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Christopher Hedges |
Eu testemunhei na capital do estado de Nova Jersey, em
Trenton, na semana passada, contra o Projeto de Lei A3558, que adotaria a
definição de antissemitismo da Aliança Internacional para a Memória do
Holocausto (IHRA), que confunde antissionismo com antissemitismo.
“Este
é um ataque perigoso à liberdade de expressão, ao buscar criminalizar críticas
legítimas às políticas israelenses”, eu disse. “A campanha do governo Trump
para supostamente erradicar o antissemitismo nos campus universitários é
claramente um tropo para cercear a liberdade de expressão e deportar estrangeiros,
mesmo que estejam aqui legalmente. Este projeto de lei confunde falsamente
etnia com um Estado político. E sejamos claros, o peso da repressão nos campus
universitários é direcionado contra estudantes e professores que se opõem ao
genocídio em Gaza, 3.000 dos quais foram presos e centenas foram censurados,
suspensos ou expulsos. Muitos desses estudantes são judeus. E quanto aos seus
direitos? E quanto às suas proteções constitucionais?”
“Eu
tive inúmeros relacionamentos com jornalistas e líderes políticos israelenses”,
eu continuei. “Eu conheci, por exemplo, o ex-primeiro-ministro israelense
Yitzhak Rabin, que negociou o acordo de paz de Oslo. Rabin foi assassinado em
1995 por um ultranacionalista israelense que se opunha ao acordo de paz. Rabin
afirmou sem rodeios, em diversas ocasiões, que a ocupação era prejudicial a
Israel. Colegas israelenses frequentemente criticam as políticas israelenses na
imprensa israelense em linguagem que seria definida como antissemita por este
projeto de lei.”
“Por
exemplo”, eu continuei, “o jornalista israelense Gideon Levy, que serviu no
exército israelense e escreve para o jornal Haaretz,
pediu que sanções fossem impostas a Israel para impedir o massacre em Gaza,
dizendo ‘Façam a Israel o que fizeram à África do Sul’”.
“Omer
Bartov, que serviu como comandante de companhia israelense na guerra de 1973, é
professor de Estudos do Holocausto e Genocídio na Universidade Brown”, eu
disse. “Ele declarou em um artigo de 15 de julho no The New York Times que sua ‘conclusão inescapável se tornou a de
que Israel está cometendo genocídio contra o povo palestino’.”
“Esse
tipo de declaração, e muitas outras mais que eu posso citar de colegas e amigos
israelenses, os tornaria criminalizados como antissemitas por este projeto de
lei”, eu acrescentei.
O
presidente da comissão, Robert Karabinchak, um democrata, silenciou meu
microfone, bateu com o martelo para que eu parasse e permitiu que grupos de
sionistas, que assediavam e insultavam abertamente os muçulmanos na sala,
zombassem de mim e me calassem.
Lá
estava eu, argumentando que este projeto de lei restringiria minha liberdade de
expressão, ao mesmo tempo em que me era negada a liberdade de expressão.
Você
pode ver meu depoimento completo aqui.
Essa
dissonância cognitiva define os Estados Unidos e Israel.
O
presidente do comitê também silenciou Raz Segal, historiador israelense e
estudioso do genocídio e, em um gesto especialmente insensível, repreendeu
Mehdi Rabee, cujo irmão de 14 anos, Amer, foi morto por soldados israelenses em
abril de 2025.
“Meu
irmão de 14 anos, que era de Saddlebrook, Nova Jersey, foi assassinado pelas
Forças de Defesa de Israel (IDF)”, disse Mehdi, com a voz trêmula de emoção, ao
comitê. “Tudo o que ele estava fazendo era colher azeitonas de uma oliveira com
os amigos, o que fazemos como palestinos há milhares de anos. Meu irmão, que
nunca mais verei, meu irmão, que meus pais nunca verão se formar no ensino
médio ou na faculdade. A deputada Swain, meu pai e o Centro Comunitário
Palestino-Americano tentaram entrar em contato com vocês repetidamente. E tudo
o que nos foi respondido foi silêncio. Dado o silêncio de vocês, vocês não
deveriam ter o direito de sequer considerar votar neste projeto de lei até se
reunirem com minha família, que está sob o seu distrito.”
