domingo, 21 de maio de 2023

Como Jeová Conquistou Roma - Cristianismo e a Grande Mentira - parte 4 - a estória sobre Jesus como imitação do mito de Rômulo e a paixão de Jesus como imitação de tradições da Antiguidade - por Laurent Guyénot

 Continuação de Como Jeová Conquistou Roma - Cristianismo e a Grande Mentira - parte 3 - cristianismo se apropriando do mitraísmo - por Laurent Guyénot

Laurent Guyénot

A Questão Jesus: Quão falsas são as Boas Novas?

Eu considero o livro de Barbiero uma tentativa frutífera de resolver o mistério de como os judeus criaram o cristianismo e o transformaram na religião romana. Mas certamente não dá a história completa. Muito aconteceu nos próximos três séculos que necessita ser esclarecido. Um contexto importante, que raramente é considerado, é a “Crise do Terceiro Século” (235-284), durante a qual “o Império Romano quase entrou em colapso sob as pressões combinadas de invasões bárbaras e migrações para o território romano, guerras civis, rebeliões camponesas, instabilidade política” (Wikipedia), mas também eventos cataclísmicos e doenças generalizadas, como a Praga de Cipriano (249-262 d.C.), que supostamente matou até 5.000 pessoas por dia em Roma.22 Em tal contexto, o sabor apocalíptico do cristianismo inicial deve ter sido um fator-chave de seu sucesso. Interessantemente, o apocalíptico Livro do Apocalipse, o último incluído no cânone cristão, é considerado por alguns estudiosos como uma edição cristianizada de um apocalipse judaico, porque, com exceção de seu prólogo e epílogo (de 4:1 a 22:15), ele não contém nenhum motivo cristão reconhecível.23

            Há também dois blocos de construção importantes do cristianismo que o foco de Barbiero no mitraísmo romano deixa de fora: a vida de Jesus nos Evangelhos e o Cristo místico de Paulo. Como eles se originaram e como eles foram integrados? A conexão entre eles é um dos problemas mais difíceis sobre o nascimento do cristianismo. Pois, como Earl Doherty escreve em The Jesus Puzzle: Did Christianity begin with a mythical Christ (1999), um livro que causou uma onda de choque no campo de estudos sobre Jesus (aqui citado neste pdf de 600 páginas*7): “Nem uma vez Paulo ou qualquer outro dos escritores de epístolas do primeiro século identificam seu divino Cristo Jesus com o homem histórico recente conhecido nos Evangelhos. Nem atribuem os ensinamentos éticos que apresentam a tal homem”. Cristo é simplesmente para Paulo uma divindade celestial que suportou uma provação de encarnação, morte, sepultamento e ressurreição, e que se comunica com seus devotos através de sonhos, visões e profecias. Essa cristologia gnóstica tem raízes em religiões de mistério muito anteriores a Jesus. É difícil explicar como um Jesus humano pôde se transformar em um Cristo tão divino em poucas décadas, durante a vida de quem o conheceu.

A primeira dificuldade é que a grande maioria dos primeiros cristãos eram, é claro, judeus. ‘Deus é Um’, diz o mais fundamental dos dogmas teológicos judaicos. Além disso, a mente judaica tinha uma obsessão contra associar qualquer coisa humana com Deus. Ele não poderia ser representado nem mesmo pela sugestão de uma imagem humana, e milhares de judeus tinham descoberto seus pescoços diante das espadas de Pilatos simplesmente para protestar contra a montagem de estandartes militares com a imagem de César à vista do Templo. A ideia de que um homem era uma parte literal de Deus teria sido recebida por qualquer judeu com horror e apoplexia.

