Continuação de Sionismo - por Richard James Horatio Gottheil (Jewish Encyclopedia) - parte 1
Richard James Horatio Gottheil |
Joseph Nasi
Mas a condição externa na qual os
judeus viveram tantos séculos fizeram impossível para eles pensar em realizar
de fato o que eles esperaram e oraram. Os acessórios sobrenaturais com o qual a
teologia tem vestido a ideia da restauração também paralisaram qualquer esforço
que poderia ter sido feito. A divindade era suposta que deveria liderar o
caminho; e a mão do homem permanecida inerte. De tempo para tempo, isso é
verdade, judeus solitariamente ou bando de judeus viajaram para a Palestina, ou
para repousar seus ossos em solo sagrado ou para esperar a vinda do Messias.
Somente esporadicamente e em períodos longamente distantes um dos outros,
alguma tentativa foi feita para antecipar a providência e se aventurar numa
restauração em bases práticas. E mesmo em tais casos nem sempre foi a Palestina
que foi selecionada para a primeira tentativa, por causa das dificuldades
práticas a qual eram conhecidas para qualquer situação como tal esquema. Uma
tentativa deste tipo foi a de Joseph Nasi no meio de século dezesseis, tanto em
seu esforço para ganhar da República de Veneza uma ilha para o qual os judeus
portugueses deveriam emigrar como na de sua proclamação para os judeus da
Campagna romana {região ao redor de Roma} os pedindo para emigrar para a
Palestina.
Ao lado de tais projetos existiam
outros de um caráter mais fantástico. Em 1540 um judeu de Augsburg tentou
formar um Estado judaico sobre bases messiânicas (ver “Anzeiger des Deutschen Nat. Museums,” 1894, página 103). Dos
esquemas baseados sobre especulações messiânicas e esperanças puramente
religiosas, o mais importante foi Shabbethai Zebi (1626-1676), quem
personalizou o messias, anunciando que ele iria restaurar Israel para a Terra Prometida.
Quão ardente e fiel à crença na restauração estava nos corações dos judeus pode
ser visto do fato que numerosas comunidades estavam prontas para seguir o
exemplo do líder impostor. Mesmo tais homens como {o filósofo Baruch} Spinoza
acreditaram na possibilidade da realização do projeto; e após a fraude de Zebi
ter sido descoberta, a crença na protelada recuperação permaneceu relutante por
muitos anos.
Tentativas de colonização fora da
Palestina
O problema, todavia, foi atacado
também de um ponto de vista filantrópico. A condição de outros judeus, em
muitas partes da Europa ocasionou que pessoas bem-intencionadas e caridosas
buscassem alguns meios de estabelecê-los sob tais condições que iriam assegurá-los
repouso e liberdade da perseguição. De tal tipo foi o projeto elaborado na
Inglaterra por volta de 1654, um relato no qual está contido na coleção de
manuscritos Egerton no Museu Britânico. Este relato é intitulado “Privileges Granted to the People of the
Hebrew Nation That Are to Goe to the Wilde Cust,” e, de acordo com Lucien
Wolf, em referência à um assentamento judaico no Suriname. Tais colônias
como esta, com direitos administrativos desde longe, tinham sido estabelecidas
em Curaçao em 1652 sobre a autoridade da Companhia Holandesa das Índias
Ocidentais, e em 1659 em Caiena pela Companhia Francesa das Índias Ocidentais
(“The Jew. Hist. Soc. Eng.”III 82).
