Continuação de Sionismo - por Richard James Horatio Gottheil (Jewish Encyclopedia) - parte 3
Richard James Horatio Gottheil |
A
influência do antissemitismo
A segunda influência trabalhando para produzir o moderno
movimento sionista foi o aumento e extensão do antissemitismo. Os judeus tinham
imaginado que com a emancipação política deles {conquistada na maior parte a
partir da chamada Revolução Francesa}, e, com a destruição das muralhas dos
antigos guetos, sua entrada no comitê das nações, a completa subsidência do
antigo “odium judaicum” iria ocorrer.
Nisso eles estavam tristemente desapontados. Liberdade política não deu a eles
igualdade social; e um novo levantar do sentimento nacionalista virou
ferozmente contra eles. No exato momento quando o sentimento do próprio
nacionalismo deles tinha sido levantado, e quando o trabalho de colonização
na Palestina tinha enviado um fervor de emoções para as massas judaicas, o
movimento antissemita cresceu intensamente. Desde 1881 ele prosseguiu sua
marcha vitoriosa através da Europa. A força do movimento na Europa oriental foi
a princípio subestimada na esperança que isso cederia perante o avanço da
cultura e educação {apenas no sentido pregado, em geral, pela Revolução
Francesa} naqueles países. Esta esperança foi condenada a falhar; e quando
Estados como Alemanha, Áustria, e França juntaram-se nisso ativamente, com a
cooperação mais ou menos ostensiva dos governos de então, uma reação entre os
judeus foi compelida compulsoriamente a assumir uma posição. A maior parte dos
últimos {ou seja, dos judeus}, na verdade, continuavam esperando que o fenômeno
era nada que não fosse passageiro; mas um pequeno grupo na Europa ocidental
e na América procuraram suas causas em fontes que eram mais profundas que um
capricho passageiro. Eles pensaram encontrar nisso a impossibilidade sentida
por vários povos para assimilar os judeus e ao mesmo tempo permitir a eles um
meio de liberdade individual e coletiva na qual os judeus consideraram
necessário para a preservação do caráter individual deles. Em adição, eles têm
testemunhado os resultados das tentativas feitas por muitos dos irmãos deles de
satisfazer plenamente as exigências do mundo exterior. A consequência tinha
sido a quase completa conversão para o cristianismo de muitas das principais
famílias na época de {Moses} Mendelssohn, e o afrouxamento dos laços que
mantinham os judeus juntos, o que significava, se continuado, a absorção dos
judeus na população e o desaparecimento do judaísmo como uma fé distinta. Para
adequadamente encontrar o antissemitismo as grandes comunidades judaicas,
contentando-se elas mesmas com uma tentativa de afastar os golpes enquanto elas
caiam sucessivamente, ofereceram, em geral, uma resistência passiva, para a
qual muitos cristãos nobres de ideias contribuíram nas sociedades alemã e
austríaca para repelir o antissemitismo (ver Verein zur abwehr des Anti-Semitismus). Por outro lado, o pequeno
grupo acima mencionado assumiu uma atitude mais positiva, e encontrou a
resposta para o antissemitismo militante em um retorno ao que eles
consideravam a base da vida judaica – a ideia de uma existência nacional
continuada dos judeus como um povo. Esta corrente entre os judeus da
cultura ocidental moderna combinada com outras duas correntes, a do renascimento
nacional judaico e a da colonização filantrópica da Palestina, para
formar o moderno movimento sionista.
O
“Judenstaat” de Herzl
Foi nessa época que Theodor Herzl, cismado sobre o forte
levantar do antissemitismo em sua própria Áustria e em Paris, na qual ele
estava então vivendo, escreveu seu “Judenstaat”.
