Jacques Baud |
Parte Três: Conclusões
Como ex-profissional de
inteligência, a primeira coisa que me impressiona é a total ausência dos
serviços de inteligência ocidentais em representar com precisão a situação
durante o ano passado…. De fato, parece que em todo o mundo ocidental os
serviços de inteligência foram subjugados pelos políticos. O problema é que são
os políticos que decidem – o melhor serviço de inteligência do mundo é inútil
se o tomador de decisão não ouvir. Isto é o que tem acontecido durante essa
crise.
Dito isto, enquanto
alguns serviços de inteligência tinham uma imagem muito acurada e racional da
situação, outros tinham claramente o mesmo quadro que é veiculado por nossa
mídia… O problema é que, por experiência, eu os achei extremamente ruins em
nível analítico – doutrinário, carecem da independência intelectual e política
necessária para avaliar uma situação com “qualidade” militar.
Em segundo lugar, parece
que em alguns países europeus os políticos responderam de forma deliberadamente
ideológica à situação. É por isso que esta crise tem sido irracional desde o
início. Deve-se notar que todos os documentos que foram apresentados ao público
durante esta crise foram apresentados por políticos com base em fontes
comerciais.
Alguns políticos
ocidentais obviamente queriam que houvesse um conflito. Nos Estados
Unidos, os cenários de ataque apresentados por Anthony Blinken {judeu e
secretário de Estado dos EUA} ao Conselho de Segurança da ONU foram apenas
produto da imaginação de um Tiger Team trabalhando*44
para ele – ele fez exatamente como Donald Rumsfeld fez em 2002, que “contornou”
a CIA e outros serviços de inteligência que foram muito menos assertivos sobre
as armas químicas iraquianas.
Os desenvolvimentos
dramáticos que estamos testemunhando hoje têm causas que conhecíamos, mas
recusávamos ver:
• No nível estratégico, a expansão da OTAN
(de que não tratamos aqui)#c;
• No nível político, a recusa ocidental em
implementar os Acordos de Minsk;
• E operacionalmente, os ataques contínuos
e repetidos à população civil do Donbass nos últimos anos e o aumento dramático
no final de fevereiro de 2022.
Em outras palavras, nós
podemos lamentar e condenar naturalmente o ataque russo. Mas NÓS (ou seja:
Estados Unidos, França e União Europeia na liderança) criamos as condições para
o surgimento de um conflito. Mostramos compaixão pelo povo ucraniano e pelos
dois milhões de refugiados*45. Está
bem. Mas se tivéssemos um mínimo de compaixão pelo mesmo número de refugiados
das populações ucranianas*46 de
Donbass, massacradas por seu próprio governo e que buscaram refúgio na Rússia
por oito anos, provavelmente nada disso teria acontecido.
[….]
Se o termo “genocídio” se
aplica aos abusos sofridos pelo povo de Donbass, é uma questão em aberto. O
termo é geralmente reservado para casos de maior magnitude (Holocausto, etc.).#d Mas a definição dada pela Convenção do
Genocídio*47 provavelmente é abrangente o
suficiente para ser aplicada a este caso.
Claramente, esse conflito
nos tem levado à histeria. As sanções parecem ter se tornado a ferramenta
preferida de nossas políticas externas. Se nós tivéssemos insistido para que a
Ucrânia cumprisse os Acordos de Minsk, os quais nós havíamos negociado e
endossado, nada disso teria acontecido. A condenação de Vladimir Putin também é
nossa. Não adianta reclamar depois – nós devíamos ter agido antes. No entanto,
nem Emmanuel Macron (como fiador e membro do Conselho de Segurança da ONU), nem
Olaf Scholz, nem Volodymyr Zelensky respeitaram seus compromissos. No final, a
verdadeira derrota é daqueles que não tem voz.
A União Europeia foi
incapaz de promover a implementação dos acordos de Minsk – pelo contrário, não
reagiu quando a Ucrânia bombardeou sua própria população no Donbass. Se tivesse
feito isso, Vladimir Putin não precisaria reagir. Ausente da fase diplomática,
a U.E. {União Europeia} distinguiu-se por alimentar o conflito. Em 27 de
fevereiro, o governo ucraniano concordou em entrar em negociações*48 com a Rússia. Mas umas poucas horas
depois, a União Europeia votou um orçamento de 450 milhões de euros*49 para fornecer armas à Ucrânia,
colocando mais lenha na fogueira. A partir daí, os ucranianos sentiram que não
precisavam chegar a um acordo. A resistência da milícia Azov em Mariupol levou
a um aumento de 500 milhões de euros*50
em armas.