Em 1749 Maurice de Saxe, um filho natural de Augusto II da Polônia, tinha em
mente um projeto para se fazer ele mesmo rei de um Estado judaico o qual era
para ser fundado na América do Sul (M. Kohler, em “Menorah,” junho, 1982). O convite de Napoleão para os Judeus da
Ásia e África para se estabelecerem novamente em Jerusalém sobre sua égide
(ver “Moniteur Universelle,” n° 243) era
um documento político e não significa que deva ser levado seriamente. Mesmo
{Moses} Mendelssohn foi abordado com um propósito de uma natureza similar feito
por um desconhecido amigo no ano de 1770. Ele recusou considerar o projeto na
base que a opressão sobre a qual os judeus tinham vivido por muitos séculos
tinha roubado do espírito deles todo “vigor,” que eles estavam também
espalhados para trabalharem em conjunto, que o projeto iria custar muito
dinheiro, e que seria necessário um consentimento dos grandes poderes da Europa
(“Gesammelte Schriften,” v. 493,
Lepisic, 1844). Uma medida semelhante foi elaborada em 1819 por W. D. Robinson,
que propôs a formação de um assentamento judaico no território do alto
Mississipi; e em 1850 o cônsul americano em Jerusalém, Warder Cresson, um
convertido ao judaísmo sobre o nome de Michael C. Boaz Israel, estabeleceu uma
colônia agrícola judaica próxima à Jerusalém, contanto em seu apoio o reverendo
Isaac Leeser da Filadélfia, e L. Philippson de Magdeburg (M. Kohler, em “Publ. Am. Jew. Hist. Soc.” N° VIII,
págima 80).
Mordecai Noah
O mais persistente advogado,
todavia, de tais esquemas, foi Mordecai M. Noah (ver também Ararat2). Já no ano de 1818 ele ativamente
propagou a ideia da necessidade da restauração dos judeus na Palestina. Em um
“Discurso sobre a Restauração dos Judeus,” proferido em 1845 perante uma
audiência cristã na cidade de Nova Iorque, ele mostrou o vasto alcance de suas
visões políticas, e estabeleceu os principais princípios sobre o qual um
retorno dos judeus à Palestina poderia ser efetuado. No desenvolvimento
desta ideia, ele concebeu um plano para um assentamento preliminar nomeado
“Ararat” em Grand Island no rio Niagara, próximo a Buffalo. Em 19 de janeiro de
1820, o memorial de Noah foi apresentado para a legislatura de Nova Iorque,
rezando para a venda a ele da Grand Island. Este projeto levantou muito
interesse também na Europa. Claro que nada definitivo veio disso (ib. nº VIII, páginas 84 et seq.; nº X, página 172; n.º XI, página
132); embora em 1873 o “Jewish
Chronicle” londrino sugeriu editorialmente uma colônia judaica nos Estados
Unidos baseado em um plano similar ao de Noah (4 de julho, página 233).
O levantar do sentimento nacionalista
Todos estes projetos do estágio preliminar foram vinculados
ao fracasso porque o povo judeu não tinha sido educado para compreender a
verdadeira posição deles no mundo moderno, nem tinham sido estimulados
suficientemente pelas grandes ondas do sentimento que tinha avançado varrendo
através da Europa. As duas influências que se fizeram sentir elas mesmas de tal
maneira como forma do primeiro estágio no desenvolvimento do moderno sionismo foram
o levantar de um forte sentimento nacionalista e o desenvolvimento do
antissemitismo. A última parte do século dezoito e a primeira metade do século
dezenove são caracterizadas na Europa por um forte sentimento de cosmopolitismo
o qual excedeu mesmo os vínculos do desenvolvimento racional. Foi uma
natural reação contra o agrupamento arbitrário de nacionalidades as quais
ignoravam todas afiliações raciais e eram baseadas simplesmente sobre
necessidades políticas. O balanço do pêndulo foi longe demais; e a reação
contrária em favor da liberdade pessoal fez-se ela própria sentida através da
inteira primeira metade do século dezenove. A ideia de liberdade pessoal,
trouxe em seu despertar o desejo para liberdade racial. A ação da Suíça,
Hungria, e vários estados balcânicos, a tentativa da Irlanda para libertar ela
mesma do domínio britânico, a unificação da Itália e Alemanha sobre linhas
raciais, foram vinculadas a reagir sobre os judeus. Sobre o continente
da Europa muitos deles tinham estado nas fileiras de frente daqueles que tinham
lutado por esta liberdade racial. Os judeus pouco pensavam que as armas
as quais eles usaram contra outros iriam ser viradas contra eles mesmos, e iria
criar dentro de suas próprias fileiras um desejo de unidade racial e uma vida
comum.