De acordo com sua própria declaração, o livro foi concebido e escrito durante
seus últimos dois meses de estadia em Paris no ano de 1895, como expressão
privada de sua opinião, e para ser mostrado somente para um pequeno círculo de
amigos. Um destes amigos, depois de ler o panfleto, declarou que seu autor
tinha uma mente não-saudável. Qualquer agitação ou discussão dos princípios
colocados no livro estavam longe do propósito de Herzl. Foi apenas na primavera
de 1896 que “Judenstaat” foi
publicada em Viena. Traduções dele foram logo feitas em francês, inglês, e
hebraico; e o original em alemão tem agora (1905) alcançado cinco edições (ver
também “Theodor Herzl’s Zionistische
Schriften,” Berlim, 1905). As teorias aqui estabelecidas e as proposições
feitas para a realização delas podem ser resumidas na seguinte declaração:
“Começando com o fato de que o antissemitismo é uma ameaça
crescente tanto paras os judeus e para o mundo e é não erradicável, e que os
judeus são um povo que não é permitido fundir-se na vida social ao redor deles,
que a verdadeira assimilação é possível somente por meios de casamentos mistos,
ele chega à conclusão que é necessário para os judeus, se eles desejam
preservar eles mesmos, ter como deles próprios alguma porção do globo grande o
suficiente para eles se reunirem lá e
construir um lar definitivo. Para a realização deste tema ele sugere a formação
de uma “Society of Jews”
{inegavelmente, e mais uma vez, corroborando o judaísmo como um agente
internacional}, a qual irá assumir o preliminar trabalho científico e político,
e de uma “Jewish Company”, similar as
grandes empresas de comércio inglesas e francesas, com um capital de £
50,000,000 e tendo seu centro em Londres. A Companhia teria de desenvolver o
trabalho preparado pela Society of Jews,
e organizar a nova comunidade. Enquanto que para um possível território para
tal reunião Herzl sugeriu ou Argentina ou Palestina; a chegada deveria ser não
por infiltração, mas por organizada imigração; e se a Palestina era para ser
escolhida, os santuários de outras fés religiosas eram para ser extraterritoriais.
Será visto que sanções religiosas, as quais tinham sido a mola principal da
esperança do judaísmo ortodoxo na restauração, eram inteiramente desejadas. O
problema foi atacado simplesmente a partir de seus lados políticos e
econômicos. No curso do tempo, e conforme Herzl entrou em contato mais íntimo
com seus irmãos que ele tinha estado antes, ele começou reconhecer os valores
da sanção religiosa, na medida que uma larga seção do povo judaico estava envolvida,
e ver que a consciência nacional estava vinculada indissoluvelmente à
Palestina. A separação absoluta, todavia, da Igreja e do Estado permanecia uma
das ideias fundamentais do projeto; os acordos entre o governo otomano e os
judeus eram para estar em uma carta concedida posteriormente sobre bases
puramente políticas e mercantis.
Recepção
de Herzl em Londres
Foi em grande parte através da instrumentalidade de
Israel Zangwill que Herzl foi induzido a apresentar seu projeto publicamente
para o mundo judaico. Ele foi recebido pelos macabeus {Maccabæans em inglês,
era uma associação judaica da Inglaterra que reunia importantes judeus com o
foco nos interesses judaicos} em Londres em 24 de novembro de 1895. Em uma
carta preliminar para o “Jewish Chronicle”
(17 de janeiro de 1896) ele estabeleceu as principais características de seu
plano; e em 6 de julho, de 1896, ele estava apto a apresentar o projeto em
pessoa para os macabeus. Embora seu “Judenstaat”
tinha sido traduzido (por Sylvie d’Avigdor) para o inglês, e a despeito da
publicidade dada e ele em sua aparição em Londres, os judeus na Inglaterra, e
mesmo os velhos Chovenei Zion,
recusaram-se a aprovar a nova expressão dada à velha esperança. No continente,
todavia, homens como Max Nordau e Alexander Marmorek em Paris, Dr. Max
Bodenheimer em Colônia, Professor M. Mandelstamm em Kiev, e um número de outros
intelectuais vieram em seu apoio.
Todavia por mais que Herzl tinha desejado permanecer em
sua carreira puramente literária como folhetista, dramaturgo e jornalista, as
circunstâncias provaram-se demasiada forte. Ele tinha tocado no cerne da
questão judaica como muito de seus irmãos viram isso, e alcançou o coração do
povo judaico. A onda de entusiasmo gradualmente empurrou ele a frente e trouxe-o
alto sobre sua crista. A primeira assumir o “Judenstaat” como um programa realizável foi a Sociedade de Sião de
Viena. Vários milhares de nomes estavam subscritos num texto enviado
pelos doutores M. T. Schuirer e Oser Kokesch convocando a formação da “Society of Jews” para ser fundada em
julho de 1896 em Londres; e uma carta de adesão para os princípios de Herzl
foi encaminhada no mês de maio para Herzl pelos representantes acima
mencionados como, representando a
sociedade deles. De acordo com Lucien Wolf (“Encyclopedia Britanica”, vocábulo “Zionism”) o Sultão da Turquia, tendo ouvido sobre a publicação de
Herzl, enviou um mensageiro privado, O Cavaleiro de Newlinsky, em maio de 1896,
com uma oferta da Palestina para os judeus se eles usassem a influência
deles para parar a agitação consequente sobre os massacres armênios. A
oferta foi recusada.