“Vou
pedir que vocês se atenham ao projeto de lei”, interrompeu Karabinchak.
“Este
projeto de lei põe em risco meu direito garantido pela Primeira Emenda de
criticar Israel pelo que fizeram ao meu irmão”, continuou. “Tenho o direito de
chamar Israel do que eu quiser. Quando suas políticas espelham as dos nazistas,
tenho o direito de chamá-lo como ele é. Peço que votem ‘não’ em memória do meu
irmão.”
Você
pode ver a declaração de Mehdi aqui.
Karabinchak,
irritado com o fato de seus apoiadores terem aplaudido Rabee de pé, reduziu
todos os depoimentos críticos ao projeto de lei de três minutos para um minuto.
“O
tempo se reduziu a um minuto”, disse ele à plateia de cerca de 400 pessoas no
comitê e em quatro salas de apoio. “Vou pedir a todos que falem agora. Quem
quiser falar, vai dizer ‘Eu me oponho ao projeto de lei’ ou ‘Eu apoio o projeto
de lei’.”
Ele
fez uma pausa.
“Vamos
bater mais palmas”, disse ele, com a voz carregada de sarcasmo. “Vamos ficar
felizes agora, certo? Eu não expulsei vocês como disse que faria. Então agora
vocês acabaram de sufocar as outras pessoas que têm o direito de falar. Foi
isso que vocês fizeram! Entendam o que vocês fizeram! Certo? Um minuto. Um
minuto. É isso. E eu não vou ser gentil e dizer ‘vamos encerrar o assunto’. Eu vou desligar o microfone.”
Nosso
pecado foi ousar mencionar o inominável – o genocídio em Gaza.
Os
sionistas presentes na sala agrediram verbal e fisicamente os muçulmanos que se
opuseram ao projeto de lei. Um sionista se jogou repetidamente contra os corpos
daqueles que estavam do lado de fora da capital do estado, realizando uma
manifestação contra o projeto.
Você
pode ver o assédio dele aqui.
Amy Gallatin, que faz
parte da Comissão de Relações Humanas de West Orange, “criada por decreto
municipal em 1992 com o objetivo de criar e promover valores de diversidade,
equidade e inclusão entre grupos da comunidade”, exibiu fotos em seu iPad em
uma das salas de convivência e disse aos que estavam sentados ao seu redor: “Olha,
é Maomé!”.
Você
pode ver seu discurso de ódio islamofóbico aqui.
Quando
o Rabino Yitzchok Deutsch fez um apelo emocionado para salvar o povo de Gaza,
Lisa Swain, do Distrito 38, e o Deputado Avi Schnall, do Distrito 30, ambos
democratas, riram e riram enquanto ele falava.
Você
pode ver as reações deles ao Rabino Deutsch aqui.
Os
sionistas, que pintaram imagens escabrosas de judeus vivendo sob assédio e
temendo por suas vidas, e do nazismo supostamente descontrolado nas ruas de
Nova Jersey, não se calaram, embora suas declarações fossem hiperbólicas ao
extremo e, muitas vezes, produto de imaginações hiperativas. Eles salivaram
abertamente com a aprovação do projeto de lei, que, segundo eles, daria às
autoridades policiais as ferramentas para criminalizar aqueles que praticam
discurso de ódio, o que, se você ler os “exemplos contemporâneos de
antissemitismo” que acompanham a IHRA, inclui discursos que criticam as
políticas israelenses.
A
IHRA foi adotada por 35 estados, pelo Distrito de Columbia e por universidades
como Harvard e Columbia.
“A
definição prática de antissemitismo da IHRA inclui críticas protegidas a Israel
e suas políticas”, escreve a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU).
