sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Sionismo - por Richard James Horatio Gottheil (Jewish Encyclopedia) - parte 3

 Continuação de Sionismo - por Richard James Horatio Gottheil (Jewish Encyclopedia) - parte 2

Richard James Horatio Gottheil


Moses Hess

 Entre os primeiros escritores que pleitearam pela repatriação da Palestina pelos judeus estavam David B. Dob Baer Gordon (1826-1886), Zebi Hirsch Kalischer (1795-1874), Elijah Guttmacher, Moses Hess, e o historiador Heinrich Graetz. Este movimento no curso do tempo assumiu o nome de Chovenei Zion. Gordon e Hess foram seus líderes intelectuais, o primeiro publicou no ano de 1871 em seu jornal “Há-Maggid” um número de artigos sobre a colonização da Palestina conforme as bases para a futura regeneração*f do judaísmo. Hess escreveu seu “Rom und Jeruslem” em 1862, livro que tem permanecido como uma das fundações dos trabalhos na literatura sionista; embora uma posterior edição do trabalho fora queimada por sua família, afim de livrar o mundo deste “escândalo” (“Die Welt”, II, nº 9, página 16). Ele confiantemente esperou pelo apoio da França na fundação de tais colônias. Kalischer, que viveu em Thorn, foi talvez o primeiro sionista prático. Seu “Derishat Ziiyyon” (Lyck, 1862) trata dos problemas religiosos e teológicos envolvidos. Ele advoga pela colonização da Palestina, a cultivação da terra lá, e a fundação de uma escola agrícola e de uma guarda militar judaica. Ele sustentou que a salvação prometida pelos profetas pode vir somente gradualmente e pela autoajuda por parte dos judeus. Ele viajou extensivamente em auxílio destas ideias; foi responsável pela primeira sociedade de colonização a ser estabelecida em Frankfurt sobre-o-Main em 1861; e teve alguma influência no trabalho que Charles Netter fez na Palestina. Muitos rabinos ortodoxos se juntaram em seu movimento, por exemplo, J. Schwarz, S. Schwarz, e Hildesheimer. O Rabino Goldschmidt de Leipzig, escrevendo em “Allg. Zeit. Des Jud.,” referiu-se para a colonização da Terra Santa como um “Tatsächlich heilige Sache” {coisa realmente sagrada}; e em tais cidades como Brody, Tarnopol e Viena, sociedades foram fundadas para o propósito de estudar a língua hebraica.

 

Heinrich Graetz

Dois anos após o aparecimento do livro de Hess “Rom und Jerusalem,” e indubitavelmente influenciado por ele, Graetz publicou no “Jahrbuch für Israeliten” (1863-1864) um ensaio intitulado “Die Verjüngung des Jüdischen Stammes,” {O rejuvenescimento da tribo judaica} no qual ele tentou mostrar historicamente que a nação judaica era seu próprio Messias, e deveria trazer seu próprio rejuvenescimento e redenção, sem esperar a vinda de uma única pessoa como redentor. O violento conflito engendrado por este ensaio ressoou mesmo nas cortes de justiça (ver T. Zlocisti em “Jüdischer Volkskalender,” página 9 e sequência, Brünn, 1903-1904, onde o ensaio de Graetz tinha sido reproduzido).

 

“Daniel Deronda” de George Eliot

Rumo ao fim da década de setenta no século dezenove o movimento nacional começou a ganhar terreno ainda mais entre os judeus. Isso ocorreu devido a um recrudescimento do sentimento nacional na Europa, como um resultado do qual os sérvios, os búlgaros, e os romenos tinham ganhado completa liberdade. Pinsker não tinha olhado especificamente para a Palestina como um possível lar para os judeus; mas o sentimento judaico rapidamente levou outros naquela direção. Ben Yehudah publicou no “Ha-Shahar” (1879) uma série de artigos propondo a colonização da Terra Santa e a gradual centralização dos judeus lá como o único meio para salvar ambos judeus e judaísmo; e Isaac Rülf em 1883 escreveu sua obra característica “Aruhat Bar’Ammi” nas mesmas linhas. Escritores cristãos também se tornaram afetados com a ideia, a qual foi assim trazida proeminentemente perante o mundo. O levantar deste sentimento nacional na Rússia é intimamente conectado com os nomes de Moses Löb Lilienblum e Perez Smolenskin. Os tumultos de 1880 e 1881 viraram a atenção destes autores para a questão judaica. O primeiro em seu “Derek la-‘Abor Golim” e o segundo em seu “Am ‘Olam,” e em seu jornal “Há-Shahar” (mesmo antes de 1880), deu expressão literária para as esperanças nacionais. Para estes nomes deve ser adicionado o de Lev Osipovitch Levanda. Na Inglaterra {o primeiro ministro, o judeu-inglês} Disraeli tinha já declarado que “a raça é a chave da história,” e George Eliot escreveu seu “Daniel Deronda” em 1876, e em 1879 seu “Impressions of Theophrastus Such,” no qual o último capítulo é intitulado “The Modern Hep!Hep!Hep!” (republicado pela Federação de Americanos Sionistas, 1899). Nesse ele faz o judeu dizer, “O efeito de nosso separatismo não será completo e não terá sua mais alta transformação a não ser que nossa raça assuma o caráter de uma nacionalidade. Isto é o cumprimento da verdade religiosa que os moldou num povo.” “Daniel Deronda” foi entusiasticamente revisto em “Monatsschrift” (1877, páginas 172 e seguintes) por David Kaufmann, que adicionou, “Quem ousará dizer que não pode resultar desta maré crescente de sentimentos no coração dos judeus uma passagem que não seja marcante?  E quem ousará insistir que a imponderável massa de sentimentos indefinidos e vagos impulsos, através da marcha dos séculos, ao invés de ter aumentado tem diminuído na alma do povo judeu? De igual modo Joseph Jacobs analisou o trabalho, adicionando, “E as visões de Mordecai da retomada do solo da Terra Santa pelo povo santo são a única posição lógica de um judeu que deseje que a longa agonia das épocas não terminará no total desaparecimento da raça” (“Jewish Ideals,” página 80). Influenciado pelo “Daniel Deronda,” Gustav Cohen de Hamburgo imprimiu por conta própria seu “Die Judenfrage und die Zukunft” {A questão judaica e o futuro} (1891, 1896), no qual ele desenvolveu a teoria lá exposta para sua conclusão sionista. Nos Estados Unidos, uma judia, Emma Lazarus, movida pela grande imigração de judeus russos para a América, escreveu uma série de artigos no “American Hebrew” (1882, 1883) pedindo por uma nacionalidade judaica independente e um lar judaico na Palestina (“An Epistle to the Hebrews”, republicado pela Federação de Sionistas Americanos, 1900).