O chamado de Herzl para o Primeiro Congresso Sionista, o
qual deveria ter sido realizado em Munique em 1898, trouxe o assunto inteiro proeminente
e forçosamente perante o público judeu. Em alguns núcleos se supôs que o
encontro era para tratar dos assuntos judaicos em geral, e não especificamente
o sionismo (Bambus, em “Allg. Zeit., des
jud.” 23 de abril de 1897) um equívoco o qual poderia possivelmente não ser
devido aos que emitiram a convocação. Mas equívocos estavam aptos a ocorrer,
desde que o sentimento corria alto tanto na parte que favorecia como na parte
que se opunha a proposição sionista. Pode ser dito que no início que o povo
judaico não respondeu ao chamado do Dr. Herzl conforme ele e seus seguidores
tinham esperado. Somente em certos núcleos ocorreu de reunir judeus que tinham
estado em alguma medida preparados para sua vinda. Aqueles que tinham sido
afetados pela ideia nacional judaica naturalmente olharam para ele como seu
porta-estandarte. As massas judaicas, gemendo sobre a opressão na Europa
oriental, viram ele como o possível salvador delas; e aqueles entre os
que tinham escapado para a Europa ocidental e América não foram lentos em
seguir o exemplo de seus irmãos deixados para trás. Em adição a estes um
comparativamente menor número de intelectuais veio ao auxílio de Herzl. Alguns
foram levados a isso ou pelos resultados da discussão acadêmica das questões
envolvidas, ou pelo sentimento despertado de aproximação para velhas cenas e pensamentos
dos quais eles tinham se tornado estranhos. Outros em sua própria pessoa ou na
dos que imediatamente se encontravam no entorno deles tinham sentido a picada
do antissemitismo; enquanto um largo número foi atraído para novos movimentos a
partir de um sentimento de compaixão benevolente pelos sofrimentos de seus mais
infelizes irmãos.
Tradução e palavras entre chaves e grifos por Mykel Alexander
Fonte: Richard Gottheil, Jewish Encyclopedia, volume 12, FUNK AND WAGNALLS COMPANY, Nova Iorque, 1905. Entrada ZIONISM.
Consulta de apoio na versão on-line: https://www.jewishencyclopedia.com/articles/15268-zionism#anchor4
Sobre o autor: Richard James Horatio Gottheil (1862 -1936) foi um judeu inglês, acadêmico (graduação na Columbia College em 1881, doutorado em Leipzig em 1886). Também foi rabino nos EUA. De 1898 a 1904, foi presidente da American Federation of Zionists e trabalhou com Stephen S. Wise e Jacob De Haas. Depois de 1904, ele foi vice-presidente da Sociedade Histórica Judaica Americana. Gottheil escreveu muitos artigos sobre questões orientais e judaicas para jornais e resenhas. Ele editou a Columbia University Oriental Series e Semitic Study Series. Depois de 1901, ele foi um dos editores da Jewish Encyclopedia. Ele escreveu o capítulo sobre sionismo que foi traduzido para o árabe e publicado por Najīb Al-Khūrī Naṣṣār em seu jornal Al-Karmil e também na forma de um livro em 1911.
Entre suas obras estão The Syriac grammar of Mar Elia Zobha (1887) e Zionism (1914).
Fonte as informações sobre o autor: Wikipedia em inglês, consulta em 24 de julho de 2020:
https://en.wikipedia.org/wiki/Richard_James_Horatio_Gottheil
___________________________________________________________________________________
Relacionado, leia também:
Conversa direta sobre o sionismo - o que o nacionalismo judaico significa - Por Mark Weber
Judeus: Uma comunidade religiosa, um povo ou uma raça? por Mark Weber
Controvérsia de Sião - por Knud Bjeld Eriksen
Sionismo e judeus americanos - por Alfred M. Lilienthal
Por trás da Declaração de Balfour A penhora britânica da Grande Guerra ao Lord Rothschild - parte 1 - Por Robert John {as demais 5 partes seguem na sequência}
Raízes do Conflito Mundial Atual – Estratégias sionistas e a duplicidade Ocidental durante a Primeira Guerra Mundial – por Kerry Bolton
Por que querem destruir a Síria? - por Dr. Ghassan Nseir
Congresso Mundial Judaico: Bilionários, Oligarcas, e influenciadores - Por Alison Weir
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários serão publicados apenas quando se referirem ESPECIFICAMENTE AO CONTEÚDO do artigo.
Comentários anônimos podem não ser publicados ou não serem respondidos.