Laurent Guyénot |
O próximo milênio russo
“Russianismo” é a promessa de uma cultura futura à medida que as sombras da noite se tornam cada vez mais longas sobre o mundo ocidental. As distinções entre o espírito russo e o ocidental não podem ser traçadas com muita precisão. Por mais profunda que seja a divisão entre o espírito, a religião, a política e a economia da Inglaterra, Alemanha, América e França, quando comparadas com a Rússia, essas nações subitamente aparecem como um mundo unificado.1
Assim
escreveu Oswald Spengler#1 em Prussian
Socialism,*1 publicado em 1919,
entre os dois volumes de A Decadência do Ocidente.*2
Neste último, Spengler também previu que após o colapso do “Ocidente
Faustiano”, uma nova força civilizacional surgiria na Rússia.
O
Ocidente Faustiano se opõe a isso com todas as suas forças. Mas aconteça o que
acontecer, o sol nascerá no leste para os povos europeus. O renascimento da fé
e dos valores morais na Rússia veio para ficar, graças a uma forte aliança
entre Estado e Igreja para a defesa dos valores familiares tradicionais. Para
medir a distância com o Ocidente, deixe-me simplesmente recordar a lei federal
ratificada em 2013 que proíbe e pune “propaganda de relações sexuais não
tradicionais na frente de menores”. Nós só podemos sonhar com isso aqui. Em 4
de dezembro de 2015, Vladimir Putin, dirigindo-se à Assembleia Federal da
Rússia*3 como todos os anos, colocou no topo
das prioridades da Rússia “famílias saudáveis e uma nação saudável, [e] os
valores tradicionais os quais herdamos de nossos antepassados”. Por isto
somente a Rússia tornou-se agora o eixo da civilização em torno do qual a
Europa deveria gravitar.
“Nossa
salvação virá da Rússia”, afirmou o líder da oposição francesa Alain Soral há
quatro anos (assista aqui*4 e mais
vídeos com legendas em inglês aqui)*5. Dada a
degeneração moral da população francesa, Soral desejava que as provocações
bélicas da OTAN contra a Rússia acabassem por forçar Putin a travar uma blitzkrieg
{uma investida bélica fulminante} preventiva na Europa Ocidental. Isso, disse
ele, poderia “criar as condições para uma revolução nacional para restaurar a
França”. As previsões de Soral muitas vezes se mostraram corretas, por exemplo,
quando, em Understand the Empire, publicado há dez anos e agora
traduzido para o inglês, ele viu o Ocidente caminhando em direção à “governança
global em nome da saúde pública sob o ditame da Organização Mundial da Saúde, ”
usando as pandemias como “outra construção baseada em fraude que permitirá à
oligarquia global aterrorizar populações inteiras e subjugá-las a políticas
autoritárias: vacinação obrigatória sob a supervisão das forças armadas, banimento
de assembleias e assim por diante”. No ponto!
A
visão de que um reavivamento espiritual e moral pode vir da Rússia para a
Europa parece cada dia mais convincente. A Rússia preenche todas as condições
para um equilíbrio frutífero entre nacionalismo e cristianismo. A Ortodoxia
Russa é a união entre uma nação e sua Igreja. Isso faz uma inteira diferença
com o catolicismo. Imagine que Putin tinha que buscar a bênção de um papa
argentino em Roma! Nenhum impulso patriótico poderia surgir disso. Mais de 70%
dos russos se identificam como cristãos ortodoxos porque ortodoxia significa ser
russo.2
A
Igreja Russa também tem o karma a seu lado: um grande número de mártires sob
Lenin e Stalin. Embora não ela tenha absolutamente vivido sob este papel, a
Igreja Russa simboliza a resistência da fé contra a ditadura comunista e seu
materialismo ideológico, e pode afirmar ter sido ressuscitada com o sangue dos
mártires.
Muito
inteligente e habilmente, alguns diriam, a Igreja canonizou a família Romanov,
que agora é homenageada na Igreja de Todos os Santos, construída no local de
sua execução pelos bolcheviques judeus.#2
Enquanto a América desparafusa as estátuas de seus heróis, a Rússia descobre
novas e as transforma em semideuses a partir delas. Imagine uma igreja católica
sendo consagrada em homenagem a JFK no local de sua execução pela máfia judaica6.
Construir
e reconstruir igrejas é uma parte chave da reconstrução da Igreja. A primeira e
mais simbólica das dezenas de milhares de belas igrejas abertas desde 1991 é a
Catedral de Cristo Salvador, não muito longe do Kremlin. Ela tinha sido
explodida em 1931 e reconstruída 60 anos depois, graças a investimentos maciços
do governo e de empresas privadas.
Admitidamente
a fusão entre religião e patriotismo, incentivada pela Igreja e pelo Estado, alcança
formas alarmantes, inéditas nos tempos czaristas, como a Catedral das Forças
Armadas Russas, celebrando a “Vitória na Grande Guerra Patriótica”. Ela foi inaugurada
em 22 de junho de 2020, aniversário da Operação Barbarossa, que é o “Dia da Lembrança
e da Dor”. Ela não possui nenhuma estátua de Stalin, mas ordens do Exército
Vermelho em seus vitrais, um claro lembrete de que a história da Segunda Guerra
Mundial patrocinada pelo Estado é sagrada, pour les siècles des siècles.
O revisionismo à la Suvorov*7
é uma blasfêmia. Isso é lamentável, especialmente porque a razão de Putin para
invadir a Ucrânia preventivamente é muito semelhante ao motivo de Hitler para
invadir a Rússia em 1941, se Suvorov e Sean McMeekin estiverem certos, como eu acredito
que eles estejam.
A
arquitetura da maioria das igrejas russas, velhas ou novas, tem um caráter
decididamente nacional. As basílicas abobadadas são de fato uma elaboração do
estilo bizantino. E isso é bastante natural, porque a Rússia moscovita é a
herdeira espiritual de Bizâncio. A águia de duas cabeças no brasão da Rússia
foi dada a Ivan, o Grande (1462-1505) como dote quando ele se casou com a
sobrinha do último imperador bizantino. A moribunda Constantinopla confiou
assim sua alma a Moscou. A partir de então, a Rússia foi o único reino
ortodoxo. Assumindo que Moscou era agora a Terceira Roma, os governantes russos
assumiram o título de “czar”, a eslavização de “César”.