“Por exemplo, a definição declara que ‘negar ao povo judeu seu direito à
autodeterminação, por exemplo, alegando que a existência de um Estado de Israel
é uma iniciativa racista’, ‘fazer comparações da política israelense
contemporânea com a dos nazistas’ e ‘aplicar padrões duplos ao exigir de
[Israel] um comportamento não esperado ou exigido de nenhuma outra nação
democrática’ são todos exemplos de antissemitismo.”
“Se
o Departamento de Educação adotasse essa definição e investigasse as
universidades por queixas relacionadas ao Título VI baseadas nela, os
administradores de faculdades e universidades provavelmente silenciariam uma
série de discursos protegidos, incluindo críticas ao tratamento dado pelo
governo israelense aos palestinos, analogias que comparassem as políticas
israelenses às da Alemanha nazista ou o compartilhamento de crenças divergentes
sobre o direito a um Estado judeu”, continua a ACLU. “As pessoas podem
discordar sobre se tal discurso é antissemita, mas esse debate é irrelevante
para a Primeira Emenda, que proíbe o governo de censurar ou penalizar discursos
políticos em seu cerne.”
O
procurador-geral dos EUA, Kenneth S. Stern — sionista declarado e principal
redator do que se tornou a definição de antissemitismo da IHRA — lamenta que a
IHRA tenha sido “grosseiramente abusada” para “restringir a liberdade acadêmica
e punir o discurso político”, incluindo “o discurso pró-palestino.”
Os
cinco membros do comitê, que claramente já haviam se decidido antes de entrarem
na sala de audiências lotada, aprovaram por unanimidade a medida, que será
levada ao plenário da Assembleia Estadual para votação. Eles, como todos os
políticos que se curvam aos ditames do lobby israelense, sem dúvida, serão
compensados por sua perfídia.
A
América, assim como Israel, existem em uma realidade paralela. Negam a
realidade nua e crua do genocídio transmitido ao vivo. Caluniam qualquer
pessoa, incluindo estudiosos israelenses do Holocausto, como o Professor Segal,
como antissemitas.
Eu
sei , infelizmente, para onde isto vai. Eu tstemunhei isso nas muitas ditaduras
que eu cobri como correspondente estrangeiro por duas décadas na América
Latina, Oriente Médio, África e Bálcãs. Aqueles de nós que lutamos por uma
sociedade aberta somos silenciados, atacados como traidores e criminosos. Somos
colocados em listas negras, censurados e, às vezes, presos. Se conseguirmos escapar
a tempo, somos forçados ao exílio. À medida que somos silenciados, os
bajuladores, os vigaristas, os fascistas cristãos, os bilionários, os sionistas
e os bandidos, elevados aos mais altos cargos do governo federal pela Casa
Branca de Trump, são recompensados com poder absoluto, luxo e devassidão.
Nossa
classe dominante, contratada por corporações, não tem uma ideologia política
genuína. Os partidos políticos são uma farsa, uma espécie de entretenimento
para seduzir a população em nossa falsa democracia. O liberalismo, e os valores
que ele alega representar, é uma força esgotada e falida.
A
farsa na sala do comitê em Trenton foi outro lembrete deprimente de que há
pouca coisa agora que possa deter nosso caminho rumo a um Estado autoritário:
nem a imprensa, nem as universidades, nem os tribunais, que não conseguem fazer
cumprir as poucas decisões de juízes corajosos, nem a classe política,
incluindo o Partido Democrata, nem o processo eleitoral.
Nós
devemos resistir, mesmo que seja apenas para afirmar nossa integridade e
dignidade, mesmo que seja apenas para nos solidarizarmos com os oprimidos,
mesmo que seja apenas para retardar a consolidação da tirania, mesmo que seja
apenas para nos deleitarmos com as pequenas vitórias de Pirro que a
resistência, por si só, torna possíveis.
Mas
nós não devemos ser enganados.
Tradução
e palavras entre chaves por Mykel Alexander
Fonte: Abolishing the
First Amendment, por Christopher Hedges, 29 de julho de 2025, The Unz Review
– An alternative media selection.
https://www.unz.com/article/abolishing-the-first-amendment/
Sobre o autor:
Christopher Hedges (1956) é um jornalista americano. Hedges recebeu seu diploma
de Bacharel em Inglês pela Colgate em 1979. Ele obteve pós-graduação na
Divinity School da Universidade de Harvard, em clássicos e grego clássico.