E, ainda, nós devemos acreditar que os judeus foram imediatamente levados a elevar Jesus de Nazaré a níveis divinos sem precedentes na inteira história da religião humana. Nós vamos acreditar não somente que eles identificaram um criminoso crucificado com o antigo Deus de Abraão, mas que percorreram o império e praticamente da noite para o dia tendo convertido um grande número de outros judeus à mesma proposição ultrajante – e completamente blasfema. Dentro de um punhado de anos após a suposta morte de Jesus, nós sabemos de comunidades cristãs em muitas das principais cidades do império, todas presumivelmente tendo aceitado que um homem que nunca haviam conhecido, crucificado como um rebelde político em uma colina fora de Jerusalém, havia se levantado de os mortos e era de fato o Filho preexistente de Deus, criador, sustentador e redentor do mundo. Uma vez que muitas das comunidades cristãs em que Paulo trabalhou existiam antes de ele chegar lá, e uma vez que as cartas de Paulo não apoiam o quadro que Atos pinta de intensa atividade missionária por parte do grupo de Jerusalém ao redor de Pedro e Tiago, a história não registra quem executou essa impressionantemente espantosa façanha.24

A maneira mais simples de superar essa dificuldade é assumir que a transformação do Jesus humano no Cristo cósmico (ou numa volta contrária, como sugere Doherty) não aconteceu espontaneamente, mas foi engendrada pela conexão de vários elementos, com o direcionamento de uma religião sincrética judaico-helenística fabricada.

As cartas de Paulo foram coletadas pela primeira vez na primeira metade do segundo século por Marcião de Sinope, que também incluiu em seu cânone uma breve evangelização (ele foi o primeiro a usar o termo), mas rejeitou o Tanakh judaico.#9 Por volta de 208, Tertuliano, um cartaginês de provável origem judaica, reclamou que “a tradição herética de Marcião encheu o universo” (Contra Marcião, v, 19). Ele também nos conta que, durante a época de Marcião, outro professor gnóstico chamado Valentino quase se tornou bispo de Roma. No século III d.C. apareceu o persa Mani, que se autodenominava “apóstolo de Jesus Cristo”, mas rejeitava qualquer influência judaica.  Os maniqueístas tornaram-se o rótulo que a Igreja Católica atribuiu a todos os movimentos gnósticos vindos do Oriente, como os paulicianos da Anatólia no século VIII, ou os bogomilos da Bulgária no século IX, ancestrais dos cátaros que foram erradicados do sul da França no início do século XIII. Todos esses movimentos, que podem ser vistos como ondas sucessivas do mesmo movimento, veneravam Paulo e rejeitavam a Torá, cujo deus eles consideravam um demiurgo maligno, um demônio enganador ou uma ficção maliciosa.

No quarto século, o cristianismo gnóstico ainda estava vivo e florescente. A biblioteca monástica da Irmandade Egípcia de São Pacômio, o primeiro mosteiro cristão conhecido, continha uma grande riqueza de literatura gnóstica (incluindo o Evangelho de Tomé), em meio a livros platônicos, herméticos e zoroastrianos. Conforme o estudioso do Novo Testamento, Robert Price, conta em seu fascinante livro Deconstructing Jesus (2000)*8:

Aparentemente, quando os monges receberam a Carta de Páscoa de Atanásio em 367 d.C., que contém a primeira lista conhecida dos vinte e sete livros canônicos do Novo Testamento, advertindo os fiéis a não lerem outros, os irmãos devem ter decidido esconder seus queridos evangelhos “heréticos”, para que eles não caíssem nas mãos dos queimadores de livros eclesiásticos.25

            Todos esses códices foram escondidos em um cemitério em Nag Hammadi, onde foram descobertos em 1945, revolucionando nossa imagem do cristianismo primitivo. Os estudiosos têm desde então começado a questionar a visão tradicional dos gnósticos como dissidentes que romperam com a Igreja Ortodoxa; em vez disso, os gnósticos que nunca cessaram de afirmar que os católicos romanos estavam corrompendo o Evangelho sob a influência judaica, podem ter estado certos o tempo todo.

