domingo, 2 de setembro de 2018

Hitler queria Guerra? - Por Patrick Joseph Buchanan

01/09/2009

 Patrick Joseph Buchanan

Em 1° de setembro de 1939, 70 anos atrás, o exército alemão cruzou a fronteira polonesa. Em 3 de setembro, a Grã-Bretanha declarou guerra.

            Seis anos depois, 50 milhões de cristãos e judeus tinham perecido. A Grã-Bretanha estava quebrada e falida. A Alemanha uma ruína ardendo. A Europa tinha servido como lugar dos combates mais assassinos conhecidos pelo homem, e civis tinham sofrido horrores piores que os soldados.

            Em maio de 1945, as hordas do Exército Vermelho ocuparam todas grandes capitais da Europa Central: Viena, Praga, Budapeste, Berlim. Cem milhões de cristãos estavam sob o calcanhar da mais bárbara tirania na história: o regime bolchevique do maior terrorista deles todos, Joseph Stalin.

                Qual causa poderia justificar tais sacrifícios?

            A guerra germano-polonesa tinha saída de uma querela sobre uma cidade do tamanho de Ocean City, Maryland, no verão. Danzig, 95% alemã, tinha sido separada da Alemanha em Versalhes em violação do princípio de Woodrow Wilson de autodeterminação. Mesmo os líderes britânicos pensaram que Danzig deveria ser devolvida.

            Por que Varsóvia não negociou com Berlim, a qual insinuava numa oferta de território compensatório na Eslováquia? Porque os poloneses tinham uma garantia de guerra da Grã-Bretanha que, se a Alemanha atacasse, a Grã-Bretanha e seu império iriam viriam em socorro da Polônia.

            Mas por que iria a Grã-Bretanha entregar uma garantia de guerra não solicitada a uma junta de coronéis poloneses, dando a eles o poder de arrastar a Grã-Bretanha numa segunda guerra com a mais poderosa nação da Europa?

            Era Danzig digna de uma guerra? Ao contrário dos 7 milhões de habitantes de Hong Kong que os britânicos renderam à Pequim, que não queria ir, os habitantes de Danzig estavam clamando para retornar para a Alemanha.

            Veio a resposta: A garantia de guerra não era sobre Danzig, ou mesmo sobre a Polônia. Era sobre o imperativo estratégico e moral de “parar Hitler” depois que ele mostrou, rasgando o pacto de Munique e a Tchecoslováquia com ele, que ele saiu para conquistar o mundo. E esta besta nazi não poderia ser permitido fazer isto.

            Se verdade, um ponto justo. Americanos, depois de tudo, estavam preparados para usar bombas atômicas para manter o Exército Vermelho longe do Canal. Mas onde está a evidência que Adolf Hitler, cujas vítimas conforme março de 1939 eram uma fração das do general Pinochet, ou das de Fidel Castro, saiu para conquistar o mundo?

            Depois de Munique em 1938, a Tchecoslováquia de fato desmoronou e separou-se. Ainda, considere o que tornou-se suas partes.

            Os Sudetos alemães foram retornados para o governo alemão, conforme eles desejavam. Polônia tinha anexado a minúscula disputada região de Teschen, onde milhares de poloneses viviam. As terras ancestrais da Hungria no sul da Eslováquia tinham sido retornadas para ela. Os eslovacos tinham sua plena independência garantida pela Alemanha. Quanto aos tchecos, eles vieram à Berlim pelo mesmo acordo como os eslovacos, mas Hitler insistiu que eles aceitassem um protetorado.

            Agora pode-se desprezar o que foi feito, mas como esta partição da Tchecoslováquia manifestou um impulso hitleriano para a conquista do mundo?

            Vem a réplica: se a Grã-Bretanha não tivesse dado a garantia de guerra e ido à guerra, depois da Tchecoslováquia teria vindo a vez da Polônia, então Rússia, então França, então Grã-Bretanha, então Estados Unidos.

            Nós iríamos todos estar falando alemão agora.

            Mas se Hitler saiu para conquistar o mundo – Grã-Bretanha, África, o Oriente Médio, os Estados Unidos, Canadá, América do Sul, Índia, Ásia, Austrália – por que ele gastou três anos construindo a imensamente cara Linha Siegfried para proteger a Alemanha da França? Por que ele começou a guerra com nenhuma frota de superfície, sem transportes de tropas e somente 29 submarinos oceânicos? Como você conquista o mundo com uma marinha que não consegue sair do Mar Báltico?