Na Ucrânia, com a bênção
dos países ocidentais, foram eliminados os que são a favor de uma negociação. É
o caso de Denis Kireyev, um dos negociadores ucranianos, assassinado em 5 de
março*51 pelo serviço secreto ucraniano (SBU)
por causa que ele era muito favorável à Rússia e considerado um traidor. O
mesmo destino teve Dmitry Demyanenko, ex-vice-chefe do diretório principal da
SBU para Kiev e sua região, que foi assassinado em 10 de março por ser muito
favorável a um acordo com a Rússia – ele foi baleado pela milícia Mirotvorets
(“Pacificadora”). Esta milícia está associada ao site Mirotvorets, o qual lista*52 os “inimigos da Ucrânia”, com os seus
dados pessoais, moradas e números de telefone, para que possam ser perseguidos
ou mesmo eliminados; uma prática punível em muitos países, mas não na Ucrânia.
A ONU e alguns países europeus exigiram o fechamento deste site – mas esse
pedido foi recusado pelo Rada [parlamento ucraniano].
No final, o preço será
alto, mas Vladimir Putin provavelmente alcançará os objetivos que estabeleceu
para si mesmo. Nós o jogamos nos braços da China. Seus laços com Pequim se
solidificaram. A China está emergindo como um mediador no conflito…. Os
americanos precisam pedir petróleo à Venezuela e ao Irã para sair do impasse
energético em que se colocaram – e os Estados Unidos precisam retroceder
lamentavelmente nas sanções impostas a seus inimigos.
Ministros ocidentais que
buscam colapsar a economia russa*53 e
fazer o povo russo sofrer,*54 ou
até mesmo pedir o assassinato*55 de
Putin, mostram (mesmo que tenham invertido parcialmente a forma de suas
palavras, mas não o conteúdo!) que nossos líderes não são melhores do que
aqueles que odiamos – sancionar atletas russos nos Jogos Paraolímpicos ou
artistas russos não tem nada a ver com lutar contra Putin.
[….]
O que faz o conflito na
Ucrânia mais digno de culpa do que nossas guerras no Iraque, Afeganistão ou Líbia?
Que sanções temos nós adotado contra aqueles que mentiram deliberadamente à
comunidade internacional para travar guerras injustas, injustificadas e
assassinas? ... Temos nós adotados uma única sanção contra os países, empresas
ou políticos que estão fornecendo armas para o conflito no Iêmen, considerado o
“pior desastre humanitário do mundo?”*56
Fazer a pergunta é
respondê-la... e a resposta não é bonita.
Tradução
por Davi Ciampa Heras
Revisão
e palavras entre chaves por Mykel Alexander
*44
Fonte utilizada por Jacques Baud: Inside the White House preparations for a
Russian invasion -
A ‘Tiger
Team’ of administration officials has spent the past several months preparing a
clear series of responses, gaming out scenarios from cyberattacks and limited
intervention to an invasion of Ukraine, por Ellen Nakashima e Ashley Parker, 14
de fevereiro de 2022, The Washington Post.
https://www.washingtonpost.com/national-security/2022/02/14/white-house-prepares-russian-invasion/
#c Nota de Mykel Alexander: Ver:
- {Retrospectiva 2022} - Um Guia de Teoria de Relações
Internacionais para a Guerra na Ucrânia, por Stephen M. Walt, 24 de outubro de
2022, World Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2022/10/retrospectiva-2022-um-guia-de-teoria-de.html
Retrospectiva 2022 sobre a crise na Ucrania, por John
J. Mearsheimer, 14 de novembro de 2022, World Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2022/11/retrospectiva-2022-sobre-crise-na.html
- John Mearsheimer, Ucrânia e a política subterrânea
global, por Boyd D. Cathey, 16 de novembro de 2022, World Traditional Front.
https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2022/11/boyd-t.html
*45 Fonte utilizada por Jacques Baud:
*46 Fonte utilizada por Jacques Baud:
Ukraine - Humanitarian Response Plan 2022 (February 2022) [EN/UK]
#d Nota de Mykel Alexander: Contra a
versão difundida do alegado Holocausto ver especialmente Germar Rudolf
(Ed.), Dissecting the Holocaust - The Growing Critique of ‘Truth’ and
‘Memory’, Castle Hill Publishers, P.O. Box 243, Uckfield, N22 9AW, UK,
novembro de 2019 (3ª edição revisada).
https://holocausthandbooks.com/index.php?main_page=1&page_id=1
Também ver de modo mais abrangente
toda a série Holocaust Handbooks:
*47 Fonte utilizada por Jacques Baud:
Convention pour la prévention et la répression du crime de génocide, Nations
Unies.
*48
Fonte utilizada por Jacques Baud: Ukraine agrees to talks with Russia as E.U.
bans flights, Putin puts nuclear forces on alert, por Yuliya Talmazan e
Teaganne Finn, 27 de fevereiro de 2022, NBC news.
*49 Fonte utilizada por Jacques Baud:
EU Approves 450 Million Euros of Arms Supplies for Ukraine, por Jillian Deutsch
e Lyubov Pronina, 27 de fevereiro de 2022, Bloomberg.