A
conversão à ortodoxia bizantina remonta à Rússia de Kiev, quando o rei Vladimir
(980-1015) foi batizado e casado com uma irmã do imperador bizantino Basílio
II. É dito que Vladimir abraçou o cristianismo ao invés do islamismo ou
judaísmo depois que seus emissários lhe contaram sobre a beleza do culto
bizantino em Constantinopla:
“nós não sabíamos se estávamos no céu na terra. Pois na terra não há tal esplendor ou tal beleza, e não sabemos como descrevê-los. Sabemos apenas que Deus habita entre os homens, e seu serviço é mais justo do que as cerimônias de outras nações.3
Vladimir
e seu filho Yaroslav fizeram com que arquitetos bizantinos construíssem em Kiev
uma basílica de Santa Sofia inspirada na de Constantinopla. A partir dessa
época, explica John Meyendorff em Byzantium and the Rise of Russia: “a
influência da civilização bizantina sobre a Rússia tornou-se o fator
determinante da civilização russa”.4
Durante o cisma de 1054 e durante todas as vicissitudes de Constantinopla, a
Rússia permaneceu fiel ao rito bizantino. Mesmo depois de 1261, quando
Constantinopla era apenas uma sombra de seu passado glorioso, manteve seu
prestígio e influência sobre as terras eslavas e, em particular, sobre o grande
principado de Moscou.
Conforme Nicolai Berdyaev escreveu em The Russian Idea
(1946), a Rússia “une dois mundos e, dentro da alma russa, dois princípios
estão sempre em íntimo conflito – o oriental e o ocidental”. Também nessa
tensão interna, a Rússia é herdeira de Bizâncio, a antiga ponte entre a Ásia e
a Europa.
A
Rússia nunca esqueceu Constantinopla. Catarina II, imperatriz de todas as
Rússias de 1762 até sua morte em 1796, esperava reconstruir o Império Bizantino
incluindo Grécia, Trácia e Bulgária, e passá-lo para seu neto Constantino. Se o
Império Otomano sobreviveu, foi principalmente graças aos britânicos. Na Guerra
da Criméia (1853-1856), o sultão recebeu ajuda do Reino Unido e da França, que
impuseram o Tratado de Paris à Rússia. Vinte anos mais tarde, o czar Alexandre
II mais uma vez foi à guerra contra os otomanos que tinham acabado de afogar a
revolta dos sérvios e búlgaros em um banho de sangue. Os otomanos capitularam
com os russos às portas de Istambul. Mas o Império Britânico e a
Áustria-Hungria vieram em socorro dos otomanos e, no Congresso de Berlim,
devolveram a eles as nações cristãs emancipadas pelo czar, incluindo a Armênia,
para maior de seus infortúnios.
Neste
artigo, eu desejo mostrar que a geoestratégia do Grande Jogo, pela qual os
britânicos e agora os americanos estão tentando cavar uma trincheira entre a Rússia
e a Europa, é a continuação de uma guerra travada pela Europa Ocidental contra
o Império Bizantino do século XI ao XV. Esta tese parece paradoxal se pensarmos
que Constantinopla agora se chama Istambul, mas não se entendermos a filiação espiritual
entre Constantinopla e Moscou. E se nós entendermos essa filiação, então um
pano de fundo milenar aparece de repente por trás do conflito geopolítico que
está tomando lugar atualmente. É esse pano de fundo que eu gostaria de traçar
aqui em traços largos. Ou melhor redesenhar, pois é conhecido no ocidente em
uma versão invertida que é, obviamente, a versão do vencedor. Este tipo de
revisionismo é, na minha opinião, uma condição necessária para que a Europa
aceite o seu destino eurasiano.
A
Rússia é de alguma forma assombrada pela Bizâncio imperial. É assim, a despeito
de si mesma, pois os próprios russos não sentem um chamado imperial e podem
realmente sofrer em sua identidade nacional por se tornarem imperiais. É a Europa que precisa da Rússia como um novo
farol de civilização, como precisou de Constantinopla durante a Idade Média. Pois
a Europa não pode existir sem alguma forma de unidade imperial ou federal; e
como não pode haver unidade sem liderança, a escolha agora é entre os EUA
(governando através da OTAN e da União Europeia) e a Rússia.
Em
Origins of Nationalism (um livro que conheci no interessante artigo de
James Lawrence*8), Caspar Hirschi
defende a tese de que o pensamento político na Europa durante a Idade Média foi
dominado pela visão imperial: “a cultura medieval, pelo menos nos estratos
superiores, pode ser descrita como uma secundária civilização romana.” As
grandes nações europeias surgiram tentando herdar o Império, através de “uma
intensa e interminável competição pela supremacia; todos os principais reinos
visavam o domínio universal, mas impediam uns aos outros de alcançá-la.”5 Eu acho essa perspectiva bastante
esclarecedora. Contudo, quando Hirschi descreve a ordem surgida no século XII
como “o produto de um anacronismo duradouro e contundente”, ele é enganado pelo
preconceito comum aos historiadores ocidentais: o Império Romano não era então
– ou não somente – uma memória distante, mas uma realidade viva. Roma era então
Constantinopla. Isto é o porquê, até o Grande Cisma, todos os pretendentes à
herança romana competiam por alianças matrimoniais com a dinastia bizantina,
começando por Carlos Magno (que queria casar sua filha Rotrude com o filho da
imperatriz Irene), Otto Ist (que casou seu filho, o futuro Otto II, com a
princesa bizantina Teofânia, mãe de Otto III), depois Hugo Capeto (que
solicitou uma princesa bizantina para si, sem sucesso).6 Até Frederick II Hohenstaufen
(1215-1250), a última esperança de reunir o Oriente e o Ocidente, os rituais
cerimoniais imperiais ocidentais foram emprestados de Bizâncio.7 É apenas na medida em que, por
rivalidade mimética, os reis ocidentais assumiam uma postura imperial (Filipe
II chamando a si mesmo de Augusto, por exemplo), que eles viam seus reinos como
mais do que apenas possessões territoriais. A civilização sempre pertenceu ao
império.