Hedges esteve no decorrer do tempo presente em atividades seminaristas na
Igreja Católica e esportivas. Na Universidade de Harvard durante 1998-1999
escolheu estudar latim por causa de seu interesse anterior nos clássicos ao
estudar grego clássico.
Conforme seu interesse
em jornalismo cresceu, influenciado pelo trabalho de George Orwell, adentrou na
carreira de jornalista, cobrindo a Guerra das Malvinas a partir de de Buenos
Aires. De 1983 a 1984, cobriu os conflitos em El Salvador, Nicarágua e
Guatemala para o The Christian Science Monitor e NPR (National
Public Radio). Entre 1984-1988 foi chefe da seção de cobertura da América
Central pelo Dallas Morning News. Em 1988 priorizou o estudo do
árabe. Ele foi nomeado chefe do escritório do Oriente Médio do The
Dallas Morning News em 1989. Pelo The New York Times cobriu
a Primeira Guerra do Golfo, onde suas reportagens atraíram hostilidades tanto
de setores militares dos EUA como do Iraque, passando a ser chefe do setor do
Oriente Médio por este jornal. Em 1995, Hedges foi nomeado chefe da cobertura
dos Balcãs do The New York Times, cobrindo as guerras da Iugoslávia
(1995-2000). Posteriormente continuou seu trabalho cobrindo eventos relacionado
ao Oriente Médio, 11 de setembro e organizações extremistas. Por emitir
posições contrárias à política externa americana no Iraque e também neste tema
opinião contrária ao editorial do The New York Times, em 2005 ele
se retirou do jornal. Entre 2006-2020 foi colunista do portal Truthdig.
Entre 2016-2022 Hedges começou a apresentar o programa de televisão On
Contact para a rede RT America, de propriedade do governo russo, a
qual foi encerrada após a invasão russa de 2022 (Hedges registrou que a rede
russa não o censurou sobre sua reprovação da invasã russa, como o The
New York Times o censurou sobre sua reprovação da posição americana
frente ao Iraque). A partir de abril de 2022 na The Real News Network ele
produz a série The Chris Hedges Report.
Em 2011 foi preso por ativismo no movimento Occupy Wall Street contra a casa
bancária judaica Goldman Sachs.
Escreveu os livros: War Is a Force That Gives
Us Meaning (2002); What Every Person Should Know About War (2003); Losing
Moses on the Freeway: The 10 Commandments in America (2005); American
Fascists: The Christian Right and the War on America (2007); I
Don't Believe in Atheists (2008); Collateral Damage: America's
War Against Iraqi Civilians, com Laila Al-Arian (2008); When
Atheism Becomes Religion: America's New Fundamentalists (2009), um
novo título para I Don't Believe in Atheists; Empire of
Illusion: The End of Literacy and the Triumph of Spectacle (2009); Death
of the Liberal Class (2010); The World As It Is: Dispatches
on the Myth of Human Progress (2010); Days of Destruction,
Days of Revolt, com Joe Sacco (2012); Wages of Rebellion: The Moral
Imperative of Revolt (2015); Unspeakable (2016); America:
The Farewell Tour (2018); Our Class: Trauma and Transformation
in an American Prison (2021); The Greatest Evil is War (2022).
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Relacionado, leia também:
Táticas do Lobby Judaico na Supressão da Liberdade de Expressão - por Tony Martin
Sobre o revisionismo em geral e o revisionismo do alegado Holocausto ver:
Uma breve introdução ao revisionismo do Holocausto - por Arthur R. Butz
{Retrospectiva Revisionismo em ação na História} – Definindo evidência - por Germar Rudolf
Por que o revisionismo do Holocausto? - por Theodore J. O'Keefe
Revisionismo e Promoção da Paz - parte 1 - por Harry Elmer Barnes
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