| Ron Keeva Unz |
Carleton Putnam e Race and Reason
Através
de toda a minha vida, e até mesmo anos antes, praticamente todos os principais
veículos de comunicação dos Estados Unidos elogiaram a igualdade humana,
denunciaram a segregação racial e aclamaram a histórica decisão da Suprema
Corte de 1954, Brown v. Board of
Education, como um dos melhores e mais importantes veredictos já proferidos
por nossa mais alta corte.
Eu
acho que tanto liberais quanto conservadores sempre reconheceram,
discretamente, que a decisão unânime de Brown, por 9 votos a 0, representou um
exemplo notável de “ativismo judicial”, ao derrubar a decisão de 1896, Plessy v. Ferguson, que já estava
consolidada há muito tempo. Portanto, a onda quase unânime de elogios da elite
que Brown atraiu rapidamente provavelmente desempenhou um papel muito
importante na inspiração de inúmeras decisões judiciais subsequentes que, da
mesma forma, derrubaram outros precedentes legais, embora muitas delas fossem
bem menos populares e, frequentemente, até mesmo amargamente controversas.
Essa
situação tem sempre confrontado os conservadores diante de um sério dilema
ideológico. Eles passaram décadas denunciando veementemente os muitos exemplos
de ativismo judicial que se seguiram, mas se encontram em uma posição delicada
quando questionados se o próprio caso Brown, o primeiro exemplo que estabeleceu
um precedente, também havia sido decidido erroneamente.
Vários
anos atrás, Christopher Caldwell, um proeminente jornalista e autor
conservador, publicou seu best-seller de 2020, The Age of Entitlement, argumentando que Brown e as decisões
judiciais e a legislação sobre questões raciais que se seguiram substituíram
efetivamente nossa estrutura constitucional existente por uma completamente
diferente, elevando o princípio da igualdade acima de tudo. Suas ideias,
bastante interessantes, atraíram considerável controvérsia.[15]
Brown
foi extremamente importante para nossa sociedade e, por décadas depois, somente
os reacionários mais extremistas se dispuseram a contestá-lo ou criticá-lo.
Portanto, eu fiquei bastante surpreso ao descobrir, há alguns anos, que esse
não era o caso na época, e que nossos livros de história apresentavam uma
versão bastante distorcida do debate nacional que se seguiu. De fato, eu descobri
que, no final da década de 1950, um dos líderes nacionais do movimento para
revogar a decisão Brown v. Board of
Education e manter a segregação nas escolas públicas era um executivo
corporativo e autor de muito sucesso, formado em uma universidade da Ivy
League, descendente de ianques da Nova Inglaterra, cujo livro bastante franco
sobre as questões raciais subjacentes se tornou um enorme sucesso de vendas
nacional.
Uns poucos anos após a morte despercebida de Stoddard em 1950, as questões raciais passaram a ocupar o centro do debate na sociedade americana. A decisão da Suprema Corte de 1954, no caso Brown vs. Board of Education, anulou por unanimidade mais de meio século de precedentes legais, derrubando as leis estaduais para segregação nas escolas públicas. A reação à Brown foi forte e intensa em todo o Sul, mas, embora o presidente Eisenhower parecesse ter tido reservas quanto à decisão, ele enviou tropas da 101ª Divisão Aerotransportada para integrar à força a Little Rock Central High School.
A resistência maciça do Sul a essas novas políticas raciais continuou e, periodicamente, chegou à mídia nacional. Segundo seu relato posterior, Carleton Putnam leu por acaso uma coluna de 1958 na revista Life, escrita por um jornalista sulista que defendia a segregação, e logo se viu envolvido na batalha política em curso.