            Se Hitler queria o mundo, por que ele não construiu bombardeiros estratégicos, ao invés de Heikels e Dorniers bi-motores que poderiam nem mesmo alcançar a Grã-Bretanha a partir da Alemanha.

            Por que ele deixou o exército britânico ir a Dunquerque?

            Por que ele ofereceu a paz britânica, duas vezes, depois que a Polônia caiu, e novamente depois que a França caiu?

            Por que, quando Paris caiu, Hitler não exigiu a frota francesa, como os Aliados exigiriam e conseguiram a frota do Kaiser? Por que ele não exigiu bases na Síria controlada pela França para atacar Suez? Por que ele implorou para Benito Mussolini não atacar a Grécia?

            Porque Hitler queria terminar a guerra em 1940, quase dois anos antes dos trens começarem a rolar para os campos.

            Hitler nunca quis guerra com a Polônia, mas uma aliança com a Polônia conforme ele tinha com a Espanha de Francisco Franco, a Itália de Mussolini, a Hungria de Miklos Horthy, e a Eslováquia do padre Josef Tiso.

            De fato, por que ele iria querer guerra quando, em 1939, ele estava cercado por vizinhos aliados, amigáveis ou neutros, salvo a França? E ele tinha riscado fora a Alsácia, porque reconquistar a Alsácia significava guerra com a França, e isto significava guerra com a Grã-Bretanha, cujo império ele admirava e que ele tinha sempre procurado como um aliado.

            Em março de 1939, Hitler nem mesmo tinha uma fronteira com a Rússia. Como então poderia ele invadir a Rússia?

            Winston Churchill estava certo quando ele chamou de “Guerra Desnecessária[1] – a guerra que pode ainda provar o golpe mortal em nossa civilização.

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander


Nota


[1] Fonte utilizada pelo autor: Patrick J. Buchanan, Churchill, Hitler, and The Unnecessary War: How Britain Lost Its Empire and the West Lost the World, Editora Crow, 2008, 544 páginas.
{No Brasil foi traduzido como Churchill, Hitler e a “Guerra Desnecessária”, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2009, 424 páginas.}



Fonte: Patrick J. Buchanan – Official Website, 01/09/2009.



Sobre o autor: Patrick Joseph Buchanan (1938 – ) foi um conselheiro sênior de três presidentes americanos, diretor de comunicações da Casa Branca (1985/1987) no governo Reagan, concorreu duas vezes para a nomeação presidencial americana, 1992 e 1996; foi o candidato do Partido Reformista em 2000. Autor de vários livros, entre os quais Right from the Beginning; A Republic, Not an Empire; The Death of the West; State of Emergency; e Day of Reckoning. Buchanan é fundador membro de três dos principais programas de assuntos públicos dos EUA, na NBC o The McLaughlin Group, na CNN o The Capital Gang e Crossfire. Cofundador da revista The American Conservative, foi comentarista até 2012 da rede à cabo MSNBC e atualmente aparece na Fox News. Possui Bacharel em Estudos Americanos (Georgetown University) e mestrado em Jornalismo (Columbia Univesity). Patrick Buchanan é um dos mais francos publicistas americanos, tocando nas questões delicadas que a mídia globalista omite ou distorce.
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6 comentários:

  1. MYkel,

    A URSS não tinha condições de atacar a Alemanha nazista:

    Não se esqueça da campanha soviética na Finlândia, onde o exército
    vermelho foi derrotado pelo pequeno exército filandes.

    Não se esqueça do expurgo promovido por Stalin, onde marechais e
    generais foram mortos,

    Não se esqueça do péssimo treinamento do exército vermelho aliado
    a inexperiência de muitos oficiais.

    O exército alemão em sua campanha chegou ás portas de Moscou, sendo
    necessário um esforço gigantesco dos soviéticos para expulsar os nazistas.

    Francisco Xavier
    Rio de Janeiro-RJ


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    1. Olá!