Quando eu comecei a investigar essas questões, descobri que uma nova escola de exegese do Novo Testamento, iniciada pelo Jesus Puzzle de Earl Doherty, afirma que o cristianismo nasceu no mito, não na história. Eu tinha sempre assumido que a biografia de Jesus era historicamente plausível demais para ser uma ficção. Na casa dos trinta, eu tinha me tornado fascinado pela busca pelo Jesus histórico e escrevi um livro sobre o relacionamento “lendário” entre Jesus e João Batista#10, o qual argumentava que os escritores do Evangelho falsificaram as profecias genuínas de João e forjaram elogios espúrios de Jesus por João, e que muitos dos ditos atribuídos a Jesus (do hipotético documento Q) foram originalmente atribuídos a João.26 No entanto, eu não duvidava da historicidade de Jesus. Mas minha recente jornada na teoria do “mito de Cristo” me convenceu de que o Jesus histórico é mais elusivo do que eu pensava. Os Evangelhos, por um lado, não são tão antigos como geralmente se admite (entre os anos 70 e 90), pois, conforme Doherty aponta:

Somente em Justino Mártir, escrito nos anos 150, nós encontramos as primeiras citações identificáveis de alguns dos Evangelhos, embora ele os chame simplesmente de “memórias dos Apóstolos”, sem nomes. E essas citações geralmente não concordam com os textos das versões canônicas que temos agora, mostrando que tais documentos ainda estavam em evolução e revisão.27

            Uma data do final do século II para a primeira narrativa sobre Jesus é consistente com a hipótese – que vai contrária a teoria de Barbiero – de que as Antiguidades dos Judeus de Josefo continham originalmente uma referência a João Batista e uma a Tiago, o Justo, mas nenhuma referência a Jesus, que foi mais tarde inserido entre os dois para que João fosse apresentado como precursor de Jesus e Tiago como seu irmão e herdeiro. Há muitas evidências de que Tiago, como João Batista antes dele, era uma figura famosa por si só. De acordo com o estudioso bíblico Robert Eisenman, autor de James, the Brother of Jesus: The Key to Unlocking the Secrets of Early Christianity and the Dead Sea Scrolls, Tiago é idêntico ao “Mestre da Justiça” mencionado em alguns dos Manuscritos do Mar Morto, os quais têm sido datados muito cedo. Estranhamente,  

a pessoa de Tiago é quase diametralmente oposta ao Jesus das Escrituras e à nossa compreensão comum dele. Considerando que o Jesus da Escritura é antinacionalista, cosmopolita, antinomiano – isto é, contra a aplicação direta da Lei Judaica – e aceitando estrangeiros e outras pessoas de impurezas percebidas, o Tiago Histórico se tornará zeloso pela Lei, e rejeitando estrangeiros e pessoas poluídas em geral.

Sua morte por apedrejamento em 62 “estava conectada na imaginação popular com a queda de Jerusalém em 70 d.C. de uma maneira que a de Jesus, cerca de quatro décadas antes, não poderia ter estado”.

Manuscritos variantes das obras de Josefo, relatados por pais da Igreja como Orígenes, Eusébio e Jerônimo, todos os quais em um momento ou outro passaram algum tempo na Palestina, contêm materiais associando a queda de Jerusalém com a morte de Tiago – não com a morte de Jesus. Seus protestos estridentes, particularmente os de Orígenes e Eusébio, provavelmente não têm nada a ver com o desaparecimento desta passagem de todos os manuscritos da Guerra Judaica que têm chegado até nós.  28

            Os estudiosos de Jesus da escola “mítica” – por oposição à “historicista” – se abstêm de expressar sua conclusão em termos conspiratórios. Em seu livro On the Historicity of Jesus, Why We Might Have Reason For Doubt, Richard Carrier escreve: “o Jesus que conhecemos originou-se como um personagem mítico” e somente “mais tarde, esse mito foi confundido com história (ou deliberadamente reembalado dessa maneira).” Mas eu acho “confundido” muito improvável e “reembalado deliberadamente” muito mais provável. Carrier realmente sugere que a estrutura fundamental da narrativa foi emprestada de um padrão mítico romano bem estabelecido:

