Mark Weber |
Citações falsificadas
atribuídas à Hitler e outros líderes do Terceiro Reich têm sido amplamente
circuladas por anos. Tais citações são frequentemente utilizadas pelos
polemistas – ambos da esquerda e da direita – para desacreditar seus
adversários ideológicos mostrando que os nazis mantinham similares opiniões.
Esta tática funciona porque as pessoas têm sido educadas para acreditar que
qualquer coisa que Hitler e os outros nazis pensavam ou diziam eram coisas
malevolentes, equivocadas ou malignas, e que nenhuma pessoa razoável ou ética
poderia sustentar similares pontos de vista.
Aqui
está uma olhada em umas poucas das muitas citações falsamente atribuídas à
Hitler ou a outros nazistas do topo.
Goebbels:
‘A verdade é a Inimiga do Estado’
O
chefe de propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, supostamente disse:
“Se você dizer uma mentira suficientemente grande e mantém repetindo ela, as pessoas irão eventualmente vir a acreditar nela. A mentira pode ser mantida por determinado período conforme o Estado possa proteger o povo das consequências políticas, econômicas e/ou militares da mentira. Ela, assim, torna-se vitalmente importante para o Estado usar todo seu poder para reprimir a dissidência, pois a verdade é a mortal inimiga da mentira, e assim, por extensão, a verdade é a maior inimiga do Estado.”
Rush Limbaugh, o popular comentador de rádio americano, é
apenas um dos muitos americanos influentes que tem citado esta citação. Durante
uma transmissão de rádio em maio de 2007 ele alegou que estas colocações são
“da sala de guerra de Hitler, do propagandista sem sinceridade, no comando,
Joseph Goebbels,” que estava “falando por seus companheiros no partido nazista.”
Limbaugh passou a alegar que os líderes do “Partido Democrata” americano
estavam utilizando “uma versão” da técnica de Goebbels para tentar “reprimir a
dissidência”. E em janeiro de 2011 o congressista americano Steve Cohen, um
político do partido democrata do Tennessee, acusou republicanos de propagar
“uma grande mentira, assim como Goebbels” sobre um plano nacional de saúde.
De fato, as visões de Goebbels foram bastante diferentes
do que esta fraudulenta citação sugere. Ele regularmente sustentou que a
propaganda deve ser precisa e verdadeira.
Ninguém tem sido capaz de citar uma fonte para esta
infame citação da “grande mentira.” Isso porque Goebbels nunca escreveu ou
pronunciou estas palavras. Suas visões eram realmente muito diferentes do que
esta citação sugere.
Ele sustentou consistentemente que, para ser efetiva, a
propaganda deve ser precisa e verdadeira. Num discurso proferido em setembro de
1934 em Nuremberg, ele disse: “A boa propaganda não necessita mentir, na
verdade, ela não pode mentir. Não há nenhuma razão para temer a verdade. É um
erro acreditar que as pessoas não podem pegar a verdade. Elas podem. É somente
uma questão de apresentar a verdade para as pessoas numa maneira a qual elas
sejam capazes de compreender. Uma propaganda que mente prova que ela tem uma
causa ruim. Ela não pode ser bem-sucedida em longo prazo.”
Num artigo escrito em 1941, ele citou exemplo das falsas
afirmações britânicas em tempos de guerra, e passou a acusar que os
propagandistas britânicos tinham adotado a técnica da “grande mentira” que
Hitler tinha identificado e condenado em seu livro Minha Luta. Goebbels escreveu: “O inglês segue o princípio que
quando alguém mente, a mentira deve ser grande, e a cumpre. Eles sustentam as
mentiras deles, mesmo sob o risco de parecer ridículo. ”
Hitler
e o controle de armas
Em um discurso, algumas vezes dito ter sido proferido em
1935, Hitler supostamente tinha exclamado: “Este ano vai entrar para a
história! Pela primeira vez, uma nação civilizada tem completo registro de
armas! Nossas ruas estarão mais seguras, nossa polícia mais eficiente, e o
mundo irá seguir nossa liderança rumo ao futuro!”
Esta citação tem sido popular com os americanos que
defendem o direito constitucional para “possuir e portar armas.” Ela é citada
para desacreditar aqueles que apoiam restrições na posse e uso de armas de
fogo. Ela é citada também para apoiar a frequentemente feita acusação que
Hitler e seu governo reduziram a posse de armas na Alemanha, e confiscaram as
armas possuídas por cidadãos particulares.
A verdade é bem diferente. Quando Hitler e seu Partido
Nacional-Socialista assumiram o poder no início de 1933, eles herdaram uma
restritiva lei de armas de fogo que o governo liberal-democrata de “Weimar”
tinha implementado cinco anos antes. Em 1938 o governo de Hitler revisou esta
lei anterior, soltando estas restrições, desse modo aumentando os direitos dos
alemães para possuírem armas. O mais completo confisco de armas de fogo imposto
sobre os alemães foi realizado no fim da Segunda Guerra Mundial pelas forças de
ocupação dos Estados Unidos e outros vitoriosos poderes Aliados.
