William Henry Chamberlin |
De
acordo com suas próprias declarações oficiais, repetidas em muitas ocasiões, e
com especial ênfase quando a eleição presidencial de 1940 estava em jogo muito
arriscado, a política de Franklin D. Roosevelt depois do eclodir da guerra na
Europa em 1939 foi dominada por um pensamento muito mais importante que outras
considerações: como manter os Estados Unidos em paz. Uma das primeiras ações do
Presidente depois de começar as hostilidades foi convocar o Congresso para uma
sessão especial e pedir pela revogação do embargo sobre vendas de armas para as
potências beligerantes, o qual era parte da legislação de neutralidade
existente. Ele baseou seu apelo no argumento que este movimento ajudaria a
manter o Estados Unidos em paz. Suas palavras sobre o assunto foram:
Não deixe nenhum grupo assumir o exclusivo rótulo de “bloco da paz.” Nós todos pertencemos a ele... Eu dou a vocês minha profunda e inalterável convicção, baseada em anos de experiência no campo da paz internacional, que pela revogação do embargo o Estados Unidos irá mais provavelmente permanecer na paz do que se a lei permanecesse como ela está hoje... Nossos atos devem ser guiados por um único, e pragmático pensamento – manter a América fora da guerra.
Esta declaração foi feita depois que o Presidente tinha
aberto uma correspondência secreta com Winston Churchill, Primeiro Lorde do
Almirantado e posteriormente Primeiro Ministro do governo Britânico. O que tem
sido revelado desta correspondência, mesmo nas memórias do próprio Churchill,
inspira considerável dúvida sobre se seu principal propósito era manter a
América fora da guerra.
Roosevelt manteve sua pose como um devotado campeão da
paz mesmo depois da queda da França, quando a Grã-Bretanha estava comprometida
com a guerra a qual, dado o equilíbrio de recursos humanos e industriais, ela
não poderia esperar vencer sem o envolvimento de outros grandes poderes, tal
como o Estados Unidos e a União Soviética. As promessas do Presidente de
prosseguir uma política designada para manter o Estados Unidos em paz
alcançaram um clímax agudo durante os últimos dias da campanha de 1940.
O sr. Roosevelt disse em Boston em 30 de outubro: “Eu
tenho dito isto antes, mas irei dizer isso de novo e de novo e de novo: seus
meninos não irão ser enviados para quaisquer guerras estrangeiras.”
O mesmo pensamento foi expresso em um discurso no
Brooklyn em 1 de novembro: “Eu estou lutando para manter nosso povo fora de
guerras estrangeiras. E irei continuar lutando.”
O Presidente disse a sua audiência em Rochester, Nova
Iorque, em 2 de novembro: “Seu governo nacional... é igualmente um governo de
paz – um governo que pretende manter a paz para o povo americano.”
No mesmo dia os eleitores de Buffalo foram assegurados:
“Seu Presidente diz que este país não está indo para a guerra.”
E ele declarou em Cleveland em 3 de novembro: “O primeiro
propósito de nossa política externa é manter nosso país fora da guerra.”
O bastante para palavras presidenciais. E sobre as ações
presidenciais? O envolvimento americano na guerra com a Alemanha foi precedido
por uma longa série de passos, nem um dos quais poderia razoavelmente ser
representado como propício para a realização do declarado ideal de manter o
Estados Unidos fora das guerras estrangeiras. Os mais importantes destes passos
podem ser resumidamente listados conforme segue:
1. O intercâmbio de contratorpedeiros para as bases britânicas no Caribe e em Terra Nova em setembro de 1940. Este foi um claro afastamento das exigências de neutralidade e foi também uma violação de algumas leis americanas específicas. De fato, uma conferência dos juristas do alto governo na época decidiu que o acordo dos contratorpedeiros coloca este país na guerra, legalmente e moralmente.
2. A promulgação da Lei de Empréstimo e Arrendamento de março de 1941. Em completa contradição com a redação e intenção da Lei de Neutralidade, a qual permanecia nos estatutos dos livros, isto fez o Estados Unidos um parceiro ilimitado na guerra econômica contra as potências do Eixo ao redor do mundo.