      Vieste neste artigo, mas o artigo específico a esta questão é o posterior a este:



      De qualquer jeito deixo aqui essa colocação inicial:

      Suvorov escreve que em 13 de junho de 1941 Stalin começou secretamente “o maior movimento de tropas por um único estado na história da civilização,” transferindo enormes forças para a fronteira soviético-germânica. As tropas soviéticas foram dispostas lá não para defesa, mas em preparação para uma invasão surpresa. “Parece certo,” escreve Suvorov, “que a concentração soviética nas fronteiras deveria ser completada em 10 de julho. Assim, o golpe alemão que caiu apenas 19 dias antes encontrou o exército vermelho na mais desfavorável situação – em vagões de ferrovia.”

      Mais comentários sobre este tema deves ir ao artigo do link abaixo:

      https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2018/09/stalin-preparado-para-o-ataque-do-verao.html

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  2. Era Danzig digna de uma guerra?

    Boa pergunta para se fazer ao Herr Hitler, essa pergunta vale para os dois lados. Valia e valeu a guerra?

    Se Hitler queria o mundo, por que ele não construiu bombardeiros estratégicos, ao invés de Heikels e Dorniers bi-motores que poderiam nem mesmo alcançar a Grã-Bretanha a partir da Alemanha.

    URSS também não tinha bombardeiros estratégicos, Stalin ordenou que o Petlyakov Pe-8 não fosse produzido em massa, nem por isso você acha que Stalin não queria invadir a Alemanha depois. Na verdade a falta de bombardeiros estratégicos vai contra o argumento que Hitler não queria guerra, quem não quer guerra constrói bombardeios estratégicos para dissuadir o inimigo a não comprar briga, de que adianta o agressor utilizar bombardeiros estratégicos para destruir a infraestrutura que ele pretende conquistar?

    Por que ele deixou o exército britânico ir a Dunquerque?

    Isso é um mito, Hitler apoiou a ordem do general Rundstedt em paralisar as divisões panzer dia 23 de maio, no dia seguinte Hitler concordou com a opinião e confirmou a ordem do dia anterior, além disso deu ouvidos a Goring de que a força aérea poderia impedir a evacuação. Então essa estória de que Hitler “deixou” os aliados evacuarem para costurar um acordo de paz futuro foi mera propaganda.

    Por que ele ofereceu a paz britânica, duas vezes, depois que a Polônia caiu, e novamente depois que a França caiu?

    Até hoje não se conhece em detalhes os termos dessa proposta de paz portanto não há porque se alongar nessa questão. Só sei de uma frase do discurso em 6 de outubro

    “A Polônia, dentro do propósito de anular uma tropa de contínuos agitadores, é tarefa para os próximos 50 ou 100 anos!”

    Ele queria acordo de paz com esses termos e arrogância?

    “Hoje não existem mais ilhas! (…) Nem a violência das armas nem o tempo irá dobrar a Alemanha. Um novembro de 1918 não irá se repetir na história alemã. (…) Eu não duvido um segundo sequer, que a Alemanha vencerá. O destino decidirá, quem tem razão.”

    Preciso falar mais nada, a Alemanha foi dobrada e se repetiu um novembro de 1918 que ocorreu em maio de 45, o destino decidiu que a Alemanha perdeu. Mais uma vez foi arrogante e confiou em pés de barro que era o exército alemão, blitzkrieg com 700 mil cavalos e o resto andando a pé e tanques patéticos como Pz I, II e III.

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    1. Olá!
      Vamos as considerações preliminares.

      Quando se considera a diplomacia, talvez infelizmente, temos a diplomacia formalizada em documentos públicos, em documentos secretos, e em acordos não documentados (que são expostos ou mencionados em conversas formais e informais posteriores). Jean-Baptiste Duroselle (A Europa de 1815 aos Nossos Dias) narra o quanto tais acordos e tratados subterrâneos procedem de interesses obscuros ao conhecimento popular e mesmo de especialistas que não são profundamente críticos e investigativos, e que não superam o conformismo investigativo.