Hitler
sobre ‘Lei e Ordem’
Hitler é suposto ter dito durante um discurso em 1932,
pouco antes dele se tornar chanceler:
“As ruas de nossas cidades
estão em turbulência. As universidades estão cheias de estudantes se rebelando
e tumultuando. Os comunistas estão procurando destruir nosso país. A Rússia
está ameaçando-nos com seu poder e a República está em perigo. Sim, perigo
interior e exterior. Nós necessitamos lei e ordem! Sim, sem lei e ordem nossa
nação não pode sobreviver... Elejam-nos e nós iremos restaurar a lei e a ordem.
Nós iremos, por lei e ordem, ser respeitados entre as nações do mundo. Sem lei
e ordem nossa República irá fracassar.”
Esta citação, a qual se destina a embaraçar e
desacreditar aqueles que apoiam a “lei e ordem”, foi especialmente popular com
os jovens americanos durante os finais dos anos da década de 1960 e início da
década de 1970. Ela apareceu em pôsteres e em 1971 no filme “Billy Jack.”
Em seus muitos discursos da campanha de eleição em 1932
Hitler destacou os temas da justiça, liberdade, empregos e unidade nacional –
não “lei e ordem”. As universidades alemães em 1932 não estavam “cheias de
estudantes se rebelando e tumultuando.” De fato, os estudantes alemães estavam
entre os mais ferventes apoiadores de Hitler e de seu Movimento Nacional
Socialista.
Goering
sobre a cultura
Hermann Goering, um alto oficial do Terceiro Reich, é
frequentemente citado como tendo dito: “Sempre que eu ouço a palavra cultura,
eu pego meu revolver.” O Reichsmarschall
Goering (Göring), que foi comandante da força aérea alemã, nunca teria dito
algo como isto. Junto com outros líderes do alto escalão do Terceiro Reich, ele
estimou as artes, e se orgulhava ele mesmo de sua apreciação da cultura.
Esta citação é uma distorção de um verso de um personagem
no filme Schlageter do escritor
alemão Hanns Johst. O verso original (traduzido) é “Quando eu ouço [a palavra]
cultura... eu libero a trava de segurança da minha browning!” Uma versão desta
citação é apresentada em uma cena no filme de propaganda do período de guerra,
“Why We Fight”, feito pelo governo
dos EUA, para sugerir que o típico “nazi” era um bandido sem cultura.
Hitler
e a consciência
“Eu estou liberando o homem da degradante quimera
conhecida como consciência,” é suposto ter sido dito por Hitler. Esta
vastamente repetida citação aparece, por exemplo, em The Great Quotations, uma coleção supostamente fidedigna compilada
pelo jornalista judeu-americano e autor Geoge Seldes. É uma versão de um
comentário atribuído à Hitler por Hermann Rauschining em seu livro, The Voice of Destruction (Conversações com Hitler), o qual é uma
fonte de muitas citações fraudulentas supostamente baseadas em conversas
privadas com Hitler que, na verdade, nunca ocorreram.
O texto “original” desta citação, conforme apresentado
por Rauschining, é: “A Providência tem ordenado que eu deva ser o maior
libertador da humanidade. Eu estou libertando o homem das amarras de uma
inteligência que tem sido carregada; da sujeira e degradantes auto-mortificações
de uma quimera chamada consciência e moralidade, e das exigências de uma
liberdade e independência pessoa a qual somente muitos poucos podem suportar.”
Na verdade, Hitler repetidamente enfatizou a importância
de atuar conscientemente. Por exemplo, em pelo menos três diferentes discursos
ou afirmações públicas em 1941 somente, ele falou sobre atuar de acordo com sua
consciência. Rudolf Hess, um amigo próximo e colega de confiança, uma vez disse
que sua devoção para Hitler era baseada em grande medida em sua relação para a
resoluta consciência de Hitler. Em um discurso de 1934 Hess disse: “A
consciência de uma personalidade moral é de longe uma maior proteção contra o
uso indevido de um cargo do que a supervisão de um parlamento ou a separação
dos poderes. Eu não conheço ninguém que tenha uma consciência mais forte, ou
mais verdadeira para seu povo, que Adolf Hitler... O mais alto tribunal do
Führer é sua consciência e sua responsabilidade para com seu povo e para com a
história.”
Hitler:
‘Destruir por todos os meios’
O filme de propaganda do governo dos EUA, “Why We Fight,” cita Hitler como tendo
dito: “Meu lema é ‘Destrua tudo por todos os meios. O Nacional Socialismo irá
reformular o mundo’.” Esta é uma versão de um comentário atribuído à Hitler por
Hermann Rauschining em seu influente livro. O texto “original”, conforme
apresentado por Rauschining, é: “Eu quero guerra. Para mim todos os meios
estarão certos... Meu lema não é 'não faça, seja o que for, que irrite o
inimigo!' Meu lema é 'Destrua ele por todos os meios.' Eu sou o que vai fazer a
guerra!” Outra versão deste inventado comentário aparece no livro Hitler and Nazism (1961), pelo
historiador Louis Leo Snyder, que foi um professor no City College de Nova
Iorque.