Como Stoddard, Putnam tinha uma profunda ascendência puritana da Nova Inglaterra, mas, após se formar em Princeton e obter seu diploma de direito em Columbia, optou por seguir carreira nos negócios. Em meados da década de 1930, ele se tornou um pioneiro na aviação comercial e fundou sua própria pequena companhia aérea, que, após várias expansões e fusões, acabou se tornando a Delta, a maior companhia aérea do país, com Putnam atuando como presidente do conselho. Ainda com pouco mais de 50 anos, aposentou-se do envolvimento ativo nos negócios e começou a trabalhar em uma biografia de Theodore Roosevelt, um parente distante, planejada para ser publicada em quatro volumes. O primeiro volume foi lançado em 1958 e recebeu elogios generalizados da crítica.[16] Mas esse projeto foi logo abandonado, à medida que ele gradualmente passou a dedicar todos os seus esforços à campanha para manter a segregação racial, primeiro escrevendo uma série de cartas abertas e colunas de jornal e, posteriormente, lançando uma turnê de palestras, escrevendo livros e organizando ações judiciais para revogar a decisão do caso Brown.
Putnam tinha prestado pouca atenção aos desenvolvimentos políticos ou científicos durante as duas décadas em que ele tinha estado absorvido no mundo dos negócios, mas ele ficou surpreso ao descobrir as mudanças ideológicas que varreram o meio acadêmico durante esse período, as quais acabaram por lançar as bases intelectuais para as decisões legais e políticas que derrubaram a segregação. Na perspectiva dele, as principais diferenças biológicas entre negros e brancos já eram reconhecidas há muito tempo, e a substancial inferioridade africana em termos de intelecto e temperamento era plenamente admitida pela maioria dos cientistas. Mas, em menos de uma geração, as teorias de Franz Boas e seu grupo de discípulos acadêmicos dominaram a antropologia e ciências afins, proclamando a doutrina da igualdade racial e marginalizando aqueles que mantinham as antigas crenças. Eventualmente, esse novo consenso científico recebeu força de lei pela Suprema Corte.
Na opinião de Putnam, o grande perigo da dessegregação era que ela poderia eventualmente levar à miscigenação racial, e a mistura de ascendência africana na população branca americana degradaria severamente a cidadania, levando a um declínio grande e permanente na capacidade mental e no comportamento social. Em grande medida, ele acreditava que a biologia era o destino, e a mistura de negros com brancos destruiria o futuro da nossa nação.
Durante a década de 1950, as batalhas pela integração racial estavam quase inteiramente confinadas ao Sul, região que abrigava a esmagadora maioria da população negra dos Estados Unidos. Como um ianque da Nova Inglaterra e proeminente executivo de negócios, o envolvimento enérgico de Putnam na causa atraiu considerável atenção. Em 1961, ele reuniu seus escritos sobre o assunto, muitos dos quais baseados em sua extensa correspondência com diversos críticos, e publicou Race and Reason, um livro conciso que expunha seus pontos de vista e se tornou um grande sucesso de vendas, com 150.000 exemplares impressos. Vários dos principais especialistas científicos do mundo, que apoiavam sua posição, contribuíram com um prefácio para o livro, que também recebeu forte endosso de alguns senadores sulistas de alto escalão, os quais distribuíram exemplares a seus seguidores e editores de jornais locais.
| (Carleton Putnam (1901-1998) foi um advogado, empreendedor e racialista americano que retornou a importância da questão racial na antropologia nos anos da década 1960.} |
Como uma voz proeminente na campanha nacional para manter a segregação, Putnam argumentou que as principais figuras de seu movimento político estavam seguindo uma estratégia ineficaz, baseando-se na doutrina constitucional dos “direitos dos estados” enquanto evitavam abordar a realidade científica das grandes diferenças biológicas entre negros e brancos, que ele acreditava ser o principal ponto de sua argumentação. Ele afirmou que esses indivíduos reconheciam esses fatos raciais em particular, mas, como membros da elite sulista, haviam convivido por gerações com as famílias de seus empregados domésticos negros e outros funcionários, e consideravam impossível discutir publicamente as diferenças biológicas que tão prontamente reconheciam em privado. Assim, por razões culturais, estavam renunciando à sua arma política mais poderosa, e Putnam acreditava que seu próprio trabalho era necessário para remediar essa lacuna. Ele também afirmou que inúmeros cientistas proeminentes endossavam em particular suas visões científicas sobre raça, mas temiam represálias acadêmicas ou financeiras demais para reconhecer esses fatos em público.