Quer
gostemos ou não, a Europa nunca foi realmente uma Europa de nações sem unidade
imperial, pelo menos como visão e meta. Ela nunca a será. Desde a Segunda
Guerra Mundial, após o fracasso da Alemanha em conquistar a liderança e a ruína
do império britânico arquitetado por Roosevelt, a Europa tem de facto sido
parte do imperium americano. Para se livrar dela, os europeus têm apenas
um caminho a percorrer: ser puxados para o campo civilizacional da Rússia, que,
como Bizâncio, é menos um império do que um Oikoumene, uma comunidade. E
isso requer uma abertura à Ortodoxia Russa, pois é a raiz da civilização russa.
Bizâncio Desconhecido
Nós,
ocidentais, não sabemos o que é a Rússia, porque nós não sabemos o que foi
Bizâncio. A civilização bizantina esteve no centro do mundo conhecido durante
os mil anos da Idade Média, mas você pode passar anos estudando “a Idade Média”
na universidade sem jamais ouvir falar sobre ela. Nada tem realmente mudado
desde que Paul Stephenson reclamou em 1972: “A exclusão da história bizantina
dos estudos europeus medievais realmente me parece uma ofensa imperdoável
contra o próprio espírito da história”.8
Quando
a historiografia ocidental menciona o Império Bizantino, é quase como um
fantasma do Império Romano do Ocidente. De acordo com o paradigma da translatio
imperii fabricado pela historiografia católica, o Império Romano do
Oriente é apenas a transferência do Império Romano da Itália para o Bósforo,
que logo será transferido novamente para Aachen. Mas essa representação é
enganosa. Quando Constantino estabeleceu sua capital em Bizâncio, Roma tinha
deixado de ser a capital do Império por meio século, tendo sido substituída por
Milão após a “Crise do Terceiro Século”. É admitido que o próprio Constantino
pisou em Roma apenas uma vez, para conquistá-la de Maxêncio. Como seu pai Constâncio
Cloro, Constantino era dos Bálcãs (nascido em Naissus, hoje Niš na Sérvia), na
região então chamada Moesia. Assim como seu predecessor Diocleciano, que é
citado como “Duque da Moésia” nas crônicas bizantinas, e cujo palácio ainda
pode ser visto em Split, hoje na Croácia.
A
ideia comum de que Constantinopla é uma pálida cópia de Roma é, portanto,
singularmente carente de perspectiva histórica. Constantinopla era filha de
Atenas, não de Roma. Suas tradições filosóficas, científicas, poéticas,
mitológicas e artísticas vieram diretamente da Grécia clássica, sem qualquer
contribuição romana. Foi Constantinopla que transmitiu a riqueza cultural da
Grécia para Roma. Sem o trabalho de conservação da Biblioteca Imperial de
Constantinopla, não conheceríamos Platão, Aristóteles, Tucídides, Heródoto,
Ésquilo, Sófocles, Eurípides ou Euclides. Em Constantinopla, a luz da Grécia
clássica nunca sofrido um eclipse. Embora Constantinopla conheça o conflito
entre cristianismo e humanismo, a dualidade cultural nunca tinha sido
questionada,9 e foi Fócio, patriarca
de Constantinopla de 858 a 867, quem se tornou o melhor defensor do
Renascimento macedônio por seu trabalho de conservação de livros gregos
antigos.
A
cultura grega irradiou de Constantinopla até os confins do mundo conhecido, da
Pérsia ao Egito e da Irlanda à Espanha. Os séculos XI e XII viram um vasto
movimento de tradução do grego para o latim de obras filosóficas e científicas
(medicina, matemática, geografia, astronomia, etc.). Em Aristote au mont
Saint-Michel. Les racines grecques de l'Europe chrétienne (traduzido em
alemão e grego, mas não em inglês), o historiador Sylvain Gouguenheim
desmascara a opinião comum de que a disseminação da filosofia e da ciência
gregas na Idade Média deve ser creditada principalmente aos muçulmanos. A
herança grega foi transmitida às cidades italianas diretamente de
Constantinopla.10 Entre os séculos V e
XIII, a Europa gravitou em torno de Constantinopla.
Se
hoje esta realidade nos escapa, é por causa do nosso incurável eurocentrismo,
que Oswald Spengler denunciou, mas em vão:
O solo da Europa Ocidental é tratado como um pólo estável, um pedaço único escolhido na superfície da esfera, ao que parece, pelo fato de vivermos nele – e grandes histórias de duração milenar e poderosas Culturas distantes são feitas para girar em torno deste pólo em toda a modéstia. É um sistema estranhamente concebido de sol e planetas. Selecionamos um único pedaço de solo como o centro natural do sistema histórico e o tornamos o sol central. A partir dela todos os eventos da história recebem sua luz real, a partir dela sua importância é julgada em perspectiva. Mas é apenas em nossa própria concepção da Europa Ocidental que essa “história mundial” fantasma, a qual um sopro de ceticismo dissiparia, é representada.11
Para
entender o que separava Constantinopla de Roma, vamos primeiro ter em mente que
Constantinopla nasceu cristã, enquanto em Roma o cristianismo era um culto
oriental importado. Foi Constantinopla que deu o cristianismo a Roma, e não o
modo contrário. A unidade doutrinária da Igreja foi elaborada e pactuada perto
de Constantinopla, por meio dos chamados “concílios ecumênicos” (ligando o Oikoumene,
isto é, o mundo colocado sob a autoridade do imperador), cujos participantes
eram quase exclusivamente orientais. Christopher Dawson nos lembra dessa
evidência em Religion and the Rise of Western Culture (1950), e insiste:
Assim, ao contrário da Bizâncio cristã, a Roma cristã representa apenas um breve interlúdio entre o paganismo e a barbárie. Passaram-se apenas dezoito anos entre o fechamento dos templos por Teodósio e o primeiro saque da Cidade Eterna pelos bárbaros. A grande era dos Padres Ocidentais, de Ambrósio a Agostinho, foi comprimida em uma única geração, e Santo Agostinho morreu com os vândalos no portão.12
A
estrutura política de Constantinopla também é muito diferente da de Roma. Os
termos militares latinos de imperium e imperator são inadequados
para descrever o mundo bizantino. O que hoje chamamos de Império Bizantino se
autodenominava uma basiliea, um reino, chefiado por um basileus,
um rei – uma espécie de “rei dos reis” no estilo persa. Os estudiosos
bizantinos descrevem o mundo bizantino como uma “Comunidade”, ou seja, nas
palavras de Dimitry Obolensky, “a ideia supranacional de uma associação de
povos cristãos, à qual o imperador e o ‘patriarca ecumênico’ de Constantinopla
forneceram uma liderança – mesmo que cada um desses povos fosse totalmente
independente política e economicamente”.13
Ao contrário dos romanos, diz Anthony Kaldellis, “os bizantinos não eram um
povo guerreiro. [...] Dinheiro, seda e títulos eram os instrumentos preferidos
de governança e política externa do império, sobre espadas e exércitos.”14
O
poder bizantino tem uma estrutura de duas cabeças, que os historiadores
ocidentais chamam pejorativamente de “cesaropapismo”, mas que os bizantinos
definiram como uma sinfonia, uma colaboração harmoniosa; a autoridade suprema é
mantida pelo basileus, mas sob a condição da bênção do patriarca de
Constantinopla.
