terça-feira, 17 de agosto de 2021

Sionismo - por Richard James Horatio Gottheil (Jewish Encyclopedia) - parte 4

 Continuação de Sionismo - por Richard James Horatio Gottheil (Jewish Encyclopedia) - parte 3

Richard James Horatio Gottheil


A influência do antissemitismo

            A segunda influência trabalhando para produzir o moderno movimento sionista foi o aumento e extensão do antissemitismo. Os judeus tinham imaginado que com a emancipação política deles {conquistada na maior parte a partir da chamada Revolução Francesa}, e, com a destruição das muralhas dos antigos guetos, sua entrada no comitê das nações, a completa subsidência do antigo “odium judaicum” iria ocorrer. Nisso eles estavam tristemente desapontados. Liberdade política não deu a eles igualdade social; e um novo levantar do sentimento nacionalista virou ferozmente contra eles. No exato momento quando o sentimento do próprio nacionalismo deles tinha sido levantado, e quando o trabalho de colonização na Palestina tinha enviado um fervor de emoções para as massas judaicas, o movimento antissemita cresceu intensamente. Desde 1881 ele prosseguiu sua marcha vitoriosa através da Europa. A força do movimento na Europa oriental foi a princípio subestimada na esperança que isso cederia perante o avanço da cultura e educação {apenas no sentido pregado, em geral, pela Revolução Francesa} naqueles países. Esta esperança foi condenada a falhar; e quando Estados como Alemanha, Áustria, e França juntaram-se nisso ativamente, com a cooperação mais ou menos ostensiva dos governos de então, uma reação entre os judeus foi compelida compulsoriamente a assumir uma posição. A maior parte dos últimos {ou seja, dos judeus}, na verdade, continuavam esperando que o fenômeno era nada que não fosse passageiro; mas um pequeno grupo na Europa ocidental e na América procuraram suas causas em fontes que eram mais profundas que um capricho passageiro. Eles pensaram encontrar nisso a impossibilidade sentida por vários povos para assimilar os judeus e ao mesmo tempo permitir a eles um meio de liberdade individual e coletiva na qual os judeus consideraram necessário para a preservação do caráter individual deles. Em adição, eles têm testemunhado os resultados das tentativas feitas por muitos dos irmãos deles de satisfazer plenamente as exigências do mundo exterior. A consequência tinha sido a quase completa conversão para o cristianismo de muitas das principais famílias na época de {Moses} Mendelssohn, e o afrouxamento dos laços que mantinham os judeus juntos, o que significava, se continuado, a absorção dos judeus na população e o desaparecimento do judaísmo como uma fé distinta. Para adequadamente encontrar o antissemitismo as grandes comunidades judaicas, contentando-se elas mesmas com uma tentativa de afastar os golpes enquanto elas caiam sucessivamente, ofereceram, em geral, uma resistência passiva, para a qual muitos cristãos nobres de ideias contribuíram nas sociedades alemã e austríaca para repelir o antissemitismo (ver Verein zur abwehr des Anti-Semitismus). Por outro lado, o pequeno grupo acima mencionado assumiu uma atitude mais positiva, e encontrou a resposta para o antissemitismo militante em um retorno ao que eles consideravam a base da vida judaica – a ideia de uma existência nacional continuada dos judeus como um povo. Esta corrente entre os judeus da cultura ocidental moderna combinada com outras duas correntes, a do renascimento nacional judaico e a da colonização filantrópica da Palestina, para formar o moderno movimento sionista.

 

O “Judenstaat” de Herzl

            Foi nessa época que Theodor Herzl, cismado sobre o forte levantar do antissemitismo em sua própria Áustria e em Paris, na qual ele estava então vivendo, escreveu seu “Judenstaat”. De acordo com sua própria declaração, o livro foi concebido e escrito durante seus últimos dois meses de estadia em Paris no ano de 1895, como expressão privada de sua opinião, e para ser mostrado somente para um pequeno círculo de amigos. Um destes amigos, depois de ler o panfleto, declarou que seu autor tinha uma mente não-saudável. Qualquer agitação ou discussão dos princípios colocados no livro estavam longe do propósito de Herzl. Foi apenas na primavera de 1896 que “Judenstaat” foi publicada em Viena. Traduções dele foram logo feitas em francês, inglês, e hebraico; e o original em alemão tem agora (1905) alcançado cinco edições (ver também “Theodor Herzl’s Zionistische Schriften,” Berlim, 1905). As teorias aqui estabelecidas e as proposições feitas para a realização delas podem ser resumidas na seguinte declaração:

            “Começando com o fato de que o antissemitismo é uma ameaça crescente tanto paras os judeus e para o mundo e é não erradicável, e que os judeus são um povo que não é permitido fundir-se na vida social ao redor deles, que a verdadeira assimilação é possível somente por meios de casamentos mistos, ele chega à conclusão que é necessário para os judeus, se eles desejam preservar eles mesmos, ter como deles próprios alguma porção do globo grande o suficiente  para eles se reunirem lá e construir um lar definitivo. Para a realização deste tema ele sugere a formação de uma “Society of Jews” {inegavelmente, e mais uma vez, corroborando o judaísmo como um agente internacional}, a qual irá assumir o preliminar trabalho científico e político, e de uma “Jewish Company”, similar as grandes empresas de comércio inglesas e francesas, com um capital de £ 50,000,000 e tendo seu centro em Londres. A Companhia teria de desenvolver o trabalho preparado pela Society of Jews, e organizar a nova comunidade. Enquanto que para um possível território para tal reunião Herzl sugeriu ou Argentina ou Palestina; a chegada deveria ser não por infiltração, mas por organizada imigração; e se a Palestina era para ser escolhida, os santuários de outras fés religiosas eram para ser extraterritoriais. Será visto que sanções religiosas, as quais tinham sido a mola principal da esperança do judaísmo ortodoxo na restauração, eram inteiramente desejadas. O problema foi atacado simplesmente a partir de seus lados políticos e econômicos. No curso do tempo, e conforme Herzl entrou em contato mais íntimo com seus irmãos que ele tinha estado antes, ele começou reconhecer os valores da sanção religiosa, na medida que uma larga seção do povo judaico estava envolvida, e ver que a consciência nacional estava vinculada indissoluvelmente à Palestina. A separação absoluta, todavia, da Igreja e do Estado permanecia uma das ideias fundamentais do projeto; os acordos entre o governo otomano e os judeus eram para estar em uma carta concedida posteriormente sobre bases puramente políticas e mercantis.

 

Recepção de Herzl em Londres

            Foi em grande parte através da instrumentalidade de Israel Zangwill que Herzl foi induzido a apresentar seu projeto publicamente para o mundo judaico. Ele foi recebido pelos macabeus {Maccabæans em inglês, era uma associação judaica da Inglaterra que reunia importantes judeus com o foco nos interesses judaicos} em Londres em 24 de novembro de 1895. Em uma carta preliminar para o “Jewish Chronicle” (17 de janeiro de 1896) ele estabeleceu as principais características de seu plano; e em 6 de julho, de 1896, ele estava apto a apresentar o projeto em pessoa para os macabeus. Embora seu “Judenstaat” tinha sido traduzido (por Sylvie d’Avigdor) para o inglês, e a despeito da publicidade dada e ele em sua aparição em Londres, os judeus na Inglaterra, e mesmo os velhos Chovenei Zion, recusaram-se a aprovar a nova expressão dada à velha esperança. No continente, todavia, homens como Max Nordau e Alexander Marmorek em Paris, Dr. Max Bodenheimer em Colônia, Professor M. Mandelstamm em Kiev, e um número de outros intelectuais vieram em seu apoio.