Na biografia de Plutarco sobre Rômulo, o fundador de Roma, somos informados de que ele era filho de deus, nascido de um humilde pastor; então, como homem, ele se torna amado pelo povo, aclamado como rei e morto pela elite conivente; então ele ressuscita dos mortos, aparece a um amigo para contar as boas novas ao seu povo e ascende ao céu para governar do alto. Assim como Jesus. Plutarco também nos fala sobre cerimônias públicas anuais que ainda estavam sendo realizadas, que celebravam o dia em que Rômulo ascendeu ao céu. A história sagrada contada neste evento foi basicamente a seguinte: no final de sua vida, em meio a rumores, ele foi assassinado por uma conspiração do Senado (assim como Jesus foi “assassinado” por uma conspiração dos judeus – na verdade pelo Sinédrio, o equivalente judaico do Senado), o sol escureceu (assim como aconteceu quando Jesus morreu) e o corpo de Rômulo desapareceu (assim como o de Jesus). As pessoas queriam procurá-lo, mas o Senado disse que não, “pois ele tinha subido para se juntar aos deuses” (como um jovem misterioso conta às mulheres no Evangelho de Marcos). A maioria partiu feliz, esperando coisas boas de seu novo deus, mas “alguns duvidaram” (assim como todos os Evangelhos posteriores dizem de Jesus: Mateus 28,17; Lucas 24,11; João 20,24-25; até mesmo Marcos 16,8 implica isso). Logo depois, Proculo, um amigo próximo de Rômulo, relatou que conheceu Rômulo “na estrada” entre Roma e uma cidade próxima e perguntou-lhe: “Por que você tem nos abandonado?”, ao que Rômulo respondeu que ele tinha sido um deus. o tempo todo, mas desceu à terra e se tornou encarnado para estabelecer um grande reino, e agora teve que retornar para seu lar no céu (mais ou menos como acontece com Cleofas em Lucas 24,13-32). Então Rômulo disse a seu amigo para dizer aos romanos que, se fossem virtuosos, eles teriam todo o poder mundano.

[…] O relato de Lívio [História 1.16], assim como o de Marcos, enfatiza que “o medo e o luto” mantiveram o povo “silencioso por muito tempo”, e só mais tarde eles proclamaram Rômulo “Deus, Filho de Deus, Rei e Pai ”, combinando assim com o “eles não disseram nada a ninguém” de Marcos, mas obviamente assumindo que de alguma maneira a notícia vazou.

Certamente parece que Marcos está moldando Jesus no novo Rômulo, com uma mensagem nova e superior, estabelecendo um reino novo e superior. Esse conto romulano se parece muito com um modelo esquelético para a narrativa da paixão: um grande homem, fundador de um grande reino, apesar de ser de origem humilde e de parentesco suspeito, é na verdade um filho de deus encarnado, mas morre em resultado de uma conspiração do conselho governante, então uma escuridão cobre a terra em sua morte e seu corpo desaparece completamente, ao que aqueles que o seguiram fogem com medo (assim como as mulheres do Evangelho, Marcos 16,8; e os homens, Marcos 14,50-52), e como eles nós também procuramos por seu corpo, mas dizem que ele não está aqui, ele ressuscitou; e alguns duvidam, mas então o deus ressurreto ‘aparece’ para selecionar seguidores para entregar seu evangelho.