O patriarca é o protetor da ortodoxia, mas o basileus é o guardião de todos os cristãos. Este equilíbrio de poder político e espiritual significa que, embora o patriarca possa ocasionalmente desempenhar um papel diplomático, ele não exerce poder político direto e nunca convocou uma “guerra santa”, nem a queima de hereges. Assim coexistem, à margem da Igreja Ortodoxa, uma variedade de Igrejas independentes, como a Armênia ou a Igreja Maronita. Mesmo as igrejas totalmente “ortodoxas” ainda mantêm uma forte identidade nacional, como os sérvios, com, por exemplo, sua festa familiar de Slava, uma sobrevivência do culto aos ancestrais.*9
O Grande Cisma
Durante
o período chamado de “Papado Bizantino” (537-752). Roma era uma cidade
decadente, enquanto Ravenna, retomada dos ostrogodos por Justiniano (527-565),
era a capital ocidental do Império Bizantino, governada pelo representante do
imperador chamado “exarca”. O bispo de Roma (que compartilhava com todos os
bispos o afetuoso título grego de pappas) era nomeado diretamente pelo
imperador bizantino ou seu exarca, geralmente dentre os “apocrisiários”
(embaixadores em Constantinopla) de seu predecessor.
{Basílica de São Vital, em Ravenna, Itália.} |
Ravenna
é uma cidade bizantina, como evidenciado por sua Basílica de São Vital, com
seus mosaicos. A razão pela qual os ícones do imperador Justiniano e sua esposa
Teodora são exibidos lá é porque uma basílica significa um edifício “real” (basilikos)
destinado a abrigar reuniões públicas sob a autoridade do basileus. A
etimologia revela o que a história dos livros didáticos está escondendo.
A
primeira crise séria na unidade conciliar da Igreja foi iniciada pelo Papa
Gregório I (590-604), notoriamente helenofóbico como seu mentor Agostinho. Ele
desafiou o Patriarca de Constantinopla sobre o uso do título “ecumênico”,
então, em 602, quando o imperador Maurício foi massacrado com toda a sua
família por um general faccioso chamado Focas, ele congratulou o usurpador. Este
último, persistentemente evitado pelo patriarca, agarrou a mão estendida por
Roma e emitiu uma proclamação imperial colocando oficialmente a Igreja de Roma
como “a cabeça de todas as Igrejas”.15
{Cúpula central da Basílica de São Vital, em Ravenna, Itália.} |
Em
751, os lombardos capturaram Ravenna e, vinte anos depois, marcharam sobre
Roma. Carlos Magno subjugou os lombardos e explorou as reivindicações
supremacistas do bispo de Roma para sua própria ambição imperial. Se apoiando
em que os francos estavam ausentes do Segundo Concílio de Nicéia (787), ele o
ignorou e provocou uma disputa litúrgica ao defender uma versão do Credo
diferente do Credo Niceno; segundo este último, o Espírito Santo “procede do
Pai” (ex Patre procedit), mas uma fórmula diferente, originária
dos visigodos, afirmava que o Espírito Santo “procede do Pai e do Filho” (ex
Patre Filioque procedit). A variante, embora inquestionavelmente
heterodoxa, não suscitou sérias controvérsias até que Carlos Magno decidiu que
seria a única autorizada e obrigatória. O Filioque tornou-se o pretexto
para os imperadores e papas francos minarem a autoridade de Constantinopla e
para o cisma de 1054.
Em
1048, o imperador germânico Henrique III (1017-1056) nomeou como papa seu primo
Bruno de Eguisheim-Dagsbourg. Mas após a morte de Henrique III, papas e
imperadores (todos francos) entraram em uma luta pelo poder. Isso deu início à
Reforma Gregoriana, nomeada em homenagem a Gregório VII, cujo projeto era fazer
do papado a sede de um novo poder imperial. Ele se proclamou o único chefe da
Igreja universal e postulou, em seu Dictatus Papae na proposição 27:
2. Que só o Bispo de Roma é por direito chamado universal. 3. Que ele somente pode depor ou restituir os bispos. […] 8. Que ele somente pode usar a insígnia imperial. 9. Que o Papa é o único homem cujos pés serão beijados por todos os príncipes. […] 12. Que ele possa depor imperadores. […] 19. Que ele não deve ser julgado por ninguém. […] 22. Que a igreja romana nunca errou, nem, como testemunha a Escritura, jamais o cometerá.
A
nova arma psicológica de excomunhão, pela qual o papa poderia provocar inquietante
agitação popular e liberar os súditos do imperador de seu juramento de
lealdade, forçou Henrique IV a se ajoelhar diante do papa em Canossa (1077).
{Manuscrito nos Arquivos do Vaticano do Dictatus Papae. Wikipedia português.} |
Conforme
ganhavam ascendência sobre imperadores e reis, os papas conspiravam contra
Constantinopla, não apenas com armas teológicas, mas também poderio militar,
mobilizando a formidável classe guerreira franca em guerras santas. Os
bizantinos preocuparam-se com razão quando, em 1095, viram chegar o exército
convocado pelo Papa Urbano II para a “libertação” de Jerusalém, sob o comando
de um legado papal. “[O imperador] Aleixo e seus conselheiros viram a cruzada
que se aproximava não como a chegada de aliados há muito esperados, mas como
uma ameaça potencial ao Oikoumene”, escreve Jonathan Harris.16
A
Primeira Cruzada resultou no estabelecimento de quatro estados latinos na Síria
e na Palestina, os quais formaram a base de uma presença franca que durou até
1291. Em 1198, tendo Jerusalém sido reconquistada por Saladino, o jovem Papa
Inocêncio III proclamou uma nova cruzada, a quarta segundo a numeração moderna.