3. A conversa secreta da equipe americana-britânica em Washington em janeiro-março de 1941. Extraordinário cuidado foi tomado para esconder não somente o conteúdo destas conversas, mas o próprio fato que elas ocorreram sem conhecimento do Congresso. Na época quando os porta-vozes da administração ofereceram garantias que não existiam implicações bélicas na Lei de Empréstimo e Arrendamento, esta equipe de conferência usou a frase reveladora, “quando o Estados Unidos tornou-se envolvido em guerra com a Alemanha.”
4. A inauguração das então chamadas patrulhas navais, o propósito da qual era reportar a presença de submarinos alemães para os navios de guerra britânicos, no Atlântico, em abril de 1941.
5. O envio de trabalhadores americanos para a Irlanda do Norte para construir uma base naval, obviamente com a necessidade de uma força expedicionária em mente.
6. A ocupação da Islândia pelas tropas americanas em julho de 1941. Isso estava indo muito longe para um governo o qual professava como sua principal preocupação a manutenção do Estados Unidos fora de guerras estrangeiras.
7. A Conferência do Atlântico de Roosevelt e Churchill, em 9-12 de agosto de 1941. Além de comprometer a América como parceira em uma virtual declaração de objetivos de guerra, esta conferência considerou a apresentação de um ultimatum ao Japão e a ocupação das Ilhas do Cabo Verde, uma posse portuguesa, pelas tropas do Estados Unidos.
8. As ordens para navios de guerra americanos atirar à vista de submarinos alemães, formalmente anunciada em 11 de setembro. O início das reais hostilidades pode ser datado desta época mais do que da declaração de guerra alemã, a qual seguiu Pearl Harbor.
9. A autorização para armar navios mercantes e envio destes navios para dentro das zonas de guerra em novembro de 1941.
10. O congelamento dos ativos japoneses no Estados Unidos em 25 de julho de 1941. Este passo, o qual foi seguido por uma ação similar por parte da Grã-Bretanha e as Índias Orientais Holandesas, equivalia a um bloqueio comercial do Japão. As potencialidades de criar guerra desta decisão tinham sido reconhecidas pelo próprio Roosevelt brevemente antes dela ter sido tomada. Dirigindo um discurso a uma delegação e explicando o porquê das exportações de óleo para o Japão não tinham sido paradas anteriormente, ele disse: “era muito essencial, de nosso próprio ponto de vista egoísta de defesa, impedir de começar uma guerra no Pacífico Sul. Então nossa política externa estava tentando impedir uma guerra de explodir lá... Agora, se nós cortássemos o óleo deles, eles [os japoneses] provavelmente teriam ido para as Índias Orientais Holandesas um ano atrás, e nós teríamos tido guerra.”
11. Quando o Primeiro Ministro Japonês, o Príncipe Fumimano Konoye, apelou para um encontro pessoal com Roosevelt para discutir um acordo amigável no Pacífico, este apelo foi rejeitado, apesar das fortes e favoráveis recomendações do embaixador americano do Japão, Joseph C. Crew.
12. O passo final na estrada da guerra no Pacífico foi a nota do Secretário de Estado Hull para o governo japonês em 26 de novembro. Antes de enviar esta comunicação Hull tinha considerado propor uma fórmula de compromisso a qual iria ter relaxado o bloqueio ao Japão em troca da retirada japonesa do sul da Indochina e uma limitação das forças japonesas no norte da Indochina.
13. Contudo, Hull largou ao chão esta ideia sob pressão das fontes chinesas e britânicas. Ele enviou um verdadeiro ultimato em 26 de novembro, o qual exigia incondicional retirada japonesa da China e da Indochina e insistiu que deveria haver “nenhum apoio de qualquer outro governo na China senão o do governo Nacional [Chiang Kai-Shek].” Hull admitiu que esta nota levou as relações americano-japonesas para fora do domínio da diplomacia e colocou elas nas mãos das autoridades militares.