Há muitas diferenças nas duas histórias, com certeza. Mas as semelhanças são numerosas demais para serem uma coincidência – e as diferenças são provavelmente deliberadas. Por exemplo, o reino material de Rômulo que favorece os poderosos é transformado em um reino espiritual que favorece os humildes. Certamente parece que a narrativa da paixão cristã é uma transvaloração intencional da cerimônia do Império Romano da encarnação, morte e ressurreição de seu próprio salvador fundador. Outros elementos têm sido adicionados aos Evangelhos – a história pesadamente judaizada, e muitos outros símbolos e motivos puxados para transformá-la – e a narrativa tem sido modificada, em estrutura e conteúdo, para se adequar à própria agenda moral e espiritual dos cristãos. Mas a estrutura básica não é original.29

Outros estudiosos há muito identificam fortes paralelos entre a vida de Jesus e as vidas lendárias de homens santos tais como Pitágoras ou Apolônio de Tiana. No último, por exemplo, descobrimos que Apolônio, depois de uma vida fazendo milagres, curando enfermos, expulsando demônios e ressuscitando mortos, foi entregue por seus inimigos às autoridades romanas. “Ainda assim”, de acordo com o resumo de Bart D. Ehrman, “depois de deixar este mundo, ele voltou para encontrar seus seguidores a fim de convencê-los de que não estava realmente morto, mas vivia no reino celestial”.30

{O primeiro rei de Roma, Rômulo, transporta rico espólio para o templo de Júpiter. Pintura de Jean-Auguste Dominique Ingres, 1812. Fonte Wikipedia.}


Robert Price tem apontado outra fonte provável para as narrativas do Evangelho: romances gregos como Quéreas & Calírroe, de Cáriton, Conto Efésio de Xenofonte, Leucipa e Clitofonte de Aquiles Tácio, História Etíope de Heliodoro, Dáfnis e Cloé de Longo, A História de Apolônio, Rei de Tiro, História Babilônica de Jâmblico e Satíricon de Petrônio.

Três grandes dispositivos de enredo se repetem como um relógio nos romances antigos, que geralmente eram sobre as aventuras de amantes infelizes, um pouco como as novelas modernas. Primeiro, a heroína, uma princesa, entra em coma e é tomada como morta. Enterrada prematuramente, ela desperta mais tarde na escuridão da tumba. Ironicamente, ela é descoberta em cima da hora por ladrões de túmulos que arrombaram o opulento mausoléu em busca de ricas fichas funerárias [...]. Os bandidos salvam sua vida, mas também a sequestram, já que não podem deixar uma testemunha para trás. Quando seu noivo ou marido chega ao túmulo para lamentar, ele fica surpreso ao encontrar o túmulo vazio e primeiro adivinha que sua amada foi levada para o céu porque os deuses invejaram sua beleza. Em uma história, o homem vê a mortalha deixada para trás, assim como em João 20:6-7.

O segundo enredo padrão é que o herói, finalmente percebendo o que aconteceu, sai em busca da heroína e acaba entrando em conflito com um governador ou rei que a deseja e, para tirá-lo do caminho, manda o herói ser crucificado. Claro, o herói sempre consegue um perdão de última hora, mesmo uma vez afixado na cruz, ou sobrevive à crucificação por algum golpe de sorte. Algumas vezes, a heroína também parece ter sido morta, mas acaba viva, afinal.

Em terceiro lugar, finalmente temos um alegre reencontro dos dois amantes, cada um dos quais se desesperou por nunca mais ver o outro. A princípio, eles não conseguem acreditar que não estão vendo um fantasma vindo para confortá-los. Finalmente, incrédulos de alegria, eles estão convencidos de que seu ente querido sobreviveu na carne.