Desta vez, o medo dos bizantinos de uma agenda oculta provou ser plenamente
justificado. Em 1204, em vez de ir para Jerusalém via Alexandria como anunciado
oficialmente, os cavaleiros francos se dirigiram para Constantinopla,
tomaram-na à força e saquearam-na durante três dias. Palácios, igrejas,
mosteiros, bibliotecas foram sistematicamente saqueados e a cidade se tornou
uma confusão. O historiador britânico Steven Runciman escreveu:
Nunca houve um crime maior contra a humanidade do que a Quarta Cruzada. Não só ela causou a destruição ou dispersão de todos os tesouros do passado que Bizâncio havia devotadamente guardado, e o ferimento mortal de uma civilização que ainda era grande e ativa; mas também foi um ato de gigantesca carência de sentido político. Não trouxe ela nenhuma ajuda para os cristãos na Palestina. Em vez disso, roubou-lhes potenciais ajudantes. E perturbou toda a defesa da cristandade... Na ampla extensão da história mundial, os efeitos foram totalmente desastrosos. Desde o início de seu Império, Bizâncio foi o guardião da Europa contra o Oriente infiel e o Norte bárbaro. Ela se opôs a eles com seus exércitos e os domesticou com sua civilização. Ela havia passado por muitos períodos de ansiedade quando parecia que seu destino havia chegado, mas até então ela tinha sobrevivido a eles.17
Como
um todo, as Cruzadas não somente desferiram um golpe mortal no império cristão
oriental que eles reivindicavam salvar. Eles também cavaram uma divisão
intransponível entre o mundo muçulmano e o mundo cristão. O massacre dos
cruzados em Jerusalém em 1099, em particular, deixou uma ferida incurável, como
observou Runciman:
Foi essa prova sanguinária do fanatismo cristão que recriou o fanatismo do Islã. Quando, mais tarde, os latinos mais sábios do Oriente procuraram encontrar alguma base na qual cristãos e muçulmanos pudessem trabalhar juntos, a memória do massacre sempre esteve em seu caminho.18
O
Império Franco-Latino do Oriente, construído sobre as fumegantes ruínas de
Constantinopla após a Quarta Cruzada, durou somente meio século. Os bizantinos,
entrincheirados em Nicéia (Iznik), recuperaram lentamente parte de seu antigo
território e, em 1261, sob o comando de Miguel VIII Paleólogo, expulsaram os
francos e latinos de Constantinopla. Mas a cidade era somente o fantasma de seu
antigo eu. O Papa Urbano IV imediatamente pregou uma nova cruzada, desta vez
dirigida explicitamente contra os bizantinos. Seu chamado suscitou poucas
vocações. Mas em 1281, o Papa Martinho IV apoiou o projeto de Carlos de Anjou
de retomar Constantinopla para fundar um novo império católico. Em última
análise, Constantinopla cairia para os turcos otomanos em 1453.
A falsificação da
história
Embora
a Quarta Cruzada causou a destruição de tesouros inestimáveis (dois terços dos
livros mencionados por Fócio em sua Bibliotheca estão perdidos para
sempre), foi o ponto de partida de uma transferência cultural que culminou no
Concílio de Florença em 1438. “Culturalmente”, escreve Jerry Brotton em The
Renaissance Bazaar, “a transmissão de textos clássicos, ideias e objetos de
arte de leste a oeste que ocorreu no Concílio teve um efeito decisivo na arte e
na erudição do final da Itália do século XV.”19
E quando, depois de 1453, os últimos estudiosos e artistas bizantinos fugiram
da dominação otomana, muitos vieram contribuir para o Renascimento italiano.
Mas, ao mesmo tempo em que se apropriavam da herança
grega, os humanistas e clérigos italianos fingiam ignorar sua dívida para com
Constantinopla, usando até mesmo o filelenismo para denegrir os bizantinos.20 Conforme escreve Runciman:
A Europa Ocidental, com memórias ancestrais de inveja da civilização bizantina, com seus conselheiros espirituais denunciando os ortodoxos como cismáticos pecadores e com um sentimento de culpa assombroso por ter ela falhado com a cidade no final, escolheu por esquecer Bizâncio. Não poderia esquecer a dívida que tinha com os gregos; mas viu a dívida como débito somente à idade clássica.21
Não
houve somente uma negação da dívida para com Constantinopla, mas uma
falsificação sistemática da história. Mesmo hoje, o saque de Constantinopla em
1204 é comumente atribuído a uma infeliz série de eventos imprevistos que
atraíram os cruzados a Constantinopla contra sua vontade; ou mesmo os
banqueiros venezianos, credores dos cruzados, são designados como os únicos
instigadores desse desvio. Aplicada à história contemporânea, a primeira teoria
equivaleria a afirmar que os Estados Unidos destruíram o Iraque, a Líbia e a Síria
inadvertidamente, enquanto tentavam trazer-lhes a Democracia. A segunda teoria,
por outro lado, esquece que foram principalmente os francos que destruíram
Constantinopla, e que mesmo as crônicas ocidentais admitem que os legados
papais embarcados com os cruzados nada fizeram para desencorajá-los. De fato,
toda a cristandade latina foi convidada a regozijar-se com a vitória de Roma, e
cantaram-se hinos para celebrar a queda da cidade ímpia, comparada à Babilônia
bíblica.22
Concernindo
à Primeira Cruzada, ainda somos nós ensinados que foi a resposta generosa da
Igreja Romana a um apelo desesperado do imperador bizantino Aleixo Comneno
lutando contra os turcos seljúcidas. Isto é, de fato, como os cronistas latinos
a apresentaram, citando uma carta de Aleixo ao conde de Flandres, na qual o
primeiro implorava humildemente a ajuda do segundo. Esta carta é agora
considerada uma falsificação.23 A tese
de que “a primeira cruzada não tinha como meta visada inicial a constituição de
estados organizados na Terra Santa [mas] entregar os Lugares Santos”, para
citar um livro recente24 sobre
o assunto, é totalmente ingênua e não resiste à mesmo um escrutínio
superficial. A verdade é que, tal como hoje, a guerra santa contra o Islão
escondia um projeto de desestabilização e conquista do Médio Oriente. Para tomar
apenas um exemplo: um dos principais líderes cruzados, Bohemond de Taranto, era
filho do normando Robert Guiscard que, com a bênção do papa, já havia tentado
tomar Constantinopla em 1081. Durante uma viagem diplomática pela Europa em
1105-1107, Bohemond levantou fundos e tropas para uma nova expedição dirigida
expressamente contra Constantinopla, distribuindo cópias da Gesta Francorum,
um relato da cruzada escrito para sua própria glorificação e apresentando “o
Abominável Imperador”. Alexios como um traidor cujas ações foram motivadas
exclusivamente pela destruição do exército dos cruzados.25 Este texto seminal da historiografia
das Cruzadas, que mais do que qualquer outro contribuiu para a imagem negativa
dos bizantinos, efeminados e enganadores, e para a imagem heroica dos francos,
é um bom exemplo de propaganda medieval.
