isto, nota bene, foi feito em um tempo quando a única arma básica de guerra era o rifle, de modo que um homem com um rifle num lado correspondia igualmente a um homem com rifle no outro lado, exceto tanto quanto a disciplina e inteligência individual pode fazer alguma diferença no uso da arma comum e universalmente obtida. Em 1946, a Grã-Bretanha, com todas as armas que são por sua própria natureza um monopólio das grandes nações, poderia ter extinguido num sopro em umas poucas semanas a mais formidável revolta que Nehru e sua gangue poderiam concebivelmente ter instigado e organizado.

            O poder ainda é nosso. A maior parte do globo repousa aberta para nossa tomada, se nós como uma nação resolvermos tomá-la. A despeito de todos esforços frenéticos em Washington para sabotar os Estados Unidos pelos passados trinta anos, e está ainda além da dúvida que se nós tivéssemos então em mente, nós poderíamos, por exemplo, simplesmente tomar o inteiro continente da África, exterminar a população nativa; e fazer a vasta e rica área uma nova fronteira para a expansão de nosso próprio povo. Nenhum poder na terra – certamente nem o Soviete que nós temos tão diligentemente nutrido e construído com nossos recursos – ousaria se opor a nós. Para ser certo, há boas razões para não anexar a África, mas se nós estamos a pensar claramente sobre nosso lugar no mundo, nós devemos compreender que a carência de poder não é um deles.

            Que o mundo ocidental, com seu monopólio virtual dos instrumentos de poder, deveria se encolher servilmente perante as horas pelas quais sentiu somente desprezo quando era menos forte do que é agora, é uma prova óbvia que nossa civilização está sofrendo de alguma doença fatal ou decadência que tem nos privado – temporariamente ou permanentemente – da inteligência e da vontade de viver. Toda filosofia da história, ou, se você preferir, todo sistema de historionomia, é simplesmente um esforço para diagnosticar nossa doença de que padecemos – para dizer-nos, em efeito, se a debilidade e enervação do Ocidente é o resultado de uma doença curável ou de uma deterioração irreversível.

 

Compreensão histórica

            As questões sociais e políticas de nosso dia são primariamente problemas históricos. Para pensar sobre elas racionalmente, nós devemos começar por consultar o registro da experiência humana no passado. E nós logo percebemos que se somente soubéssemos suficiente sobre história – e a entendêssemos – nós teríamos as respostas para todas nossas questões.

            Eventos únicos são sempre incompreensíveis. E cada mudança é única até que ela tem sido repetida com suficiente frequência para ser reconhecida como formando parte de algum padrão inteligível. Nós não poderíamos identificar mesmo uma sensação tão simples em nossos corpos como fome, se não a experimentássemos mil vezes e observado que uma boa refeição invariavelmente a abolia – por enquanto.

            Nenhum homem vive o suficiente para ver com seus próprios olhos um padrão de mudança na sociedade. Ele é como o mosquito que nasce à tarde e morre ao pôr-do-sol, e que, portanto, não importa o quão inteligente ele possa ser, nunca poderá descobrir, ou mesmo suspeitar, que o dia e noite vêm em regular alternância. Diferente do mosquito, contudo, o homem pode consultar a experiência das comparativamente poucas gerações de suas espécies que têm lhe precedido durante o comparativamente breve período de cerca de cinco mil anos no qual os seres humanos têm tido o poder de deixar registros para a instrução da posteridade deles.

            Isto, infelizmente, não é suficiente história para dar respostas positivas e indubitáveis para muitas de nossas questões – mas é tudo o que nós temos. O historiador hoje está frequentemente na posição dos filósofos gregos que tentaram decidir se o sistema solar era geocêntrico ou heliocêntrico, e poderia não alcançar uma definitiva conclusão simplesmente porque não há disponível no mundo um registro de observações suficientemente exatas registradas sobre um período de tempo suficientemente longo.

O historiador moderno que tenta explanar a ascensão e queda das civilizações pode possivelmente encontrar a explanação certa, mas se o faz – e se ele é realmente um historiador – ele sabe que, no melhor, ele está na posição de Aristarco, quem primeiro sistematizou e formulou a teoria heliocêntrica, e quem primeiro tinha sabido que a teoria poderia não ser provada durante seu próprio tempo de vida ou por muitos anos a vir. (Ou seja, não até que a paralaxe {cálculo utilizado para medir a distância das estrelas utilizando o movimento da Terra em sua órbita} anual de ao menos uma estrela fixa tenha sido determinada. Isto foi realizado pela primeira vez por Bessel em 1838 – três séculos após Copérnico.) O que Aristarco não podia prever, naturalmente, era que o nível de civilização iria flutuar tanto que levaria vinte e um séculos antes que o homem pudesse ter certeza de que ele tinha estado certo.

            O historiador, embora ciente que sua hipótese deva permanecer uma hipótese em seu tempo, pode extrair uma analogia em termos de uma certeza histórica. Quando a humanidade civilizada perdeu interesse no problema que Aristarco tentou resolver com sua teoria não verificável, ela estava encabeçando rumo a uma Idade das Trevas na qual o homem esqueceu os fatos que tinham sido averiguados – uma época tão estultificada que os homens esqueceram que eles tinham uma vez sabido que a terra era um globo, e então tiveram uma recaída para a primitiva noção que ela era plana.

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander

 


Este ensaio foi publicado no The Journal of Historical Review, setembro-outubro. 1994 (Vol. 14, n° 5), páginas 23-27. É de um texto mais extenso, publicado pela primeira vez em 1963, que foi reimpresso na antologia America’s Decline: The Education of a Conservative (1982), páginas 182-183, 187-189, 190-191 e 212-213.

http://ihr.org/other/HistoryHistoriansOliver

 

Sobre o autor: Revilo P. Oliver (1910-1994) foi um estudioso americano de estatura internacional, ensinou Clássicos na Universidade de Illinois por 32 anos. Ele conhecia doze idiomas e escreveu artigos em quatro deles para publicações acadêmicas nos EUA e na Europa. Oliver obteve seu doutorado na Universidade de Illinois em 1940 e, em 1947, iniciou sua carreira de professor no departamento de Clássicos de lá. Durante o início da década de 1950 ele era tanto um membro da Guggenheim como da Fulbright.

Uma estilista brilhante e meticulosa, a escrita de Oliver pode ser elegante e erudita ou sarcástica e cortante. Entre 1955 e 1959, ele colaborou com frequência na National Review de William Buckley. Ele ajudou a organizar a sociedade anticomunista John Birch e por alguns anos serviu como membro do seu Conselho Nacional. Oliver foi um colaborador frequente do American Opinion, principal periódico da sociedade até 1966, quando renunciou após um desacordo político com o fundador Robert Welch.

            Ele era amigo e apoiador do Institute for Historical Review. De 1980 até sua morte, ele foi membro do Comitê Consultivo Editorial do Journal of Historical Review. 

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