Conforme eu tenho observado em meu artigo “The Crucifixion of the Goddess {A Crucificação da Deusa}*9”, o padrão de romance de amor ainda é aparente no Evangelho, onde o Jesus ressurreto aparece primeiro para sua seguidora de longa data, Maria Madalena, que, talvez por esse motivo, era considerada como alma gêmea de Jesus por muitos gnósticos.31

            Price cita a seguinte passagem de Quéreas & Calírroe de Cáriton, onde Quéreas descobre a tumba vazia de sua amada:

Quando ele alcançou a tumba, ele descobriu que as pedras tinham sido removidas e a entrada estava aberta. [Conferir João 20:1] Ele ficou enormemente surpreso com a visão e dominado por uma terrível perplexidade com o que havia acontecido. [Conferir Marcos 16:5] O boato – um mensageiro rápido – deu aos siracusanos essa notícia incrível. Todos eles rapidamente se aglomeraram ao redor da tumba, mas ninguém ousou entrar até que Hermócrates deu uma ordem para fazê-lo. [Conferir João 20:4-6] O homem que entrou relatou toda a situação com acuradamente. [Conferir João 19:35; 21:24] Parecia incrível que nem mesmo o cadáver estivesse ali. Então o próprio Quéreas decidiu entrar, em seu desejo de ver Calírroe novamente, mesmo morta; mas embora ele perseguisse pela tumba, ele não pode encontrar nada. Muitas pessoas não acreditaram e foram atrás dele. Todos eles foram tomados pelo desamparo. Um dos que estavam ali disse: “As ofertas fúnebres foram levadas [a tradução de Cartlidge diz: “A mortalha foi retirada” – conferir João 20:6-7] – são ladrões de tumbas que fizeram isso; mas e o cadáver – onde está ele? Muitas sugestões diferentes circularam na multidão. Quéreas olhou para o céu, estendeu os braços e gritou chorando: “Qual dos deuses é, então, que se tornou meu rival no amor e levou Calírroe e agora a mantém com ele…?

Mais tarde, Calírroe, refletindo sobre suas vicissitudes, diz: “Eu tenho morrido e voltei à vida”. Mais tarde ainda, ela lamenta: “Eu tenho morrido e sido enterrada; eu fui roubada de minha tumba”. Nesse ínterim, o pobre Quéreas é condenado à cruz, que ele mesmo deve carregar. Mas no último minuto, pouco antes de ser pregado, sua sentença é comutada e ele é retirado da cruz. “Aqui, então”, comenta Price, “está um herói que foi à cruz por sua amada e retornou vivo. Na mesma história, um vilão é igualmente crucificado, embora, como está ganhando seus justos méritos, não seja perdoado. Este é Teron, o pirata que levou o pobre Calírroe à escravidão. ‘Ele foi crucificado em frente ao túmulo de Calírroe.’”

Alguns judeus, por alguma Hasbará {uma denominação em hebraico para “propaganda”11} concertada e persistente, fizeram lavagem cerebral nos romanos com um inacreditável conto judaico plagiado de romances gregos, mitos romanos e culto mitraico? Certamente existem outras maneiras de olhar para o cristianismo do que como um truque judaico. Mas eu acho que vale a pena considerar a hipótese. Eu ouço neste site {The Unz Review – An alternative media selection} muitas reclamações contra a colonização cultural judaica. Eu estou apenas sugerindo que isso não começou ontem.

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander


Notas

22 Nota de Laurent Guyénot:  Kyle Harper, The Fate of Rome: Climate, Disease, and the End of an Empire, Princeton UP, 2017. 

23 Nota de Laurent Guyénot:  Ver, por exemplo, James Charlesworth, Jesus within Judaism, SPCK, 1989. 

24 Nota de Laurent Guyénot:  Earl Doherty, The Jesus Puzzle: Was There no Historical Jesus? Neste pdf de 600 páginas, pp. 33 e 16. 

#9 Nota de Mykel Alexander: A coleção de Escrituras canônicas do judaísmo é nomeada Tanak, acrônimo formado pelas primeiras letras das três partes da Bíblia judaica:

- Tōrāh ou Torá (Lei, instrução) – são os cinco primeiros livros (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio) da bíblia judaica e do Antigo Testamento da bíblia cristã;

- Năḇīʾīm ou Nevi'im (Profetas);

- Kăṯūḇīm ou ketuvim (Escritos).

                Nestas três partes estão distribuídos vinte e quatro livros de origens manuscritas.