{Uma cópia de Gesta Francorum (Feitos dos Francos). Biblioteca Estatal de Berlim.} |
As cruzadas não foram direcionadas apenas para o Oriente.
Na esteira da Quarta Cruzada, Inocêncio III decretou uma nova guerra santa
contra todos os hereges (ou seja, os cristãos que rejeitaram sua autoridade
absoluta) no sul da França. Com uma crueldade sem precedentes, Simon de
Montfort, um pequeno senhor da Île-de-France, tomou grandes partes do vasto
condado de Toulouse e obrigou a população a assistir à missa católica
“inteiramente” todos os domingos (Statuts de Pamiers, 1212).26 Várias cruzadas também foram dirigidas
contra a região do Báltico, e uma contra a própria Rússia Ortodoxa, liderada
pelos Cavaleiros Teutônicos, repelida por Alexander Nevsky (1221-1263), hoje
santo nacional.27
A falsificação da história medieval vai muito além das
Cruzadas. A versão católica das controvérsias doutrinárias que as precederam é
singularmente tendenciosa. Ela é fundada em uma falsificação de escala
industrial. As primeiras biografias de papas romanos incluídas no Liber
Pontificalis, apresentando-os como ocupando o “trono de São Pedro” em uma
cadeia ininterrupta que remonta ao primeiro apóstolo de Cristo, são agora
consideradas fictícias, assim como a Acta Petri, a qual transpôs em Roma
a disputa entre Pedro e Simão Mago localizada em Samaria em Atos 8:9-23.
A lenda de Pedro em Roma não nos diz nada sobre eventos reais, mas nos informa
sobre a propaganda implantada pelo papado para reivindicar precedência sobre a
Igreja Oriental. (Constantinopla respondeu reivindicando, como bispo fundador,
o irmão de Pedro, André, a quem os Evangelhos designam como o primeiro a ter
respondido ao chamado de Cristo.)28
A falsificação medieval mais famosa dos papas francos é a
Doação de Constantino, o Grande, pela qual o imperador supostamente cedeu ao
“Papa do Universo” todas as “províncias ocidentais” e confiou a ele o governo
de “todas as igrejas da Deus através do mundo”.29
Essa falsificação foi a peça central de uma centena de outros decretos
falsificados ou atos sinodais, atribuídos aos primeiros papas ou outros
dignitários da Igreja, e conhecidos hoje como Decretos Pseudo-Isidorianos. O
principal propósito desses documentos forjados era inventar precedentes para o
exercício da autoridade soberana do Bispo de Roma sobre todos os bispos, por um
lado, e sobre todos os soberanos, por outro. Nós devemos também mencionar as
falsificações de Symmachians, precedentes legais fictícios usados para imunizar
o papa contra qualquer acusação. O pai de Carlos Magno também foi usado com a
falsa Doação de Pepino.
Foi
somente em 1440, quando Bizâncio foi sitiada pelos otomanos e tinha acabado de
se render no Concílio de Florença, que a natureza fraudulenta da Doação de
Constantino foi reconhecida. Mas nada mudou fundamentalmente na narrativa
ocidental, marcada por uma amnésia quase total em relação a Bizâncio, por um
eurocentrismo incurável e por uma cegueira deliberada à enormidade da fraude
romana.
Repetindo:
a obliteração quase completa de Constantinopla dos livros de história europeus
é indiscutivelmente o maior engano de toda a história europeia. As razões dessa
ocultação mudaram, mas não têm desaparecido. Pois, como eu disse, nossa
ignorância e preconceito sobre Constantinopla alimenta nossa ignorância,
preconceito e hostilidade em relação a seu herdeiro espiritual: a Rússia
Ortodoxa. A história se repete.
A
história que o bispo de Roma criou para si mesmo como chefe da cristandade
precisa de um sério trabalho de revisionismo. Este é um trabalho que os
historiadores gregos têm naturalmente assumido. Jean Meyendorff e Aristeides
Papadakis nos lembram que antes do século XII, “o frágil domínio do papa sobre
a cristandade ocidental era em grande parte imaginário. O mundo paroquial da
política romana era, na verdade, o único domínio do papado”.30
O
catolicismo romano agora tem dado uma volta completa. Quem ouve o papa, hoje em
dia? Acontece que a Igreja Católica, por sabotar deliberadamente o organismo
conciliar da Igreja, em última instância tem falhando em seu plano hegemônico e
agora se encontra cortada do renascimento ortodoxo.
O
catolicismo romano, como sistema de crença e prática de adoração, está quase
morto. O mesmo se aplica às suas ramificações protestantes. Oswald Spengler
escreveu em Prussian Socialism (1919)*10:
Para nós, cidadãos do
mundo ocidental, a religião acabou. Em nossas almas urbanas, o que antes era
verdadeira religiosidade há muito tempo foi intelectualizado como “problemáticas”.
A Igreja alcançou seu cumprimento no Concílio de Trento. O puritanismo se
transformou em capitalismo e o pietismo agora é socialismo. As seitas
anglo-americanas representam apenas a necessidade nervosa do homem de negócios
por passatempos teológicos.