14. A resposta negativa japonesa para esta nota foi enviada quase simultaneamente com o ataque sobre Pearl Harbor. Existiu uma estranha e ainda não explicada falha em preparar-se para este ataque ao dar ao General Short e ao Almirante Kimmel, comandantes no local, um claro quadro do perigo iminente. Conforme o Secretário de Guerra Stimson explicou a política americana, foi para manobrar os japoneses a darem o primeiro tiro, e pode ter sido temido que movimentos defensivos e preventivos abertos por parte de Kimmel e Short assustaria o iminente ataque da força tarefa japonesa a qual era sabido estar a caminho de algum posto avançado americano.
Aqui está o registro fatual das palavras presidenciais e
dos atos presidências. Nenhum crente convicto na não intervenção americana nas
guerras fora deste hemisfério poderia ter dado ao povo americano promessas mais
específicas que Roosevelt deu durante a campanha dele de 1940. E é difícil ver
como qualquer presidente, dado as limitações constitucionais do cargo, poderia
ter feito mais para precipitar o Estados Unidos na guerra com a Alemanha e
Japão do que Roosevelt realizou durante os 15 meses entre ao acordo de contratorpedeiros
para as bases e o ataque sobre Pearl Harbor.
A ex-congressista Clare Boothe Luce encontrou a expressão
certa quando ela acusou Roosevelt de ter mentido a nós para nos colocar dentro
da guerra. Mesmo um simpatizante das políticas de Roosevelt, o professor Thomas
A. Bailey, em livro, The Man in the Street, admite a acusação de
trapaça, mas tenta justificar sobre os seguintes fundamentos:
Frank Roosevelt repetidamente enganou o povo americano durante o período anterior a Pearl Harbor... Ele foi como o médico que deve dizer ao paciente mentiras para o próprio bem do paciente... O país foi esmagadoramente não intervencionista até o próprio dia de Pearl Harbor, e uma tentativa de declaração pública para levar o povo para dentro da guerra teria resultado em fracasso certo e quase certo afastamento de Roosevelt em 1940, com uma completa derrota de seus objetivos finais.
O professor Bailey continua sua apologética com o
seguinte argumento, o qual deixa muito pouco de fato da concepção histórica
americana de um governo responsável ao povo e moralmente obrigado a respeitar a
vontade popular:
Um presidente que não pode confiar o povo com a verdade trai uma certa carência de fé nos básicos princípios da democracia. Mas por causa que as massas são notoriamente de curta visão e geralmente não podem ver o perigo até que ele esteja na garganta delas, nossos estadistas são forçados a enganarem elas para dentro do próprio interesse delas de longo prazo. Isto é claramente o que Roosevelt tinha de fazer, e quem iria dizer que a posteridade não irá agradecer a ele por isso?
As fieis promessas presidenciais para “manter o país fora
da guerra,” com a qual Roosevelt foi tão profuso no verão e outono de 1940,
poderiam razoavelmente serem vistas como canceladas por algum novo
desenvolvimento na situação internacional envolvendo uma real e urgente ameaça
a segurança do Estados Unidos e Hemisfério Ocidental.
Mas não existiu tal novo desenvolvimento para justificar
os movimentos de Roosevelt ao longo da estrada para guerra em 1941. As ilhas
britânicas não foram invadidas em 1940, no auge do sucesso militar de Hitler no
continente. Eles estavam muito mais seguros contra a invasão em 1941. Contraria
as assustadoras previsões do Secretário Stimson, Secretário Knox, e o General
Marshall, sobre a iminente invasão da Grã-Bretanha nos primeiros meses de 1941,
o testemunho de Winston Churchill, como estabelecido em suas memórias: “Eu não
considerava a invasão como um sério perigo em abril, 1941, desde que os
preparativos adequados tinham sido feitas contra ela.”
Além disso, ambos governos americano e britânico sabiam
nesta época que Hitler estava contemplando um ataque adiantado sobre a União
Soviética. Tal ataque necessariamente engoliria muito da maior parte dos
recursos miliares da Alemanha.
É com esses antecedentes que se deve julgar a sinceridade
e realismo do alarmista discurso de Roosevelt de 27 de maio de 1941, com sua
afirmação: “A guerra está se aproximando do limiar da própria esfera ocidental.
Está vindo para muito perto de casa.” O Presidente falou do nazista “livro de
conquista mundial” e declarou que existia um plano nazista para ameaçar os
países de América Latina como eles tinham tratado os Balcãs. Então Canadá e
Estados Unidos seriam estrangulados.