                O cânon da Bíblia judaica o qual foi fixado pelos judeus da Palestina no início da era cristã só admite os livros hebraicos, e foi acolhido também pelas vertentes cristãs evangélicas, excluindo complementos gregos adicionados em Ester e Daniel (algumas partes em grego; Susana; Bel e o Dragão), bem como demais livros não oriundos do hebraico (Judite; Tobias; Macabeus I e II mais III e IV apócrifos; Eclesiástico; Livro da Sabedoria ou Sabedoria de Salomão; Baruc; Carta de Jeremias.) originalmente incorporados no cânon católico. 

                Ver:

- Bíblia de Jerusalém, 1ª edição, 2002, 12ª reimpressão, 2017, Paulus, São Paulo. Ver na parte introdutória a listas dos livro da Bíblia Hebraica e lista de livros da Bíblia Grega.

- Brian Kibuuka, A Torá comentada, Fonte Editorial, São Paulo, 2020. Ver prefácio do Dr. Waldecir Gonzaga e apresentação de Brian Kibuuka (páginas 21-24). 

*8 Fonte utilizada por Laurent Guyénot:  https://archive.org/details/DeconstructingJesus 

25 Nota de Laurent Guyénot:  Robert Price, Deconstructing Jesus, Prometheus Book, 2000, archive.org, páginas 44-45.

https://archive.org/details/DeconstructingJesus 

#10 Nota de Mykel Alexander: Jésus et Jean Baptiste: Enquête historique sur une rencontre légendaire, Imago Exergue, 1998. 

26 Nota de Laurent Guyénot:  Estudiosos recentes argumentando ao longo dessas linhas incluem: Karl H. Kraeling, John the Baptist, Charles Scribner’s Sons, 1951; Charles H. H. Scobie, John the Baptist, Fortress Press, 1964; W. Barnes Tatum, John the Baptist and Jesus: A Report of the Jesus Seminar, Polebridge Press, 1994; Joan Taylor, The Immerser: John the Baptist within Second Temple Judaism, Wm B. Eerdmans, 1996; Robert L. Webb, John the Baptizer and Prophet: A Socio-Historical Study, Sheffield Academic Press, 1991; Walter Wink, John the Baptist in the Gospel Tradition, Cambridge UP, 1968. 

27 Nota de Laurent Guyénot:  Earl Doherty, The Jesus Puzzle: Was There no Historical Jesus?, obra citada, página 52 . 

28 Nota de Laurent Guyénot:  Robert Eisenman, James the Brother of Jesus: The Key to Unlocking the Secrets of Early Christianity and the Dead Sea Scrolls, Viking Penguin, 1996.

29 Nota de Laurent Guyénot:  Richard Carrier, On the Historicity of Jesus, Why We Might Have Reason For Doubt, Sheffield Phoenix Press, 2014, página 56. 

30 Nota de Laurent Guyénot:  Bart D. Ehrman Did Jesus Exist?: The Historical Argument for Jesus of Nazareth, HarperCollins, USA. 2012, página 208, citado da Wikipédia.

https://en.wikipedia.org/wiki/Apollonius_of_Tyana 

*9 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: The Crucifixion of the Goddess - The rise and fall of Western Romanticism, por Laurent Guyénot, 02 de setembro de 2019, The Unz Review – An alternative media selection.

https://www.unz.com/article/the-crucifixion-of-the-goddess/ 

31 Nota de Laurent Guyénot: Elaine Pagels, The Gnostic Gospels, Weidenfeld & Nicolson, 1979. 

11 Nota de Mykel Alexander: Hasbará como propaganda judaica e seu uso no século XX é abordado por Gideon Kouts, From Sokolow to "Explaining Israel": The Zionist "Hasbara" First "Campaign Strategy Paper" and Its Applications, em Revue Européenne des Études Hébraïques, nº 18 (2016), páginas 103-146.

https://www.jstor.org/stable/26624281

 


How Yahweh Conquered Rome - Christianity and the Big Lie, por Laurent Guyénot, 25 de dezembro de 2020, The Unz Review – An alternative media selection.

https://www.unz.com/article/how-yahweh-conquered-rome/

Sobre o autor: Laurent Guyénot (1960-) possuí mestrado em Estudos Bíblicos e trabalho em antropologia e história das religiões, tendo ainda o título de medievalista (PhD em Estudos Medievais em Paris IV-Sorbonne, 2009) e de engenheiro (Escola Nacional de Tecnologia Avançada, 1982).