Por
outro lado, a Ortodoxia Russa é cheia de vida e respira uma alma vigorosa na
sociedade russa. Assim, parece-me que a Europa só pode sair de sua atual crise
espiritual e moral entrando na órbita da Rússia. Portanto, os católicos devem
trabalhar com humildade para a reconciliação do catolicismo e da ortodoxia. Para
isso, eles necessitam de uma aula de história, que acabei de dar. Os católicos
franceses, em particular, devem entender que sua nacionalidade romana (a
França como filha mais velha da Igreja) é, assim como a narrativa papal da qual
depende, uma construção que beira a falsificação e, aos olhos dos ortodoxos, o
sinal de uma arrogância diabólica. É uma ilusão estéril e perigosa.
Eu
não estou qualificado para julgar os respectivos méritos da teologia católica e
ortodoxa (a própria possibilidade de uma “ciência de Deus” me escapa). Mas para
o inferno com o Filioque! Pessoalmente, desejo uma bela igreja russa, ou mesmo
grega, em minha cidade. Gosto de ícones, cantos ortodoxos*11 e o estilo contemplativo das missas
ortodoxas. Caso contrário, continuarei a seguir os passos de Simone Weil, uma
apaixonada estudiosa helenista que se converteu a Cristo porque viu nele o
herói grego mais sublime*12, mas
recusou o batismo porque Roma incorporou para ela o espírito de Jeová – que ela
conhecia bem, sendo criada como judia. “A maldição de Israel pesa sobre o
cristianismo [ela se referia ao catolicismo]. As atrocidades, a Inquisição, o
extermínio de hereges e infiéis, isso era Israel”, escreveu ela em Gravity
and Grace.*13
Tradução
e palavras entre chaves por Mykel Alexander
1 Nota de Laurent Guyénot: Oswald Spengler, Prussian Socialism, 1919, página 67.
#1 Nota de Mykel Alexander: Para uma
introdução em Oswald Spengler ver:
- Oswald
Spengler: Uma introdução para sua Vida e Ideias, por Keith Stimely, 04 de maio
de 2018, World Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2018/05/oswald-spengler-uma-introducao-para-sua.html
- Oswald Spengler: crítica e homenagem, por Revilo
Oliver, 08 de maio de 2020, World Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2020/05/oswald-spengler-critica-e-homenagem-por.html
- Noções de cultura e civilização em Oswald Spengler,
por Mario Góngora, 04 de maio de 2019, World Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2019/05/nocoes-de-cultura-e-civilizacao-em.html
*1 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: https://archive.org/details/prussian-socialism .
*2 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: https://archive.org/details/declineofwest01spenuoft .
*3
Fonte utilizada por Laurent Guyénot: Presidential Address to the Federal Assembly:
Vladimir Putin delivered the annual Presidential Address to the Federal
Assembly. The Address was traditionally delivered at the Kremlin’s St George
Hall before an audience of over 1,000 people. 04 de dezembro de 2014. Kremlin, Moscou.
*4 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: https://odysee.com/@ERTV:1/Alain-Soral-2018-Putin-future-saviour-of-occupied-France:4
*5 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: https://odysee.com/@ERTV-International:9?order=new
2 Nota de Laurent Guyénot: Scott M. Kenworthy and Alexander S. Agadjanian, Understanding World Christianity: Russia, Fortress Press, 2021, página 8.
#2 Nota de Mykel Alexander: Ver
especialmente: A liderança judaica na Revolução Bolchevique e o início do
Regime soviético - Avaliando o gravemente lúgubre legado do comunismo soviético,
por Mark Weber, 14 de novembro de 2020, World Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2020/11/a-lideranca-judaica-na-revolucao.html
6 Fonte utilizada por Laurent
Guyénot: The Umbrella Man, the Sins of the Father, and the Kennedy Curse, por
Laurent Guyénot, 22 de novembro de 2019, The Unz Review – An alternative
media selection.
https://www.unz.com/article/the-umbrella-man-the-sins-of-the-father-and-the-kennedy-curse/
*7 Fonte utilizada por Laurent Guyénot:
Barbarossa: Suvorov's Revisionism Goes Mainstream, por Laurent Guyénot, 08 de
maio de 2021, The Unz Review – An alternative media selection.
https://www.unz.com/article/barbarossa-suvorovs-revisionism-goes-mainstream/
3 Nota de Laurent Guyénot: Kenworthy and Agadjanian, Understanding World Christianity, Fortress Press, 2021, página 64.
4 Nota de Laurent Guyénot: John Meyendorff, Byzantium and the Rise of Russia, Cambridge UP, 1981, página 10.
*8 Fonte utilizada por Laurent
Guyénot: The demise of nationalism (part 2: the western imperial tradition),
por James Lawrense, 01 de novembro de 2020, Affirmative Right.
https://affirmativeright.blogspot.com/2020/11/the-demise-of-nationalism-part-2.html
5 Nota de Laurent Guyénot: Caspar Hirschi, The Origins of Nationalism: An Alternative History from Ancient Rome to Early Modern Germany, Cambridge UP, 2012, página 14.
6 Nota de Laurent Guyénot: George Duby, Le Chevalier, la femme et le prêtre. Le mariage dans la France féodale, Hachette, 1981, página 87.
7 Nota de Laurent Guyénot: Sylvain Gouguenheim, Frédéric II, Perrin, 2021, página 250.
8 Nota de Laurent Guyénot: Paul Stephenson, The Byzantine World, Routledge, 2012, página xxi.
9 Nota de Laurent Guyénot: Jonathan Harris, Byzantium and the Crusades, 2nd ed, Bloomsbury, 2014, édition kindle, k. 465-94.
10 Nota de Laurent Guyénot: Sylvain Gouguenheim, Aristote au Mont Saint-Michel. Les racines grecques de l’Europe chrétienne, Seuil, 2008.