*50 Fonte utilizada por Jacques Baud:
EU Doubles Military Aid For Ukraine To 500 Million Euros, Mulls Fresh Russia
Sanctions, 11 de março de 2022, Radio Free Europa – Radio Liberty.
https://www.rferl.org/a/european-union-sanctions-russia-ukraine-borrell/31748462.html
*51 Fonte
utilizada por Jacques Baud: Reports claim Ukraine negotiator shot for treason;
officials say he died in intel op - Local media claimed Denis Kireev was killed
during an attempt to arrest him; but defense ministry says he died a ‘hero’, 06
de março de 2022, The Times of Israel.
*52 Fonte utilizada
por Jacques Baud: Dark website lists Russian spies, priests and more deemed
'threats to Ukraine' - As tensions reach a boiling point amid the potential
invasion from Russia, names continue to be added to an Orwellian database
called 'Myrotvorets' accused of being threats to Ukraine, por Ryan Merrifield,
26 de Janeiro de 2022, Mirror.
https://www.mirror.co.uk/news/world-news/dark-website-lists-russian-spies-26051893
*53 Fonte utilizada por Jacques Baud:
"Nous allons provoquer l'effondrement de l'économie russe", affirme
Bruno Le Maire • FRANCE 24.
*54 Fonte
utilizada por Jacques Baud: Clinton Hails Global Unity Against Putin's Threat
To Democracy, MSNBC.
*55 Fonte utilizada por Jacques Baud:
Jean Asselborn : « Éliminer physiquement Vladimir Poutine », por Guillaume
Oblet, 02 e 03 de março d 2022, Le Quotedien.
https://lequotidien.lu/politique-societe/jean-asselborn-eliminer-physiquement-vladimir-poutine/
*56 Fonte utilizada por Jacques Baud: Yémen:
pire catastrophe humanitaire au monde, la sortie de crise exige un dialogue
politique entre les parties, selon de hauts responsables onusiens, 16 de
novembro de 2018, Nation Unies.
https://www.un.org/press/fr/2018/cs13586.doc.htm
Jacques Baud é um ex-coronel do Estado-Maior, ex-membro da inteligência estratégica suíça, especialista em países orientais. É mestre em Econometria e pós-graduado em Relações Internacionais e em Segurança Internacional pelo Graduate Institute for International Relations em Genebra (Suíça). Ele foi treinado nos serviços de inteligência americanos e britânicos. Ele serviu como Chefe de Políticas para as Operações de Paz das Nações Unidas. Como especialista da ONU em Estado de Direito e instituições de segurança, ele projetou e liderou a primeira unidade multidimensional de inteligência da ONU no Sudão. Trabalhou para a União Africana e durante 5 anos foi responsável pela luta, na NATO, contra a proliferação de armas ligeiras. Ele esteve envolvido em discussões com os mais altos oficiais militares e de inteligência russos logo após a queda da URSS. Dentro da OTAN, acompanhou a crise ucraniana de 2014 e posteriormente participou de programas de assistência à Ucrânia. É autor de vários livros sobre inteligência, guerra e terrorismo, nomeadamente Le Détournement publicado pela SIGEST, Gouverner par les fake news, L'affaire Navalny. Seu último livro é Poutine, maître du jeu? publicado por Max Milo.
Este artigo foi publicado por cortesia do Centre Français de Recherche sur le Renseignement, Paris.
Fonte: Is It Possible to Actually Know What Has Been and Is Going On in Ukraine?, por Boyd D. Cathey, 02 de abril de 2022, The Unz Review – An alternative media selection.
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Relacionado, leia também:
John Mearsheimer, Ucrânia e a política subterrânea global - por Boyd D. Cathey
Retrospectiva 2022 sobre a crise na Ucrania - por John J. Mearsheimer
Como os Estados Unidos Provocaram a Crise na Ucrânia - por Boyd d. Cathey
{Retrospectiva 2014} – Ucrânia: o fim da guerra fria que jamais aconteceu - Por Alain de Benoist
Aleksandr Solzhenitsyn, Ucrânia e os Neoconservadores - Por Boyd T. Cathey
A Guerra de Putin - por Gilad Atzmon
Crepúsculo dos Oligarcas {judeus da Rússia}? - Por Andrew Joyce {academic auctor pseudonym}
A obsessão de Putin pelo Holocausto - Por Andrew Joyce {academic auctor pseudonym}
Neoconservadores, Ucrânia, Rússia e a luta ocidental pela hegemonia global - por Kevin MacDonald
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{Retrospectiva 2014} O triunfo de Putin - O Gambito da Crimeia - Por Israel Shamir
{Retrospectiva 2014} A Revolução Marrom na Ucrânia - Por Israel Shamir
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Sobre a influência do judaico bolchevismo (comunismo-marxista) na Rússia ver:
Revisitando os Pogroms {alegados massacres de judeus} Russos do Século XIX, Parte 1: A Questão Judaica da Rússia - Por Andrew Joyce {academic auctor pseudonym}. Parte 1 de 3, as demais na sequência do próprio artigo.
Os destruidores - Comunismo {judaico-bolchevismo} e seus frutos - por Winston Churchill
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Wall Street & a Revolução Russa de março de 1917 – por Kerry Bolton
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