Entre seus livros estão:

LE ROI SANS PROPHETE. L'enquête historique sur la relation entre Jésus et Jean-Baptiste, Exergue, 1996.

Jésus et Jean Baptiste : Enquête historique sur une rencontre légendaire, Imago Exergue, 1998.

Le livre noir de l'industrie rose – de la pornographie à la criminalité sexuelle, IMAGO, 2000.

Les avatars de la réincarnation: une histoire de la transmigration, des croyances primitives au paradigme moderne, Exergue, 2000.

Lumieres nouvelles sur la reincarnation, Exergue, 2003.

La Lance qui saigne: Métatextes et hypertextes du Conte du Graal de Chrétien de Troyes, Honoré Champion, 2010.

La mort féerique: Anthropologie du merveilleux (XIIᵉ-XVᵉ siècle), Gallimard, 2011.

JFK 11 Septembre: 50 ans de manipulations, Blanche, 2014.

Du Yahvisme au sionisme. Dieu jaloux, peuple élu, terre promise: 2500 ans de manipulations, Kontre Kulture, Kontre Kulture, 2016. Tem edição em inglês: From Yahweh to Zion: Jealous God, Chosen People, Promised Land...Clash of Civilizations, Sifting and Winnowing Books, 2018.

Petit livre de - 150 idées pour se débarrasser des cons, Le petit livre, 2019.

“Our God is Your God Too, But He Has Chosen Us”: Essays on Jewish Power, AFNIL, 2020.

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Relacionado: sobre a questão judaica, sionismo e seus interesses globais ver:

O Gancho Sagrado - O Cavalo de Tróia de Jeová na Cidade dos Gentios {os não-judeus} - por Laurent Guyénot - parte 1 (demais duas partes na sequência do próprio artigo)

O truque do diabo: desmascarando o Deus de Israel - Por Laurent Guyénot - parte 1

Êxodo recorrente: Identidade judaica e Formação da História - Por Andrew Joyce, Ph.D., {academic auctor pseudonym}

Sionismo, Cripto-Judaísmo e a farsa bíblica - parte 1 - por Laurent Guyénot (parte 2 na sequência do próprio artigo)

Conversa direta sobre o sionismo - o que o nacionalismo judaico significa - Por Mark Weber

Judeus: Uma comunidade religiosa, um povo ou uma raça? por Mark Weber

Controvérsia de Sião - por Knud Bjeld Eriksen

Sionismo e judeus americanos - por Alfred M. Lilienthal

Por trás da Declaração de Balfour A penhora britânica da Grande Guerra ao Lord Rothschild - parte 1 - Por Robert John {as demais 5 partes seguem na sequência}

Raízes do Conflito Mundial Atual – Estratégias sionistas e a duplicidade Ocidental durante a Primeira Guerra Mundial – por Kerry Bolton

Ex-rabino-chefe de Israel diz que todos nós, não judeus, somos burros, criados para servir judeus - como a aprovação dele prova o supremacismo judaico - por David Duke

Grande rabino diz que não-judeus são burros {de carga}, criados para servir judeus - por Khalid Amayreh

Por que querem destruir a Síria? - por Dr. Ghassan Nseir

Congresso Mundial Judaico: Bilionários, Oligarcas, e influenciadores - Por Alison Weir

Um olhar direto sobre o lobby judaico - por Mark Weber


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