De acordo com Putnam, as evidências sociológicas e psicológicas incontestadas que ajudaram a influenciar a Suprema Corte a derrubar a segregação eram em grande parte fraudulentas, e seu projeto culminou em um importante desafio à decisão do caso Brown, no qual ele e sua equipe jurídica apresentaram com sucesso o depoimento contrário de vários especialistas científicos. Mas, embora tenham vencido no julgamento, o veredicto foi posteriormente anulado em segunda instância, e a Suprema Corte se recusou a ouvir o apelo.
Em 1967, ele publicou sua sequência, Race and Reality, que recebeu um elogio entusiasmado do ganhador do Prêmio Nobel de Física, William Shockley, que havia se tornado notório recentemente por expressar opiniões semelhantes. Quase na mesma época, ou alguns anos depois, importantes estudiosos da psicometria, como Arthur Jensen, de Berkeley, Hans Eysenck, do University College London, e Richard J. Herrnstein, de Harvard, concentraram-se nas grandes e aparentemente inatas disparidades raciais no QI, com publicações de elite intelectual, como a Harvard Educational Review e a The Atlantic Monthly, publicando longos artigos sobre o assunto. Mas a maré política na sociedade americana nunca se reverteu, e Putnam acabou abandonando seus esforços.
Apesar de seus escritos públicos controversos e fortemente racistas, quando Putnam morreu em 1998, aos 96 anos, ele recebeu um obituário bastante longo e favorável[17] no The New York Times. Embora certamente enfatizasse seus esforços segregacionistas e até mencionasse que seus livros inspiraram um jovem David Duke a se tornar líder da Ku Klux Klan, o texto foi escrito em um tom surpreendentemente distante e até amigável, sugerindo que Putnam conseguiu manter credibilidade ao longo da vida entre as elites da Costa Leste.
Tradução
e palavras entre chaves por Mykel Alexander
[14] Fonte utilizada por Ron Keeva Unz: The Culture of Critique - An Evolutionary Analysis of Jewish Involvement in Twentieth-Century Intellectual and Political Movements, Kevin MacDonald, 1998.
[15] Fonte utilizada por Ron Keeva
Unz: Did the Civil Rights Movement Go Wrong?, por Jonathan Rauch, 17 de janeiro
de 2020, The New York Times.
https://www.nytimes.com/2020/01/17/books/review/christopher-caldwell-age-of-entitlement.html
[16] Fonte utilizada por Ron Keeva
Unz:
[17] Fonte utilizada por Ron Keeva
Unz: Carleton Putnam Dies at 96; Led Delta and Wrote on Race
Share full article, por Robert Mcg. Thomas Jr., 16
de março de 1998, The New York Times.
https://www.nytimes.com/1998/03/16/us/carleton-putnam-dies-at-96-led-delta-and-wrote-on-race.html
Fonte: American Pravda: Twelve Unknown Books and Their Suppressed Racial Truths, por Ron Keeva Unz, 17 de novembro de 2025, The Unz Review – An Alternative Media Selection.
https://www.unz.com/runz/american-pravda-twelve-unknown-books-and-their-suppressed-racial-truths/
Sobre o autor: Ron Keeva Unz (1961 -), de nacionalidade americana, oriundo de família judaica da Ucrânia, é um escritor e ativista político. Possui graduação de Bachelor of Arts (graduação superior de 4 anos nos EUA) em Física e também em História, pós-graduação em Física Teórica na Universidade de Cambridge e na Universidade de Stanford, e já foi o vencedor do primeiro lugar na Intel / Westinghouse Science Talent Search. Seus escritos sobre questões de imigração, raça, etnia e política social apareceram no The New York Times, no Wall Street Journal, no Commentary, no Nation e em várias outras publicações.
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