Hitler
sobre o Terrorismo
Hitler tem frequentemente sido citado como tendo dito:
“Terrorismo é a melhor arma política, pois nada vence mais as pessoas duras que
o medo da morte súbita.” Esta citação é baseada em duas comentários inventados
no extravagante livro de Hermann Rauschining, The Voice of Destruction.
Hitler:
‘Nós somos bárbaros’
Hitler tem frequentemente sido citado como tendo dito:
“Eles referem-se a mim como um bárbaro sem educação. Sim, nós somos bárbaros.
Nós queremos ser bárbaros, isso é um honrado título para nós. Nós iremos
rejuvenescer o mundo. Este mundo está perto de seu fim.”
Esta é outra citação fraudulenta do fantasioso trabalho
de Hermann Rauschining.
Hitler
e a ‘Juventude Brutal’
“Uma juventude violentamente ativa, dominante, intrépida
e brutal – isto é o que estou buscando... Eu quero ver nos olhos deles o brilho
do orgulho e independência, de rapina. Não haverá nenhum treinamento
intelectual. Conhecimento é a ruina dos meus jovens homens.” Esta colocação
vastamente citada é incluída, por exemplo, no The Great Quotations de George Seldes. A fonte citada por Seldes é
um item no The Nation do popular
jornalista americano e autor John Gunther (1901 – 1970).
Na verdade, esta é uma versão de uma afirmação atribuída
à Hitler por Hermann Rauschining, cujo imaginativo trabalho é uma fonte de
muitas “citações” falsificadas. Outra fraudulenta citação de Hitler com esse
mesmo espírito e da mesma fonte, igualmente citada pelo supostamente fidedigno
Seldes, é esta: “A educação Universal é o veneno mais corrosivo e desintegrante
que o liberalismo jamais inventou para sua própria destruição.”
Estes comentários deturpam os reais pontos de vista de
Hitler. De fato, a Alemanha Nacional Socialista era mundialmente líder em
ciência, tecnologia, ensino e medicina. Hitler era admirado por alguns dos
principais intelectuais da época, incluindo Knut Hamsun , Ezra Pound ,
Louis-Ferdinand Celine e Martin
Heidegger .
Tradução
e palavras entre chaves por Mykel Alexander
Referências para futuras
leituras:
Randall Bytwerk, “False Nazi Quotations”
Paul F. Boller, Jr. and John George, They Never Said It: A Book of Fake Quotes,
Misquotes, & Misleading Attributions (New York: Oxford, 1989).
Joseph Goebbels, “From Churchill's Factory of Lies,”
("Aus Churchills Lügenfabrik"), Janeiro de 1941. Reimpresso em Zeit ohne Beispiel
Joseph Goebbels, “Propaganda” (Nuremberg: 1934)
William L. Pierce, Gun
Control in Germany 1928-1945 (1994)
John Toland, Adolf
Hitler (1976)
Mark Weber, “Goebbels and World War II Propaganda,”
2011
Mark Weber, “Goebbels' Place in History,” The Journal of Historical Review, 1995.
Em português “O Lugar de
Goebbels na História”, em World
Traditional Front, 17 de janeiro de 2020,
Mark Weber, “Hitler as ‘Enlightenment Intellectual’:
The Enduring Allure of Hitlerism,” 1997 {The
Journal of Historical Review, setembro-outurbro. 1997 (Volume 16, número
5), páginas 34-37.}
Mark Weber, “Rauschning's Phony 'Conversations With
Hitler': An Update,” 1985 {The Journal for Historical Review, inverno de 1985-1986,
Volume 6, número 4, página 499.}
Em português “Conversações
falsificadas de Rauschning com Hitler: uma atualização”, em World Traditional Front, 1 de dezembro
de 2019.
Fonte: Institute for
Historical Review, 2011.
Sobre o autor: Mark weber
é um historiador americano, escritor, palestrante e analista de questões
atuais. Ele estudou história na Universidade de Illinois (Chicago), na
Universidade de Munique (Alemanha), e na Portland State University. Ele possui
um mestrado em História Europeia da Universidade de Indiana. Desde 1995 ele tem
sido diretor do Institute for Historical Review, um centro independente de
publicações, educação e pesquisas de interesse público, no sul da Califórnia,
que trabalha para promover a paz, compreensão e justiça através de uma maior
consciência pública para com o passado.
_________________________________________________________________________________
Relacionado, leia também:
Historiador suíço expõe memórias anti-Hitler de Rauschning como fraudulentas - Por Mark Weber
Conversações falsificadas de Rauschning com Hitler: uma atualização - Por Mark Weber
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários serão publicados apenas quando se referirem ESPECIFICAMENTE AO CONTEÚDO do artigo.
Comentários anônimos podem não ser publicados ou não serem respondidos.