Nem um único pedaço sério de evidência em prova destas
alegações sensacionais tem jamais sido encontrado, nem mesmo quando os arquivos
do governo nazista estavam à disposição das potências vitoriosas. A ameaça à
segurança da Grã-Bretanha foi menos séria em 1941 do que foi em 1940. Existia
nenhuma concreta evidência da intenção nazista para invadir o hemisfério
americano em qualquer ano, ou qualquer período previsível.
Deixa-se, portanto, com a conclusão inescapável que as
promessas de “manter a américa fora das guerras estrangeiras” foram uma farsa
deliberada sobre o povo americano, perpetrada para o propósito de assegurar a
reeleição de Roosevelt e assim permitir ele ir para adiante com seu plano de
gradualmente margear o Estados Unidos para dentro da guerra.
Tradução
por Mykel Alexander
Fonte: How Franklin Roosevelt Lied America Into War, The
Journal for Historical Review, novembro/dezembro de 1994, Volume 14, número
6, páginas 19 – 21.
http://www.ihr.org/jhr/v14/v14n6p19_chamberlin.html
Esta obra é extraída de
uma antologia, editada por Harry Elmer Barnes, Perpetual War for Perpetual
Peace (1953), capítulo 8, páginas 485 – 491.
Sobre o autor: William
Henry Chamberlin (1897 – 1969) foi um historiador americano e jornalista.
Graduou-se, B.A, na Haverford College, onde logo tornou-se colaborador do
jornal do colégio Haverfordian. Ele foi um correspondente em Moscou para o Christian
Science Monitor, entre 1922-1934, e correspondente do Extremo Oriente para
o Monitor em 1939-1940. Foi correspondente do britânico Manchester
Guardian. Ele contribuiu com importantes relatórios e artigos para os
principais jornais e periódicos americanos, e por um tempo escreveu uma coluna
regular para o The Wall Street Journal. Entre seus livros estão:
Soviet Russia (1930)
Russian’s Iron Age (1934)
The Russian Revolution 1917-1921 (em dois volumes, 1935)
Japan over Asia (1939)
The European Cockpit (1947)
America’s Second Crusade (1950)
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Parece que esse tipo de comportamento ainda existe entre os "políticos" modernos, apenas adaptado ao "tempos modernos". Esse tipo de tática precisa de uma falta de conhecimento e "inocência da parte do povo.
ResponderExcluirEssa tática opera através da falta de conhecimento do que é a democracia e até onde ela tem funcionalidade, e que o que se denomina de democracia como algo funcional não existe e só existiu em cidades-estado gregas, ou municípios os quais em ambos casos operava com participação ininterrupta, ativa e presente da população. O que nos apresentam como democracia é uma coerção de arranjos efetuados no subterrâneo da política, com omissões, distorções e invenções difundidas pela mídia em posse dos donos da mencionada política subterrânea. A política de Roosevelt depois aplicou medidas de coerção e terrorismo até em quem a contestava, incluindo americanos, algo que será tratado em futuros artigos.
ExcluirO resultado dessa pseudo-democracia é a quase absoluta ausência da participação efetiva do povo, a qual não poderia ser diferente uma vez que desde o nascimento o povo é estimulado a ficar alienado da realidade dos fatos, seja por instrução corrompida na educação, seja por famílias destituídas de valores tradicionais reais (entendendo por isso o que é a natureza humana em profundidade individualmente e coletivamente, com seus pontos fortes e fracos, e o necessário aporte para desenvolver o melhor possível tal natureza), então a população em termos políticos é passiva, e suas ações são reativas a agitação da mídia corrompida ou de movimentos de agitadores que servem interesses alheios ao povo, jamais a população entorpecida de desinformação e sem formação adequada inicia uma ação legítima que não seja de sobrevivência, ela apenas reage ao que inflamam ela.
ExcluirObrigado pelos esclarecimentos. Concordo com as explanações acima. Infelizmente precisaremos de um longo tempo para acordar uma parcela da população e fazer minimamente frente a isso. Ainda mais com as dificuldades expostas, aqui e na realidade.
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