Sobre estas influências surgiram gradualmente,
especialmente entre as jovens gerações na Europa oriental, um sentimento em
favor da existência nacional judaica, a qual carregou em seu despertar
muitos dos mais brilhantes e mais avançados judeus da época. E a abertura da
questão oriental trouxe as necessidades de certas partes do Império Otomano
proeminente perante a Europa. O historiador Joseph Salvador já em 1830
acreditou na possibilidade que o congresso dos poderes europeus poderia
restaurar a Palestina para os judeus; e os fundadores da Alliance Israélite Universelle {uma
sociedade judaica fundada em 1860 para a proteção e melhoria dos judeus em
geral, e precurssora do movimento sionista no que se refere reforçar os judeus
internacionalmente em busca de seus interesses}*e
tinham ideia similar na mente deles quando, sob Albert Cohn e Charles Netter, o
trabalho dos colonizadores judeus na Palestina foi levado adiante, e a
escola agrícola Mikweh Yisrael foi fundada próximo de Jaffa.
Antecipações
francesas
Em 1852 Hollingsworth, um inglês, pediu o
estabelecimento de um Estado judaico, por causa da necessidade de salvaguardar
a rota terrestre para a Índia; e em 1864 apareceu em Genebra um panfleto
intitulado “Devoir des Nations de Rendre
au Peuple Juif As Nationalité,” o qual ocasionou uma longa discussão nos “Archives Israélites.” Ele foi atribuído
a Abraham Pétavel, um clérigo cristão e professor em Neuchâtel. Pétavel foi um
membro da Alliance Israélite Universelle,
apesar de que ele foi aberta e honestamente interessado na conversão dos
judeus. Embora ele negou a autoria do panfleto, acredita-se, em geral, ter sido
seu trabalho, especialmente enquanto ele publicou ao mesmo tempo um longo
poema, “La Fille de Sion ou la
Rétablissement d’Israel” (Paris, 1864). Os “Archives” declararam-se eles mesmos fortemente contra o projeto;
mas Lazar Kévy-Bing, um banqueiro de Nancy e posteriormente um membro da
legislatura (2 de julho de 1871), escreveu calorosamente em favor do
nacionalismo judaico, sem nenhum pensamento sobre a condição dos judeus de sua
época. Jerusalém, ele esperou, poderia tornar-se o centro ideal do mundo.
Indubitavelmente influenciado por Pétavel, um judeu, J. Frankel, publicou em
Estrasburgo em 1868 um panfleto com o título “Du Rétablissement de la Nationalité Juive”. O autor,
impressionado por um lado pelos movimentos nacionais de sua época e pelo outro
pelas condições inseguras sobre as quais os judeus da Europa oriental viviam,
defendeu valorosa e abertamente a reconstituição de uma Estado judaico na
Palestina através da compra na Turquia do território. “Se a Palestina se
mostrar impossível,” ele adiciona, “nós devemos procurar em alguma outra parte
do Globo algum lar fixo para os judeus; pois o ponto essencial é que eles
estejam num lar e independente de outras nações,” assim aproximando em alguma
medida aos modernos territorialistas.
Na
Áustria
Vários esquemas com um similar fim em vista foram elaborados. Entre 1835 e 1840 Moritz Steinschneider estava entre aqueles que fundaram em Praga uma sociedade de estudos para o propósito de propagar a ideia de um Estado judaico na Palestina; e, no final do ano um escritor anônimo escreveu no “Orient” (nº XXVI, página 200) publicando um apelo para seus irmãos para adquirir a Síria para os judeus que estavam sobre a soberania turca enquanto a perseguição de sangue em Damasco estava ainda fresca na memória; e em 1847 Barthélémy publicou em “Le Siècle” um longo poema convidando os Rothschilds para restaurar o reinado de Judá à sua anterior glória. Judah bem Solomon Alkalai, rabino em Semlin, Croácia, publicou seu “Goral Ladonai”, Viena, 1857 (2ª edição, Amsterdã, 1858), na qual ele advogou a formação de uma sociedade anônima para o propósito de induzir o Sultão a ceder a Palestina para os judeus como um Estado tributário. Em similar maneira Luzzatto, em Pádua, escreveu em 1854 para Albert Cohn, “A