 

O Chovenei Zion

            O resultado de toda esta agitação foi a fundação de várias sociedades de colonização, não somente na Rússia (sobre a liderança de S. P. Rabinowitz, Pinsker, H. Schapira, Lilienblum, Max Mandelstamm, e Kalonymus Wissotzky), mas também na Alemanha, França, Inglaterra, e América; por exemplo, o Comitê Central em Galati {localizada atualmente na Romênia}, o Esra em Berlim, o Chovenei Zion em Londres, o Shawe Zion nos Estados Unidos, e o Yishshub Erez Yisrael em París. A primeira colônia palestina foi fundada em 1874; mas o trabalho não começou seriamente até 1879. Na conferência da Chovevei Zion e outras sociedades, realizada em Kattowitz {Polônia} em 6 de novembro de 1884, para regular a ajuda mandada para os colonos, não menos que cinquenta grupos foram representados. Uma segunda conferência foi realizada em Druskininkai {Lituânia} em 15 de junho, 1887; e uma terceira em Wilna {Lituânia}, em 1889, na qual trinta e cinco sociedades foram representadas e trinta e oito estavam presentes. Em 1891-1892 Paul Friedman fez uma frustrada tentativa de estabelecer uma colônia judaica em Midiã {no norte do deserto árabe} (ver Jewish Encyclopedia, volume 5, 519, conferir Friedman, Paul). O crescimento do movimento de colonização sobre princípios filantrópicos alcançou seu auge em 1894, quando este foi impedido em grande parte pelo fato de que as autoridades turcas dificultaram aos judeus entrarem na Palestina (Jewish Encyclopedia, volume 4, 47, conferir, Chovenei Zion). Mesmo o Barão de Hirsch, a princípio, não era contrário à colonização da Terra Santa, conforme ele disse a uma delegação em 22 de julho de 1891; ele desejava que um inquérito de busca deveria primeiro ser feito em relação à sua viabilidade. Ele prometeu auxiliar quaisquer negociações que deveriam ser realizadas em Constantinopla se o relatório de uma comissão provasse favorável (“The Maccabean,” página 118, Nova Iorque, 1904).

Tradução e palavras entre chaves e grifos por Mykel Alexander



Nota

*f Nota por Mykel Alexander: É interessante a palavra ‘regeneração’ (‘regeneration’ no original em inglês) ser usada para uma meta do judaísmo, uma vez que se pode inferir que este estava numa condição de degeneração, portanto, implicando que estas correntes judaicas não podem admitir uma progressão de melhora constante e sem decadência. Todavia, em relação às mudanças de outros povos na qual se buscou reformar ou reabilitar as origens, a literatura progressista ou a articulação entrelaçando o judaísmo com o sionismo tendem a censurar como visão errada dos povos em geral a de retornar aos antigos costumes, principalmente se os antigos costumes de tais povos não colaboram para criar um ambiente favorável aos anseios judaicos em geral. Para tais considerações um ponto de partida que expõe diretamente o contexto seria apurar as polêmicas entre a organização judaica ADL (Anti-Defamation League), empenhada em defender a imagem judaica, e seus adversários em geral, e em especial diretamente contra os revisionistas e indiretamente contra costumes tradicionais de variados países/povos.

 

Fonte: Richard Gottheil, Jewish Encyclopedia, volume 12, FUNK AND WAGNALLS COMPANY, Nova Iorque, 1905. Entrada ZIONISM.

Consulta de apoio na versão on-line: https://www.jewishencyclopedia.com/articles/15268-zionism#anchor4

Sobre o autor: Richard James Horatio Gottheil (1862 -1936) foi um judeu inglês, acadêmico (graduação na Columbia College em 1881, doutorado em Leipzig em 1886). Também foi rabino nos EUA. De 1898 a 1904, foi presidente da American Federation of Zionists e trabalhou com Stephen S. Wise e Jacob De Haas. Depois de 1904, ele foi vice-presidente da Sociedade Histórica Judaica Americana. Gottheil escreveu muitos artigos sobre questões orientais e judaicas para jornais e resenhas. Ele editou a Columbia University Oriental Series e Semitic Study Series. Depois de 1901, ele foi um dos editores da Jewish Encyclopedia. Ele escreveu o capítulo sobre sionismo que foi traduzido para o árabe e publicado por Najīb Al-Khūrī Naṣṣār em seu jornal Al-Karmil e também na forma de um livro em 1911.

            Entre suas obras estão The Syriac grammar of Mar Elia Zobha (1887) e Zionism (1914).

Fonte as informações sobre o autor: Wikipedia em inglês, consulta em 24 de julho de 2020:

 https://en.wikipedia.org/wiki/Richard_James_Horatio_Gottheil

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