11 Nota de Laurent Guyénot: Oswald Spengler, The Decline of the West, vol. 1, George Allen & Unwin Ltd, 1926, página 17.
12 Nota de Laurent Guyénot: Christopher Dawson, Religion and the Rise
of Western Culture, Doubleday, 1950, em archive.org, pp. 29-30.
https://archive.org/details/DawsonReligionAndTheRiseOfWesternCulture
13 Nota de Laurent Guyénot: Citado em John Meyendorff, Byzantium and the Rise of Russia, Cambridge UP, 1981, página 2.
14 Nota de Laurent Guyénot: Anthony Kaldellis, Streams of Gold, Rivers of Blood: The Rise and Fall of Byzantium, 955 A.D. to the First Crusade, Oxford UP, 2019, página xxvii.
*9 Fonte utilizada por Laurent
Guyénot: Bring Out Your Dead ...Back on
the Family Altar, por Laurent Guyénot, 22 de outubro de 2021, The Unz Review
– An alternative media selection.
15 Nota de Laurent Guyénot: Andrew Ekonomou, Byzantine Rome and
the Greek Popes: Eastern Influences on Rome and the Papacy from Gregory the
Great to Zacharias, A.D. 590-752, Lexington Books, 2007, kindle,
e. 1322-31.
16 Nota de Laurent Guyénot: Jonathan Harris, Byzantium and the Crusades, Hambledon Continuum, 2003, página 56.
17 Nota de Laurent Guyénot: Steven Runciman, A History of the Crusades, vol. 3: The Kingdom of Acre and the Later Crusades (1954), Penguin Classics, 2016, página 130.
18 Nota de Laurent Guyénot: Steven Runciman, A History of the Crusades, vol. 1: The First Crusade and the Foundation of the Kingdom of Jerusalem (1951), Penguin Classics, 2016, página 229.
19 Nota de Laurent Guyénot: Jerry Brotton, The Renaissance Bazaar: From the Silk Road to Michelangelo, Oxford UP, 2010, página 103. 20 Nota de Laurent Guyénot: Sylvain Gouguenheim, La Gloire des Grecs, Éditions du Cerf, 2017, página 62.
21 Nota de Laurent Guyénot: Steven Runciman, The Fall of Constantinople 1453, Cambridge UP, 1965, página 190.
22 Nota de Laurent Guyénot: Steven Runciman, The Eastern Schism: a Study of the Papacy and the Eastern Churches During the Xith and XIIth Centuries (1955), Hassell Street Press, 2021, página 141; Steven Runciman, A History of the Crusades, vol. 2: The Kingdom of Jerusalem and the Frankish East (1100-1187) (1952), Penguin Classics, 2016, página 115.
23 Nota de Laurent Guyénot:
Einar Joranson, “The Problem of the Spurious Letter of Emperor Alexis to the
count of Flanders,” The American Historical Review, vol. 55 n°4
(julho 1950), páginas 811-832, em:
24 Nota de Laurent Guyénot: Thierry Delcourt, Les Croisades. La plus grande aventure du Moyen Âge, Nouveau Monde Éditions, 2007, página 60.
25 Nota de Laurent Guyénot: Jonathan Harris, Byzantium and the Crusades, Hambledon Continuum, 2003, kindle ed., 2091-2113.
26 Nota de Laurent Guyénot: Michel Roquebert, Simon de Montfort, bourreau et martyr, Perrin, 2005, página 120.
27 Nota de Laurent Guyénot: Eric Christiansen, The Northern Crusades: The Baltic and the Catholic Frontier (1980), 2ª edition, Penguin, 1997.
28 Nota de Laurent Guyénot: Heinrich Fichtenau, Living in the Tenth Century: Mentalities and Social Orders, tradução Patrick Geary, University of Chicago Press, 1991 (German edition 1984), página 13.
29 Nota de Laurent Guyénot: Sylvain Gouguenheim, La Réforme grégorienne: De la lutte pour le sacré à la sécularisation du monde, Temps Présent, 2010 , kindle, e. 457-66.
30 Nota de Laurent Guyénot: John Meyendorff e Aristeides Papadakis, The Christian East and the Rise of the Papacy, St. Vladimir’s Seminary Press, 1994, página 27.
*10 Fonte utilizada por Laurent
Guyénot:
*11 Fonte utilizada por Laurent
Guyénot:
*12 Fonte utilizada por Laurent Guyénot: Simone Weil, Intimations of Christianity Among the Ancient Greeks.
*13 Fonte utilizada por Laurent
Guyénot: Simone Weil, Gravity and Grace.
Fonte: A Byzantine View of Russia and Europe, por
Laurent Guyénot, 10 de março de 2022, The Unz Review – An alternative media
selection.
https://www.unz.com/article/a-byzantine-view-of-russia-and-europe/
Sobre o autor: Laurent
Guyénot (1960-) possuí mestrado em Estudos Bíblicos e trabalho em antropologia
e história das religiões, tendo ainda o título de medievalista (PhD em Estudos
Medievais em Paris IV-Sorbonne, 2009) e de engenheiro (Escola Nacional de
Tecnologia Avançada, 1982).
Entre
seus livros estão:
LE ROI SANS PROPHETE. L'enquête
historique sur la relation entre Jésus et Jean-Baptiste,
Exergue, 1996.
Jésus et Jean Baptiste:
Enquête historique sur une rencontre légendaire,
Imago Exergue, 1998.
Le livre noir de
l'industrie rose – de la pornographie à la criminalité sexuelle,
IMAGO, 2000.
Les avatars de la
réincarnation: une histoire de la transmigration, des croyances primitives au
paradigme moderne, Exergue, 2000.
Lumieres nouvelles sur la
reincarnation, Exergue, 2003.
La Lance qui saigne:
Métatextes et hypertextes du Conte du Graal de Chrétien de Troyes,
Honoré Champion, 2010.
La mort féerique:
Anthropologie du merveilleux (XIIᵉ-XVᵉ siècle), Gallimard,
2011.
JFK 11 Septembre: 50 ans
de manipulations, Blanche, 2014.
Du Yahvisme au sionisme.
Dieu jaloux, peuple élu, terre promise: 2500 ans de manipulations, Kontre
Kulture, Kontre Kulture, 2016. Tem edição em inglês: From Yahweh to Zion:
Jealous God, Chosen People, Promised Land...Clash of Civilizations, Sifting
and Winnowing Books, 2018.
Petit livre de - 150
idées pour se débarrasser des cons, Le petit livre, 2019.
“Our God is Your God Too, But He Has Chosen Us”:
Essays on Jewish Power,
AFNIL, 2020.
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