Palestina deve ser colonizada e trabalhada pelos judeus a fim de que eles devam viver novamente comercialmente e agriculturalmente.” As jornadas de Sir Moses Montefiore e Adolphe Crémieux {nome de primeira grandeza da Alliance Israélite Universelle} para a Palestina aumentaram o interesse dos judeus no antigo lar deles, e trouxe o assunto de forma proeminente para o público. O fundador da Convenção de Genebra, Henry Dunant, trabalhou incessantemente com um similar objeto em vista. Ele tentou causar interesse em tais projetos à Alliance Israélite Universelle (1863), à Anglo-Jewish Association em Londres, e os Judeus de Berlin (1866), mesmo encontrando duas sociedades para aquele propósito, a International Palestine Society e, em 1876, a Syrian and Palestine Colonization Society. Todos seus esforços falharam em evocar uma resposta. Um destino semelhante abateu ambos o projeto de Sir Moses Montefiore, quem em 1840 apresentou perante Mohammed Ali um plano de colônia de judeus na Palestina, e o de Lord Shaftesbury, associado com a Society for Relief of Persecuted Jews. No ano de 1870 Benedetto Musolino, um cristão e fervente patriota italiano, elaborou um plano completo para estabelecer um Estado Judaico na Palestina, demonstrando a vantagem de tal Estado não somente para os judeus, mas também para o Império Otomano e para a Inglaterra. Em vão ele tentou interessar Lord Palmerston e os Rothschilds no plano. Mesmo seu trabalho “La Gerusalemme e il Popolo Ebreo” permaneceu não publicado (“The Maccabaean,” 1905, página 225). Nem foi melhor sucedido Laurence Oliphant (1829-1888), o viajante e político inglês. Em 1879, depois de ter em vão tentado procurar do Porte {uma província de Turim, Itália} a concessão da ferrovia Euphrates Valley, nas margens da qual ele tinha proposto assentar judeus russos, ele concebeu a ideia de um assentamento judaico na Palestina, na terra da Gileade. Uma sociedade estava para ser formada com um capital de 10,000,000 rubros. Sobre 1,000,000 a 1,500,000 hectares o proletariado judaico da Polônia, Lituânia, Romênia e Turquia Asiática deveria ser colonizado, e um banco agrário deveria ser fundado. Oliphant falhou em ambos 1879 e 1882 para obter a permissão do sultão para semelhante plano.
Tradução
e palavras entre chaves e grifos por Mykel Alexander
2 Fonte utilizada por Richard James Horatio Gottheil: Morris Jastrow, Jr. e Charles Foster Kent, Jewish Encyclopedia, volume 2, FUNK AND WAGNALLS COMPANY, Nova Iorque, 1902. Vocábulo ARARAT.
*e
Nota de Mykel Alexander: Jacques Bigart, Jewish
Encyclopedia, volume 2, FUNK AND WAGNALLS COMPANY, Nova Iorque, 1901. Vocábulo
Fonte: Richard Gottheil, Jewish Encyclopedia, volume 12, FUNK AND WAGNALLS COMPANY, Nova Iorque, 1905. Entrada ZIONISM.
Consulta de apoio na versão on-line: https://www.jewishencyclopedia.com/articles/15268-zionism#anchor4
Sobre o autor: Richard
James Horatio Gottheil (1862 -1936) foi um judeu inglês, acadêmico (graduação
na Columbia College em 1881, doutorado em Leipzig em 1886). Também foi rabino
nos EUA. De 1898 a 1904, foi presidente da American Federation of Zionists e
trabalhou com Stephen S. Wise e Jacob De Haas. Depois de 1904, ele foi
vice-presidente da Sociedade Histórica Judaica Americana. Gottheil escreveu
muitos artigos sobre questões orientais e judaicas para jornais e resenhas. Ele
editou a Columbia University Oriental
Series e Semitic Study Series.
Depois de 1901, ele foi um dos editores da Jewish
Encyclopedia. Ele escreveu o capítulo sobre sionismo que foi traduzido para
o árabe e publicado por Najīb Al-Khūrī Naṣṣār em seu jornal Al-Karmil e também na forma de um livro
em 1911.
Entre suas obras estão The Syriac grammar of Mar Elia Zobha (1887) e Zionism (1914).
Fonte as informações
sobre o autor: Wikipedia em inglês,
consulta em 24 de julho de 2020:
https://en.wikipedia.org/wiki/Richard_James_Horatio_Gottheil
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