      Em primeiro lugar, seguindo uma concepção tornada popular, talvez principalmente, por Ernst Nolte, a Primeira Guerra Mundial faz parte junto da Segunda Guerra Mundial, do que Nolte denomina Guerra Civil Europeia (1917-1945), quando a articulação do judaico-bolchevismo (Lênin, David Leon Trotsky, Karl Radek Mendhelson, Bela Kuhn, Jacob Schift, Rosa Luxemburgo, etc) incendiava a Europa com terrorismo e com banhos de sangue no leste europeu, com total conivência das iniciativas anglo-franco-americanas. A maré de subversão do leste vinha forte, e houve eclosões bolcheviques na Bavária, Berlim e regiões da Espanha (neste caso, esta foi salva pela Alemanha hitlerista).

      Tais omissões já houveram em gigantesca escala na Rússia, quando a Entente (Primeira Guerra Mundial) exigia que a Rússia não fizesse acordo com a Alemanha, e quando os russos tiveram que lidar com a eclosão bolchevique, os anglo-franco-americanos prometeram ajudar a área interna da Rússia, para que essa se preocupasse somente com o front contra a Alemanha. Em World at Cross Roads, Boris Brasol aborda isso, e com as fontes presenciais de tal situação.

      Em segundo lugar, a guerra por Danzig foi a guerra germano-polaca, por uma população de 95% alemã na cidade de Danzig. E quem deflagrou a guerra em proporções IMPERIAIS, foram a Grã-Bretanha e a França, pois possuíam impérios e isso inevitavelmente, por arregimentação de recursos globais via vastas colônias (regiões da África, Oriente Médio, Índia e Oceania) e Commonwealth (Canadá, Austrália e Nova Zelândia) no caso da Grã-Bretanha. Isso sim foi literalmente iniciar uma guerra mundial.

      Por fim, fechando essas preliminares, reafirmo que tal agitação não foi uma onda lançada por Hitler, mas sim algo que vinha desde o empenho lançado para corroer a ordem europeia de Bismarck no século XIX por tais articulações subterrâneas, sempre envolvendo acordos diplomáticos obscuros e expedientes insidiosos, procedentes de grupos de pressão, formação de opinião, cujo protagonista principal era o judaísmo internacional (baseio-me na proeminência judaica no Sistema Financeiro Internacional, nas Agências de Notícias e no bolchevismo) e os membros que sempre deixaram transparecer a presença maçônica nos altos postos de decisões. Hitler apenas foi quem mais alto se levantou para enfrentar com chances reais de vitória essa onda, e valendo tais chances até 08 de maio de 1945, quando por dois dias de atraso os mais avançados submarinos e aviões do mundo, alemães, não entraram em batalha, e isso admitido pelos principais nomes dos EUA na época, no que se refere as tecnologias de guerra em ação ou projetadas: Harry Reynolds (jornalista) e especialmente o principal nome das FFAA americanas no departamento de tecnologia: John A. Keck. (Salvador Borrego em Derrota Mundial aborda isso).

      Durante essa semana e a próxima irei expor os pontos de Patrick Buchanan que evidenciam que Hitler não queria a guerra.

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    2. Palestra sobre a situação das minorias alemãs na Polônia, que culminaram na invasão após inúmeras tentativas de resolver a situação pacificamente: https://www.youtube.com/watch?v=fi7cTN-OSqA&t=1468s

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  3. Grã-Bretanha tinha dado uma garantia de auxilio a Polônia já em março de 1939 depois da Alemanha estabelecer o Protetorado da Boêmia e Morávia, desintegrando assim a Checoslováquia, passando por cima da chancela da Grã-Bretanha, França que tinham feito possível o Acordo de Munique, então já era conhecimento de Hitler que qualquer atitude hostil em relação a Polônia teria consequências. Na mentalidade deles mesmo que Hitler fizesse um acordo com os poloneses na questão de Danzig e o corredor, nada garantia que ele fizesse com a Polônia o mesmo que fez com a Checoslováquia, Hitler falhou feio ao transformar a parte checa da Checoslováquia em um protetorado, isso humilhou a diplomacia de Chamberlain diante do establishment inglês e Patrick Buchanan, que você tanto cita, confessa isso no seu livro, foi um erro de Hitler ter feito aquilo, prejudicou a causa pelo acordo com a Polônia, a Polônia ficou receosa de ter o mesmo destino e por isso foi para os braços da Grã-Bretanha, até então eles achavam que a Alemanha estava certa na questão de Danzig antes desse erro em ocupar a Checoslováquia.

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