            Todavia por mais que Herzl tinha desejado permanecer em sua carreira puramente literária como folhetista, dramaturgo e jornalista, as circunstâncias provaram-se demasiada forte. Ele tinha tocado no cerne da questão judaica como muito de seus irmãos viram isso, e alcançou o coração do povo judaico. A onda de entusiasmo gradualmente empurrou ele a frente e trouxe-o alto sobre sua crista. A primeira assumir o “Judenstaat” como um programa realizável foi a Sociedade de Sião de Viena. Vários milhares de nomes estavam subscritos num texto enviado pelos doutores M. T. Schuirer e Oser Kokesch convocando a formação da “Society of Jews” para ser fundada em julho de 1896 em Londres; e uma carta de adesão para os princípios de Herzl foi encaminhada no mês de maio para Herzl pelos representantes acima mencionados como,  representando a sociedade deles. De acordo com Lucien Wolf (“Encyclopedia Britanica”, vocábulo “Zionism”) o Sultão da Turquia, tendo ouvido sobre a publicação de Herzl, enviou um mensageiro privado, O Cavaleiro de Newlinsky, em maio de 1896, com uma oferta da Palestina para os judeus se eles usassem a influência deles para parar a agitação consequente sobre os massacres armênios. A oferta foi recusada.

            O chamado de Herzl para o Primeiro Congresso Sionista, o qual deveria ter sido realizado em Munique em 1898, trouxe o assunto inteiro proeminente e forçosamente perante o público judeu. Em alguns núcleos se supôs que o encontro era para tratar dos assuntos judaicos em geral, e não especificamente o sionismo (Bambus, em “Allg. Zeit., des jud.” 23 de abril de 1897) um equívoco o qual poderia possivelmente não ser devido aos que emitiram a convocação. Mas equívocos estavam aptos a ocorrer, desde que o sentimento corria alto tanto na parte que favorecia como na parte que se opunha a proposição sionista. Pode ser dito que no início que o povo judaico não respondeu ao chamado do Dr. Herzl conforme ele e seus seguidores tinham esperado. Somente em certos núcleos ocorreu de reunir judeus que tinham estado em alguma medida preparados para sua vinda. Aqueles que tinham sido afetados pela ideia nacional judaica naturalmente olharam para ele como seu porta-estandarte. As massas judaicas, gemendo sobre a opressão na Europa oriental, viram ele como o possível salvador delas; e aqueles entre os que tinham escapado para a Europa ocidental e América não foram lentos em seguir o exemplo de seus irmãos deixados para trás. Em adição a estes um comparativamente menor número de intelectuais veio ao auxílio de Herzl. Alguns foram levados a isso ou pelos resultados da discussão acadêmica das questões envolvidas, ou pelo sentimento despertado de aproximação para velhas cenas e pensamentos dos quais eles tinham se tornado estranhos. Outros em sua própria pessoa ou na dos que imediatamente se encontravam no entorno deles tinham sentido a picada do antissemitismo; enquanto um largo número foi atraído para novos movimentos a partir de um sentimento de compaixão benevolente pelos sofrimentos de seus mais infelizes irmãos.

Tradução e palavras entre chaves e grifos por Mykel Alexander


Continua...
 

Fonte: Richard Gottheil, Jewish Encyclopedia, volume 12, FUNK AND WAGNALLS COMPANY, Nova Iorque, 1905. Entrada ZIONISM.

Consulta de apoio na versão on-line: https://www.jewishencyclopedia.com/articles/15268-zionism#anchor4

Sobre o autor: Richard James Horatio Gottheil (1862 -1936) foi um judeu inglês, acadêmico (graduação na Columbia College em 1881, doutorado em Leipzig em 1886). Também foi rabino nos EUA. De 1898 a 1904, foi presidente da American Federation of Zionists e trabalhou com Stephen S. Wise e Jacob De Haas. Depois de 1904, ele foi vice-presidente da Sociedade Histórica Judaica Americana. Gottheil escreveu muitos artigos sobre questões orientais e judaicas para jornais e resenhas. Ele editou a Columbia University Oriental Series e Semitic Study Series. Depois de 1901, ele foi um dos editores da Jewish Encyclopedia. Ele escreveu o capítulo sobre sionismo que foi traduzido para o árabe e publicado por Najīb Al-Khūrī Naṣṣār em seu jornal Al-Karmil e também na forma de um livro em 1911.

            Entre suas obras estão The Syriac grammar of Mar Elia Zobha (1887) e Zionism (1914).

Fonte as informações sobre o autor: Wikipedia em inglês, consulta em 24 de julho de 2020:

 https://en.wikipedia.org/wiki/Richard_James_Horatio_Gottheil

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